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19. His fist is big but my gun is bigger he'll find out when I pull the trigger


A placa "Bem Vindo a Sweetwater" passou por mim a 80 milhas por hora. Eu tinha que ser rápida. Uma caminhonete vermelha enorme como minha Chevy ia ser notada de longe e a cidade inteira com certeza sabe de meu suposto desaparecimento. Eu não queria que ninguém me visse antes do tempo, foi por isso que não entrei na entrada principal. Eu conhecia outros caminhos como a palma da minha mão, estradas de terra. Contornei a cidade para chegar onde eu queria. Meu estômago roncava de fome, mas eu provavelmente não conseguiria manter comida alguma dentro de mim.

Tirei minha arma da bota, ela nem incomodava mais ao dirigir. Era como se o couro já estivesse com o molde certo para ela e meu tornozelo. Vasculhei meu porta luva por balas até deixá-la completamente carregada. Coloquei meus dedos entre o gatilho e vasculhei o porta-luvas pela arma de Walter, que eu havia deixado ali para alguma emergência. Seria engraçado se ele, hoje, levasse um tiro da sua própria arma. Coloquei esta na bota já carregada. no espaço que a minha havia deixado, depois de conferir se havia alguma bala no cartucho. Deixei a Chevy a mais ou menos meia milha do local marcado, escondida pelas árvores que haviam perto dali. Fui andando devagar, tentando não fazer barulho, tentando esconder meu corpo inteiro atrás de troncos. Eu não sabia a hora. Eu havia chegado atrasada ou adiantada? Será que ele já tinha ido embora?

Encostei-me em uma das árvores, tentando acalmar meus batimentos, tentando fazer meus dedos presos ao gatilho pararem de tremer. Não era hora de ser covarde, não era hora de ter medo. O barulho de motor fez meu coração saltar. Eu olhei pelo canto do olho. A caminhonete que eu conhecia bem estava agora parada do outro lado do asfalto. Observei atentamente a porta se abrir. Não era meu querido pai. O homem desceu, contornou a caminhonete tirando algo da caçamba e eu não conseguia mais ver nada porque ele havia parado na porta do passageiro, do outro lado do veículo. Minha curiosidade se aguçou com a demora e com os vidros escuros das janelas. Foi então que meu pai apareceu no meu campo de visão, mas eu não imaginaria que um dia eu o veria assim. Ele estava em uma cadeira de rodas, sendo carregado pelo homem. Eu podia ver uma arma em seu colo, o outro homem carregava uma sacola de papel, talvez fosse a tal recompensa. Quis rir ao vê-lo incapaz de andar, incapaz de se levantar com as próprias pernas. Então esse foi o resultado do meu tiro? Eu realmente tenho uma mira boa.

Eu ri um pouco comigo mesma, tentando não fazer nenhum barulho. Ouvi um cochicho, deviam estar se perguntando por que o "estranho" da ligação de ontem não tinha aparecido ainda. Gostaria de vê-lo cair da cadeira quando perceber que era eu o tempo todo. Tomei um golpe de ar para dentro do pulmão, segurei minha arma com mais firmeza e contei até três. Não sabia o que ia acontecer. Não sabia se eu estava prestes a levar um tiro e minha história acabar assim. Mas, mesmo sem a menor ideia, deixei a coragem tomar conta de mim.
- Onde estão meus cinco mil? - minha voz soou mais calma do que eu estava
Eu disse estas palavras ao sair de trás da árvore, revelando minha localização. Era só eu, ele e seu capanga. Nem os passarinhos estavam cantando. Ele não falou nada. Pude ver seus olhos arregalarem aos poucos, mas sua expressão transformou-se em diversão. Ele começou a rir. A gargalhar. A se engasgar. Eu não via nada de engraçado.
- Bom, é melhor que a recompensa não seja uma piada, porque eu com certeza não acharia nenhuma graça.
Sorri ironicamente. Ele continuava gargalhando. E se engasgando. Nem mesmo numa cadeira de rodas ele parecia estar com pleno equilíbrio. Sua cabeça tombava para o lado, suas pernas pro outro. Ele simplesmente era o bêbado mais patético da face da terra.
- E o que você vai fazer com esse dinheiro? Porque você só vai receber quando eu tiver você aqui ó - ele estendeu sua palma e colocou o indicador no meio dela - nas minhas mãos. E você não vai precisar de dinheiro nenhum quando eu estiver no controle.
- Sabe, estou curiosa. Alguém realmente acreditou que você estava me procurando porque você estava preocupado comigo? E qual história você inventou? Que alguém entrou em casa, te derrubou da escada e me capturou? Alguém sinceramente acreditou em você?
- Não só acreditaram, como vieram me consolar. Essa cadeira de rodas nunca tinha visto tanto movimento em cima dela - ele falou
Eu quis vomitar ao ouvir essas palavras. Minha fome tinha ido embora.
- Então você quer os cinco mil agora? Não sei se vai fazer diferença. Eu posso te dar agora, mas daí você teria que abaixar essa arma aí e se entregar, então o dinheiro seria inútil. E eu realmente não sou de desperdiçar grana.
- Porque gastar todo o dinheiro que sua família precisava para comprar comida com bebida e prostitutas não era desperdiçar, não é? Mas eu não quero dinheiro nenhum. Eu nunca vou querer nada que venha de você, nem se fossem 10 mil, 20 mil.
- O que você quer então? Quer um abraço do papai? - ele fez uma voz estupidamente fina - Quer um pedido de desculpa pela sua infância? Eu sempre te dei tudo, até aquele cavalo desobediente.
- Ah é, desculpa nunca ter feito nenhum desenho bonitinho para você de dia dos pais. Você quer o prêmio de pai do ano agora ou depois?
- Ok, já deu. Estou gastando meu tempo para nada. Abaixa logo essa arma e não faz o inevitável ser mais difícil do que pode ser. Anda, garota.

Eu percebi que seu capanga estava com a arma pronta. E meu querido pai estava já com os dedos no gatilho. Segurei a minha arma com mais força.
- Você não consegue ser homem por um momento? Vai querer que eu me entregue assim? Eu não vim por causa de dinheiro, eu vim porque fugir de você é estúpido, fugir de um covarde é ser ainda mais covarde. Você pelo menos ouviu o que eu disse. Foi atrás de mim e não da minha família. Minha família - eu reforcei - ela nunca foi sua.
- Ah, isso me lembrou uma coisa.
O quê? Lembrou o quê? Ele chamou um nome que eu desconhecia, gritando com aquela voz tremendamente embriagada. Eu demorei um tempo para entender. Um homem saiu da cabine traseira da caminhonete. Ele tinha trazido dois capangas? O quão covarde ele era?
- Sim, chefe - o homem respondeu parado com a porta ainda aberta
- Pode trazer o garoto.
O garoto. Eu repeti essas palavras duas vezes dentro da minha mente. Ele não pode estar falando sério. Não. Eu não sabia mais para onde apontar minha arma. Uma criança foi praticamente arrastada do banco traseiro ao chão. Era um menino e estava com uma mordaça e com os pulsos amarrados juntos. Minha mente tentou me dizer que não era Kev. Não era. Ele havia pegado uma criança qualquer para eu pensar que era Kev. Mas a criança tinha a mesma altura do meu irmão. Tinha o mesmo cabelo. E então a criança olhou pra mim e todos os cacos do meu coração conseguiram se quebrar ainda mais. Era Kevin. Era ele, ali, indefeso, com as bochechas machucadas pela mordaça.

Senti minhas pernas ficarem bambas, meus joelhos estavam tremendo. Eu engoli o choro. Não ia deixar ser uma vitória fácil, mas o que eu ia fazer?! Ele tinha meu irmão nas mãos, eu faria qualquer coisa para protegê-lo. Na verdade, eu fiz tudo o que eu podia. Protegi sua infância o tempo todo, para que ele não a perdesse como eu a perdi, para que ele fosse criança por mais tempo que eu, para que ele não sofresse como eu sofri. Só que eu falhei. Eu falhei porque subestimei a crueldade de Walter. Eu estava desmoronando por dentro, meus olhos estavam quase transbordando d'água. Eu havia fracassado. E, se ele fez isso com Kevin, o que ele fez com minha mãe? Onde estava minha mãe?

Assim que Kev me viu, ele tentou gritar, mas a mordaça o impediu. Ele tentou se soltar, mas o capanga segurava seu braço com força. Eu impulsionei meu corpo para frente, mas parei assim que vi a arma apontada para a cabeça dele.
- Pode parar por aí - Walter falou - Mais um passo e pode dizer adeus para "sua" família.
Eu estava tão decepcionada comigo mesma que não consegui proferir todos os palavrões que estavam rondando minha mente. Havia duas armas apontadas para Kevin, uma de um dos capangas, outra do próprio Walter. Havia uma arma apontada pra mim. Eu não sabia para onde apontar minha.
- Sabe, eu ia ameaçar matá-lo para você se entregar, mas tive uma ideia melhor. Brilhante, eu diria.
Minha mente simplesmente não conseguia achar palavras para pronunciar.
- Tire todas as balas da sua arma, menos uma.
- Por que eu faria isso?
- Porque senão eu mato seu irmãozinho. Ué - ele riu - achei que você era mais esperta, garota.
Eu tirei todas as balas do tambor da minha arma com raiva. Tirei todas as balas, menos uma. Encaixei o tambor de volta e girei.
- Nem esperou para eu dizer que era pra girar? Talvez você não seja tão burra assim.
- Eu sei o que é uma roleta russa - disse entre meus dentes
- Ótimo. Então deve saber também que eu sou muito bom em apostas. Esse homem aqui, por exemplo - ele riu, olhando para o capanga que estava segurando Kev - é péssimo em apostas. Talvez por isso esteja me devendo mais de três mil dólares. Mas algumas pessoas não sabem onde parar né?
Eu então entendi como sempre havia tanta gente no pé de Walter, tanta gente obedecendo a ele. Não era respeito, era impossível ter respeito por um bêbado sem caráter daqueles. Era medo. Era puro medo por estar devendo dinheiro a ele.
- Eu aposto que a bala está encaixada. O resto das chances eu deixo para você.
Eu apontei minha arma pro céu, só que ele balançou a cabeça.
- Qual a graça de atirar pra cima? Aponta pro garoto. Anda. Aponta.

Eu demorei, mas apontei para Kev. Seus olhos estavam arregalados. Eu já estava chorando. O quão baixo era ele? Eu sabia que era um cretino, mas ele está apostando a vida do próprio filho. Uma criança que nem trocou todos os dentes ainda! O quão covarde ele era de não me encarar sozinho? Minha mão estava tremendo assim como meus joelhos. Minhas lágrimas salgadas chegaram aos meus lábios e meu dedo estava apertando devagar o gatilho. Eu não ia conseguir, eu não ia arriscar a vida dele, não importava o quanto de chances eu tinha.
- Não dá. Eu não vou fazer isso - eu falei abaixando a arma, sem nenhuma carta na manga

O que eu podia fazer agora? Ajoelhar e implorar para que ele soltasse Kev? Walter ia adorar, mas não era garantia de nada. Com meus olhos borrados de lágrimas, eu vi Walter acenar de leve para o capanga que tinha a arma apontada para Kev. Era assim que acabava? Tudo em vão? Se eles atirassem, eu ia tentar a sorte e tentar atirar em Walter, só que o barulho de tiro não veio. O capanga se esquivou. Eu li seus lábios, ele sussurrou "mas é só um garoto". Eu olhei dentro dos olhos assustados de Kev, mas não sabia como confortá-lo. Enfim, o barulho de tirou chegou.

Meu cérebro demorou alguns milésimos de segundos para processar os acontecimentos. Kev estava mais assustado do que antes. O capanga agora estava caído ao seu lado, morto com um tiro que lhe atravessou a cabeça. Walter havia se irritado e atirado, ainda bem que não em Kev.
- Inútil - ele sussurrou - e nunca ia conseguir pagar a dívida. Inútil, burro e azarado.
Walter começou a rir igual a um psicopata. Eu e Kev ficamos parados, estáticos, como se tivéssemos congelados. A morte era algo real agora. A possibilidade de outra pessoa levar um tiro era ainda maior. O outro capanga puxou Kevin para seu lado, provavelmente já prevendo as ordens que viriam de Walter. Este último, virou a cadeira de rodas e se movimentou pra frente, ficando mais perto de mim.
- Se não quer arriscar a vida do garoto, a sua vai estar na mesa agora.
Ele me ameaçou com sua arma e me fez colocar a minha em minha cabeça. Eu estava tentando respirar sem falhas. Eu queria atirar nele. Mas daí ele atiraria em mim. E o outro capanga atiraria em Kevin. E seria a pior tragédia que Sweetwater já viu. Demorei para levar minha arma à cabeça. Eu tinha cinco chances de seis e rezava para a sorte estar ao meu lado. Quem lutaria por Kev se eu morresse?
- Eu queria acabar com você com minhas mãos, mas acho que vai ser mais divertido ver você acabando consigo mesma - ele riu e soluçou, voltando a cadeira de rodas para junto do capanga

Eu o olhei com raiva. Esse não ia ser meu fim. Não ia. Olhei para Kev de novo, ele tentava gritar, tentava se livrar da amarra na mão, que ia ficando cada vez mais solta, mas não ao ponto de livrar seus pulsos. O que me restava a fazer? Encarar a sorte? Como se houvesse algum jeito daquela cena não acabar em sangue. No momento que eu ia tentar minha sorte, uma sirene alta invadiu meus ouvidos. Barulhos de acelerador e freios ecoaram pela estrada silenciosa, onde agora viaturas nos cercavam de todos os lados. Foi tudo rápido demais: o capanga ficou assustado e correu, acabou levando um tiro de Walter. Kevin veio correndo até mim, ficando atrás das minhas pernas. Eu ia tentar minha sorte em Walter e como eu queria que aquela bala estivesse encaixada!

Walter ainda estava assustado quando levou um tiro no ombro, no braço que segurava a arma apontada a mim. Mas o tiro não veio de minha arma. Olhei para baixo e Kev estava com ela em mãos. Ele havia conseguido livrar uma de suas mãos, que estavam vermelhas ao ponto de sangrarem, mas segurava o cabo da arma antiga de Walter, que antes estava dentro da minha bota. Seus dedos estavam no gatilho e ele me olhava de baixo para cima, sem acreditar que tinha atirado. A arma que Walter carregava caiu no chão com o tiro no ombro. Ele estava tentando resgatá-la, quase caindo da cadeira, inclinando seu corpo, quando vi alguém deixar uma viatura de polícia e ir por trás de sua cadeira de rodas, resgatando sua arma do chão. Eu acompanhei minha mãe com os olhos, sem acreditar que era ela.
- Procurando por isso, querido? - ela disse, calmamente, com a arma em mãos, se colocando à frente da cadeira
Ele parecia ter visto um fantasma. Ela continuava apontando a arma para sua cabeça.
- Perdeu a língua junto com os movimentos da perna? - ela riu - Mas fiquei sabendo que algo ainda funciona...
Eu não podia acreditar que aquela era minha mãe. Ela estava tão confiante, segurando uma arma apontada a ele da maneira que sempre quis. Ela abaixou a arma, mirando no meio de suas pernas.
- Não, Deena, eu imploro... - ele resolveu se pronunciar, segurando o ombro ferido
- Acho que eu não ouvi direito. Você está pedindo para que eu pare?
- Não faça isso, não... - ele fechou os olhos com força, esperando a dor
- Parece que o mundo deu voltas, não? - ela riu baixo, eu estava adorando vê-la assim - Capitão, por favor, é inútil gastar saliva com esse cretino.
Um policial entrou na cena. Ele era mais velho, tinha a barba já branca. Juntou os pulsos de Walter e este gritou de dor por causa do ombro. Era engraçado e macabro como o som de seus gritos era agradável a mim.
- O senhor está preso e tem o direito de permanecer em silêncio. Tudo o que falar pode e vai ser usado contra você - o policial disse, algemando-o

Exausta, eu apoiei meus joelhos no chão. Tudo tinha acabado e eu senti que acabou do jeito certo. Eu havia comprado uma briga que não era minha, era da minha mãe. E eu comecei a chorar, mas não de tristeza. Chorei para liberar todo stress e ansiedade dentro de mim. Kevin encostou sua cabeça à minha e eu desamarrei a mordaça dele, vendo suas bochechas vermelhas. Minha mãe correu até nós e eu vi Walter sendo carregado para dentro de uma ambulância.
- Estou tão feliz que vocês estejam bem - ela falou, beijando minha testa; eu estava chorando
- Eu estou mais feliz ainda. Quando eu vi Kevin lá, mãe, eu... Eu achei que ele tinha feito algo pior com você.
- Oh, querida. Nada disso seria possível sem você, sem a sua coragem, ok? - ela disse, beijando minhas bochechas molhadas de lágrimas
Kevin me abraçou até eu me acalmar um pouco.
- Ok - eu respirei, tentando fazer meu nariz desentupir - Agora eu acho que vocês podem me explicar o que aconteceu aqui. Eu ainda não consegui ligar os pontos.
- Você realmente acha que eu ia deixar você fugir desse homem pra sempre? Que eu nunca mais ia te procurar? Eu sou sua mãe, Freedom.
Eu a olhei com estranheza. Ela tinha me chamado de Freedom?
- Acho que esse nome combina mais com você agora. Afinal, foi você quem nos ajudou a ficarmos livres - ela piscou - Assim que o trem chegou em Nashville, eu não fui procurar minha prima distante. Eu fui direto para a delegacia. Eu expliquei tudo a eles, mas eles queriam provas. Sabe, aquelas coisas chatas de policial. Mas eles ligaram para a polícia de Sweetwater e viram que Walter havia sido internado e estava contando uma história de que a casa tinha sido invadida, que você havia sido possivelmente sequestrada e que eu e Kevin havíamos fugido para um lugar mais seguro. Então eles prometeram me ajudar.
- Mas, como? Como Walter pegou o Kevin se a polícia estava sabendo de tudo?
- Kevin fugiu - ela olhou com os olhos cerrados ao meu irmão - Vou ter uma conversinha mais tarde com você, mocinho!
- Mas eu precisava! Eu ouvi que você tinha fugido do policial e - eu o interrompi
- Que policial?
- O policial que estava te protegendo há duas semanas! E daí eu decidi agir por mim mesmo. Eu tinha falado que eu queria ajudar, mas ninguém me ouviu!

Eu estava parada, ainda tentando entender a parte do "policial que estava me protegendo". Zach... Zach era um policial? Zach estava me protegendo esse tempo todo? De repente tudo ficou tão claro. Foi como se eu tivesse uma peça crucial faltando no meu quebra cabeça e ela estava o tempo todo na minha frente e eu não via. Era por isso que ele era tão calmo, era por isso que ele atirava e dirigia tão bem, era por isso que eu, naquele dia, não fui multada por dirigir sem habilitação. E duas semanas? Duas semanas? Parecia meses atrás! Não podem ter passado só duas semanas, meu calendário mental não pode estar tão errado assim...

- Mas mãe! Deu tudo certo, eu posso ter fugido e vindo pra cá, mas deu tudo certo! Imagina se eu não estivesse aqui, o que ia acontecer? Talvez não ia dar tempo, vocês não iam conseguir nem saber onde eu estava! - Kev argumentava
- Mãe, deixa ele - eu disse - Ele foi muito corajoso. Foi estúpido e eu nunca, nunca, quero você fazendo algo assim de novo, ok? Mas deu certo. Dá um desconto. Falando nisso, bela mira ein? Deve ter puxado à sua irmã aqui - eu pisquei e ele ficou todo orgulhoso
- Era só o que me faltava. Dois filhos andando com uma arma por aí. Vai mudar de nome também, Kevin?
- Estava pensando em talvez me chamar Brave, quem sabe? - ele riu, minha mãe não riu nem um pouco
Nós nos abraçamos mais um pouco, no meio daquela estrada, rodeados de viaturas de polícia. Meu choro cessou-se, deixando apenas meu olho inchado e vermelho para trás. Eu disse à minha mãe que ela estava ótima, que o cabelo, a maquiagem e as roupas lhe caíram tão bem quanto a atitude nova. Ela me disse o mesmo, só que minha atitude já era velha. Todavia, ela odiou a jaqueta. "'Ovelha negra'", isso lá é coisa pra se bordar em jaqueta?".

Eu saí do abraço e vi que estavam colocando o corpo do capanga que morreu nas mãos de Walter em um saco especial. Eu nunca havia visto aquele tipo de coisa. O outro capanga tinha conseguido fugir, deixando um rastro de sangue no chão. Avistei a sacola de papel no chão e a resgatei. Abri e dentro tinha apenas mil dólares. Vigarista. Mas eu realmente estava esperando que ele fosse cumprir com sua palavra? Dei a sacola discretamente a Kev e pedi para que ele não contasse à mamãe.

Fui interrogada por policiais e mais policiais; um total pé no saco. Só que meus olhos rodeavam o lugar e eu sabia exatamente por quem eles estavam procurando. Eles passaram por viaturas, analisaram cada policial. Ele não estava aqui? E eu já estava desistindo de procurar quando vi um homem de costas, na outra beirada da estrada, olhando pra as árvores, atrás de uma viatura. Ele vestia uma calça que eu conhecia bem, mas a camisa era nova aos meus olhos. Aproximei-me, vendo que ele estava fumando. Por esse detalhe, quase deixei minha mente me enganar, falar que não era ele, que eu havia confundido, mas, assim que me aproximei mais, ele virou seu rosto e eu tive certeza. Eu estava com minha arma nas mãos e, ao chegar mais perto, estendi meu braço ao céu e apertei o gatilho sem medo. O barulho de tiro ecoou pelo lugar, fazendo alguns pássaros voarem. Ele se assustou.
- Calma, galera! Está tudo sobre controle! Foi um tiro pro céu! Não há perigo! - ele gritou aos outros policiais, com um ar desesperado - Você está maluca? Atirar em uma cena de crime dessas com um monte de policial concentrado?
Eu ainda estava um pouco chocada. A bala estava encaixada no cano. Walter estava certo, ele ia ganhar a aposta.
- Aquela era minha última bala - eu falei, olhando pra cima, ficando a cinco passos dele - Em um outro universo onde vocês não tivessem ajudado minha família, eu provavelmente estaria morta agora.
- Estou feliz que vivemos nesse universo e não em outro - ele tragou o cigarro, eu tentei não derreter por dentro
- Um policial? Você? Um policial? - eu olhei para ele, quase rindo - Era tão óbvio! Como eu fui burra de não perceber isso antes?
- Não era óbvio. Eu fiz de tudo para não ser óbvio. Você só está achando óbvio agora porque sabe a verdade.
- Então era tudo mentira? Você inventou tudo para se acobertar?
- Basicamente nada era mentira, só alguns detalhes - ele sorriu - Meu nome é Zach, nasci em Philly, desisti da faculdade de Direito que meu pai queria pra mim e recebi um belo "não" da garota que eu pensava que amava quando a pedi em casamento. Os únicos detalhes diferentes foram: eu não saí pelo país sem rumo buscando aventuras, eu me tornei policial para ter essas aventuras. E também porque eu gosto de psicologia. Não tem nada mais psicológico que lidar com criminosos.
- E mais um detalhe: você não estava tentando comprar minha Chevy.
Ele riu. Tragou o cigarro de novo. Eu queria morrer, não literalmente, é claro. Ele estava um pouco distante, um pouco seco. Não estava fazendo piadinhas nem sorrindo ironicamente. Tudo isso me deixou nervosa.
- Foi a pior mentira que eu já contei na vida - ele riu - Mas eu vi, logo de cara, que você era esperta demais para cair nessa conversa. Eu vi que ia ser difícil demais convencer você a me deixar te proteger. Eu ia dizer que era um policial, já contar tudo, mas não ia ter dado certo, você nunca aceitaria.
Ele estava certo. Céus! Duas semanas. Duas semanas que pareciam uma vida inteira e eu nunca adivinhei que ele estava tentando me proteger porque estava ali justamente para isso!
- Você sabia meu nome desde o começo. Você sabia minha idade. Você sabia de tudo. Deus! Já pensou em ser ator? - arranquei uma gargalhada dele com isso
- E eu sabia onde você estava o tempo todo. Depois dá uma olhada na sua Chevy, você precisa tirar o dispositivo que eu coloquei nela.
- O quê? O que você colocou nela?
- É um dispositivo por satélite. Estamos testando isso na polícia. Seu irmão foi esperto e fugiu com um deles escondido. Foi por isso que sabíamos que você estava vindo para cá assim como seu irmão e seu pai... Ah, e sobre aquilo - ele falou mais baixo - é melhor ninguém ficar sabendo, ok? Posso enfrentar um belo processo, até ser proibido de ser policial. Você era maior de idade, mas eu estava em trabalho.
- "Aquilo?". E aquela história de "não foi só sexo"? Era tudo pra me convencer?
Ele balançou a cabeça, soltando a fumaça.
- Alguns detalhes podem ter sido inventados, os sentimentos nunca foram, Freedom. Não sou tão bom ator assim. Falando nisso, eu nunca quis te chamar de Priscilla. Freedom sempre foi a primeira opção para mim.
- Mas você escondeu o detalhe de que você fumava? - levantei a sobrancelha, apesar de ter tragado meu cigarro duas vezes, nunca vi ele realmente fumar ou comprar um maço para si
- Eu só comprei isso porque eu achei que talvez nós chegássemos tarde demais. Eu só comprei isso porque tem o seu gosto.
Se eu já estava sentindo meu peito queimar antes, agora ele estava em chamas. Eu queria diminuir os cinco passos entre nós. Mais do que isso, eu queria diminuir todo e qualquer espaço entre nossos corpos.
- Já que estamos sendo sinceros, confesso que eu nunca quis tanto te beijar. Não, eu não quero só te beijar. Eu quero que nossas línguas fiquem arranhadas, que nossos lábios se machuquem, quero que seus dedos deixem marcas no meu pescoço e na minha cintura, Zach.

Eu falei naturalmente, para que ninguém percebesse que eu estava com meu peito palpitando, minhas mãos e pés inquietos. Ele chegou mais perto, mas não o suficiente, largando o cigarro no chão. Eu sei, eu sei. Não podíamos. Havia muita gente em volta. Seria muito arriscado para ele. Entretanto, tirei meus óculos, apoiados em minha cabeça, e joguei-os intencionalmente no chão. Ele se agachou para pegá-los e eu fiz o mesmo, deixando com que nossos corpos ficassem atrás da viatura completamente. Não demorei nem um segundo para puxá-lo pelo pescoço e fazer exatamente o que eu disse a ele que queria.

O beijo tinha gosto de cigarro e sangue, mas não que fosse algo ruim. Em um momento, quase caímos para um dos lados, nossos joelhos já estavam ficando cansados. Ele soltou-se do beijo aos poucos, disfarçando-o com beijos menores. Para mim, foi curto demais. Para o tempo em que se resgata um óculos do chão, foi a eternidade. Ele se levantou, me levando junto. Qualquer um que olhasse para nós iria saber.
- Foi bom te conhecer, Freedom - ele piscou e estendeu a mão
Eu chacoalhei sua mão em resposta. Era um gesto tão formal depois de todos os outros...
- Acho que você precisa voltar pra Nashville, não é? Bom, caso queira alguém para analisar, você sabe onde é Sweetwater agora. Não vai ser difícil me encontrar nessa cidade.
- Pode deixar, vou procurar por uma ruiva usando uma jaqueta de motoqueiro e botas de cowboy - ele sorriu de lado - Não vai ser difícil. Ainda mais dirigindo uma Chevy 65 gigante e desbotada.
E eu não queria, mas me afastei mais e mais dele, até voltar à minha família, até a polícia ir embora, até o maior acontecimento na história de Sweetwater acabar.

Walter estava preso e, como nos garantiram os policiais, provavelmente sofrendo bastante na cadeia. Os crimes de abuso e homicídio não eram os únicos em sua ficha criminal. Meu querido pai era dono de um dos cassinos mais sujos e depravados da região e eu só soube disso quando a polícia me falou. Minha mãe sorri mais, meu irmão está cada dia maior, a nossa casa é outra - não tem memórias tão ruins nem piso sujo de barro pisado. Pelúcia continua arredio como sempre e Sweetwater continua parada, apesar de todo mundo ainda comentar sobre o que houve. Eu arranjei um trabalho, na verdade, eu sou a mais nova sócia de Frank e Regina Harold. Já que seu filho não quer saber de continuar a cuidar do bar que está passando de mãos em mãos por gerações, eu me ofereci para cuidar. E tem algo melhor do que trabalhar sentindo o cheiro do torresmo com bacon de Regina? Tudo bem, também tem a parte chata, como limpar a cerveja derramada no balcão junto com as cinzas de cigarro, como estou fazendo agora.

- Menina, tem um carro de polícia lá fora perguntando por você - Frank me disse, eu parei de esfregar o balcão na mesma hora
- Você não tem vendido bebida pra menor de idade não né, ou tem? - Regina me perguntou, eu rolei os olhos
- Só para os maiores de dezesseis, Regina! - eu gritei, rindo, a caminho da porta principal
- Ei - ele falou quando me viu - Foi mais fácil do que eu pensava te achar aqui.
- Acho que ninguém negaria tal informação para um policial - eu o olhei dos pés à cabeça, vendo-o de farda

Sua barba estava um pouco maior, porém aparada; seu cabelo mais limpo, mas ainda bagunçado. Eu simplesmente sorri enquanto ele me convidava para uma volta na viatura. E eu confesso que ele foi imprudente quando deixou que eu dirigisse pela estrada de terra, mas eu estava apaixonada. Estava apaixonada pela vida, o que era raro. Estava apaixonada por tudo que eu via, pela natureza, pela minha casa e pela minha família nova, pela minha vida nova. Ele ligou o rádio do carro e trocou a estação, aumentando o volume. Eu estava apaixonada por meus cabelos voando em alta velocidade, pela música alta, eu estava apaixonada por sua mão em minha perna. Eu finalmente tinha conhecido o que era a verdadeira liberdade e ela era tão imensa que era difícil de acreditar que ela cabia ali dentro de mim, dentro daquele momento, daquela viatura, dentro do toque de seus dedos em minha pele. De algum jeito eu estava presa àquele sentimento de liberdade. Um brinde à ironia!
- Sobre o que você está pensando? - ele gritou, tentando fazer sua voz superar o som da música, do motor e do vento
- Você vai ter que adivinhar - eu sorri, jogando minhas mãos para fora da janela, enquanto seus olhos pousavam em mim

Música do Capítulo 19: Gunpowder & Lead - Miranda Lambert 

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