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13. Every tear-soaked whiskey memory blown away



Eu dirigi a Oeste, em direção a Illinois, assim como havia planejado. O quão mais longe do Kentucky e do Tennessee, melhor. E eu não queria voltar pro norte, eu preferia o clima mais central do país e a brisa mais fria durante a noite lá no norte, apesar de ser verão, me incomodou. Não gosto de ter que usar mais do que uma camiseta. E, como a cabine da minha Chevy havia virado meu quarto, acho justo dizer que lojas de conveniência em postos de combustível haviam virado minha cozinha. Às vezes o postos tinham um banheiro disponível. Sujos e fedorentos, mas era melhor do que ter que me agachar no mato, por exemplo. Eu também podia pelo menos lavar meu rosto, já que banho de chuveiro não era a coisa mais fácil de se conseguir na estrada. E depois de umas quatro horas dirigindo, com Zach tentando arranjar alguma rádio boa para ouvir, eu decidi que eu não conseguia mais dirigir com tanta fome.

Parei no primeiro posto - com uma loja de conveniência decente - que encontrei pela frente. Sabe quando dizem que não é bom fazer compras com fome? Não mentem. Eu comprei todas as porcarias que meus olhos viram, incluindo uma raspadinha de tutti-frutti. Zach pagou o diesel, eu paguei toda a comida. Achei justo. Eu ainda estava enchendo meu copo com a raspadinha quando Zach, que já deveria ter voltado para a caminhonete, voltou à loja.

- Freedom, é melhor você ver isso. Acho que você não vai gostar nem um pouco.
- O que aconteceu? - eu falei sem ao menos completar o meu copo até à boca e saí com pressa
Zach parou na frente da minha Chevy e me mostrou. O espelho do retrovisor esquerdo estava estilhaçado e a lataria agora tinha dois buracos de tiro.
- Também acertaram a minha com um tiro, mas acho que como sua Chevy estava atrás foi mais fácil atingir... - ele falou
- Filhos de uma égua - exclamei, chutando um dos pneus
- Pelo menos não pegaram o pneu, ia ser pior sair por aí arrastando o pneu vazio.
- E também não tiveram mira o suficiente para acertar o pára-brisas. Mas mesmo assim, ugh! Que raiva! Eu só não estou mais furiosa porque pelo menos pagaram a nossa gasolina e o jantar de hoje.
- Pagaram? - Zach perguntou inocentemente mas logo entendeu - Ah tá. Entendi.
Eu bebi a raspadinha com raiva e acabei bebendo-a rápido demais, fazendo minha cabeça doer. Eu precisava descansar.
- Ok, vamos achar um lugar vazio para parar as caminhonetes, eu não aguento mais dirigir.
- Eu disse que eu posso tentar dirigir...
- E eu disse que não. Assunto encerrado, agora vamos embora.
Eu entrei na caminhonete, jogando todas as compras na loja de conveniência em cima do painel.
- Você é muito teimosa, sabia? - Zach falou, fechando a porta
- Só agora você percebeu, senhor queria-ser-psicólogo?
Ele bufou, contrariado. Eu apenas ri.

Dirigi até chegar na floresta nacional Shawnee e depois em um vilarejo chamado New Burnside. Passei pelo lugar sem tentar fazer muito alarde. Não deveria ter nem 200 habitantes. Eram algumas casas ali e aqui e bastante silêncio. Era uma dessas cidades que todo mundo conhece todo mundo, então dois estranhos iam chamar muita atenção. Decidi então dirigir um pouco mais. Eu estava dentro de uma floresta nacional, então uma área mais densa surgiu mais pra frente, uma área com menos intervenção humana, com árvores e barulho de água correndo. Peguei a primeira estradinha de terra que vi na escuridão e eu sorri assim que os pneus tocaram o chão. Não era como a terra do Tennessee, não era uma terra ruiva e seca, empoeirada, era uma terra úmida, cheia de galhos e folhas, mas, mesmo assim, era muito melhor que qualquer asfalto para mim.

- Você está... sorrindo? - Zach me desconectou do meu momento de alegria e eu quis matá-lo
Eu tentei continuar de olhos fechados, tentando sentir os altos e baixos daquela estradinha em meio às árvores.
- Você realmente está sorrindo... Acho que é a primeira vez que te vejo sorrir!
Eu abri os olhos e Zach havia ligado a luz presa ao teto. Eu fiz questão de desligar na mesma hora, estava tudo escuro e uma caminhonete com a cabine acesa não era boa ideia para quem estava tentando passar despercebido.
- Sabe o que você é? Não, não, não precisa nem responder. Eu sei. Irritante. Você é completamente irritante! - eu disse entre os dentes
Ele ainda tinha aquele ar de surpreso no rosto.
- É que é a primeira vez que eu te vejo realmente sorrir, sem ser irônica, sem ser "parte do papel".
- Não me diga que você já está tirando conclusões psicológicas desse meu sorriso.
- Não, na verdade não. Só estou imaginando a razão dele.
- Então continue imaginando e cala a boca, pelo amor. Tenta ouvir o que está ao redor de você e não sua própria voz.

E então eu achei um lugar mais aberto entre as árvores e fora da estradinha. Duvidava que algum carro iria passar ali, mas, na dúvida, era melhor estacionar as caminhonetes fora do caminho. Eu saí batendo a porta com cuidado, sem fazer muito barulho. Andei direto até a minha Chevy, sentindo a terra úmida, cheia de folhas e lascas de madeira e galhos, nas solas de minhas botas. Eu subi na caçamba e me deitei, tirando o cigarro e o isqueiro do bolso. Eu queria um pouco de paz, mas logo Zach estava deitado ao meu lado. Eu torcia para ele não abrir a boca porque eu não estava muito disposta a conversar, mas era como torcer pra um time que estava perdendo de dez a zero: inútil. Eu estava olhando para os pedaços do céu que se faziam visíveis por entre as árvores e apreciando a quantidade de estrelas visíveis naqueles pequenos espaços. Traguei o cigarro algumas vezes, pensando que finalmente tinha conseguido o silêncio do homem ao meu lado, mas estava enganada.

- Eu ainda quero saber o motivo do seu sorriso.
Eu não desviei meus olhos do céu. Traguei mais uma vez. Eu não ia dizer mais uma palavra.
- Foi algo tão natural, algo que pareceu tão profundo.
Eu fechei os olhos, tentando ouvir os grilos, tentando fazer o som do ambiente ser maior do que o som da boca ao meu lado. E pensei que tinha conseguido por algum tempo, mas errei. Ele tirou o cigarro da minha boca, me fazendo abrir o olho e levantar meu corpo para repreendê-lo. Eu então o encarei enquanto ele tragava o cigarro roubado de mim.
- Ei! - eu exclamei

Foi tudo o que eu consegui dizer. Minha intenção era tomar meu cigarro de volta, pelo menos era o que a minha parte racional me mandou fazer. Só que a parte irracional dentro de mim não fez nada, apenas acompanhou suas bochechas se apertarem durante o trago, depois acompanhou o cigarro sair de sua boca segurado pelas pontas de seus dedos, depois se voltou aos seus lábios, vendo-os formarem um círculo, e depois, para finalizar, ainda acompanhou a fumaça saindo de leve de sua boca. Eu acompanhei cada milésimo, sem saber por que aquilo era tão encantador. Minha parte irracional quis sorrir assim como fiz no carro, mas minha parte racional me proibiu.

- Toma - ele falou, me olhando nos olhos, devolvendo o cigarro
Eu o encarei com desprezo. Era a minha parte racional fazendo seu papel. Arranquei o cigarro de suas mãos e voltei-o à minha boca.
- Eu realmente preciso ser grosseiro para chamar sua atenção? - ele falou
- Talvez se você parasse de tagarelar o tempo todo, eu prestaria mais atenção no que você diz.
- Eu só estou tentando um pouco de comunicação.
- Mas eu não quero me comunicar. Qual é, você, tão interessado em psicologia, ainda não percebeu que eu gosto de ficar sozinha com meus pensamentos sem uma vitrola velha no meu ouvido?
- Psicologia não é ler mentes.
- Errado. Psicologia, por esse lado, é ler os pensamentos baseados nas ações da pessoa. E você deve ser muito ruim nela, porque eu não olho para sua cara e não respondo a nada do que você diz, e você ainda acha que eu quero me comunicar!
- Tudo bem, eu acho que eu desisto.
- Já era tempo...

E ele suspirou. Eu olhei para o céu, irritada, terminando meu cigarro com pressa. O engraçado é que, depois da discussão, o silêncio ficou insuportável. Antes, tudo o que eu queria era ele calado, depois, comecei a ficar nervosa com ele ao meu lado sem falar nada. E não, eu não entendia. Eu olhava para o céu fixamente, mas era como um zumbido no meu ouvido, era irritante aquele silêncio.

E então um vagalume passou diante de meus olhos e eu segui seu rastro. Logo, outros apareceram e eu levantei o tronco para admirar as pequenas luzes dançantes passando à minha frente. Eu nunca havia visto tantos vagalumes juntos, pareciam até luzes de natal. Ouvi Zach também se levantar com cuidado pelo ombro ainda ruim para admirar a mesma cena. Eu não sei por quanto tempo ficamos imersos naquele universo, não sei se fomos hipnotizados pelos vagalumes, só sei que a única coisa que me despertou para o mundo real foi o vento. O vento forte que começou a fazer as árvores ao redor de nós balançarem. O vento forte que encontrou vãos estreitos ao redor de nós para assobiar. O vento forte que dissipou todos os vagalumes à minha frente, fazendo a magia acabar.

- Bom - suspirei - Eu só espero que nenhuma dessas árvores caia em cima da minha Chevy. Boa noite.

Ele ainda estava deitado quando eu pulei da caçamba da Chevy direto ao chão úmido. Eu teria uma longa noite de insônia pela frente e preferia passá-la sozinha. Foi uma noite ouvindo o vento uivar, olhando ora para o teto, ora para o pára-brisas, tentando ver alguma estrela, sem conseguir. O vento trouxe nuvens e os pedaços de céu vistos por entre as copas das árvores agora estavam cobertos por elas.

Eu acordei das minhas poucas horas de sono por causa da claridade. Apesar de estar claro, o céu continuava nublado, não havia nenhum rastro de raios solares chegando ao meu rosto. Eu desci da minha Chevy, vendo que o vento continuava forte entre as árvores. Era melhor sair de lá, se o vento aumentasse, alguma árvore ou galho podia cair. Então eu bati no vidro da caminhonete de Zach e ouvi um grito. Meu instinto foi rir. Ele havia se assustado? Mas o grito continuou, um pouco contido, aquele tipo de grito de homem que não quer admitir que estava gritando. E então eu abri a porta rápido e vi Zach agarrado à porta do passageiro, tentando abrir a maçaneta. No banco do motorista, havia uma cobra se arrastando pelo tecido. Ao ver essa cena, eu gargalhei. Gargalhei tanto que meus olhos começaram a lacrimejar. Gargalhei tanto que demorei para pegar um galho do chão e tirar a cobra dali. Zach saiu quase caindo pela porta direita. Eu joguei o galho, com a cobra enrolada nele, para longe.

- Não sei do que você tá rindo, aquela coisa podia me matar! - ele veio até mim
Eu ainda não tinha conseguido para de rir.
- Era um filhote de cobra, era menor que um lagarto! Eu não acredito que você estava se borrando de medo por causa disso!
- Eu não estava me borrando de medo. Mas imagina você acordar com uma cobra se arrastando pela sua perna?
Eu não conseguia falar, minha barriga doía e eu estava quase sem ar.
- Já te livrei da cobra faminta e perigosa, será que podemos ir? O vento só tá ficando mais forte.
- Cobra perigosa e faminta - ele fez uma voz de desprezo, me imitando - E você ficou apavorada por causa de uma agulha! Uma agulha, que nem vida tem.
Eu rolei os olhos. Ainda era engraçado demais para eu me importar com provocações.

Zach voltou para o banco do passageiro enquanto eu entrava em sua caminhonete. Ele ainda estava emburrado, com o orgulho ferido. Eu ainda estava rindo, sem acreditar.
- Você não é daqui né? - eu perguntei enquanto dirigia pela mesma estradinha do dia anterior
- Como assim eu não sou daqui?
- Você ficou sem reação ao ver uma cobrinha daquela! Eu aprendi a matar cobras maiores desde os cinco anos de idade!
- Cinco anos de idade? Você está exagerando.
- Tudo bem, sete. Eu tive que livrar Pelúcia uma vez de uma.
- Pelúcia?
- Já te falei, meu cavalo. Mas não mude de assunto.
- Tá, eu nasci na cidade.
- Que cidade?
- Por que tanto interesse assim em mim? Pensei que não ligasse.
- Qual cidade? - eu insisti
- Philadelphia.
- Eu sabia! Sabia que esse seu sotaque era muito fraco para você ser do sul.
- Sotaque? Eu estou há um bom tempo na estrada, eu nem tenho mais sotaque. Talvez eu tenha pegado um pouco do seu sotaque, por isso está fraco.
- Você acabou de criticar meu sotaque?
- Não, não foi isso. É que eu talvez tenha pegado um pouco do seu sotaque já que você é a pessoa com a qual eu mais converso atualmente.
- E nunca te ensinaram a matar uma cobra na Philadelphia?
- Bom, não é costume lá acordar com uma cobra se arrastando pela sua perna! - ele foi irônico
- Mas então onde você aprendeu a atirar? Não ensinam isso na escola lá, eu suponho.
- Eu aprendi a atirar assim que decidi passar a minha vida viajando sozinho o país a fora.
- Eu ainda não sei se acredito na sua história toda, mas eu ainda não consegui parar de rir da sua cara de assustado. Você estava até pálido!
- Podemos não falar mais nisso, por favor?
- Mas assim fica difícil, você está sempre enchendo meu saco querendo conversar, e quando eu quero você quer mudar de assunto?
- Me desculpa se eu nunca matei uma galinha ou ordenhei uma vaca. Eu só não fui criado assim. Se aparecesse uma cobra na minha casa em Philly, eu provavelmente ia chamar os bombeiros.

E eu gargalhei mais uma vez.

- Você é hilário.
- Isso foi você me chamando de algo positivo ao invés de palhaço ou babaca ou irritante?
- Quem disse que foi positivo? Faz um favor já que não quer conversar, pega as coisas que comprei ontem na loja de conveniência, eu estou faminta.
- Você fazendo perguntas a mim e ainda pedindo favor? Me assusta não estar chovendo hoje.
- Na verdade o que te assusta mesmo é uma cobrinha indefesa mais fina que seu dedão. Anda logo, garoto da cidade - ele bufou, pegando os pacotes de biscoitos e rosquinhas

Eu dirigia por entre o parque nacional tentando segurar meu riso. Zach estava irritado e, ah se eu soubesse antes o quão bom era vê-lo irritado! Quase não reparei no caminho, só sabia que estava indo a oeste. Saí do parque nacional e encontrei uma paisagem mais aberta, só que o vento só aumentava. Olhando pela janela, vi algumas casas que precisam estar abandonadas. Não havia muita vida naquela parte de Illinois.

Eu via o céu ficar cada vez mais escuro, como se o dia estivesse virando noite antes mesmo da hora do almoço. Olhava pelo retrovisor e via minha Chevy lá trás um pouco desestabilizada pelo vento. Eu estava ficando um pouco preocupada, confesso. Zach começou a mexer na rádio, tentando achar alguma música boa, mas teve que aumentar o volume por causa do barulho do vento lá fora. E ele ainda estava procurando alguma rádio, com o rosto perto do rádio para ver as estações, quando eu freei bruscamente, fazendo com que ele batesse a cabeça no painel. Ele ia reclamar, mas assim que olhou para frente, ficou mudo. Eu virei o voltante para a esquerda, dando meia-volta e acelerando.

- Eu realmente vi o que eu vi? - ele perguntou de um jeito imbecil
- Se você viu um tornado gigante vindo a essa direção então parabéns, não precisa ir ao oftalmologista.

Ele olhou pelo retrovisor. Eu fiz o mesmo. Estava ficando cada vez mais perto, cada vez maior. Eu, ao volante, sentia uma certa instabilidade, como se a caminhonete estivesse sendo puxada pelo vento.

- Se a gente continuar nessa direção, vamos voltar para a floresta, vamos voltar para as árvores. Eu não sei o que é pior, ser atingida por um tronco ou ser levada pelo ar! - eu disse, acelerando o máximo possível
- A gente passou por algumas casas abandonadas! Com certeza elas têm um porão, algo para se proteger desses tornados.
- Quem garante isso?
- A gente não tem escolha, Freedom. Você acabou de dizer. Ou vamos em direção às árvores ou em direção ao tornado!
Eu odiava admitir, mas ele estava certo.
- Ali tem uma casa! Vamos até lá!

Eu bufei e girei o volante, saindo da estrada e indo em direção à casa. Zach foi o primeiro a descer da caminhonete e viu que havia sim uma entrada externa para um abrigo subterrâneo. Eu então desci da caminhonete, sentindo o vento forte, que chegava a incomodar.

- Está trancado!
- O quê? - eu gritei
Estava ventando muito, eu não conseguia ouvir sua voz.
- Está trancado! - ele gritou - Se afaste!
Eu dei um passo para trás. Ele sacou sua arma e mirou no cadeado. Acertou em cheio.
- Pega as coisas dentro das caminhonetes! - ele gritou
- E a gente vai deixar elas aqui fora?
- Não dá para colocá-las lá dentro! - eu rolei meus olhos, isso era óbvio - Mas elas estão juntas, estão mais pesadas! A gente vai ter que torcer para nada acontecer! Anda, vamos!

Eu peguei minha mochila, contrariada. Eu não queria deixar minha Chevy para ser arrastada pelo vento. Mas eu não tinha muita escolha. Então eu entrei pela porta de madeira, encontrando uma escada. Zach entrou depois de mim e fechou a porta por dentro. Não dava para ver absolutamente nada lá dentro e tudo fedia a mofo.

- Está com o seu isqueiro? - ele disse

Abri minha mochila, deixando alguns pacotes de comida caírem no chão. Bufei. Peguei o isqueiro e o acendi esperando que não houvesse nenhum vazamento de gás. A pequena chama não iluminava quase nada. Zach o pegou de minha mão e eu nem me dei ao luxo de reclamar, eu só queria sair dali. Ele andou pelo cômodo, colocando o isqueiro perto das paredes, perto do chão.

- Não tem muita coisa aqui, mas tem uma lata de tinta vazia e pedaços de jornal. Parece que abandonam sem terminar de pintar a parede - ele comentou
E então ele pegou uma das latas vazias, colocou as folhas de jornal dentro dela e tentou queimá-las com o isqueiro, mas o fogo não parecia pegar.
- Droga. Eles estão úmidos.
- Não me espanta. Olha o mofo desse lugar, é pura umidade.
- Ainda tem uísque?
- Você não vai querer gastar meu uísque pra isso né?
- E você prefere ficar no escuro? Tudo bem. Mas saiba que podem ser longas horas...

Eu bufei mais uma vez. Aquela situação toda estava me irritando e o fato de não conseguir enxergar quase nada estava deixando tudo muito mais insuportável. E então eu coloquei a mão na minha mochila em busca da garrafa de Jack, mas lembrei que tinha algo melhor. Saquei de lá o perfume que a senhora Harold tinha me dado.

- Não quer gastar o uísque, mas vai gastar perfume?
- E por acaso perfume me faz esquecer dos problemas que nem meu grande amigo Jack? Acho que não.

Ele riu, borrifando o perfume no jornal. O fogo pegou mais rápido com a ajuda do álcool, mas a chama ainda era pequena, não iluminava muito. O bom é que o cheiro de mofo foi encoberto pelo cheiro de perfume e depois pelo cheiro de papel queimado. Nós nos sentamos no chão sujo, sem nos importar. Ficamos em silêncio, comendo algumas coisas que tínhamos. O barulho lá fora só piorava.

- Imagina se alguém mora nessa casa? E resolve vir se proteger do tornado e nos encontra aqui? - ele pensou alto
- É só a gente se fingir de morto. O cara ou vai ter um infarte ou vai correndo chamar a polícia por ter cadáveres no porão dele. O cheiro horrível desse lugar ia fazer ele pensar que estamos aqui apodrecendo. Mas relaxa, essa casa com certeza está abandonada.

A iluminação era pouca, mas eu vi os olhos de Zach se arregalarem com a minha resposta. Depois ele riu. Foi uma risada tão surpresa, tão espontânea, que eu quase ri junto.

- Você é tão imprevisível... - ele soltou
Eu joguei um pacote de bala no colo dele.
- O que é isso?
- É seu pagamento. Estou marcando uma consulta psiquiátrica até esse tornado passar. Pode começar, doutor.
Ele riu de novo surpreso. Eu tomei a liberdade de deitar, apoiando a cabeça em suas pernas. Eu que não ia encostar minha cabeça naquele chão.
- Eu tô falando sério, Zach. Pode me analisar o quanto quiser.
- Hum... Tudo bem - ele desconfiou um pouco - Eu não sei nem por onde eu começo...
- Pode começar falando sobre o quão agressiva eu sou. Pode começar a dissertar sobre a minha família, cujo drama eu já te contei um dia.
- Ahn... Ok? - ele hesitou - Eu já te disse isso antes também, mas eu acho que você usa essa agressividade como um escudo, algo para afastar as pessoas, para que elas não te machuquem, sabe? E você criou essa barreira porque conviveu com um pai que só sabia machucar, só sabia fazer a família sofrer. Você se fechou ao mundo para se proteger e proteger sua família. É isso... Acho que é o máximo que eu consigo dizer com as informações que você me deu.
- E o que você acha sobre eu beber demais? Sobre eu fumar? Sobre eu dirigir sem rumo e roubar dinheiro de caras em boates? Sobre eu ter uma arma e nenhum medo de usá-la?
- Freedom, por que você está fazendo isso?
- Só fala, Zach. Eu preciso ouvir.
- Acho que você usa isso tudo para se distrair da sua vida, para esquecer mesmo os problemas. Sobre roubar caras em boates... Bem, eu acho engraçado. Apesar de não ter visto você roubado nenhum cara e sim a stripper. É um jeito que você achou de sobreviver, assim como todo mundo faz. Eu acho que você usa muito o seu charme e o seu corpo para conseguir o que quer, mas sabe muito bem que você é muito mais do que sua aparência. Você é inteligente, Freedom. Talvez seu defeito, se é que eu possa chamar de defeito, é ter visto muita coisa ainda nova, é ter sido forçada a pensar em tudo e pensar demais, é ter convivido em uma realidade que te fez crescer rápido demais, que te fez crescer mais rápido que teu corpo.

Eu fiquei em silêncio. Ele começou a mexer de leve no meu cabelo e eu deixei, sem impedí-lo.

- Você acha que um dia eu vou conseguir ser feliz?
- Primeiro você vai ter que se permitir ser feliz. Depois você vai ver que felicidade tem seus altos e baixos, mas vale a pena. E por fim você vai tentar descobrir o que te faz feliz e simplesmente fazê-lo.

Um silêncio se instalou no ambiente. Eu diria que estávamos no olho do furacão, se não fosse um tornado. Eu estava mexendo no meu colar, colocando-o na boca. Uma mania minha. Ele estava ainda mexendo de leve em meu cabelo.

- Eu tentei uma vez.
- O que? Ser feliz? - ele perguntou
- Não. Acabar com a minha tristeza. Mas eu depois vi o quão egoísta eu era. Eu ia deixar minha família sofrer ainda mais nas mãos daquele crápula sem estar por perto para defendê-la? E foi aí que eu prometi que um dia eu ia tomar coragem para fazer justiça com minhas próprias mãos. Agora eu nem ao menos sei como estão as coisas. Eu não sei o que aconteceu, e isso só me deixa mais miserável a cada dia.

Zach não percebeu, pois estava escuro demais. Mas eu limpei uma lágrima que havia corrido pelo meu rosto nessa hora. Eu odiava chorar.

- Você fez o certo, seja lá o que você tenha feito. Se foi pra salvar sua família, foi o certo.

Zach não percebeu pois estava escuro demais, mas eu sorri com o colar entre meus lábios.
Levantei minha cabeça de sua perna, percebendo que tudo ainda estava silencioso. O tornado havia passado.

- Vamos, o fogo está quase apagando e o cheiro de jornal queimado está ficando cada vez mais forte.

Ele concordou e não falou mais nenhuma palavra sobre nada daquilo. Não tinha muito o que falar mesmo. Saímos do porão, vendo que o céu estava aberto. Havia um silêncio profundo no ar. A paisagem não estava tão diferente, apenas algumas telhas da casa abandonada caíram, alguns galhos ficaram presos nas caçambas das caminhonetes e havia muita poeira e terra nos vidros tanto delas quanto nos das janelas da casa.

- Você acha que consegue dirigir? Seu braço está melhor? - perguntei
- Eu tô falando que eu posso dirigir desde que saí do hospital... Nem a tipoia eu estou usando mais.

Eu respirei fundo.

- Então dirija. Eu não estou com o menor saco pra isso agora.

E então ele entrou pelo lado esquerdo enquanto eu entrei pelo direito. Ele ajeitou o banco e os retrovisores e seguiu caminho na mesma direção de antes, só que agora o horizonte estava sem indícios de tornado.

Eu olhava pela janela, pensando e repensando em tudo. Eu simplesmente não conseguia parar de pensar e estava me perturbando. O que tinha dado em mim? Por que eu precisei ouvir tudo aquilo sobre eu mesma? Eu sei quem eu sou, eu não preciso que ninguém me diga, principalmente um estranho. E por que eu contei para ele o que eu nunca contei pra ninguém? Por que eu admiti que não sou feliz? Ele não tinha nada a ver com isso. Eu sei muito pouco sobre ele, eu não tenho provas para saber se o que ele diz é verdade ou não... Mas mesmo assim eu o deixei entrar na minha vida e agora eu estou sentada na sua caminhonete deixando ele me levar para onde quiser.

Eu tinha perdido noção do perigo? Eu realmente tinha entrado com ele num porão escuro? Foi tão perigoso quanto ficar do lado de fora e encarar o tornado. E se ele fizesse algo comigo naquele porão? Seria uma ótima oportunidade, ninguém nunca descobriria meu corpo. Mas, se ele está atrás de uma recompensa, ele teria que me deixar viva. E por que é tão fácil me abrir para alguém tão insuportável? Por que é tão fácil ser eu mesma perto de quem eu mal conheço? Por que nosso silêncio é tão confortável? Eu me perturbava com essas questões. Por que eu me deixei envolver tanto? Por que eu sinto agora que, sem ele, isso tudo não seria a mesma coisa?

Um barulho alto. Zach tinha ligado o rádio num volume altíssimo, que cortou meus pensamentos. Eu o encarei depois do susto. Ele piscou. Ele sabia que eu estava querendo calar meus pensamentos? Porque ele me disse que era assim, com música alta, que ele esvaziava a mente das preocupações. Estava dando para notar que eu estava lotada de questões dentro da minha cabeça? Eu dei um meio sorriso e voltei a olhar pela janela. A música alta não me deixava pensar, então eu apenas fechei os olhos e me permiti não pensar em nada pelo menos por um minuto.

Música do Capítulo 13: Blown Away - Carrie Underwood

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