Despedidas?
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LUCILLE
Eu sabia que isso aconteceria, mas a decepção veio da mesma forma.
— Você ficará bem, daremos um jeito em tudo.— Alec me consolava, o que piorava a minha situação. É tudo culpa de Jane e agora é tudo culpa dele porque ele disse que Jasper se importa comigo, dando a entender para nossos reis que ele colocaria em risco sua própria família por mim. Que grande idiota!
— Daremos um jeito em tudo?— o afasto de mim assim que chego no meu quarto, furiosa. O meu pescoço está em jogo e ele ousa me dizer que eu vou ficar bem?— Só tem duas formas de resolver este conflito, Alec, e em ambas a minha vida está em jogo!
No primeiro ataque daquela bruxa desgraçada, eu serei entregue de bandeja, posso até ver! Começo a andar de um lado para o outro, enraivecida e agitada demais para ficar parada.
— Nós não vamos perder, você está sendo pessimista...
— E você está sendo irracional!— rebato, o interrompendo. Alec cerrou os dentes, perdendo a paciência. Ser o sensato nunca combinou muito com ele, de qualquer modo.— Olhe ao seu redor, ou nós entramos em guerra e perdemos muitos soldados ou eu vou ser atirada aos leões e morta! É só pesar na balança. Sabe quanto tempo vai levar até que Vossas Majestades decidam o que é melhor?
— Pare de falar besteiras, sabe que Aro tem apreço por você.
— Não muito mais do que ele tinha pela irmã dele, imagino.— respondo com veneno enchendo minha boca— Aquela que ele mandou matar para que Marcus não se desviasse do caminho de conquista, sabe do que eu estou falando, Alec?!
— Shh!— ele se aproxima de mim, sacudindo as mãos com urgência para me manter quieta.— Sabe que não deve ficar falando dessas histórias por aí!
— São fatos, Alec!— sussurramos.— Fatos que só me mostram o quanto eu estou ferrada. Eu não estou pronta para morrer, pode ser que eu nunca esteja! Aro matou a própria irmã ao ver que ela era um obstáculo, faz ideia do que ele vai fazer comigo quando eu for um problema que ele não quer mais ter que lidar?
— Acha que eu vou permitir que eles te machuquem?— ele disse e eu me calei, parando de andar de um lado para o outro só para encará-lo. Abri a boca, mas não emiti som algum então tornei a fechá-la.
Balancei a cabeça e não consegui manter contato visual com ele.
— Alec, me deixa sozinha, por favor.
Felizmente, ele não resistiu e foi embora. Fechei a porta atrás dele e só me permiti cair de joelhos quando já não pude mais ouvi-lo. Suas insinuações são perigosas porque remetem à traição e eu espero que nenhum ouvido sobrenatural tenha captado isso. Ele acabou de me dizer que não vai deixar que nossos reis me machuquem? É sério? Alec também tem seu lugar de favoritismo, mas para sermos executados ao dizer tais coisas é muito rápido.
O que Alec acha que vai fazer? Ele acha que vai lutar e derrotar aqueles que o tiraram do inferno? Aqueles que o resgataram do nada, só por mim? Ele anda muito fora de si ultimamente e eu não quero ficar pra ver ele se dar conta de que se importa muito mais os nossos reis do que comigo.
Eu me decidi quando Jasper desviou o olhar do meu mostrando que eu não deveria ter esperanças.
Começo a revirar o meu quarto atrás de coisas que eu pudesse querer levar em uma fuga inesperada e acabei puxando a última gaveta da mesa de cabeceira. Vi fotografias minhas com meus falsos irmãos e companheiros da guarda, muitos sorrisos com dentes afiados e olhos vermelhos se destacando de um jeito irreal. Nós não precisamos de álbuns de fotos uma vez que temos memória fotográfica, mas eu acho que sempre gostei de ter algo para segurar. Algo consistente.
Encaro a foto em que estamos em um bar. Eu estou segurando a câmera, Jane está do meu lado, Alec, Félix e Heidi ao lado dela. Ela é a única que não sorri, parecendo uma criança emburrada que fora forçada a sair com os irmãos mais velhos. Uma onda de emoções me atinge e eu não sei bem como coordenar isso. Não são emoções que estou acostumada. Elas doem, na verdade, e me obrigam a parar por um tempo, sentando-me na beira de minha cama — tão inútil quanto essas fotografias.
Passo a ponta do indicador no rosto redondo da garota, para sempre congelado e impresso em um pedaço de papel que vai perecer em breve. Ela me traiu. Revirou meu mundo de ponta cabeça e além de me torturar, agora, por sua causa, eu tenho que abandonar o posto que lutei tanto para conseguir.
Ela era tão linda.
Eu rasgo todas as fotos que aparecemos juntas e quase quebro a gaveta ao fechá-la com força. Nas gavetas de cima encontro joias, a maioria de pouca relevância, só que eu não posso deixar de pegar o colar de ouro que pertenceu à Melanie. O ergo para analisá-lo perto da janela, como se fosse a primeira vez que eu o via.
O pingente é de uma medalha com uma abelha desenhada. Eu sempre odiei esse colar, é feio e brega. O coloco no pescoço e o escondo sob a blusa. Cheguei aqui com ele, irei embora com ele.
Coloco anéis nos meus dedos e pulseiras nos pulsos. Se eu levasse dinheiro e cartões comigo, ambos estragariam considerando que estou sem tempo para arranjar equipamento a prova d'água. Preciso sumir com o meu cheiro o quanto antes. Vou deixar para me alimentar quando estiver bem longe daqui e espero conseguir logo matar a fome que está me matando.
Mas antes de mais nada preciso ter certeza que ninguém poderá me seguir.
Saio do quarto com o meu manto cobrindo minhas roupas informais e tento não parecer apressada conforme caminho pelos corredores sem tempo para me despedir deles. Obrigada, eu penso, já me senti em casa aqui e não dá para ignorar a história, só que nem fodendo que eu vou ficar sentada esperando minha morte chegar. Talvez eu me ame demais, e é óbvio que minha sobrevivência está em primeiro lugar.
Eu vou embora, nem que eu tenha que fugir pelo resto da eternidade e isso acabe unindo a sobrinha de Sekani aos Volturi contra mim. Eu não vou morrer, eu não vou ser prisioneira de ninguém quando a vítima, em primeiro lugar, sou eu.
Minha garganta arranha de sede, seca há tempo demais. Inspiro fundo, farejando o cheiro de Demitri, mas antes que eu sequer precise iniciar uma caçada, o caçador vem em meu encontro no meio do corredor do segundo piso, ele tendo acabado de sair de uma das salas de jogos com Félix.
Não tem como ser sutil. Fiz carinha de coitada e Félix se afastou ao passo que o caçador do castelo parou de andar, me encarando preocupado. Não tivemos tempo de nos falar depois que a reunião foi encerrada hoje mais cedo, já que eu fugi de lá com Alec, mas tampouco pretendo gastar meu tempo choramingando com ele.
Eu preciso anular seu dom e só por isso vim aqui.
Não sei se os outros tem caçadores do lado deles, mas agora o Demitri é um perigo para mim. Felizmente, se torna menos perigoso quando seu dom é invalidado, por isso não precisarei matá-lo.
Acho que eu não gostaria muito dessa experiência, mas, francamente? Só seria mais uma no meu histórico. Tenho o terrível costume de acabar matando aqueles com quem me importo.
É engraçado porque sempre são estes que me traem.
— Ei.— Demitri segura minhas mãos sem parecer dar importância às joias que eu não sou acostumada a usar em tamanha abundância. Ele vai se lembrar deste momento mais tarde e vai se arrepender de não fazer nada a respeito.— Você precisa se alimentar, Luci.
Ele não me pergunta como estou me sentindo. Acho que nunca nem se importou com isso. Ou talvez ele possa ver o que estou sentindo estampado na minha cara.
— Me sinto melhor, mas não sei se consigo.— falamos baixo e eu olho em seus olhos, vendo meu reflexo de princesa em apuros. Ele adora quando eu atuo neste papel, acho que ele se sente bem importante quando pensa que eu preciso que ele me socorra. É simplesmente muita babaquice.
Dons como o dele, de Alec, Aro e Jane, são fáceis de "desativar" sem que o seu dono perceba, uma vez que seu uso não é constante. Eu preciso que Demitri não tente caçar até escurecer, mas isso é só questão de sorte. E eu vou precisar de muita sorte hoje, ainda não é nem duas da tarde.
— Temos que tentar. Vem, vamos ver se ninguém matou a secretária ainda.— ele tenta me puxar em direção ao subsolo, mas eu resisto.
— Eu não quero me alimentar agora.— minto. Eu quero e preciso me alimentar, mas não quero chamar atenção. Quero agir como se nem estivesse no castelo até não estar de fato.— Estou com medo, tem como ficamos a sós um instante?
Não é necessariamente uma mentira, eu estou mesmo com medo, mas só quero ficar a sós com Demitri porque ele será fácil de despistar quando chegar a hora de ir embora. E eu não quero ter que ter uma última conversa com Alec, uma que eu tentaria tornar significativa porque seria a última vez que nos veríamos como amigos. Sempre foi fácil irritar Demitri e sei que ele vai se afastar assim que eu começar uma discussão boba só porque eu quero. Posso trazer a tona o porquê não demos certo, por exemplo — sempre vale a pena reclamar do leite derramado. Enquanto estivermos a sós não seremos incomodados, nunca antes fomos.
— Claro.— ele sorri tentando me confortar e me puxa em direção a sala de jogos entrelaçando nossas mãos, mas nós dois paramos de andar a meio metro da porta quando ouvimos ele se aproximar. Demitri olha por cima do ombro e seu olhar raivoso me atravessa em encontro ao Cullen que caminha até nós sem se deixar abalar.
— Lucille.— ele me chama. Cerro os dentes e viro totalmente na direção do loiro. Pode ser que eu esteja com raiva dele, porém, ele não fez nada além do esperado.
— O que você quer?— sou hostil tanto quanto posso ser.
— A gente precisa conversar.— ele olha no fundo dos meus olhos. Chega a ser irritante de tão belo. Os cabelos loiro escuros dele estão bagunçados como se ele tivesse corrido por aí. Espero estar enganada, espero que ele não tenha vindo atrás de mim causando algum tipo de alvoroço.
— Ela não quer conversar com você, farabutto.— Demitri responde por mim. Até parece que ele pode responder por mim.
— Cale-se, Demitri.— eu lhe digo, irritada. Imediatamente o moreno larga minha mão e eu o olho sem saber como reagir diante de tal atitude.— O que está fazendo?
— Te deixando se resolver com seu príncipe encantado. Por que não procura por ele da próxima vez que estiver com medo, Lucille? Aposto como ele fará de tudo para te proteger.— suas palavras ácidas não me abalam, embora fosse claro o objetivo delas. Demitri se afasta, passa por Jasper sem deixar de lhe empurrar com o ombro. Jasper trinca a mandíbula e revira os olhos. Eu estou encurralada.
— Depois da sua maravilhosa ajuda de hoje cedo acha que eu vou querer conversar com você, soldado?— pergunto assim que deixamos de ouvir o caçador. Jasper acabou de arruinar meus planos.
— Você vai porque você precisa.— ele retruca, ficando a um passo de distância.— Ou quer contar para os outros que agora está misteriosamente com o dom de Jane?
Olhei para os lados em um reflexo inútil, levando em conta que não posso olhar através das paredes. Agarro o braço de Jasper e o puxo para a sala de jogos que é basicamente o paraíso masculino. Mesas de pebolim, sinuca e roleta para apostas. Se não repudiássemos cerveja e charutos, com certeza este lugar estaria cheio dessas duas coisas.
Largo Jasper e me seguro para não começar uma briga.
— Está me ameaçando?
— É claro que não.— ele responde de pronto.
— E o que é que você quer fazer com essa informação, Cullen?— sibilei cheia de raiva. Não posso nem ousar dizer que não sei do que ele está falando. Eu quis machucá-lo quando ele me segurou e o fiz sem precisar erguer um dedo. Não tinha como este evento passar despercebido.
— Não tenho certeza, a menos que você saiba me dizer porquê está com o dom de Jane. Como isso é possível?
— Não sabia que você tinha se tornado tal autoridade que pode exigir respostas dos outros dessa forma!— fiquei indignada.
— Não estou exigindo nada.— defendeu-se ele.
— Pois é o que parece! Agora, se ponha no seu lugar antes que eu arranque a sua língua.
Jasper ajeitou a postura e desviou os olhos por um segundo, respirando fundo.
— Me expressei errado.— justificou-se calmamente e voltou a me olhar depois de um minuto— Só fiquei curioso. Pode me dizer se faz parte do seu dom ficar com o dom do outro depois que este morre?
Mordi o lábio e hesitei em responder.
Os dons tem tendência a evoluir com o tempo, mas se isso é uma arte minha ou parte da arte de Sekani, eu não sei dizer. Matei muitos depois de anular seu poder e nada aconteceu, nunca antes me tornei uma super vampira. Foi um salto e tanto e não tem como negar que o poder de Jane agora é meu. Eu o senti agir em conjunto com minha raiva.
— Isso nunca tinha acontecido antes.— murmuro sem olhá-lo nos olhos e sim para os seus lábios rosados, quase hipnóticos. O loiro está bem perto e eu nem sei como isso aconteceu. Se eu me inclinar mais e ficar na ponta dos pés, consigo beijá-lo.
— E como aconteceu agora, Lucille?— sua voz baixa é macia, não perco nenhum movimento dos seus lábios e logo me obrigo a parar de encará-los.
— Por que te interessa?— pergunto surpreendentemente mais calma do que antes.
— Você me desligou do meu.— ele me recorda, levantando a sobrancelha. Ah, é por isso que ele está aqui.
— Pensei que não se importasse.— respondo com certa indiferença.
— Vou me importar se perdê-lo para sempre. Preciso dele de volta, preciso me proteger diante dessa possível guerra.
Outra vez, eu hesito, mas que perigo o dom de Jasper pode me oferecer? O máximo que ele pode fazer é saber como estou me sentindo, e tudo o que ele concluir com minhas emoções não passarão de deduções.
Dei um tapa na sua cara e lhe devolvi seu dom imediatamente. Jasper virou o rosto e cerrou os dentes sem dar um pio. Quando voltou a olhar meu rosto, seus olhos me queimavam.
— Obrigada por sua ajuda.— dou um sorriso sarcástico e tento sair da sala, mas o loiro segura meu pulso, me impedindo de partir.
— Se sentiu melhor com isso?— ele quis saber, apesar de eu ter certeza de que ele não gostou nada do tapa.
— Foi por isso que eu disse "obrigada".
No segundo seguinte, ele estava me beijando e me prensando contra a porta.
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