Capítulo 25 - Castigo
A fumaça laranja que tínhamos causado não demorou para chamar a atenção de nossos alvos.
A muitos metros de distancia no meio da floresta que separa as Cidades dos campos dos rebeldes, pude ver a fumaça se espalhando pelo alto enquanto dois Helicópteros se aproximaram. Olho para Christian do meu lado e sorrio, por que tínhamos conseguido chamar a atenção mais rápido do que o esperado. Nos entreolhamos e então continuamos a correr.
Quando o sol estava no topo de nossas cabeças, já tínhamos contado a Scar que o plano tinha funcionado, e ele nos disse que iria constatar com seus espiões de dentro de BrocklinHill. Comemoramos assim que saímos da sala de Scar, com sorrisos e empurrões como se tivéssemos vencido aquela batalha, sendo que tínhamos apenas provocado o começo de uma.
–Vem – Christian segurando em minha mão me guia para longe do grupo, fomos para um canto um pouco mais reservado apesar de uma hora ou outra passar algum Noob. –Como se sente? – Ele pergunta me virando para ficar em sua frente.
A luz que vinha da janela atrás de mim iluminava o rosto de Christian, seus olhos brilhavam apesar de estar com olheiras de noite mal dormida.
–Ansiosa. – Falo suspirando. – Eles não são burros, terão a certeza que estou viva, podem começar um ataque nesse mesmo instante para me levarem.
–Sabe que não vou deixar que te levem. – Ele olha para meus lábios e depois para meus olhos mais uma vez.
Sorrio, e então ele sorri de volta antes de me encostar contra a janela e me beijar. Passo minha mãos por seus cabelos quando o sinto segurar em minha cintura.
Era bom, era a única coisa calma entre tantas turbulências ao nosso redor, era como se nos beijarmos fizesse com que tudo aquilo que nos dava medo parasse. Estar com Christian e beijar ele, era a única coisa que fazia com que eu esquecesse de como me viam, e do que tinha me tornado, era como se uma parte da antiga Nara pudesse voltar a vida.
Nos afastamos e olho por cima de seu ombro por um instante, aquele cara estava sentado sobre um caixote de madeira, tinha um facão em mãos, o mesmo cara que nos acompanhou ao acampamento de Kelly, ele tinha algo de estranho, como se soubesse quem eu era de verdade, e o que eu já tinha feito.
–Algum problema? – Christian pergunta olhando para trás também. Olho para Christian e ignoro aquilo, podia só ser coisa da minha cabeça.
–Não. – Respondo e volto a sorrir.
Ficamos juntos até a hora do almoço, com minha badeja em mãos sigo em direção a Kelly, Dallas, Kla e Maxim.
–Isso não pode ser verdade. – Escuto Maxim gargalhar, vou até eles me sentando em um dos caixotes que estavam próximo como assento. Maxim para de sorrir quando me vê voltando a atenção para sua bandeja.
–Do que estão falando? – Pergunto depois de uma colherada de arroz e caldo de carne.
–Sobre como Dallas não sabe perder. – Kelly provoca Dallas que olha para ela com descrença. – No meu acampamento, algumas Crianças inventaram um jogo chamado queimada, são dois times, usamos uma bola para queimar os jogadores, o time que queimar todos os jogadores do outro ganha. – Ela dizia animada. – Dallas perdeu feio para cinco criança de doze anos. – Ela gargalha apontando para a cara dele.
–Isso não é verdade. Eu apenas deixei que ganhassem para que não fossem reclamar com suas mamães que um cara alto e bonito estragou a brincadeira deles. Isso se chama empatia por menores.
–É verdade sim Eu estava lá. – Kla diz. – E do que você esta falando cara? – Ele enruga a testa gesticulando.
Isso me arrancou alguns sorrisos apenas de imaginar, Dallas não sabia perder pelo o que parecia.
–Ouvi dizer que o plano deu certo. – Maxim ergue o olhar para mim.
–Sim. Funcionou melhor do que esperava. – Respondo deixando minha bandeja de lado. E olho em seus olhos.
Não tínhamos mais conversado diretamente, e nem tinha o que ser conversado, mas enquanto estou com Christian consigo perceber o esforço dele para não me observar toda hora. Era complicado para nós dois, e tentava deixar menos ruim ao puxar assunto.
–Vocês foram bem rápidos– Ele dizia de forma casual
–Andamos por mais de uma hora e meia. – Falo, ele olha para baixo pensativo, calculando.
–Shepley. – Aquele cara que eu não tinha confiança me chama de repente. – Scar pediu que nos ajudasse na vigia das quatro horas. – Ele dizia serio.
Olho para os meus amigos que olhava para ele e depois para mim. Concordo com a cabeça.
–Tudo bem. – Falo me levantando – vejo vocês antes do jantar. – Digo aos quatro que assentem.
Sigo o cara que me chamou pelos corredores do acampamento, apareceu outros dois nos cumprimentando com a cabeça e continuaram com a gente pelo caminho. Fora do acampamento a alguns metros, observava os três com muita atenção, estavam quietos, e tensos, percebi que tinha algo de errado quando nenhum deles tinha uma arma de fogo assim como era necessários para ficar de guarda.
–Como vão se defender sem nem mesmo uma arma de fogo? . – Paro de andar. E eles também. – Não vão ficar de guarda.
Eles trocam olhares antes de se virarem para mim, aquele que me chamou puxa seu facão da cintura, o mesmo facão que ele amolava mais cedo, aperto o maxilar sentindo raiva ao mesmo tempo que confusão.
–Você esta certa, não viemos até aqui para isso. – Ele diz olhando friamente para mim.
Repentinamente ele avança em minha direção,consigo me esquivar indo para trás no mesmo instante, mas não estava preparadapara uma quarta pessoa naquele espaço, algo é posto sobre minha boca com força,um pano grosso. Tentava gritar enquanto me esperneava na tentativa de me livrar de quem me agarrou por trás, o pano sobre minha boca abafava meus gritos, e dificultava minha respiração eufórica, não demorou para que eu me sentisse zonza e minhas vistas embasarem.
A ultima coisa que vejo antes de cair desmaiada, foi aquele cara guardando seu facão na cintura.
[...]
Respiro fundo repentinamente abrindo os olhos, eufórica olho para baixo, aos meus pés tinha barro, estava em pé sentindo meus braços presos para trás, forço a olhar para trás, estava amarrada contra um pedaço de madeira preso ao chão, inspiro pelo nariz agoniada por estar imóvel, meus braços formigavam e sentia minhas mão geladas uma grudada a outra por um nó extremamente forte. Faço careta tentando me soltar, um tentativa inútil.
–Só ira sair quando nós deixarmos. – Aquele cara maldito dizia a minha frente acompanhado de outros três caras.
Ergo meu olhar para ele sentindo ódio, queria estrangula-lo por estar fazendo aquilo comigo. Desvio meu olhar do seu quando percebo pela iluminação do fim de tarde que estava em um campo plano, o lugar era espaçoso e vazio, exceto pelas cruzes espalhadas por todos os lados, não demorou para que eu entendesse que aquilo fossem túmulos.
–Por que esta fazendo isso? – Falo com a voz irada.
–Você ainda se pergunta? – Ele diz dando passos em minha frente, seus passo pesados era o único som naquele silencio agoniante. – Eu sei o que você fez, nós somos os únicos que não acreditamos nessa ladainha de ajudar os rebeldes. – Os caras atrás dele concorda. – Eu vi você em uma noite, você e seus amiguinhos hipócritas.
Aperto o maxilar, ele sabia de nossas missões.
–Vocês deveriam checar melhor os corpos que deixam para trás em cada acampamento que invadem. – Ele dizia expressando nojo. – Você matou minha família... Matou todos eles. – Ele arqueia a sobrancelha. – O que pretende fazer agora? Quer matar o nosso líder também. – Engulo em seco. – Responde! – Ele grita. – O que vocês querem dessa vez? Por que não param ! por que não nos deixam em paz!
–Eu não tive escolha alguma! – Grito por cima sentindo meus olhos marejarem.
–Você teve! Todos esses corpos estão aqui por que você os matou enquanto dormiam! Sente prazer em matar as pessoas? É isso?!
–Para! – Grito, aquilo era demais para mim, todos os pensamentos que eu estive evitando nos últimos dias são praticamente cuspidos na minha cara. – A Garena fez isso, ela que nos mandava aqui eu poderia perder minha família se não obedecesse a eles.
–Mas fez com que dezenas de pessoas perdessem a delas! – Ele olha para cima e respira fundo apertando os punhos. – Não me interessa se sua pobre família poderia ser morta, a única coisa que me importa agora, é fazer com que você pague por tudo isso. – Ele olha ao redor. – Quero que sofra por cada morte que cometeu.
Ele se afasta em passos curtos, seus amigos sinalizam para ele se afastando junto. Mas ele volta, com seu facão em mãos. Prendo minha respiração irregular quando ele coloca a ponta de seu facão em minha barriga. Ele olhava para a faca com ódio, como se estivesse sendo controlado pelo ódio, e então sinto a ponta da faca se arrastar por minha barriga, grito de dor me encolhendo enquanto sentia a pele sendo rasgada e sangue escorrendo sobre minha pele.
–Lembre que isso, é apenas o começo para o que você merece. – É o que diz antes de sair.
Fico sozinha sentindo as lagrimas cair pelos meus olhos enquanto olhando para baixo via o sangue se espalhar pelo tecido da roupa, choramingo fechando fortemente os olhos.
Estava desestabilizada, ao meu redor estava as cruzes indicando quantos eu havia matado, eram muitos, eu tinha feito aquilo, tinha tirado todas aquelas vidas por que precisava manter a minha e de quem eu me importava.
Grito sentindo a agonia em todo o meu corpo, estava presa aquele sofrimento a muito tempo e agora ele estava lá tendo todas as razões para me destruir. Aqueles monstros em minha cabeça explodiram me fazendo recordar de tudo mais uma vez.
Chorava enquanto me lembrava do medo que sentia na primeira Arena, da dor que senti quando matei Álvaro, de quando voltei para casa e Ana não estava lá, do momento que me separei de meus pais, de como não tinha coragem de me olhar no espelho e olhar para o monstro que eu havia me tornado. O peso de tudo isso por culpa da Garena, era tudo culpa dela e sempre foi.
Aquele era o meu castigo, como se fosse um castigo apenas por minha existência que causava tantos horrores. Por eu ser distópica e a melhor entre esses. Não tinha escolhido aquilo, estava sendo obrigada a sentir aquela dor e não tinha forças para tentar me recompor.
Pelo visto ser 100% distópica não me dava as habilidades que precisaria para lidar com esse fardo.
Naquelas horas que se passaram, pude sentir a loucura batendo contra mim. Vi a lua aparecer em meu campo de visão, vi aquele ponto de luz com a visão embaçada se mover durando todo aquele tempo, a luz da meia lua, ficou no topo da minha cabeça no momento mais escuro daquele noite terrível. Não sei se foi um delírio de minha cabeça ao me entregar ao desespero, mas podia jurar ter visto aquelas cruzes tremerem contra o chão que eu estava presa, o arredor todo pareceu se mover me deixando tonta enquanto tentava manter a cabeça erguida.
A dor da minha barriga era tanta que toda a parte baixa do meu corpo formigava enquanto a cada minuto escorria um pouco mais de sangue.
Não tive forças para evitar todas aquelas coisas, e me senti fraca de mais para tentar afastar tantos pensamentos ruins.
Os únicos sons que escutei durante todo aquele tempo, foram meus soluços de dor e minha fraca respiração, até que enquanto com a cabeça baixa fraca de mais para tentar olhar para o meu arredor, escuto passos correndo atrás de mim, assustada tentava virar o corpo mais estando presa era impossível, meu coração acelerou, respiro fundo quando uma silhueta para de correr ao meu lado.
–Nara. – Era Kla, ele olhou para mim e seus olhos demonstraram pena, enquanto os meus se encheram de lagrimas mais uma vez.
–Me tira daqui. – Falo em um fraco suspiro.
Outras duas figuras aparecem, Laura e Maxim. Laura se assusta colocando as mãos na boca, ela se aproxima puxando minha blusa encharcada de sangue para cima.
–Você esta ferida. – Ela me olha com pena. E então junto com Kla começam a cortar as cordas, soluço sentindo dor por todo o meu corpo. – Calma Nara esta tudo bem agora... Eu sinto muito. – Laura dizia com a voz embargada.
As cordas se afrouxam no meu corpo e minhas pernas falham, antes que caísse de joelhos no chão, Maxim se aproximando me segura. Ele examina a mim, e aperta o maxilar enquanto desviava o olhar e mordia os lábios negando com a cabeça.
–Quero saber quem foi o desgraçado. – Ele diz. – Juro que vou acabar com ele.
–Vem Nara. – Kla me pega em seus braços, estava tão aliviada de aquilo ter acabado que tinha medo de que eu apenas estivesse delirando. – Acredite Maxim. – Kla dizia enquanto em passos apressados se distanciava dali. – Voce não vai ser o único a querer isso. – Pelo tom de sua voz ele também seria um dos que faria o culpado pagar.
Me encolho ao sentir o corte na barriga mais uma vez.
–Vocês viram? Todas aquelas cruzes? – Pergunto com a voz fraca. – Eu fiz aquilo... Eu matei todos eles.
–Você não fez nada disso sozinha Nara. – Laura diz olhando para o campo que deixamos para trás. – Todos nos fizemos isso. Não tínhamos escolha.
–Não mesmo? – Questiono.
Todas aquelas horas de tortura me fizeram criar mil e uma maneira de ter evitado tanto sofrimento.
Ficamos em silencio o resto do caminho, sentindo meus braços voltarem ao normal apesar de doloridos, coloco as mãos sobre os ferimento. Chegamos ao acampamento e Laura se distancia, ela avisa que informaria aos outros que tinham me encontrado.
–Saiam da frente! – Kla dizia irritado enquanto adentrava o acampamento, passamos pela porta e encontramos com Paloma e Rafael.
–Precisamos tampar esse ferimento. – Kla me deita sobre uma mesa de madeira encostada na parede.
–Vou procurar Curativos. – Paloma diz.
Fecho os olhos, estava exausta queria fecha-los por alguns instantes, era uma opção para que não sentisse mais tanta dor.
–Nara... Nara... Esta me escutando? – Era Maxim ao meu lado. Via seus cabelos grisalhos e seu rosto em uma borrão, forço a visão conseguindo concerta-la. – Preciso que me diga quem foi. – Ele olhava atento em meus olhos.
Atrás dele reconheço Christian correndo em meio a multidão que atrapalhava seu caminho enquanto curiosos olhavam toda aquela cena.
Ele para ao lado de Kla e Maxim.Paloma, Laura e Olivia aparecessem em meu campo de visão também, ela fizeram com que os garotos se afastassem antes de eu escutar o tecido de minha blusa ser rasgado.
–Nara. – Christian diz com pesar nos olhos enquanto ao mesmo tempo sinto a fúria surgir em sua feição. – Quem fez isso com ela? – Ele pergunta para ninguém em especifico.
Com a cabeça virada para o lado sentindo grande moleza, passo os olhos pela multidão, enrugo a testa quando reconheço o culpado por tudo aquilo, engulo em seco e forço a falar.
–Cara do facão. – É o que falo, Christian desenruga a testa entendendo de quem eu falava, ele certamente lembrava do rosto do cara.
Ele olha para trás examinando toda a multidão, Maxim olha para ele imaginando quem ele procurava, Christian encontra em fim o cara, Maxim segue seu olhar focando os dois no culpado de tudo aquilo, e sem ninguém ao menos perceber, os dois avançam em passos apressados em direção ao cara dando em seguida um empurrão forte nele, a multidão se espalha enquanto o cara caia, gritos de sustos e passos apressados ecoam o espaço.
Sinto minha visão embaçada, vejo mais silhuetas aparecerem atrás do cara do facão e tinha certeza que eram seus comparsas, Maxim e Christian não pararam seus movimentos.
Fecho meus olhos enquanto ao meu redor tudo entrava em desordem.
***
Coitada da Nara...
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