11. The dreams in which I'm dying are the best I've ever had
Os fogos haviam parado, talvez o estoque reservado ao dia havia se esgotado. Era quase meia noite, eu estava distraída, sentada na carroceria da minha Chevy junto da minha garrafa de uísque - que eu havia renegado nos últimos dias - e mal percebi a pessoa ao meu lado. O único motivo que me fez virar e olhá-lo foi o cheiro do cachorro quente em sua mão.
- Achei que você estaria com fome - ele disse
Eu peguei o cachorro quente de suas mãos sem falar uma palavra. Ele não se importou.
- Posso? - perguntou, se referindo à dúvida de se podia ou não sentar ao meu lado na Chevy
Eu dei ombros. "Tanto faz".
Ele se sentou e também olhou pro céu. Eu me encarreguei de comer o cachorro quente em silêncio, fazendo barulho apenas para lamber meus dedos sujos de mostarda depois. Bebi um pouco do uísque, oferecendo um pouco a ele, que aceitou e tomou um gole.
- Você algum dia vai me contar porque você está fugindo? Melhor, por que tem gente atrás de você? - ele disse, me devolvendo a garrafa
- Não - respondi, curta e grossa
Talvez ele já soubesse e estava tentando disfarçar. Talvez se ele soubesse também iria querer me capturar para ter a recompensa. Em ambos os casos, era melhor eu continuar de boca fechada.
- E você está melhor? Do ataque no banheiro químico, eu digo.
- Nada aconteceu comigo.
- Eu gostaria de tê-lo matado, sabia?
- Compartilho do mesmo sentimento.
Ele riu. Não era para rir. Não era brincadeira, eu realmente queria tê-lo matado.
Queria cortar suas mãos por elas terem tentado se enfiar por meio das minhas pernas, queria cortar fora sua língua para que ele nunca ousasse falar daquele jeito com mais ninguém e queria, obviamente, deixá-lo estéril. Eu tinha pensamentos vingativos demasiadamente, pensamentos que ninguém gostaria de ouvir. Talvez foi jeito com o qual eu aprendi a crescer, a viver. Ninguém nunca me mostrou que era errado essa coisa de "olho por olho, dente por dente", e eu acredito que muitas vezes essa é a solução. Ninguém faz algo ruim se sabe que sua vítima poderia fazer o mesmo com ele. Pessoas ruins se aproveitam de quem não luta, de quem é indefeso, de quem acha que o mundo se resolve com diálogo. Não é bem assim.
Enquanto eu tinha pensamentos raivosos misturados com alguma concepção sobre o mundo, ele continuava olhando as estrelas. Eu queria olhar para as estrelas também, como sempre fiz da janela do meu quarto quando tinha insônia, isto é, sempre. Agarrei a pequena corrente que não deixava meu pescoço e fiquei brincando com ela como de costume, mas, ao invés de olhar para as estrelas, eu não conseguia parar de olhar para o homem ao meu lado olhando as estrelas. Era tão interessante quanto... Talvez até mais interessante. As estrelas estavam lá todos os dias, seus olhos nem sempre estavam as refletindo.
- Gostou do seu quatro de Julho? - ele perguntou, se virando a mim
Eu nem ao menos disfarcei que estava o observando e ele estava fazendo um ótimo trabalho fingindo que nada havia acontecido no lago.
- Apesar de tudo, sim.
Eu admiti. Meus quatros de Julho sempre foram horríveis a partir de um certo ano e aquele estava sendo um dos menos piores, digamos assim.
- Eu tenho algo que pode fazer ele ficar melhor.
Eu o encarei, levantando minha sobrancelha.
- Outro cachorro quente?
Ele riu, se levantou, foi até sua caminhonete e voltou carregando um tipo de aparelho que eu nunca havia visto de perto.
- O que é isso? Por acaso você arrancou o toca-fitas do seu carro? - eu o encarei
- Você não sabe o que é? É um Walk Man. É um toca-fitas portátil, dá pra levar para qualquer lugar.
- Eu tenho um toca-fitas no meu carro, e eu posso levar meu carro para qualquer lugar, então isso é inútil.
Ele riu.
- Com isso aqui você não joga no lixo toda a bateria da sua Chevy. E serve como um gravador e tem rádio também. Não acredito que você nunca tenha visto isso, é uma febre atualmente, todo mundo tem um.
- Eu não sou todo mundo.
- Você não vai dar nem uma chance pra ele? - Zach disse, segurando um fone à minha frente
Eu hesitei.
- Ah, qual é, a fita que está dentro é uma seleção que eu mesmo fiz.
E então eu fiquei curiosa para saber qual tipo de música ele ouvia. Coloquei o fone no ouvido e ele me indicou o botão para fazer o aparelho tocar. A música começou um pouco lenta, depois ficou mais rápida, mas era agradável de se ouvir. Confesso: era estranho, era um som que eu achei meio robótico, não sabia qual instrumentos eram aqueles, mas não eram tão irritantes quanto eu achava que algumas músicas atuais eram. Eu encostei a cabeça na janela de trás da cabine e fechei os olhos, prestando atenção nas letras. A primeira música eu achei confusa, mas intrigante, me fez pensar em vários cenários. Era uma música sobre poder, sobre o mundo, não sobre alguma história de amor boba. A segunda música começou e parecia ser cantada pela mesma voz.
- Quem canta essas músicas? - eu perguntei ainda de olhos fechados
- Uma banda inglesa chamada Tears For Fears.
- Inglesa?
- Sim, que eu saiba sim.
- Acho que nunca ouvi nada de lá.
Ele riu.
- The Beatles?
- Quem?
- Não acredito que você nunca tenha os ouvido. Enfim, tem algumas músicas antigas deles aí também, as antigas são as melhores.
Nisso eu tive que concordar. Voltei a prestar atenção na letra, que também era confusa. Falava de sonhos, de pessoas, e de novo sobre o mundo. Só que, ao ouvir a segunda frase depois do refrão, eu simplesmente tirei os fones com pressa.
- O que foi? - Zach me perguntou - Não gostou?
- É que... Não, deixa para lá. É melhor eu dormir. Chega de quatro de Julho para mim - eu me levantei, descendo da Chevy
- Já é dia cinco, se isso te fizer melhor.
- Boa noite - foi tudo o que eu disse antes de bater a porta com força e me trancar dentro da cabine, acabando com o resto da minha garrafa de Jack de uma vez só
Foi muita informação para um dia só. Além de ser uma data importante para mim, no bom e no mal sentido, ainda teve passeios de montanha russa, um ataque num banheiro químico e um beijo idiota que veio de mim, e não dele. Só me restava beber, já que o único "feliz aniversário" que eu ouvi veio de uma música triste de uma banda do outro lado do oceano.
Acordei ainda tonta, com a luz do Sol invadindo o pára-brisas. Minha cabeça doía e o banco de couro estava grudado em minha pele por causa do calor. Nem que eu quisesse eu conseguiria dormir mais um pouco na cabine, então abri a porta, tentando pisar sem que meus joelhos falhassem. Assim que cheguei ao chão, estendi meu corpo para frente porque eu sabia o que estava por vir. Coloquei tudo o que eu havia comido – e principalmente bebido – para fora ali mesmo. Zach desceu de sua caminhonete e tentou me ajudar, como se já não bastasse eu estar passando mal, ele ainda tinha que me fazer sentir vulnerável. Eu tentei afastá-lo, não é agradável alguém observando você vomitar, mas ele continuou do meu lado. Ele não disse uma palavra, apenas me ajudou a sentar em um lugar com sombra quando meu estômago pareceu estar finalmente vazio.
- Fica sentada aí, eu vou comprar uma água, algum remédio, não sei. A única água que eu tenho está quente, não vai te fazer bem.
Eu mal tive forças para discutir. Fiquei sentada no meio-fio, com o mundo girando ao meu redor. Estava quente demais, minha nuca estava suada, não havia nenhum indício de vento, nada. Tudo parecia estar em velocidade reduzida à minha frente, eu mal conseguia ficar de olhos abertos. Não sei quanto tempo passou, mas Zach voltou com a garrafa e me fez beber um pouco de água gelada, que eu também aproveitei para passar na minha nuca quente. Eu me lembro de pouco, ele colocou a mão no meu rosto e na minha testa e me perguntou algo. Eu não consegui responder. E então eu apaguei. Não pensei, não sonhei, não registrei nada, minha memória parara de funcionar por não sei quanto tempo. Quando despertei, abrindo os olhos devagar, estava em um lugar que eu não reconhecia. Várias coisas me passaram pela cabeça em questão de segundos. Será que Zach havia me levado para um tipo de cativeiro, será que ele estava só esperando uma brecha dessas para me capturar e me levar ao meu pai? Ou será que alguém me encontrou, executou Zach e agora eu estou prestes a ser entrega como recompensa?
Esses pensamentos se foram no segundo seguinte, quando percebi que eu estava era em uma sala de um hospital. As paredes estavam amareladas e eu estava sentada numa poltrona. Eu queria gritar por estar naquele lugar, queria sair correndo derrubando tudo o que eu encontrasse pela frente sem olhar para trás, eu odiava estar em um lugar daqueles. Só que eu não tinha forças para fazer nenhuma das coisas em questão. Eu mal consegui falar. Eu apenas olhei para a agulha enfiada na minha veia do braço e fiquei apavorada. Eu queria que aquilo saísse de perto de mim, que não estivesse mais em contato com a minha pele. Era como se eu tivesse cinco anos e um besouro gigante e nojento tivesse pousado no meu braço; eu queria ele longe de mim o quanto antes, mas não tinha coragem de tirá-lo com minhas próprias mãos. Então tudo o que eu fiz foi chacoalhar o braço rápido, tentando fazer a agulha sair de dentro de mim, mas não demorou muito para que eu percebesse que ela estava grudada com uma fita no meu braço.
- Ei ei, calma - Zach falou, segurando minha mão para que eu parasse quieta
- Tira isso de mim, só tira isso de mim! - eu quis gritar, mas estava muito apavorada para levantar a voz
- Calma, isso é soro. Você desmaiou, teve uma desidratação por causa do calor.
- Só tira isso de mim! - eu falei com os olhos fechados com força
Ele chamou a enfermeira. Ela disse que ainda não podia tirar. Eu pedi mais uma vez para que tirassem a agulha da minha veia. Ela se negou mais uma vez. Eu estava ao ponto de chorar de nervoso quando Zach a convenceu.
- Tudo bem, pode abrir o olho, não tem mais agulha - ele disse, acho que um pouco assustado
Eu abri os olhos devagar, aliviada de ver apenas um curativo no meu braço.
- Quem diria que a mesma pessoa que tirou uma bala do meu ombro com os dedos teria medo de agulha! - ele brincou, mas era eu quem ia rir no final
- Enfermeira - eu a chamei e ela quase repetiu que não havia mais agulha nenhuma, mas não era sobre isso que eu queria falar - Será que a senhora poderia checar o ombro do meu amigo aqui? Ele está machucado há um bom tempo.
Eu abri um sorriso e Zach olhou para mim com raiva. Ela fez com que ele levantasse a manga da blusa e eu ri quando ele foi repreendido por não ter procurado socorro médico antes, que deveria ter levado alguns pontos, que poderia ter infeccionado e tudo mais.
- Deixo avisado que você me paga por isso - ele disse entre os dentes
- Registrado - eu disse em uma risada
A enfermeira limpou a ferida, fazendo-o gemer enquanto eu ria. Quis dedurá-lo ao médico para que ele levasse pontos, mas Zach a convenceu de que iria tomar mais cuidado, que o ferimento já estava bem melhor, que preferia que cicatrizasse sozinho e, é claro, Zach a convenceu com todo o seu charme. Ela apenas lhe deu uma caixa de anti-inflamatórios e anti-bióticos, cobriu e imobilizou seu braço. Eu tentava não olhar para o curativo no meu braço para não lembrar da agulha. Ficamos lá mais um tempo. Ele com seu braço imobilizado e sua cara emburrada para mim, eu sem olhar para o buraco em minha pele, rindo e tentando achar forças para me levantar. Ele acabou me ajudando a levantar da poltrona com o braço que não havia sido baleado.
- Ei, eles não nos pediram nenhum nome né? Você não deu nenhuma informação sobre mim, certo? - eu disse quando saí
- Eu dei meu jeito - ele sorriu aquele sorriso que ele tinha quando estava se gabando
- Não me fale que você jogou outra uma cantada barata na enfermeira.
- Joguei todo o meu charme, isso sim.
- Ugh - expressei - Você não presta!
- Eu não presto? Quem é que me dedurou para a enfermeira?
Eu rolei os olhos.
- Só tem um problema...
- Qual? - perguntei
- Acho que não vai ser muito fácil dirigir com o braço assim.
Eu pensei rápido: seria a melhor solução. Eu dirigiria sua caminhonete e assim não teria que gastar dinheiro, que na realidade eu não tinha, colocando gasolina na minha Chevy. Eu deixaria minha Chevy em algum lugar escondido e rezaria para que ninguém a encontrasse, não sei. Por mais que doesse abandoná-la, eu precisava de dinheiro para comer também. E talvez eu ainda ficaria menos reconhecível sem ela – minha tão amada Chevy vermelha – sempre junto de mim. O fato do maníaco do banheiro químico ter me encontrado havia elevado meu sensor de desconfiança ao nível máximo.
- Eu não vou abandonar minha Chevy para dirigir a sua caminhonete - eu fingi que não era o que eu queria, ele ia desconfiar se eu aceitasse fácil demais
- Você não precisa abandonar, a gente pode usar a minha caminhonete de guincho.
Eu quis pular de alegria por ele ter dito aquilo, mas tive que atuar desconfiança.
- Então eu vou dirigir a sua? - eu arqueei a sobrancelha
- Se você preferir, pode colocar a minha no engate, mas acho que, sem ofensas, a sua Chevy é menos provável de aguentar o tranco.
Eu tinha que fingir mais um pouco.
- Tudo bem. Eu aceito. Mas eu vou dirigir do meu jeito. Nada de ficar me controlando.
- Tudo bem, prometo não reclamar muito.
Eu o olhei séria.
- Tá, prometo não dizer nada.
Rolei os olhos. Tentamos engatar as caminhonetes, o que não foi muito fácil, já que eu estava fraca e tive que fazer o trabalho praticamente sozinha. Zach me guiava, mas quem fez o trabalho árduo fui eu. Assim que tudo estava em seu lugar, eu subi em sua caminhonete, ajeitando o banco e os espelhos retrovisores. Zach sentou-se na carona e esperou eu me ajeitar.
- Espero que você não estranhe muito... Ela é praticamente igual à sua Chevy, só um pouco mais moderna.
- O banco da minha Chevy é muito mais confortável, mas eu não vou começar essa discussão.
- E ela é toda manual também - ele fingiu não ouvir meu comentário
- Que bom porque eu nunca dirigiria um carro automático.
- Por quê? É tão comum...
- Porque, para começo de conversa, não é dirigir. Dirigir é trocar marcha, é ouvir o carro, saber quando ele está pedindo ou não algo.
Ele deu uma risada curta.
- Mas posso dar partida logo ou tem mais alguma coisa que eu precise saber? - eu tinha ficado bem mal humorada depois de ter acordado em um hospital
- Vá em frente.
Ele não disse mais nada. Eu apenas acelerei. Continuei indo a oeste, apreciando a paisagem por um tempo, até perceber que a pessoa no banco de carona estava dormindo. Como a estrada estava praticamente vazia e como o percurso era reto, sem curva quase nenhuma, eu precisava de algo que me deixasse acordada, senão eu também apagaria, ainda mais fraca do jeito que eu estava. Olhei para o painel da caminhonete, vendo o toca-fitas e tentando entender os botões para ligá-lo. Fiquei encarando os botões até achar e, quando achei, apertei-o. O que eu não esperava era o volume da música que começou a tocar. Estava tão alto que meu ouvido doeu.
E então os seguintes eventos aconteceram praticamente simultaneamente: eu voltei meus olhos para o toca discos, tentando abaixar o volume, ou seja, tentando achar o botão do volume; a mão que estava no volante trouxe a caminhonete um pouco para a direita, fazendo com que a roda passasse por um buraco e fazendo minha Chevy atrás de mim pular e, por último, Zach acordou assustado com a música alta e depois bateu o braço que estava livre na porta. Ele primeiro gritou de susto e esse grito foi cortado por um "ai" por causa da pancada.
Eu apertei o botão para desligar o rádio, voltando meus olhos à estrada e olhando minha Chevy pelo retrovisor. Eu diminuí a velocidade, que não devia ser baixa quando isso aconteceu, e olhei para frente, esperando alguma bronca por ter caído no buraco com sua caminhonete e tê-lo acordado e sacudido. Ele demorou para falar algo.
- Você sabe que tem maneiras mais delicadas de acordar alguém, certo? - ele disse, me olhando
Eu tomei algum tempo para perceber seu tom de brincadeira.
- Desculpa, eu devia prestar mais atenção na estrada, prometo que nada vai acontecer com ela - eu falei ainda sem olhá-lo
- Eu não estou preocupado com a caminhonete, Freedom. E eu sei que você dirige bem. Além do mais, qualquer coisa que aconteça com a minha caminhonete, acontecerá duas vezes pior com sua Chevy aqui atrás, então eu tenho essa garantia.
Ele riu e eu o encarei. Como ele se mantinha tão calmo assim? Como ele levava tudo na brincadeira? Eu não entendia.
Ele então abaixou o volume do rádio girando o botão maior e depois o ligou.
- Eu devia parar de ouvir música tão alto.
- Não sei como seus ouvidos aguentam.
- É bom para esvaziar um pouco a mente de preocupações, porque assim fica difícil até de ouvir seus próprios pensamentos.
- Preocupações? Você tem preocupações? - eu fui sarcástica, apesar de, não sei a razão, estar curiosa para saber que tipo de preocupações rodavam sua mente
- Todo mundo tem, Freedom - ele riu, mudando a música que tocava
Era a segunda vez que ele me chamava de Freedom em menos de dois minutos e eu estava, sem ao menos perceber, esperando ansiosamente pela terceira vez. Por um bom tempo, tudo o que se ouviu foi a sua mixtape no toca fitas. O vento batia no meu rosto e eu fiz questão de aumentar o volume da música, não tão alto quanto antes, mas alto o suficiente para "esquecer minhas preocupações". Quando lancei a mão ao botão de volume, Zach riu para si, entendendo meu gesto. Eu só falei algo quando percebi que o ponteiro do combustível estava para baixo, quase na metade do tanque reserva.
- Caso você veja um posto, me avisa. Preciso abastecer - eu disse
- Sim, você deve estar cansada de dirigir também. E com fome.
- Na verdade, eu preciso mesmo é ir no banheiro de novo.
- Foi o soro - ele riu
- Não me lembre daquela agulha dentro de mim - eu falei, estremecendo, tentando não lembrar
- E não me lembre que eu estou com o braço imobilizado por sua culpa.
- Não, mas eu vou te lembrar que se eu não tivesse te dedurado, talvez seu braço pudesse ser amputado. Não, na verdade, se eu não tivesse tirado a bala e estancado o sangue, você estaria morto agora.
- Você venceu. E tem um posto ali na frente, pode dar a seta.
- Eu sei dar seta, obrigada.
Ele bufou. Eu bufei. Céus, como ele era irritante, por um minuto eu tinha esquecido.
Parei no posto e ele me garantiu que conseguia encher o tanque com o braço daquele jeito, fazendo com que nós discutíssemos de novo. Eu fiquei de saco cheio e me dirigi ao banheiro do lado da lojinha. Um banheiro fedido, mas pelo menos limpo. Depois comprei algumas coisas para comer na loja, bobagens só para matar a fome, eu não tinha dinheiro para muita coisa e aquela loja também não tinha quase nada. Quando voltei à caminhonete, Zach ainda estava tentando colocar a pistola de volta ao suporte da bomba. Eu apenas rolei os olhos e ele percebeu, mas agiu normalmente.
- Eu vou pagar - ele falou e eu concordei
Entrei e sentei no banco de motorista. Encarei a chave do carro em minhas mãos e foi aí que percebi algo que não tinha notado antes: ele confiava em mim. Ele havia deixado sua caminhonete na minha mão, com todas as coisas dentro. Eu poderia muito bem dar partida e abandoná-lo, levando tudo o que ele tinha. Ele nunca me alcançaria. Ele confiava tanto assim em mim, uma estranha? Eu poderia muito bem arrancar e sair de lá sozinha e ainda de tanque cheio. Eu olhei para a chave, pensando bem na possibilidade. Depois eu chacoalhei a cabeça, deixando aquele pensamento idiota pra lá. Eu não era ladra, pelo menos não sem necessidade de ser. Eu não era que nem meu querido pai, eu não ia abandonar ninguém, nem mesmo um estranho cujo nome eu nem sei se é verdadeiro. Ele confiava em mim, mas eu ainda não estava tão certo que confiava nele. Todavia, eu não acharia certo roubá-lo e abandoná-lo assim, tão covardemente.
- Ei - ele disse me encarando e eu pulei de susto
- Não me assusta assim - eu quase gritei
- Desculpa, mas eu entrei no carro há mais ou menos um minuto e você tava aí paralisada.
Eu bufei, finalmente dando a partida.
- Aceita? - ele disse segurando um pacote de jerk beef
Eu aceitei sem dizer nada. Meu estômago agradeceu por aquilo roncando. Só que eu somente fui parar em uma lanchonete de beira de estrada à noite, tudo porque eu não queria gastar o resto do meu dinheiro com duas refeições, afinal, eu só tinha mesmo dinheiro só para uma. Eu precisava arranjar mais dólares de algum jeito.
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Música do Capítulo 11: Mad World - Tears for Fears
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