"Talvez eu esteje levando isso do modo errado"

- Spotlight, Lil Peep

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É difícil dizer como tudo começou.

Grande parte por culpa minha: eu não lembro exatamente como começou.

Eu só lembro daquele sorriso que você carregava. Meu eu de doze anos, o novato magrelo e de óculos com lentes grossas - que estava praticamente predestinado a sofrer bullying na nova escola - estava encarando você por um tempo maior do que o esperado.

Seus olhos castanhos em tom claro, o cabelo cacheado ruivo jogado de lado, a pele bronzeada e o sorriso cativante.

Não tinha como não prender o olhar em você.

A apresentação para a sala tinha sido desastrosa, eu gaguejei, troquei palavras, tropecei nos pés na hora de ir para o meu lugar.

Todos riram.

Todos cochicharam.

Menos você.

Você me olhava com curiosidade e aquele mesmo sorriso que eu passei a amar desde aquele dia.

Durante a aula recebi muitas bolinhas de papel na nuca, risadinhas que eu sabia que eram pra mim, cochichos nada cochichados sobre o garotinho novo de olhos puxados. Mas eu sinceramente não liguei, me preocupei apenas em me virar vez ou outra para o lado... Para ver você.

Você já não estava olhando mais, estava concentrada no livro de história na sua frente. Tão linda...

Foi quando senti que você viraria a cabeça e fiquei vidrado no quadro novamente, tentando fingir que a lousa era muito mais atraente que o seu rosto.

A aula passou rápido, ou essa é apenas a impressão que eu tive, mas quando notei eu já estava sentado no chão do terraço da escola com meu lanche na mão. Eu não suportei ficar no refeitório. Não suportei os olhares, os empurrões. Eu estava deslocado.

Pelo menos o terraço parecia um lugar bem escondido.

Até que ouço o ranger da porta e você espiando pela abertura.

Eu amei o sorriso que você deu ao me ver.

Era pra mim.

Foi inevitável não me encolher, eu tinha visto você conversando com todos antes de eu sumir do refeitório. Você parecia ser popular. Parecia um anjo. Mas já vi muitos anjos disfarçados, embora estivesse torcendo pra você não ser um deles.

E por sorte você não era.

- Olá, novato! - você tinha se sentado ao meu lado e não parou de sorrir por um segundo, sua covinha do lado direito aparecendo, céus, foi ali que eu simplesmente me deixei levar pela sua voz - Me chamo Sophia Monét, e você?

- Taesan... - consegui dizer ainda um pouco atordoado enquanto você colocava uma mecha da cabeleira ruiva atrás da orelha novamente.

No dia seguinte nos encontramos lá de novo. E no outro, e no outro, e mais outro...

Eu não imaginava que aquele simples "olá" me levaria ao inferno que hoje me cerca.

É que o nome da garota por quem eu desceria até ele mais mil vezes seria Sophia...

Sophia Monét.