15. It ain't love but just like nicotine
O Sol estava quase totalmente posto e eu e Zach estávamos correndo, literalmente, até nosso quarto. Tudo começou quando estávamos falando de como queríamos tomar banho para tirar aquela lama seca da nossa pele e ele, por pura criancice, gritou "quem chegar primeiro, toma banho primeiro". E então disparou a correr. Eu até corri também, mas deixei para lá. Não valia a pena. Era só um banho, eu aguentaria mais alguns minutos suja. Ele continuou correndo sem olhar para trás; eu estava mais interessada na Lua contrastando com o céu escurecendo.
Fiquei mais alguns minutos vendo o céu e quando entrei, Zach ainda estava no banho. Eu então bati forte na porta, mandando-o sair. Ouvi o barulho de água corrente cessar-se e quando ele saiu de dentro do banheiro, com a toalha enrolada na cintura e o cabelo encharcado, senti o vapor forte sair também lá de dentro, apesar da água ser gelada. O banheiro era quente demais então não adiantava a temperatura da água, ela condensava. Um pouco irritada com a demora - e suja - eu entrei no banheiro, que estava mais pra sauna, e fechei a porta. Tomei um banho também demorado, tirando cada gota de lama da minha pele e cabelo. Eu gostava de tomar banho em rios, mas não se comparava a ter um chuveiro, ainda mais um com uma ducha forte como aquele. Enrolei meu corpo na toalha e foi aí que percebi que eu não tinha levado uma roupa limpa junto comigo. Em qualquer outra situação, eu teria vestido as roupas de antes para ir ao quarto buscar uma roupa limpa, mas a roupa de antes estava marrom de terra. E daí eu me dei conta: por que eu estava com tanto pudor? Eu, que desde criança tomei banho sem roupa em lagos e em riachos? Eu que já tinha até feito isso na frente dele? Ir ao quarto enrolada na toalha não tinha nada demais. Eu estou é ficando louca.
Eu saí do banheiro, abrindo a porta e deixando o vapor sair também. Zach continuava de toalha, mas deitado na cama. Ele estava ali o tempo todo fazendo o quê? Pensando na morte da bezerra ou em quão ruim ele era cavalgando?
Em silêncio, eu fui até a penteadeira que ficava na parede oposta à cabeceira da cama. Era uma passagem estreita entre o colchão e a mesma, mas a minha mochila, com algumas roupas limpas, pelo menos as menos sujas, estava lá. Fingi não notar Zach se levantando da cama e tentando passar por entre o mesmo espaço onde eu estava em pé procurando as roupas dentro da minha mochila para tentar ir ao banheiro novamente. Ele tentou se espremer no espaço, eu tentei também lhe dar espaço, encostando ainda mais meu corpo contra a mesa da penteadeira. Só que ele parou atrás de mim. Era só dar um passo de carangueijo ao lado, era tudo o que precisava ser feito. Precisava ser feito, mas não foi. Ele não queria. Eu parei de mexer em minha mochila e olhei para frente, encarando-o no espelho da penteadeira. Ele não ia se mover?
Ele olhou de volta para o reflexo do espelho e senti seus dedos passarem de leve pelo meu ombro, levando algumas gotas d'água com eles. E eu assisti com atenção aos seus lábios beijando meu ombro, em um gesto um pouco contido. Suas mãos se deslocaram para minhas costas, fazendo com que eu inclinasse mais meu tronco sobre a mesa. E, por mais que eu estivesse gostando de seu toque, aquela posição me incomodava por motivos fortes.
- Sabe o que eu acho de caras que insistem em chegar por trás? Que querem porque querem a mulher de quatro em sua frente? - eu disse
Ele não estava esperando que eu disesse nada. E também não disse nada à minha pergunta retórica. Apenas continuou a me olhar indiretamente pelo espelho.
- Eu os acho covardes. Acho que querem uma mulher apenas como um objeto, já que assim não precisam nem ao menos colocar um rosto no corpo que estão usando.
Zach me virou de frente a ele com rapidez e um pouco de agressividade ao ouvir essa minha conclusão. Era o que eu pensava. Talvez por ter exemplos próximos desse tipo de homem.
- Eu não sou assim, Freedom - ele disse, respirando forte contra a minha boca
Sua mão em meu pescoço começou forte, mas se afrouxou. Os seus dedos passearam devagar pelo pequeno colar dourado que eu nunca tirava de meu corpo. Seus olhos pararam de olhar os meus e se fecharam. Era como se ele estivesse se concentrando, se torturando, se comedindo. Sua testa se encostou à minha e ele sussurrou algo como "eu não posso". Eu vi que talvez soubesse a razão de seu conflito.
- Meu aniversário é em Julho. Dia 4 - eu sussurrei de volta
Ele parou por um minuto. Não tenho poderes sobrenaturais, mas sabia o que ele estava pensando. Ele ligou os pontos. Se eu tinha dezessete anos antes, agora eu tinha dezoito. E, mesmo que ele não se lembrasse que eu tinha dezessete, eu só podia ter uma razão para falar do meu aniversário naquele momento, afinal. Só que ele continuou se torturando mais um pouco, eu não sabia se eu tinha acertado no dilema, não sabia qual outra razão ele tinha para não continuar, para não fazer o que queria. Só que o fato de eu ser agora adulta, não como se eu não fosse antes, mas agora legalmente, ajudou-o a se decidir.
- Feliz aniversário atrasado - ele voltou a sussurrar aos meus lábios, pausadamente
E, depois desse sussurro, nossas bocas se uniram. E foi aí que eu percebi que, tirando aquele beijo na festa de colegial, aquela na qual ele tomou tanta cerveja que ficou mais metido do que era, esta vez tinha sido a primeira que ele havia me beijado e não o contrário. Tudo bem, ele me provocou a beijá-lo na segunda vez, mas se eu não quisesse aceitar a provocação, não teria o beijado. Desta vez, foi ele quem começou. Foi ele que quis me beijar. E o fez com vontade.
Suas mãos agarraram meus cabelos, encharcados, fazendo-os pingar. Depois ele passou sua mão molhada pelo meu pescoço. Eu sentia meu corpo sendo pressionado contra a penteadeira. O beijo não parava, não havia pausas para respirar. Era como se o ar não fosse preciso, era como se nossas bocas juntas fossem mais importantes que oxigênio. Eu sentia a toalha enrolada em meu corpo cada vez mais frouxa e eu me aprontaria para apertá-la em qualquer outra situação, mas não naquela. O beijo ficou mais lento depois que ele lembrou-se de puxar um golpe de ar para seu pulmão. Nossas línguas se moviam mais devagar, aproveitando mais o gosto do que na euforia. Ele tinha razão, o beijo tinha gosto de torta de cereja. Era algo doce que se sentia quando nossas línguas se arrastavam uma sobre a outra, quando elas se embolavam com os lábios. Só me fazia querer mais.
Eu gostei de não estar no controle por algum tempo, eu gostei de ser surpreendida ao invés de surpreender. Era excitante não saber seu próximo passo. Era excitante e perigoso, mas eu tinha que deixar de ser tão paranóica. Se ele quisesse me capturar, ele já teria o feito há muito tempo, não?
Minhas mãos subiram aos seus ombros quando o beijo se transformou em apenas algumas puxadas de lábio ali e acolá. Ao suspender meus braços, minha toalha, já frouxa, se desenrolou de meu corpo. Ela só não caiu no chão porque nossos corpos estavam juntos, ou seja, ela ficou pendurada entre nossos quadris. Zach abriu os olhos e eles me encaram de maneira gentil. Seu nariz me deu alguns beijos de esquimó e isso me fez sorrir. Eu confesso, ele era uma pessoa alegre de se conviver, alguém que te passava segurança, que te fazia rir. Muito diferente de mim.
E depois ele me beijou com a língua de novo, causando outra histeria, outra confusão dentro de nossas bocas. Seus dedos, em contraste, desceram pelo meu pescoço vagarosamente, parando no meio de meu peito e depois circulando devagar meus seios. Eu não consigo expressar com palavras o que a ponta de suas unhas passeando pela minha pele de leve me fez sentir.
Depois de um tempo, telepaticamente vimos o quão estúpido era estarmos espremidos em um espaço minúsculo quando tínhamos uma cama espaçosa vazia bem atrás de nós. Nós rimos e deixamos as toalhas encontrarem o chão. O quarto era iluminado apenas por três velas, fazendo com que a iluminação ficasse dourada. As sombras eram mais aparentes. Por isso, quando as toalhas caíram, não era como se pudéssemos ver muita coisa. Eu via muito mais as sombras de seus músculos aparentes, eu via seus olhos brilhando em tons dourados, eu via seus fios de cabelos iluminados. Eu não sei o que ele via, mas as gotas de água restantes em meu corpo deveriam estar em destaque. A cama tinha um jogo de lençóis brancos durante o dia; durante a noite, sem iluminação elétrica, ele era um breu, como um céu sem estrelas. E neste céu sem estrelas, nós nos deitamos, nós nos tornamos a Lua.
E ele agarrava minhas pernas na medida certa de força enquanto eu exagerava um pouco nas mordidas em seu ombro, tendo cuidado com o seu machucado que ainda não estava completamente curado. Era tudo muito novo pra mim, sensações nunca experimentadas. Entretanto, Zach fazia parecer natural. Eu apenas tinha que seguir minha intuição. Não era como se eu nunca houvesse imaginado como seria, afinal. Eu queria que fosse assim, sem nenhuma pressão, sem nenhuma agressão. Meu maior medo era de que iria me machucar, de que eu acabaria me entregando a alguém que me forçasse a fazer algo. Eu sabia muito bem de onde vinha esse meu medo, só que ele, felizmente, não se realizou. Zach me apertava, e depois me acariciava, me mordia, depois me beijava. Era tudo na medida certa, como uma receita decorada de cor. Eu nunca havia deixado ninguém me tocar daquele jeito, ninguém encostar em mim daquele jeito. Eu aprendi a seduzir sem me entregar, a conseguir o que eu quero sem ceder, ou respeitava minha barreira ou eu sacava minha arma. De algum jeito, eu havia abaixado a arma e aberto todos os cadeados para o homem agora beijando minha barriga.
E eu me abri, fisicamente e emocionalmente para ele. E eu gostei do jeito com o qual eu apenas apoiei minhas pernas em seus ombros e tentei relaxar, e tentei sair dessa minha mania minha de ter tudo sob o meu controle. Eu estava, obviamente, fora da minha zona de conforto, mas era bom. Meus dedos agarrando os lençóis eram bons, minha boca aberta e meus olhos cerrados também. E eu tentava respirar fundo, mas eu sentia vontade gritar o mais alto possível. Minha barriga se contraía, meu coração estava a mil. Mas eu só relaxei quando ele parou, quando ele subiu e beijou minha testa. Eu tive que abrir os olhos para conferir se nenhuma vela tinha caído, para ver se o quarto não estava em chamas.
Ao beijar minha testa, meu nariz sentiu o cheiro de seu pescoço e eu quis me afogar ali sem pensar duas vezes. Eu cheirei forte seu pescoço e beijei sua pele. Eu queria sentir e beijar todas as partes de seu corpo, só para ver se eu encontraria um cheiro tão bom quanto aquele. Foi isso o que eu fiz. Eu beijei seu rosto, fazendo uma parada longa em sua boca, seus lábios, sua língua. Depois foi a vez de seu pescoço, seus ombros, seu peito. Eu beijei e mordi e experimentei praticamente toda sua pele, tentando sentir todos seus gostos, seus sabores. E eu assumi que ele estava animado com a minha provação toda quando vi seu rosto mal iluminado parecer estar em um planeta distante.
Beijou meus dedos, um a um. E olhou, com seus olhos, os meus, um a um. Tirou o meu cabelo da minha própria testa e sorriu. Esse momento de delicadeza durou até ele colocar seu corpo em cima do meu e não mais embaixo. Ele sabia, eu sabia, que eu não aguentaria ficar por baixo por muito tempo. Ele sabia, eu sabia que era controladora demais. Só que ele se aproveitou destes minutos para arrastar seu corpo contra o meu, para colocar-se entre minhas pernas. Ele me beijou, eu não respondi sem querer. E ele leu minha mente pela minha expressão facial: não estava muito confortável.
Então Zach me beijou mais uma vez enquanto jogou de leve seu corpo ao lado do meu, ficando deitado. Ele respirou forte e cruzou nossos dedos da mão. Eu não era tão boa em ler expressões como ele, o que ele estava fazendo? Ele ia parar ali? Cortar o clima todo? Ele simplesmente se deitou sem fazer nada. Confesso que eu fui lenta em entender, mas o que ele estava fazendo era justamente deixar todo o comando para mim. Se eu quisesse continuar, eu continuaria. Se eu quisesse parar, então ele não iria me forçar a nada. E este ato foi o que me fez continuar, foi o que me fez subir sobre seu quadril, foi o que me fez experimentar o que eu nunca tinha sentido antes.
Confesso que todas as vezes que me senti completamente atraída por ele foram momentos em que ele agiu de certa forma que me fez gostar de quem ele era. Isso fazia meu corpo palpitar bem mais do que as vezes nas quais fiquei atraída apenas por seu corpo. Tudo bem, não vou negar que atração física ajudou sim. Ele tinha lábios que chamavam a minha atenção, tinha uma pele que eu queria beijar, um corpo que eu queria perto do meu, olhos que eu queria me observando. Mas isso poderia me fazer sentir atraída por muitos outros. Ele não era o único por aí com boa aparência. Só que quando ele decidia parar de ser um arrogante irônico com aquele sorrisinho que eu queria socar, eu me sentia atraída pelo jeito que ele pensava, pelo jeito com o qual as palavras saíam de sua boca sem muito polimento, pelas vezes que ele disse a coisa certa na hora certa. Isso era muito mais importante para mim. Talvez foi por isso que quis beijá-lo - e o fiz - mais cedo enquanto estávamos sujos de lama. Foi o jeito com o qual ele se abriu sobre algo que certamente não era fácil de se contar. E eu quis beijá-lo - e fazer tudo o que vem depois - quando ele parou ao ver que eu estava um pouco incomodada. Não, ele não estava me machucando, era só incômodo, só algo que não era conhecido pelo meu corpo.
Então, devagar, com suas mãos em minha cintura, me acariciando, eu fui me acostumando aos poucos à sua presença. Nós tínhamos o tempo todo do mundo, não havia horários marcados, a noite podia durar dias se quiséssemos. E foi como aprender a passar marcha. No começo você tem medo do carro morrer, você pensa demais em tudo o que está fazendo, faz tudo devagar demais para não cometer erros. Mas, uma vez que você tenha pego o jeito, vira automático. Vira algo que você não precisa mais pensar em fazer, você não tem mais o medo que tinha no começo. Nossa noite foi mais ou menos assim: começou cheia de cuidados e depois ficou sem cuidado algum. E um dos travesseiros caiu no chão e o lençol, de tão bagunçado, começou a expor o tecido do colchão. E foi uma bagunça, fora e dentro de mim. Eram sons que eu não sabia que era capaz de fazer, sentimentos que eu achava que iam ser bem menos fantásticos do que eram. E nem ele nem eu tínhamos controle mais sobre nada. Não tinha mais essa de quem ficava em cima, quem ficava em embaixo, quem fazia tal coisa, quem não fazia. Não havia mais controle algum. Eu sentia cada parte do meu corpo, eu tinha plena consciência, agora mais do que nunca, de cada toque, leve ou pesado. Era tudo sensível demais, suas unhas de leve em minha pele pareciam labaredas, suas pernas se roçando às minhas pareciam brasa quente dentro de minha cabeça. Mas, de repente, todas as sensações se tornaram muitas para serem notadas individualmente, minha mente se confundiu, eu não sabia mais no que prestar atenção, eu não sabia mais o que eu estava sentindo ou o que era minha imaginação. E eu queria sair de meu corpo, era um pouco torturante. Eu já não aguentava mais o turbilhão de sensações. Eu quis pegar minha arma, achei que ele queria me matar por um breve momento. Uma das balas seria destinada a ele, outra seria para mim. Eu quis me matar também, quis me matar porque, mesmo achando que ele ia me matar do coração, eu não queria que ele parasse. Eu só poderia estar completamente perturbada.
Eu fiquei realmente cansada em certo ponto, meu peito ardia, eu mal conseguia respirar, minha barriga se contraía, eu não tinha forças mais para mexer minhas pernas. Ele parou e fechou os olhos, o que me fez também parar, fechar os olhos e esperar pelo que vinha depois. Foi como a montanha russa do parque de Cleveland: foi aquele um segundo de antecipação antes do carrinho descer com tudo. Mas eu não gritei, eu apenas fechei os olhos e fingi que o vento batia em meu rosto quando na verdade a sensação era incomparável. Eu relaxei meu corpo ao lado dele, sentindo o tecido um pouco áspero do colchão embaixo de mim. Meu cabelo, que antes estava molhado, agora estava meio seco e meio encharcado, porém não de água, mas de suor. Eu senti minha pele suar, arder, queimar, tudo ao mesmo tempo. Se eu tivesse força para abrir minhas pálpebras, checaria de novo se uma das velas não tinha caído e incendiado o quarto. Por minutos incontáveis - bom, nem ele nem eu tínhamos um relógio - ficamos deitados, recuperando o fôlego de olhos fechados, com o corpo mole, parado, sem força. E era difícil ouvir o silêncio lá de fora com nossas respirações tomando o ambiente. A sensação era de que tínhamos atravessado o país correndo, que tivéssemos ido da Califórnia à Flórida sem parar. Nós, pelo visto, percorremos mil milhas sem sair de cima da cama.
Quando consegui forças para me mexer, decidi que eu precisava de ar, que aquele quarto ainda estava abafado e quente demais. Não me importei em vestir nenhuma roupa, apenas peguei meu cigarro e meu isqueiro e fui para a varanda, me deitando no chão de madeira, torcendo para sentir alguma brisa. Não, não faz sentido fumar porque está com falta de ar e com calor, mas eu não precisava fazer sentido. Nada depois dos momentos anteriores faria muito sentido. E também não sei quanto tempo se passou até Zach também ir à varanda, só que segurando uma vela. Ele apenas se sentou ao lado dos meus pés, virado para o céu estrelado. Foram minutos de silêncio, mas não incomodaram. Não era bem estranho, nós apenas não tínhamos muita coisa para dizer um ao outro. Mas sabe sobre o que uma pessoa puxa assunto quanto quer ter o que conversar? Sobre o tempo.
- O céu está lindo, acho que nunca vi tanta estrela junta.
- É porque você é um garoto da cidade. Eu cresci vendo estas estrelas na minha janela.
- Deve ser legal sabe? Crescer no campo. Aprender a se virar com o que dá, ver o tempo passar devagar...
- Sim. Eu nem imagino como é crescer confinado em um apartamento, sem um quintal, sem um rio para nadar, sem dirigir a duzentos por hora...
Ele riu de leve.
- Não é tão ruim, a gente tem que crescer do mesmo jeito. E eu cresci em uma casa com quintal, ok? - ele riu
- No final todo mundo tem que se virar, aqui ou lá. A vida pode ser complicada aqui e simples lá, tudo depende de quem você é.
- É... - ele suspirou e a conversa parou por aí
Continuamos a olhar o céu, ele se deitou também, nossos corpos atravessados, meus pés perto de suas pernas. O silêncio estava bom. E de repente ele riu de leve, riu consigo mesmo. Eu soltei a fumaça do cigarro e perguntei o que tinha acontecido. "Nada não". Ele suspirou. Suspirou, mas voltou a soltar uma risada para si.
- Do que você está rindo, Zach?
- Pode deixar, não é nada sobre você.
- Então, se não é nada sobre mim, você pode me contar.
- Ih, a curiosidade matou o gato, viu?
- E se você não contar, sou eu quem pretendo te matar.
Isto fez ele gargalhar mais alto, que por sua vez fez meu sangue ferver.
- Eu só tava pensando... Imagina se eles, digo, Ruth e Albert, nos encontram aqui, nus, você fumando, depois de... Você sabe...
- Você sabe o quê? - eu provoquei
- Você sabe... Fazer... Amor? - ele falou com pé atrás
Eu gargalhei, jogando meu pescoço para trás.
- Amor, Zach? Amor? O que aconteceu hoje foi sexo. Simples, puro, carnal. Apenas sexo. E eles acham que a gente é casado, que se dane.
- Apenas sexo? - ele arqueou suas sobrancelhas, se sentando e me encarando
- Sim. Apenas dois adultos com plena consciência do que é fazer sexo.
- Plena consciência? - ele perguntou com a mesma ironia, me fazendo me sentir a pessoa mais idiota do mundo
- O que é que você está insinuando?
- Nada, mas não vi muita consciência em alguns momentos.
Ele riu, eu revirei os olhos.
- Nada disso. Eu sabia o que estava fazendo - ele soltou um "há" com esta minha frase
- Sabia demais.
Eu o encarei, cerrando meus olhos. Eu quis agarrá-lo pela garganta.
- Não me olha assim, eu só fiquei surpreso com algumas coisas...
- Surpreso por quê? Não é como se eu não soubesse de onde vêm os bebês. Eu ando de cavalo desde que me conheço por gente. Isso também ajuda.
- Freedom - ele gargalhou - Você não me deve explicação nenhuma. Você não tem a menor obrigação de me dizer onde aprendeu tal coisa ou não. Eu não me importo, eu não tenho razão alguma para me importar. E sinceramente acho que você aprendeu tudo aquilo sozinha. Mas não me importaria se você tivesse beijado ou feito sei lá o que com um ou mil. O passado de alguém diz muito menos que o presente.
Enquanto falava, Zach pôs suas mãos cada uma em um lado de minha cintura, sustentando seu corpo acima do meu. Eu observei seu cabelo também meio molhado de suor pela luz fraca dourada das velas lá dentro do quarto.
- A única coisa que eu preciso saber é se era isso que você queria, se eu não te machuquei, se você não acha que eu acabei tirando vantagem da situação, se você sentiu tudo o que tinha que sentir, se você realmente gostou... Eu não preciso saber de mais nada.
- Zach, não foi nada demais. Não precisa disso, não precisa ser especial. Você quis, eu também quis. Foi bom, mas foi só sexo - eu tirei o cigarro da boca para dizer isso
- Só sexo? - ele falou com ironia de novo
Sua mão alcançou a minha, tirando o cigarro de meus dedos. Ele tragou, soltando a fumaça a poucos centímetros de meus lábios. Droga, eu amava o jeito com o qual seus dedos tocavam meu cigarro, sua testa franzida, seus olhos concentrados no gesto, seus lábios encostados de leve na ponta do filtro. Eu senti meu corpo se enrijecer, meus olhos se fecharam e eu respirei fundo. Eu estava consciente de cada toque seu novamente.
- "Só sexo" não te faz sentir assim. "Só sexo" não te arrepia desse jeito.
Então ele tragou o cigarro mais uma vez, só que soltou a fumaça aos poucos, perto de minha pele, descendo pelo meu pescoço, pelo meu peito, pela minha barriga, pelo meu umbigo. Meu corpo se estremeceu mais, minha mão foi ao seu braço, apertando sua pele em resposta. Minha boca se abriu para um gemido baixo.
- "Só sexo" não deixa seu corpo tão sem controle. "Só sexo" não faz com que sua mente perca a noção de gravidade. Se foi "só sexo", eu espero que você não se decepcione quando for fazer algo além de sexo. Aquilo lá dentro pode não ter sido amor com todas as letras - ele beijou os ossos do meu quadril - mas, definitivamente, não foi "só sexo".
Minha mão alcançou sua cabeça, meus dedos passaram por trás de suas orelhas. E então eu levantei meu tronco, sentando. Coloquei nossos rostos frente à frente, sentindo sua respiração, seu hálito quente com cheiro de cigarro. Céus, eu queria encher todo meu pulmão com aquele cheiro. Eu quis beijá-lo, quis morder seus lábios como sempre fazia durante o beijo, quis puxar sua boca até ela ser mais parte de mim do que dele, mas não o fiz. Eu apenas esperei minha respiração se acalmar enquanto meus dedos passeavam por sua nuca molhada de suor. Eu sentia meu peito subindo e descendo sem controle, podia sentir uma gota de suor descer pelas minhas costas.
- Eu preciso de um banho gelado - foi tudo que eu falei quando consegui fôlego
Ele riu sem fazer muito som, colocando o cigarro quase no fim em sua boca para uma última tragada, antes de jogá-lo fora. Eu assisti ao seu gesto devorando-o. Eu me levantei, sentindo o sangue quente percorrer meu corpo, sentindo o suor descer pela minha cintura. Era melhor eu entrar, era melhor eu não ter mais motivos para me torturar mais tarde. Fechei a porta com força, respirando mais uma vez. Olhei para o lençol todo bagunçado, para a chama das velas, olhei para baixo, para meu corpo sem nenhuma roupa, e sorri. Essa era a prova mais crucial de que eu tinha levantado a bandeira branca em pleno combate. Eu tinha deixado minha arma completamente esquecida dentro de minha bota, literalmente, em campo de batalha. E por que ainda sim eu me sentia vitoriosa?
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Música do Capítulo 15: Me and Your Cigarettes - Miranda Lambert
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