🌼• capítulo 8- fugindo do que não dá para evitar 🐄
Capítulo 8 : Fugindo do Que Não Dá Pra Evitar
O sol tingia o céu com tons alaranjados, mas Theo só queria terminar o trabalho no celeiro e evitar pensar em qualquer coisa. Ele empilhava fardos de feno com pressa, como se o esforço físico fosse o suficiente para calar a voz em sua cabeça.
De repente, ouviu passos leves no chão de terra batida atrás de si. Ele sabia quem era antes mesmo de se virar.
— Oi, cowboy. — Liam chamou, a voz carregada daquele tom caloroso que fazia o coração de Theo acelerar.
Theo nem olhou para ele. Pegou outro fardo e jogou no canto.
— O que você quer, Liam?
— Trouxe uma coisa pra você. — Liam respondeu, aproximando-se com um sorriso hesitante e o bolo nas mãos.
— Não preciso de nada. — Theo disse, seco, sem interromper o trabalho.
Liam suspirou, mas não recuou.
— Theo, você não pode me ignorar pra sempre.
— Não tô te ignorando. — Theo respondeu, finalmente parando, mas ainda sem olhar para Liam. — Tô trabalhando. É diferente.
Liam revirou os olhos e aproximou-se mais.
— Ah, claro. Trabalhando tanto que não pode nem olhar pra mim?
Theo virou-se rapidamente, o rosto sério.
— Liam, não faz isso. Não fica tentando…
— Tentando o quê, Theo? Falar com você? Mostrar que eu me importo? — Liam interrompeu, sua voz começando a elevar-se.
— Tentando me fazer sentir coisas que eu não devia. — Theo murmurou, os olhos castanhos finalmente encarando os de Liam.
O silêncio caiu entre eles. Liam respirou fundo, segurando o bolo como se fosse um escudo.
— E por que não devia, Theo? Por que é errado?
— Porque as pessoas vão falar, Liam. — Theo respondeu, a frustração transbordando. — Porque não importa o que você pense, isso aqui… nós dois… não funciona nesse lugar.
Liam deu um passo à frente, a expressão desafiadora.
— E desde quando você vive a sua vida pra agradar o que os outros pensam?
Theo balançou a cabeça, desviando o olhar.
— Você não entende. Você não vive aqui. Não sabe como é.
— Então me explica! — Liam exclamou, a voz carregada de emoção. — Me explica por que é tão horrível sentir o que a gente sente!
Theo ficou em silêncio, lutando contra as palavras que queriam escapar. Ele passou a mão pelos cabelos, frustrado, tentando colocar ordem nos próprios pensamentos.
— Eu não sei como lidar com isso, Liam. — Ele finalmente admitiu, a voz mais baixa. — Eu não sei como não sentir medo.
Liam aproximou-se ainda mais, colocando o bolo na beirada de uma prateleira e segurando o braço de Theo.
— Eu sei que é assustador. Mas fugir não vai mudar nada, Theo. Fingir que não sente não vai fazer isso desaparecer.
Theo olhou para a mão de Liam em seu braço, o toque quente contra sua pele. Por um momento, parecia que todo o mundo tinha parado, deixando só os dois naquele celeiro iluminado pelo pôr do sol
— Eu só… — Theo começou, mas a voz falhou. Ele suspirou profundamente. — Não sei se consigo ser quem você quer que eu seja.
Liam deu um pequeno sorriso, os olhos brilhando com algo que parecia um misto de tristeza e esperança.
— Eu não quero que você seja nada além de quem você é, cowboy. Só quero que você pare de fingir que o que aconteceu entre a gente não importa.
Theo sentiu o peso das palavras de Liam, mas não respondeu. Em vez disso, soltou o braço e voltou-se para os fardos, pegando outro.
— Acho melhor você ir embora, Liam.
— É isso que você quer? — Liam perguntou, a voz tremendo ligeiramente.
Theo não respondeu, mas o silêncio foi alto o suficiente. Liam pegou o bolo da prateleira, os olhos ainda fixos nas costas de Theo.
— Tudo bem. — Liam disse, a voz mais baixa agora. — Mas vou te dizer uma coisa, Theo. Eu tô aqui. E não vou desistir de você só porque você tá com medo.
Com isso, ele se virou e saiu, deixando Theo sozinho no celeiro com os fardos de feno e um coração pesado.
Theo encostou-se na parede, olhando para o lugar onde Liam havia estado momentos antes. Ele fechou os olhos, passando a mão pelo rosto.
— Ah, Liam… você tá me deixando louco
[🌲🌸🐄]
O celeiro estava envolto em silêncio quando Theo terminou o bolo. Ele lambeu os lábios sem perceber, ainda sentindo o sabor doce enquanto deixava o prato vazio sobre o fardo de feno. “Que diabos você tá fazendo comigo, Liam?”, ele pensou, segurando o chapéu com força em suas mãos.
Lá fora, o céu já estava pintado com tons de azul escuro, as estrelas começando a brilhar como pequenos pontos de luz. Theo respirou fundo antes de apagar a lanterna do celeiro. Ele caminhava lentamente em direção à casa quando seus olhos captaram algo que o fez parar.
Ali, na varanda da casa da avó de Liam, o garoto estava sentado no corrimão, com as pernas balançando no ar. O rosto de Liam estava virado para o céu, iluminado pelo brilho prateado do luar. Ele parecia absorto em seus próprios pensamentos, mas Theo sabia que aquilo não duraria muito.
Ele considerou seguir em frente, ignorá-lo, mas antes que pudesse dar outro passo, Liam virou a cabeça e o viu.
— Theo! — Liam desceu da varanda em um pulo, já correndo na direção dele.
Theo fechou os olhos por um instante, como se estivesse reunindo forças para resistir à energia contagiante do garoto.
— Liam, já é tarde. — Ele tentou dizer com firmeza enquanto o garoto diminuía o passo ao se aproximar.
Liam parou a poucos passos de distância, ainda sorrindo.
— E daí? — Ele perguntou, cruzando os braços de um jeito desafiador.
Theo suspirou, puxando o chapéu para cobrir parte do rosto.
— Você devia estar dentro de casa, descansando.
— E você devia parar de fugir.
A resposta de Liam foi rápida, mas suave, como se ele estivesse apenas constatando um fato. Theo sentiu os ombros ficarem tensos, mas não respondeu.
— Eu vi que você comeu o bolo. — Liam disse, apontando com a cabeça na direção do celeiro. — Então acho que não fui tão irritante assim hoje.
Theo soltou uma risada fraca, mas continuou olhando para o chão.
— Foi bom.
Liam inclinou a cabeça, tentando buscar o olhar do cowboy.
— Só “bom”?
— Tá, foi muito bom. Feliz agora?
Liam deu um sorriso de satisfação.
— Muito.
Por alguns segundos, o silêncio se instalou entre eles, quebrado apenas pelo som suave dos grilos e do vento que soprava pelo campo. Theo finalmente ergueu o rosto, encontrando os olhos de Liam.
— Liam, você tem que entender...
— Entender o quê, Theo? — Liam o interrompeu, sua voz agora mais séria.
Theo balançou a cabeça, como se tentasse organizar os pensamentos.
— Isso, nós... não é tão simples pra mim.
— Eu sei. — Liam deu um passo à frente, diminuindo ainda mais a distância entre eles. — Mas você não precisa carregar isso sozinho.
Theo engoliu em seco, sentindo o coração bater mais rápido.
— Eu não sei como lidar com isso. Eu não sei como lidar... com você. — Ele admitiu, a voz mais baixa agora.
Liam ergueu a mão devagar, tocando o braço de Theo.
— Então não lida. Só... sente.
Theo ficou imóvel, o toque de Liam enviando uma onda de calor pelo seu corpo. Ele olhou para o garoto, para o brilho nos olhos azuis que refletiam o luar, e sentiu algo dentro de si ceder.
— Você é teimoso demais, sabia? — Theo murmurou, mas havia um pequeno sorriso em seus lábios.
— E você gosta disso.
Antes que Theo pudesse responder, Liam deu mais um passo, ficando tão perto que Theo podia sentir a respiração dele.
— Theo... você pode me evitar o quanto quiser, mas não pode evitar o que sente.
E com isso, Liam se inclinou, fechando os olhos e encurtando a distância entre eles. Theo hesitou por um momento, mas, finalmente, deixou-se levar. Ele segurou o rosto de Liam com as mãos calejadas e o beijou.
Foi um beijo lento, cheio de sentimentos que Theo não sabia como nomear. O mundo ao redor desapareceu, deixando apenas o som de seus corações batendo juntos.
Quando se separaram, Theo manteve a testa encostada na de Liam, ainda segurando o rosto dele.
— Isso me assusta. — Ele admitiu, com um sussurro que mal conseguia sair.
— Eu sei. — Liam respondeu, o sorriso suave voltando a seus lábios. — Mas eu tô aqui, Theo. Não precisa ter medo sozinho.
Theo respirou fundo, fechando os olhos por um momento.
— Você é impossível, garoto.
— E você é o cowboy mais teimoso que eu já conheci.
Eles ficaram assim por um tempo, em silêncio, sob o brilho do luar. Theo sabia que o medo não desapareceria de uma hora para outra, mas talvez, só talvez, ele pudesse começar a enfrentá-lo. Afinal, Liam estava ali. E isso era o suficiente por enquanto.
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