12. Thought you'd take a swing, try another girl, try another night
Zach acordou quando eu bati a porta de sua caminhonete, saindo dela para ir até a lanchonete. Não demorou muito para ele também sair e me seguir, entrando pela porta principal do lugar. Eu escolhi a opção mais barata. Eu sabia que não ia matar a minha fome por completo, mas eu não podia gastar mais dinheiro. Sentei-me em uma mesa antes mesmo de Zach fazer seu pedido; eu estava ficando tonta e eu sabia que era fraqueza. Eu havia dirigido seis horas sem comer nada depois de passar mal por desidratação. Eu até deveria estar bem pior do que realmente estava, se pensar por esse lado.
Zach se sentou à minha frente enquanto eu encarava a TV passando a previsão do tempo. Vento forte, porém seco. Calor, talvez alguma chuva, risco de tornado. Eu não estava prestando muita atenção, mas foi algo que me fez não pensar em nada por um intervalo de tempo, algo que me fez apagar mentalmente e, apesar de ter sido curto, foi um alívio ficar alienada.
- Freedom? - a voz chamou meu nome enquanto sua mão chacoalhava à frente de meus olhos
Eu não estava com a mínima vontade ou força de responder, eu só queria meu lanche. Cadê essa garçonete?
- Freedom, você está bem? Está se sentindo melhor? Está com vontade de vomitar? Qualquer coisa eu posso tentar dirigir, sabe, tirar a tipoia e tentar controlar de leve o volante com esse braço...
Apesar dele ter falado meu nome duas vezes como só ele fizera até agora - de forma completamente natural - eu continuei sem querer responder. A garçonete se aproximou com a bandeja e eu quis agradecer, mas nem isso consegui ter forças para sair de minha boca. Ela entregou primeiro o meu, depois o de Zach. Este pegou a batata frita de sua bandeja e colocou na minha. Eu fiz cara de desentendida.
- Ninguém merece comer hambúrguer sem batata frita - ele então sorriu
Eu comecei a comer sem falar nada e até agora me lembro de como a sensação de preencher meu estômago naquele momento foi boa. O hambúrguer simples pareceu um banquete aos meus olhos e eu acabei devorando a batata. Talvez Zach havia percebido que meu dinheiro estava curto, talvez ele quis ser simpático - como ele sempre tentava ser. Ele falava que não conseguia me entender, eu é quem não consiguia desvendá-lo.
- Está melhor?
Eu afirmei com a cabeça, ainda de boca cheia. Ele esticou sua mão à minha testa.
- Ei, o que acha que está fazendo? - eu levantei a voz, mas saiu um pouco embolado por falar de boca cheia, tirando seu braço de perto de mim
- Eu ia conferir se você estava com febre, mas nem precisa mais. Você está bem melhor... Já até voltou a ser grossa comigo.
Eu sorri ironicamente.
Continuamos mais um tempo sentados. Eu não queria voltar a dirigir. Eu queria ficar parada, sem pensar em nada. Usei a TV como minha lavagem cerebral por pelo menos mais uma hora. Zach lia um jornal que havia pego na entrada da lanchonete e, quando me cansei de olhar à TV, com o pescoço já dolorido, repousei meus olhos no jornal. Campbellsville? Esse era o nome da cidade no qual estávamos? E então olhei melhor, vendo a sigla ao lado do nome da cidade. KY. Kentucky. Eu estava maluca? Como eu havia dirigido até o Kentucky? Eu estava querendo me entregar tão fácil? Eu fiquei com raiva de mim por tanta burrice, era o estado logo acima do Tennessee!
Zach foi abrindo o jornal e eu fui tentando ver se eu não havia me enganado com o nome do estado. Foi aí que me deparei com algo pior, deparei-me com meu nome. Não meu nome de agora, meu nome antigo. Era uma nota de desaparecimento. Não havia uma foto minha, o que era estranho. Talvez meu querido papai estivesse pobre e não conseguiu pagar por um anúncio maior? Bom, o que importava era que minha cara não estava estampada naquele papel, senão já o tinha arrancado da mão de Zach.
- Eu preciso ir ao banheiro - eu disse
Zach levantou os olhos.
- Então vá.
E foi nesse momento que eu percebi: eu estava prestando contas a ele de onde eu ia ou não? Por que é que eu o avisei sobre isso!? O que estava acontecendo comigo? Por que eu simplesmente não levantei e fui, sem explicações? Eu me dirigi ao banheiro com raiva de mim. Eu não podia estar perdendo minha independência, eu não podia estar me importando tanto com um total estranho a ponto de dizer a ele onde eu estava indo.
Lavei meu rosto, tentando me alienar que nem em frente à TV, mas era impossível. Era muita confusão dentro da minha mente. Talvez eu só agi assim porque eu estava dirigindo a caminhonete do cara e não queria que ele pensasse que eu ia embora sem ele? Eu não sabia, eu só queria parar de pensar por um momento. Eu abaixei a tampa da privada e me sentei, colocando a cabeça entre minhas pernas, tentando fazer meu mundo parar de ser tão complicado. Eu queria ser normal, eu queria ter uma vida normal, eu queria me preocupar com minhas notas na escola, minha roupa para o baile, não com a minha própria vida. Eu queria viver sem pensar em morrer. Dizem que quando a gente é jovem, a gente pensa que vai viver para sempre. Se isso for verdade, eu já deveria ter 90 anos sem saber.
Tentei deixar minhas preocupações de lado, tentei não pensar em nada. Quando estava conseguindo, três batidas fortes atingiram a porta do banheiro. Ele não precisou falar, eu sabia quem era.
- O que foi? - eu falei, com mais grosseria
- Está tudo bem?
- Me deixa em paz por um minuto, por favor!
- Tudo bem, é que você já está aí dentro há mais ou menos 30 minutos, então achei que talvez estivesse desmaiado de novo. Mas sem problemas, vou voltar para a mesa.
Eu bufei. Eu não precisava de uma babá. Levantei e lavei o rosto mais uma vez, meu rosto marcado por grandes olheiras e cansaço, meu rosto que nunca pertenceria a alguém da minha idade. Eu me olhei no espelho com o canto quebrado, bem acima da pia. A raiz do meu cabelo estava crescendo, meu disfarce estava ficando cada vez mais fraco. E eu ficando cada vez mais velha. 18 anos? O que eu estaria fazendo com 18 anos se fosse normal? Talvez tentando entrar numa faculdade? E então eu ri comigo mesma. Eu? Numa faculdade? É engraçado imaginar, mas não, não vai acontecer. E olha eu aqui, pensando novamente.
Saí do banheiro e fiz um sinal para a cabeça para que Zach visse que eu havia saído. Ele me seguiu e eu entrei na caminhonete, mas não tive coragem de virar a chave.
- O que houve? - ele disse quando entrou
- Eu só estou cansada.
- Eu posso dirigir.
- Não, não pode.
- Você poderia deixar de ser tão teimosa. É só tirar a tipoia.
- Se você pudesse realmente dirigir, eu estaria dirigindo minha Chevy e não sua caminhonete. Fim de papo.
- Ok... Então você prefere arriscar algum acidente porque você está cansada e pode cair no sono ou quem sabe desmaiar no volante? Ou vamos ficar a noite inteira nesse estacionamento?
Como eu queria que ele ficasse calado, como eu queria que ele simplesmente parasse de tagarelar no meu ouvido. Olhei para a janela, querendo que ele ficasse mudo de repente. Foi aí que vi um letreiro neon pelo retrovisor. "Night club". Eu virei a cabeça, vendo que havia uma boate bem do lado oposto da rua. Ele continuava tagarelando, eu tentava resgatar minha mochila de trás do banco, procurando por minha camiseta branca, a que eu comprara no brechó. Eu ia pedir para que Zach fechasse os olhos, mas, pra quê? Além do mais eu estava de sutiã e no dia da Independência, naquele lago, eu estava sem e ele estava de olhos abertos. Então tirei o vestido que eu usava por cima do short, que carregava minha arma, coloquei a camisa, dando um nó na lateral, fazendo meu umbigo aparecer.
Eu não estava prestando muita atenção, mas tive certeza que Zach parou de falar quando me viu ficar só de sutiã. Mas o silêncio durou pouco, logo ele estava fazendo um interrogatório sobre o que eu estava fazendo e tudo mais. Eu não respondi, apenas coloquei minha arma dentro da bota.
- Se você quiser vir comigo, é melhor tirar essa tipoia.
- Mas aonde você vai?
Eu não respondi. Tudo o que eu fiz foi sair da caminhonete, sem nem ao menos ouvir o resto de sua pergunta. Contei até 10. Se, quando minha contagem acabasse, ele não estivesse do lado de fora e sem tipoia, eu ia sozinha. Quando cheguei a contar oito, ele saiu, sem tipoia, mas com um monte de perguntas na língua.
- Por que eu não posso tirar a tipoia para dirigir e agora eu tenho que tirar? Não é a mesma coisa?
- Só fica calado e me acompanha. Você já fez isso antes, não vai ser difícil fazer de novo.
Ele virou os olhos. Eu me certifiquei que minha arma estava bem escondida na bota e depois peguei Zach pela mão, fazendo ele ficar mais perto de mim. Eu me dirigia à casa noturna e eu o ouvi sussurrar algo como "o que você vai fazer numa casa de strip?". Eu obviamente ignorei o sussurro. Eu comecei meu teatro rindo, falando coisas sem nexo como se estivéssemos em um momento descontraído. Ele fez cara de quem não entendeu.
- Só entra no papel, você já fez isso antes - eu sussurrei ríspida
Depois da minha ordem, ele entendeu e também começou a rir para mim. Ele se aproveitou para me puxar pela cintura e eu quis advertê-lo agora que não era para entrar tanto assim no papel, mas estávamos perto da entrada e o segurança já nos observava. Ele entrou com os braços na minha cintura e acenou para o segurança. Este, por sua vez, pareceu um pouco desconfiado, mas acenou com a cabeça de volta e nos deixou entrar sem maiores perguntas. Assim que entrei no ambiente, empurrei Zach para longe de mim.
- Tudo bem, agora me diz o que é que a gente veio fazer aqui?
- Shiu - eu sussurrei - Finja que veio com o objetivo de qualquer homem que vem nesses lugares.
- E você veio com qual objetivo?
- De conseguir bebida e dinheiro, é claro.
Ele rolou os olhos.
- Ok, só senta aí então se não quiser me ajudar, eu vou para o bar tentar conseguir alguma coisa. E não me venha atrapalhar, não é para falar nada comigo, não é para demonstrar que me conhece.
- Pelo visto eu não te conheço mesmo...
Eu ignorei aquele comentário, empurrando-o para o sofá. Ele reclamou do braço, mas eu ignorei. Era um sofá de couro um pouco desgastado e havia dois mastros vazios de poledance na frente dele. Eu me dirigi ao bar, andando como eu havia aprendido, isto é, andando como se eu não estivesse ali para conseguir dinheiro ou copos de graça de uísque, andando como se eu tivesse o mundo a meu favor. Eu havia aprendido que, se você anda parecendo não precisar de nada, as pessoas vão te oferecer algo esperando que você também as recompense de algum jeito. Depois de fazer essa andada certa até o bar e atrair alguns olhares, eu me sentei num banco bem em frente ao balcão. Uma dançarina do lugar era a também a bargirl. Ela me atendeu como se não gostasse da minha presença, como se eu estivesse invadindo seu território. Acho que ela nunca teve que servir outra mulher na vida dela.
- O que você quer? - ela falou, grossa, mascando um chiclete
Querida, educação para quê né? Se eu fosse uma ricaça querendo torrar meu dinheiro naquele bar, ela teria perdido a cliente na hora. Mas vamos dizer que sua atitude até que condizia com a precariedade do lugar. Eu, por outro lado, fui educada.
- Boa noite - eu disse sorrindo e ignorando a grosseria - Eu vou querer um copo de uísque, três pedras de gelo. Obrigada.
Ela mal se deu ao luxo de me responder e olha que eu usei a minha voz mais feminina e mais educada. Ela me serviu de um jeito horrível, com um copo meio embaçado de tantos riscos e um gelo praticamente derretido.
- Uísque? Uma senhorita tão elegante bebendo uísque? - a voz ao meu lado comentou
Bingo! Toda minha encenação deu certo. O homem disse sem ao menos me olhar. Ele acendia um cigarro e não fez questão de olhar a mim até eu falar algo. Ele não era dos mais feios, tenho que confessar. Parecia um caubói fora de serviço. Era mais velho, mas não o suficiente para ser, sei lá, meu avô. Apesar de não ser tão ruim fisicamente, o fato de ter me chamado de senhorita, de ter questionado o que eu estava bebendo só para puxar papo, de ter falado que eu estava elegante sem ao menos reparar que eu estava no mínimo vulgar com aquele short e aquele nó na blusa e, por último e mais importante, de estar numa casa noturna daquela dizia muito mal a seu respeito. Eu teria nojo em situações normais, mas aquela não era uma situação normal e eu não estava em posição de recusá-lo.
- Por quê? Esperava que eu bebesse um drink com gosto de bala? - eu usei o mesmo tom de voz, só que me virei a ele, apoiando a lateral do meu corpo no balcão
- Só me surpreendi. É raro encontrar uma mulher tão bonita que saiba apreciar uma boa bebida - ele finalmente se virou para me olhar, e me olhou dos pés à cabeça pelo menos três vezes
Eu sorri, tentando não parecer falsa. Eu me aproximava pouco a pouco, enquanto a conversa fútil e cheia de segundas intenções continuava. Acabei bebendo o uísque todo e aconteceu como eu previa: ele me pagou outro copo. Entretanto, eu percebi que não ia conseguir muito dele, só algumas bebidas de graça. Ele não parecia muito idiota, eu não conseguiria arrancar dinheiro vivo dele. Ele só era idiota ao ponto de me pagar uísque pensando que eu ia ficar bêbada e acabar transando com ele em algum canto daquela casa noturna. E quando a conversa começou a me incomodar, quando sua mão no meu rosto ficou muito constante, eu dei a clássica desculpa de que iria ao banheiro. Na verdade, eu iria conferir como Zach estava, se ele ainda estava parado naquele sofá ou havia mexido o traseiro para também arranjar alguns trocados. Eu não estava contando muito com isso.
Todavia, quando encontrei-o no sofá de novo, ele não estava sozinho. Um dos mastros de poledance estava ocupado por uma mulher baixinha usando um salto enorme. O salto era praticamente toda a roupa que ela usava. Sua lingerie era minúscula e sua pele era lotada de um gel com glitter. Vulgar até para uma stripper, ela estava mais para uma atriz coadjuvante de filme pornô. Eu olhei para Zach, ele estava mais desconfortável do que realmente curtindo uma mulher quase nua abrindo as pernas na frente dele. E, sinceramente, se eu fosse homem eu também não ia conseguir me atrair por aquilo ali não.
Ele me viu na entrada do ambiente e eu vi seus olhos pedirem para que eu o tirasse dali. Eu ri e ele apertou os olhos, me lançando um olhar com raiva. Eu então andei até ele, puxei-o pela mão, fazendo-o levantar do sofá, e simplesmente saí daquele ambiente. Eu ouvi a stripper gritar algo, indignada, enquanto saíamos, como se eu houvesse "o roubado" dela, como se aquilo fosse alguma competição de strippers. Bom, se fosse, eu estaria usando a coroa de primeiro lugar enquanto saía.
Eu acabei encontrando uma dessas cabines reservadas e foi o esconderijo perfeito. Era apenas protegido por uma cortina pesada vermelha, mas dentro do ambiente tinha um sofá confortável e, obviamente, um mastro de poledance bem na frente. Eu mal quis pensar se aquele sofá no qual eu estava me sentando havia sido limpo ou não depois da última pessoa usá-lo. Zach se sentou ao meu lado, fechando a cortina.
- Muito obrigado - ele disse - por ter me tirado daquela situação.
Eu fui obrigada a rir.
- Você está me agradecendo por ter tirar da frente de uma stripper? Nenhum homem me agradeceria por isso.
- Acredite, eu tenho razões fortes para te agradecer.
Eu fui obrigada a rir de novo e concordei.
- Conseguiu alguma coisa?
- Só alguns copos de uísque de graça de um coroa que pensa que eu fui ao banheiro.
- Sabe que tem uma garrafa de uísque atrás do banco da minha caminhonete né? O uísque que eu comprei para você.
- Eu sei, eu sei, mas aquele é meu reserva.
- Nem meu vizinho que praticamente morava dentro de um botequim bebe mais que você.
- Isso foi um elogio? - arqueei minha sobrancelha - Eu espero que tenha sido.
- Digamos que eu estou apenas impressionado.
- Eu estou impressionada também. Consegui um sofá de graça para dormir essa noite.
Ele gargalhou, mas eu realmente estava pensando em passar a noite ali. Pelo menos dormir até ser expulsa.
Só que eu ouvi uma voz se aproximando. Era uma voz bêbada, uma versão embriagada de uma voz que eu havia ouvido minutos atrás. O cara do bar estava procurando por mim, indo de ambiente em ambiente. Eu precisava fazer algo para me disfarçar. E então eu tive uma ideia que não me agradou de início, mas foi o que deu para fazer.
- Tira o cinto e abre o zíper - eu ordenei a Zach
- Abrir o zíper... O quê?
- Você entendeu, tira o cinto, abre o zíper e abaixa a calça - eu falei tirando minha camiseta e abrindo o zíper do meu short para também tirá-lo
Zach não entendeu nada, mas mesmo assim fez o que eu mandei. E foi bem em tempo. Um pouco antes da cortina que separava onde nós estávamos do resto da casa noturna, eu puxei as pernas de Zach, fazendo-o ficar mais acomodado no sofá. Eu então me agachei, entre suas duas pernas, e tentei manter meu rosto escondido... Escondido no seu zíper da calça aberto. A cara de assustado de Zach com a situação serviu bem para o momento no qual a cortina abriu com pressa. Eu não me virei, eu apenas continuei fingindo o que estava implícito na minha posição.
O homem passou de agressivo a constrangido. Zach entrou no papel e gritou qualquer coisa como "ei, cai fora daqui, cara". E assim o homem fez. A cortina se fechou e eu suspirei em alívio.
- Eu não vou nem perguntar o que foi tudo isso - Zach disse ainda assustado
- O que importa é que ele vai pensar que eu fui embora e vai também - eu disse, colocando primeiro meu short
Quando eu coloquei minha camiseta de volta ao corpo, reparei em Zach tentando subir o zíper da calça jeans. Eu sabia por que estava tão difícil de fechar, mas não quis comentar nada. Eu estava prestes a desistir de conseguir algum dinheiro naquele lugar quando uma stripper foi quem abriu a cortina desta vez. Eu havia acabado de me sentar e foi como se eu também estivesse lá para vê-la e não como acompanhante de Zach. Quis expulsá-la, mas algumas notas de cinquenta dólares saindo de sua calcinha me interessaram.
Essa stripper era melhor que a outra. Tinha um corpo melhor, um cabelo mais bonito, não tão vulgar quanto a outra. Eu e Zach a vimos dançar no poledance e, sem escapatória, deixamos o momento acontecer. Eu só não queria dar um centavo para ela, então eu esperava que Zach estivesse com alguns dólares no bolso. Eu estava prestes a rir de toda a situação quando ela deixou o poledance de lado e praticamente se sentou no colo de Zach, mexendo seu quadril para frente e para trás. Ele estava menos desconfortável, mas ainda sim aquilo não parecia estar agradando-o muito. Eu, sentada ao lado, comecei a rir. Pra quê? Pra quê eu fui rir?
A stripper percebeu que seria melhor negócio para ela se ela começasse a dançar em cima de mim. Ela pensou que excitando um cara com outra mulher no jogo conseguiria mais dinheiro. Não a culpo por isso, eu sabia que a mente masculina pensava que ter duas mulheres se beijando para excitá-la era sua versão do próprio paraíso. Não a culpo por isso, mas também não quero dizer que gostei. Eu tentava me esquivar, prender a respiração para não ter que cheirar seu perfume barato. Suas unhas postiças arranhavam minha barriga e eu queria morrer, eu queria tirá-la de cima de mim. O que me prendia eram unicamente as notas de dólares saltando de sua calcinha.
E de repente ela parou. Suas mãos foram cada uma de um lado do meu rosto e ela me encarou. Eu achei que ela ia me beijar em um ato despertado para ter alguns dólares enfiados no cofrinho, mas ela apenas me encarou.
- Eu conheço você - ela me disse
Eu gelei. Senti que Zach também chegou a prender a respiração. Será que ela disse isso porque me viu no bar anteriormente? Ou ela me conhece de outro lugar? Eu nunca havia a visto na vida, disso eu tinha certeza. E então ela começou a rir e eu quis alcançar minha arma, mas seria complicado pegá-la dentro de minha bota com a mulher em cima do meu quadril.
- Foi você quem arrumou briga em um bar no qual eu costumava trabalhar. É você! - ela riu - Você é a garota do anúncio!
Quando ela mencionou o anúncio, eu senti um arrepio em meu corpo. Ela sabia que eu estava sendo procurada, ela sabia da briga de tiros para me capturarem, ela sabia de tudo, principalmente da recompensa disfarçada de preocupação, ela sabia que eu poderia valer muito mais que uns trocados enfiados em sua roupa íntima.
- Você vai me dar um belo dinheiro, garota - ela sussurrou bem perto de mim
Suas mãos pegaram meus pulsos com força. Eu tinha que sair dali, eu tinha que me livrar dela, eu tinha que pegar minha arma. Por que Zach ainda está parado? Por quê? De um jeito ou de outro, ele deveria estar me protegendo. Se as intenções dele eram de me acompanhar, ele deveria fazer algo em meu favor, não? Ou ele não reconheceu aquilo como uma ameaça? Se as intenções dele fossem de também me capturar, ele deveria estar brigando por minha captura com a stripper, não? Espera. Por que é que eu estou esperando um homem me salvar? Por que é que eu estou esperando qualquer outra pessoa que não seja eu mesma me salvar?
E então eu aproveitei a proximidade dela e a beijei. Não, não era o que eu queria, eu queria pegar minha arma. Eu queria tirá-la de cima de mim, eu queria ameaçá-la de todos os jeitos possíveis. Só que o método mais fácil para eu atingir todas essas coisas foi surpreendê-la. Eu tinha certeza que ela não esperava por um beijo meu. Suas mãos se afrouxaram no meu pulso enquanto eu a beijava e eu consegui inverter o jogo e jogá-la para o lado, ficando por cima. Eu não parei de beijá-la até, com uma mão, conseguir alcançar minha bota e consequentemente minha arma. Larguei sua boca assim que encostei minha arma entre seu queixo e sua garganta. Eu ouvi outra arma sendo carregada bem ao meu lado. Eu não podia desviar meu olhar da stripper, eu não podia ter um momento de distração. Eu sabia que só podia ser Zach, eu só esperava que sua arma estivesse apontada a ela e não a mim.
- Você realmente se acha mais esperta que eu? - eu sussurrei
Seus olhos estavam arregalados.
- Não grite por socorro. Nem ao menos pense em gritar. Se algum som sair da sua boca, eu atiro e um tiro nessa posição pode acabar com seu maxilar para sempre, sabia? Ou quem sabe eu posso atirar na sua garganta e acabar com suas cordas vocais de uma vez só - eu disse, descendo o cano da arma, apontando agora para sua garganta
Eu senti que sua saliva desceu de uma vez só. Ela engoliu qualquer pedido de socorro que poderia fazer.
- Ou quem sabe eu possa atirar direto no coração... - eu abaixei mais o cano da arma, parando bem no lado esquerdo de seu peito
Seu coração estava disparado.
- Não, eu tenho uma ideia melhor - nessa hora, o cano da arma desceu sua barriga, parando bem abaixo de seu umbigo
Eu fiz com que a arma entrasse dentro de sua lingerie, tentando ameaçá-la mais.
- Ou quem sabe eu devia atirar bem aqui para acabar com essa sua carreira, que por sinal consegue ser bem mais digna do que querer conseguir dinheiro de recompensa por entregar alguém à morte né?
Ela ficou em completo silêncio. Achou que eu realmente ia atirar no meio de suas pernas.
- Mas eu não sou tão baixa quanto você. Se você ficar quieta, bem quieta, nunca mais nem pensar em correr atrás de mim, eu não atiro. Então, você decide: vai ficar calada ou infértil pra sempre?
- Eu prometo ficar quieta - ela disse com uma voz falha, coberta de medo
- Acho melhor você falar mais baixo, só para ir praticando - eu a ameacei apertando ainda mais minha arma
- Eu prometo ficar calada - ela sussurrou
- Boa menina.
Eu então tirei a arma do meio de suas pernas e a apontei para sua cabeça, me levantando de seu quadril.
- Calada - eu sussurrei, andando para o lado sem desviar minha mira - Tem alguém aí fora?
- Não, está vazio - Zach entendeu que eu estava falando com ele
- Perfeito.
E então dei mais um passo para o lado, saindo pela cortina. Não precisei dizer a Zach que precisávamos sair correndo dali. O problema é que correndo significava, nesse caso, apenas andar rápido para não causar suspeitas.
Nós passamos apressados pela porta da frente, passando pelo segurança. Logo atrás eu ouvi uma voz estridente gritando algo para o mesmo. Ok, agora a gente podia e devia correr. Era a deixa. E então atravessamos a rua correndo e eu entrei na caminhonete já ouvindo o primeiro barulho de tiro.
- Eu sabia que aquela piranha não ia ficar calada por muito tempo - eu disse, acelerando, cantando o pneu
Zach colocou seu braço para fora da janela e lançou alguns tiros em resposta aos que ouvíamos. Eu vi o segurança correndo atirando, mas ele não seria mais rápido que eu e o motor daquela caminhonete, mesmo eu carregando o peso dela e da minha Chevy. Eu também atirei um pouco para trás com o braço esquerdo para fora e o braço direito tentando achar uma linha reta para seguir na estrada. E tudo ficou mais calmo, tudo menos a velocidade na qual eu estava dirigindo. Os tiros se cessaram e eu me senti aliviada por sair sem nenhum machucado, mas a adrenalina correndo pelas minhas veias ainda estava alta.
- Pega a garrafa de uísque atrás do banco, por favor. Eu preciso tirar esse gosto de gloss barato da minha boca.
Zach não escondeu uma risada com o meu pedido. Ele alcançou a garrafa e a abriu para mim, colocando ela na minha mão direita. Eu tomei um grande gole, que desceu forte garganta abaixo, queimando. Era isso o que eu queria, me livrar daquele beijo na minha boca.
- Não precisa disfarçar que gostou do que aconteceu, eu tô vendo sua reação aí dentro da sua calça jeans.
- Não me culpe, foi bem excitante - ele riu de novo
Babaca.
- Você deveria ter feito algo, isso sim. Você conseguia alcançar sua arma sem dificuldade, mas fez isso com atraso.
- Eu mal sabia do que ela estava te acusando, se estava te confundindo com alguém, eu sei lá. Mas depois vi que era algo sério. Quando você vai me dizer por que tem tanta gente atrás de você?
Eu cerrei os olhos. Ele estava falando sério? Ele não tinha nenhuma ideia do que ela estava pretendendo conseguir comigo? Ou era tudo fingimento? "Tudo bem, eu vou deixar isso para lá, é muita informação para um dia só", eu pensei enquanto pegava uma estrada para o oeste. O quão mais longe do Tennessee melhor. Eu cheguei tão perto de ser pega e foi por burrice. Eu não deveria ter dirigido até o Kentucky. Que ideia estúpida!
- Eu na verdade estou com um pouco de medo - ele soltou
- Medo?
- Você tem noção do quanto você é má?
Eu não pude conter minha risada. Eu tive que desviar o olho da estrada para conferir se ele estava brincando ou não.
- Bom... Eu tive um ótimo professor em casa. Acho que aprendi bem.
- Eu acho que estou aprendendo um pouco com você também - ele falou segurando uma nota de cinquenta dólares amassada na mão e colocando-a no porta-moedas do painel
- Estou a anos luz de você - eu falei, colocando a mão direita em meu bolso e tirando duas notas quase rasgadas lá de dentro
Ele mal acreditou.
- Enquanto uma mão estava segurando a arma, o que você acha que a outra estava fazendo? - eu falei rindo
Ele também riu, lançou sua mão para trás do banco, tirando seu chapéu de lá. O chapéu com o qual cobria seu rosto enquanto me perseguia no começo disso tudo. Eu tinha até esquecido que ele tentava se parecer com um caubói. Ele então levou o chapéu à cabeça e o tirou em reverência.
- Eu não acredito que você realmente pegou esse chapéu só para isso, só para tirar o chapéu para mim.
- Também não acredito, mas sei lá, foi o melhor que eu consegui fazer. Por favor não atire em mim, vou pensar em gestos de reverência melhores depois, mestre.
E eu gargalhei.
- Você é um palhaço, sabia?
- Uau, é a primeira vez que você me chama de palhaço rindo. Acho que estou levando jeito agora.
E eu acabei transformando um riso num sorriso que depois se transformou num suspiro. Ele conseguiu me descontrair por uns minutos, mas eu ainda estava preocupada com o que acontecera. Eu estava em mais perigo de ser capturada do que pensava. Eu havia me esquecido do risco que corria e, dirigindo a caminhonete do estranho sentado no banco ao lado, eu pensei se não estava correndo um risco maior ainda ficando tão próxima assim de alguém cujas intenções eu desconhecia.
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Música do Capítulo 12: Tornado - Little Big Town
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