Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

7. Clear eyes, full hearts, can't lose




Estacionei no primeiro lugar vazio que avistei e achar um lugar vazio que coubesse minha Chevy não foi nada fácil. Andei até a entrada do estádio. Era um jogo de times de ensino médio, nada muito importante, pelo menos não para o resto do país, mas, se dependesse da animação e do barulho da torcida, aquele jogo decidiria o futuro da cidade. O cheiro de cachorro quente me guiou até a barraquinha que também vendia pipoca e amendoim.

- Boa noite! O que a senhorita vai querer? - o coroa grisalho usando um uniforme engraçado me perguntou

- Quero dois cachorros quentes caprichados, uma pipoca grande e um saco de amendoim.

Não me olhem assim, eu estava faminta.

- Algo pra beber? - ele também perguntou

Analisei as possibilidades de bebida. Havia cerveja, mas, além de eu odiar cerveja, ele nunca me venderia nada alcoólico.

- Qualquer refrigerante que tiver - eu não estava com paciência de escolher

Nesse momento, vi outra pessoa se aproximar da barraca e ficar do meu lado. Eu ignorei sua presença, como havia feito a tarde toda.

- O que deseja, senhor? - o grisalho foi igualmente simpático

- O mesmo que ela - e apontou pra mim

Eu apenas ri quando ele se assustou, sem saber o que fazer com dois cachorros-quentes, pipoca, amendoim e refrigerante na mão. Tentei achar um local livre na arquibancada e me sentei. Era um lugar apertado, sem espaço para outra pessoa. Ele vinha logo atrás. Fez questão de entrar no mesmo corredor que eu sentara. O filho da mãe perguntou ao homem do meu lado se ele não podia sentar um pouco mais pro lado. Eu bufei. Sério mesmo?

- Você já está no segundo cachorro quente?!

Eu rolei os olhos.

- Cala a boca e assiste o jogo.

- Você entende de futebol americano?

- E quem não entende? Tudo o que você tem que fazer é levar a bola até a endzone.

- Shhhh - o homem do nosso lado pediu silêncio

Eu queria agradecê-lo por isso. Assisti o jogo prestando atenção, apesar de não saber pra qual time torcer. Acabei torcendo pro que estava ganhando. Eram os Lewisburg Green Dragons contra o Central Columbia e o time da casa estava em vantagem. Nos segundos finais eles fizeram um touchdown, levando a arquibancada à loucura. Eu, que já havia devorado os cachorros-quentes, amendoins e a pipoca e estava bem concentrada no jogo, também me levantei, gritando. E abraçando quem estava do meu lado. Mas fiquei um pouco desconfortável quando percebi que estava o abraçando. Ele gemeu por causa do ombro e eu pedi desculpas. As arquibancadas começaram a se esvaziar, o barulho agora era de comemoração e conversa. Lewisburg Green Dragons venceram de 28 a 6! A fanfarra estava tocando animada. Fiquei imaginando como seria se eu morasse em Lewisburg. Que tipo de pessoa eu seria? Que tipo de vida eu levaria? Será que eu seria líder de torcida ou iria tocar na fanfarra? Ou eu odiaria isso tudo? Eu gostava de me imaginar em outros cenários. Cenários que não incluíam uma arma na minha cintura.

Como estávamos cada vez mais ao norte, chegando perto da região dos grandes lagos, estava ficando cada vez mais frio, apesar do verão estar só começando. Minha camisa fina já não parecia mais tão resistente ao vento fraco que fazia à noite. Eu teria que comprar alguma roupa no dia seguinte.

Desci as escadas da arquibancada em silêncio. Eu estava morrendo de sono e cansaço para falar qualquer coisa. Talvez seja por isso que não falo muito: socializar dá trabalho demais e eu tenho preguiça.

- Vai dormir aqui por Lewisburg? - o cara que estava me seguindo o dia todo forçou uma comunicação

- Sim.

Respondi curtamente. Eu tinha uma ideia, mas não precisaria compartilhá-la com ninguém. Ele que me seguisse e descobrisse.

- Em alguma pousada? - ele continuou com suas perguntas

Eu não respondi. Parei na frente de uma barraquinha que vendia roupas e materiais promocionais do time vencedor, como canetas, bonés, chaveiros, entre outros. Olhei para a jaqueta varsity e concluí que ela seria útil para o meu plano.

- Que número você veste? - perguntei a ele

- Como assim?

- Ah, deixa pra lá - rolei os olhos - Por favor, eu vou querer aquela jaqueta, uma faixa dessas e uma camisa também - eu pedi ao homem da barraquinha

- Vejo que você é uma grande fã dos Green Dragons.

- Fã número um - o que eu disse em ironia, mas não soou nada sarcástico para o homem

Paguei com o dinheiro que eu ganhara da partida de sinuca e fiz questão de vestir a camiseta verde e gigante de uma vez. Entreguei a jaqueta a Zach, ajudando-o a vesti-la por causa do ombro ferido.

- Qual é o seu plano? - ele perguntou enquanto nos dirigíamos às caminhonetes

- Só espera um pouco e me segue.

Eu entrei na caminhonete e fiquei observando os carros deixando o estacionamento. Observei as meninas, provavelmente da minha idade. Todas estavam de short de cintura alta, algumas com a camisa do time larga, porém com um nó do lado da cintura, acima do short. Decidi imitá-las. O nó na camisa foi fácil, mas vi que teria que cortar minha calça manchada de sangue. Discretamente, tirei a calça jeans e tive um belo de um trabalho tentando cortá-la em um short com meu canivete. Ficou tudo irregular e com vários fios soltando, mas foi o melhor que eu consegui fazer. Estava até bom demais. Como minha ferida na perna ainda não tinha cicatrizado, resolvi também usar a faixa que inicialmente seria presa ao meu cabelo enrolada na perna, cobrindo a ferida exposta. Tudo isso enquanto eu esperava na minha caminhonete pelo time. Era uma vitória de lavada e era certo que eles iriam comemorar com uma festa. Era futebol de ensino médio e qualquer um sabe que isso envolve toda uma hierarquia na escola. Os integrantes da fanfarra certamente não iriam, mas o quaterback e a chefe das líderes de torcida provavelmente iriam arranjar um quarto só para eles na pobre casa que receberia a festa. Festas assim cheiram à bebida, drogas, música alta e sexo, pelo menos até a polícia chegar e a maioria ter que ligar para os pais para os buscarem na delegacia. E eu iria nessa festa, convidada ou não.

Não demorou muito para que o time saísse do vestiário. Entraram no estacionamento festejando e se dividiram nos carros. Nesse momento, eu liguei o motor e os segui. Zach me seguiu assim que saí acompanhando a velocidade dos garotos, que não era nada baixa. Entraram em um bairro de classe média-alta e eu logo avistei a casa da festa. A música alta e a quantidade de latinhas de cerveja amassadas na frente denunciavam o lugar. Parei minha caminhonete um pouco antes da casa e Zach parou atrás. Desliguei o farol e saí devagar.

- O que você está fazendo? - Zach me perguntou quase sussurrando

- Cala a boca e continua me seguindo - eu já estava cansada de mandá-lo se calar

Cheguei mais perto da casa e tomei um golpe de ar pulmão adentro. Não tem coisa mais assustadora que uma casa cheia de adolescentes bêbados e com o libido alto. Passei minha não pelo braço de Zach enquanto entrava pela porta.

- Bem-vindo ao colegial - eu disse

- Os melhores anos da sua vida! - ele disse em ironia e eu não pude evitar rir

A casa estava abafada, suja, cheirando a cigarro e cerveja. Uma música alta e horrenda tocava no ambiente. Um garoto sem camisa e com o rosto pintado de verde exaltava o grito de guerra dos Green Dragons. Tem que estar realmente bêbado demais para achar esse tipo de festa divertida. Eu e Zach estávamos nos sentindo deslocados, mas isso é obvio, afinal não fomos convidados e nem ao menos somos alunos do ensino médio de nenhuma escola de Lewisburg. Se é que Lewisburg tem mais de um colegial; a cidade era tão pequena que toda a parcela jovem da população deveria estar na festa. Apesar de nos sentirmos fora de lugar, fingíamos ter vivido ali nossa vida toda. Falando "oi", "hey" e até gritando quando algum do time fazia festa por causa da vitória. Eu vi algumas meninas cochichando sobre nós dois, mas não as culpo. Afinal, éramos dois desconhecidos fingindo sermos populares. E, modéstia à parte, éramos ótimos atores.

Eu fui até a cozinha e tentei encontrar algo que não fosse cerveja. Foi uma missão complicada, mas achei uma garrafa pela metade de vodka e uma outra com um resto de vinho. Sinceramente, se fosse para ficar ali mais um minuto, eu precisaria de algo forte no meu corpo já acostumado com uísque.

- Essas crianças assaltaram um bar? Caramba - Zach comentou ao entrar na cozinha

Não disse a ele que eu tinha a mesma idade "daquelas crianças". Na verdade, só a minha idade contada por anos era a mesma que a deles. Eu não me considerava uma adolescente depois de tudo que eu vivi. Acho que eu passei direto pela puberdade.

- Ei! - um garoto com a jaqueta do time apontou para gente - Eu nunca vi vocês por aqui!

Ele estava bêbado, quase se desiquilibrando. Toda a cozinha parou para ouvir nossa resposta.

- Josh McCoy - Zach se apresentou - Eu jogava pelos Green Dragons, mas sabe como é, me formei e fui jogar para o time da faculdade. Penn State Nittany Lions, conhece? Ah, e essa é minha namorada, Tracy. Ela não fala muito bem inglês, é francesa.

Zach foi educado, sóbrio e completamente convincente. Até eu teria acreditado. Mas foi aí que eu percebi que eu talvez tivesse caído em outra mentira convincente dele. O nome dele era realmente Zach?

- Ouí, c'est bien - eu arrisquei a única frase em francês que eu sabia, tentando esconder meu sotaque no Tennessee

Acho que minha frase em francês que nem fazia muito sentido no contexto e meu cabelo mal arrumado ruivo fez com que eles acreditassem que eu não era americana. E eles também acreditaram na história do futebol universitário, fazendo Zach, ops, Josh McCoy, mais popular do que todos ali.

- Você joga pros Nittany Lions e ainda namora uma francesa? Cara! Eu quero ser você!

E a partir daí, nós nos tornamos a sensação da festa. A parte mais legal de me fingir ser francesa era fingir que eu não estava entendendo nada do que eles falavam em inglês. Eu tive que segurar a risada várias vezes. Por sorte, o único cara que falaram que sabia francês estava apagado no sofá. Depois de fazerem Zach, Josh, seja lá qual for seu nome de verdade, jogar beer pong e tomar cerveja direto do barril, percebi que talvez esse negócio de ser popular não contribuiria pro meu plano de arranjar um lugar para dormir sem pagar diária. Todas as atenções estavam voltadas a nós. Seria mais irritante se eu precisasse falar, mas Zach estava fazendo todo o trabalho, ainda bem. Eu só ficava calada bebendo qualquer que fosse a bebida que estava no meu copo vermelho.

- Eles nos amam ou o quê? - Zach sussurrou no meu ouvido

- Bom saber que você está gostando da sua popularidade, mas é melhor a gente subir - eu sussurrei também

Ele concordou e entrou no papel, já me puxando pela mão escada a cima. Eu me encostei na parede e puxei-o pela jaqueta, atuando para as meninas ao redor parassem de encarar.

- Acho que o quarto no fim do corredor é o de casal - eu sussurrei perto de sua boca, tentando não sair do papel

Ele sorriu maliciosamente. Ele ainda estava consciente que era tudo fingimento ou a cerveja já tinha mudado sua noção de realidade?

- Para a gente passar a noite. Dormindo. Eu na cama. Você provavelmente no chão. Entendido? Pode tirar esse sorriso da boca - eu mandei

Como ele estava perto demais, empurrei-o, fazendo com que ele fosse para o fim do corredor. A porta estava trancada.

- Merda - eu exclamei - Você tem um canivete aí? O meu está na Chevy.

Ele tirou um canivete praticamente novo de seu bolso. Por um lado foi útil, porque assim eu não teria que ir até minha Chevy buscar o meu. Por outro lado, foi ainda melhor. Agora eu sabia que ele mantinha um canivete no bolso. Se ele arriscasse levar sua mão ao bolso para me ameaçar, eu já teria tirado a minha arma da cintura. Eu não sabia quem ele era, eu tinha que me prevenir. E são esses detalhes que fazem a diferença. Enquanto eu tentava abrir a porta com o canivete enfiado no buraco da fechadura, mais algumas pessoas passaram pelo corredor. Eu voltei a ficar à frente de Zach. Ele estava perto demais e tentávamos fingir sorrindo um pro outro. Só que ele levou a atuação sério demais. Seus lábios encostaram-se aos meus, puxando-os.

- Esqueceu que eu estou com seu canivete na mão, é, Josh? - eu falei entre os dentes, fingindo um sorriso

- Mas então você é uma francesa que não gosta de beijo francês?

- Nem pense em colocar sua língua para fora - eu falei sorrindo de novo, mas apertei seu ombro ferido logo depois

Ele gemeu em dor. Eu continuei sorrindo.

As pessoas saíram do corredor e eu não demorei muito para abrir a porta.

- À propósito, você está com um bafo horrível de cerveja - eu disse

- E você tem gosto de uísque misturado com cigarro.

- Não vejo o que há de ruim nisso - eu disse, fechando a porta e me deitando na cama

Eu estava sonhando em deitar numa cama confortável daquelas há dias. Zach se deitou ao meu lado. Eu olhei para o lado oposto, vendo o criado-mudo. Em cima dele, havia um porta retrato. Eu o segurei em minhas mãos e analisei a foto do casal sorridente.

- Eles provavelmente nem sabem a bagunça que está acontecendo na casa deles agora. Coitados - Zach disse ao ver a foto que eu segurava

- Coitado é o filho deles - comentei

- Por quê? - ele riu - Será que ainda colocam as crianças de castigo hoje em dia? Porque acho que se colocassem, eles seriam mais educados do que esse bando de animais aí fora.

- Não falei nesse sentido. Eu tenho pena porque ele é estúpido de não dar valor aos pais... Eles parecem ter uma relação tão saudável, tão amorosa. Olha para esse quarto - eu disse olhando ao redor - É tudo tão bonito.

- Eles com certeza não são pobres... É só olhar para o bairro.

- Você não entende... - eu suspirei. Não era de dinheiro que eu estava falando, mas eu resolvi não me explicar. Já tinha falado até demais.

Coloquei o porta retrato no móvel de novo e tentei fechar os olhos. Eu estava extremamente cansada e a cama estava super confortável, mas mesmo assim minha maldita insônia me perturbava. Eu estava de olhos fechados, mas minha mente pensava em tudo repetidas vezes. Virei para o outro lado e olhei para o homem deitado perto de mim. Ele parecia estar dormindo tão profundamente. Eu tinha inveja disso. Levei o pequeno colar que eu mantinha no pescoço à boca. Era um hábito horrível, mas às vezes passar o cordão entre meus lábios ajudava o sono a chegar.

- O que foi que você está me olhando? Por acaso quer outro beijo? - ele falou ainda de olhos fechados, me assustando. Eu jurava que ele estava dormindo.

- Ugh - eu exclamei - Isso é por ter me beijado.

- Isso o quê? - ele perguntou antes deu apertar seu ombro ferido

Ele gemeu em dor.

- Era só parte da atuação. Vou fazer o que se você não entende teatro?

- Teatro... Você devia é procurar um circo. Palhaço.

Ele riu. Eu apenas voltei a me virar para o outro lado e tentar dormir. O sono acabou chegando finalmente, mas não demorou muito para que a claridade do quarto me acordasse. Fui ao banheiro, querendo sair logo do quarto. Vai que os donos da casa chegam? Tirei a faixa enrolada da minha coxa e vi que meu ferimento estava melhor. Menos um detalhe a se importar com. Acordei Zach e o apressei para sairmos logo. Ao abrir a porta do quarto, parecia que eu estava em uma cena de tragédia pós-tornado. Tinham rolos de papel higiênico pendurados no lustre e escada, copos vazios, alguns lugares do chão estavam grudentos por causa de bebida derramada. Descemos as escadas silenciosamente e eu vi alguns garotos apagados no sofá.

- Vamos rápido para cozinha, anda - sussurrei

Ele me acompanhou até a cozinha bagunçada e suja. Abri os armários em busca de comida, até encontrar um com pacotes de biscoito e cereal. Peguei tudo o que podia e joguei aos braços de Zach, para que ele segurasse. Abri a geladeira, pegando a garrafa de leite e, sem perder tempo, bebi um pouco direto do gargalo. Zach deve ter falado algo em reprovação, mas eu ignorei. Busquei, em cima do balcão, pela garrafa mais cheia dali e foi uma de uísque. Meus olhos brilharam, eu ia ficar decepcionada se fosse cerveja, mas cerveja é uma bebida tão cliché que todas as garrafas dela estavam vazias.

- Esconde essas coisas embaixo da jaqueta e vamos embora daqui logo - dei outra ordem que ele aceitou sem reclamar

Quando saímos da cozinha, encontramos um rapaz cambaleando. Eu parei e desejei que ele não nos notasse, mas foi em vão. Por sorte, ele ainda estava bem chapado e tudo o que nos disse foi um grito de torcida. Algo como "vai Green Dragons", talvez porque nos viu usando as roupas do time. Logo em seguida se encostou na parede e apagou. Eu suspirei em alívio e nós corremos à porta da frente, correndo pela rua e dirigindo para longe dali.

Eu peguei a estrada para o norte, saindo de Lewisburg. Zach me seguiu e eu queria encontrar um lugar seguro para estacionar logo, já que toda a comida tinha ficado com ele e meu estômago estava roncando. Depois de mais ou menos cinco minutos dirigindo, já estávamos fora da cidade e em uma estrada com acostamento. Eu liguei a seta, indicando que iria parar, e ele acompanhou. A estrada estava bem vazia. Assim que saí da minha Chevy, o avistei e logo procurei pelos pacotes de biscoito. Nós nos sentamos na garupa da minha Chevy, observando os poucos caminhões que passavam e ouvindo os passarinhos voarem pelo céu azul. O dia estava extremamente bonito e eu mal podia reclamar do calor, já que, comparado com o Tennessee, o clima quente de começo de verão estava até bem fresco. Nós devoramos os pacotes de biscoito sem falar uma palavra e depois dividimos um pouco da garrafa de uísque roubada.

- Foi uma festa e tanto ontem à noite, ein? - ele quebrou o silêncio do qual eu estava gostando tanto

- Só me mostrou o quão essa geração está perdida, se você quer saber... Eles não tem nada pelo que viver e provavelmente nunca lutaram por nada. Por isso tentam buscar algum sentido em um time de futebol.

Acho que ele se surpreendeu com meu discurso. Se surpreendeu por eu ter falado tanto e não pelo o que eu falei, é claro. Esse tipo de coisa era previsível de sair da minha boca, incluindo meu tom um pouco ríspido.

- Mas você bem que se divertiu ontem no jogo...

- Porque futebol americano é menos idiota do que parece ser. Mas isso não quer dizer que eu vou colocar a minha vida em um time.

- Menos idiota do que parece ser?

- É tudo um trabalho em equipe. Se um tentar aparecer mais que os outros, todo o jogo está perdido. Todas as jogadas são estudadas, todas as vantagens e desvantagens sobre o time oposto são observadas. Não é um jogo fácil. E toda a história da violência é uma besteira. Humanos são violentos, então é bom que esses garotos gastem energia com algo que não realmente machuca alguém.

Ele, por sua expressão facial, pareceu estar pensando no que eu disse... E quem sabe concordando. Pelo menos ele não discordou. Tanto faria se ele discordasse ou não, a opinião era minha e eu não ia mudá-la ou obrigar ninguém a concordar com ela. Enquanto ele dava um gole no uísque, limpando a garganta depois, eu acendi um dos meus últimos cigarros.

- E qual o sentido da sua vida, então? - ele perguntou

- O quê? - eu tirei o cigarro dos lábios. Não havia entendido a pergunta. Na verdade, eu tinha entendido a pergunta sim, mas não entendi da onde ela havia saído.

- Você disse que a vida desses garotos não tinha sentido, que eles não tinham nada além do time para lutar por. Pelo o que você luta? Qual o sentido da sua vida?

Soltei um riso, soltando a fumaça presa em meus pulmões.

- Eu já lutei pelo o que eu achava que era certo. E agora eu apenas tento sobreviver. Esse é o sentido da minha vida agora. Eu lutei, eu ganhei e agora eu estou fugindo de uma revanche.

- Uma revanche?

- Chega com essas perguntas. Eu já te disse coisa demais.

Ele se calou e me encarou.

- O que foi? - ele me fez tirar o cigarro da boca de novo

- É uma visão estranha. Você com um uniforme de time de futebol americano falando coisas que um fora da lei de cinquenta anos falaria. E ainda fumando um cigarro e tomando uísque no café da manhã!

- Desculpa por chocar seu mundo. Eu não sou a exemplar namorada francesa que você queria?

- E nem eu sou um jogador de time de faculdade... - ele riu

- Falando nisso, você mente muito bem - eu me levantei e desci da traseira da Chevy

Ele também se levantou, descendo e indo até sua própria caminhonete enquanto eu jogava a bituca do cigarro no chão. Ele estava com uma expressão orgulhosa, como se estivesse sido elogiado. Como se eu o houvesse elogiado.

- Eu provavelmente nunca vou acreditar em nenhuma palavra que sair da sua boca - foi tudo o que eu disse antes de voltar à estrada

Dirigimos para o norte o dia todo, parando só para abastecer e para comer algo em alguma loja de conveniência quando a fome apertou no fim do dia. Eu estava bocejando quando passamos na divisa do estado. Agora estávamos em New York, e quem dera se fosse a cidade, a grande metrópole dos Estados Unidos da América! O estado de New York era só um qualquer, esquecido, com seu brilho apagado, sufocado, pelas luzes da Times Square. Já estava anoitecendo quando decidi entrar na cidade de Rochester. Não era uma cidade nem muito grande, nem muito pequena, mas, pra mim, a cidade pareceu enorme, lotada, completamente diferente de tudo. Talvez eu seja um pouco caipira demais? A quantidade de gente, de lojas, de carros, tudo pareceu um caos para mim. As propagandas e as músicas altas pelas ruas bem no centro da cidade deixaram meu cérebro mais lento, eu quis ser surda e cega por um momento. E o trânsito não estava ajudando a minha situação. Decidi então parar no primeiro estacionamento que avistei, mas meu plano foi por água abaixo quando vi que era pago. Dois dólares a hora? O que mais iriam inventar para nos explorar? Entrei em uma rua menos movimentada e parei perto da calçada. Zach parou do meu lado, no meio da rua, e me olhou de dentro do carro dele.

- Ei, não é permitido parar aí - ele disse alto

- E por que não? Eu finalmente achei uma vaga!

- Porque é reservado para carga e descarga - ele apontou, mexendo a cabeça, para a placa ao meu lado

Eu respirei fundo, irritada.

- Vamos, me segue, acho que ali para frente dá para estacionar.

Eu mal questionei sua ordem. Na verdade, estava feliz por ter alguém para pensar por mim. Então dei partida na Chevy e o segui até uma rua mais larga e mais vazia, com um parque do lado direito e algumas casas do lado esquerdo. Havíamos entrado em um bairro residencial e eu agradeci a calma e o silêncio do lugar. Ele estacionou do lado da entrada do parque e eu parei minha Chevy bem atrás. Tive que respirar fundo e absorver a calma do lugar por um tempo.

Ele bateu na janela ao meu lado e pareceu que ele estava batendo diretamente na minha cabeça.

- Ei, está tudo bem? - ele falou quando eu saí

- Sim, acho que é só fome. Eu estou um pouco tonta.

- Vamos andando, eu acho que eu vi um shopping no caminho.

Andamos em silêncio, só que o silêncio foi sendo substituído aos poucos pelo barulho dos carros, as buzinas, as pessoas falando. Eu comecei a sentir uma ansiedade nada agradável. Eu só tinha vontade de fechar meus olhos e ser surda por um momento. Eu estava seguindo Zach sem saber para onde ele estava me levando e ao mesmo tempo eu não me importava.

- O que você prefere? Hambúrguer, pizza, comida italiana? Tem de tudo aqui... Ei, tem certeza que você está bem?

Eu abri meus olhos. Minha cara realmente não estava das melhores.

- Você decide, eu só quero sentar - foi tudo o que eu falei

Ele me pegou gentilmente pela cintura e me levou até uma mesa, onde sentei e fechei os olhos de novo. Cada barulho, cada pessoa falando, cada nota da música que estava tocando ao fundo estava me fazendo querer surtar.

- Tudo bem se for pizza? Pepperonni?

Eu concordei com a cabeça e ele disse que era para eu continuar sentada e que ele voltava já. Cada segundo que eu esperei sua volta pareceram horas. Eu mal sabia o que estava errado comigo, aquele lugar estava me deixando maluca. Quando ele voltou, com uma caixa de pizza nas mãos e copos de refrigerante equilibrados em cima dela, eu levantei e pedi para sairmos daquele lugar e voltarmos para o carro. Ele concordou sem falar uma palavra.

Música do Capítulo 7: Devil Town - Bright Eyes

Playlist completa de FLB no Spotify: Clique em Link Externo/External Link aqui embaixo!

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro