Capítulo 13- os ciúmes

Liam fechou a porta, tentando conter o sorriso que insistia em permanecer em seu rosto após se despedir de Theo. Mas assim que se virou, lá estava Malia, encostada no batente, braços cruzados e aquele sorriso malicioso que ele conhecia bem demais.

— Então… parece que as coisas estão indo bem, hein? — disse ela, sua voz carregada de provocação. — Até um cowboy durão como o Theo tá sorrindo bobo agora.

Liam suspirou, mas sua expressão suavizou ao olhar para ela.

— Você nunca cansa, não é?

— E por que eu cansaria? — retrucou, inclinando-se levemente para frente. — Isso aqui tá começando a parecer um daqueles romances baratos que você adora assistir.

Liam revirou os olhos, mas se recostou no corrimão da varanda, olhando para o céu estrelado por um momento antes de responder.

— Não é tão simples assim, Mal. O Theo ainda tem medo… de tudo isso.

Malia descruzou os braços, o sorriso provocador desaparecendo conforme sua expressão se tornava mais séria.

— Ele tem medo do que as pessoas vão pensar?

Liam assentiu, encarando o vazio à frente.

— É difícil pra ele, Malia. Eu já passei por isso, sabe? Já encarei os olhares, os julgamentos, lá na cidade. Mas aqui… aqui é outro mundo. Ele vive aqui, cresceu aqui. Todo mundo conhece ele. O respeito que ele tem é a coisa mais importante pra ele, e acho que ele tem medo de perder isso.

Malia deu um passo à frente, encostando no corrimão ao lado dele.

— Tá, mas… e você? — perguntou suavemente. — Tá disposto a esperar até ele estar pronto?

Liam olhou para ela, a seriedade evidente em seu rosto.

— Ele vale a pena. Não vou empurrá-lo, nem apressar nada. Só quero que ele saiba que tô aqui, sabe? Que ele não precisa carregar isso sozinho.

Malia assentiu, um pequeno sorriso solidário surgindo em seus lábios.

— Eu sabia que você era bobo, mas... pelo visto, você gosta mesmo dele, hein?

Liam riu baixo, balançando a cabeça.

— É, gosto sim.

Malia ficou em silêncio por alguns instantes antes de dar um leve tapa no ombro dele.

— Bom, então vou ficar quieta… por enquanto. Mas se precisar de mim pra assustar alguém ou espalhar boatos de apoio, é só chamar.

Liam riu de verdade dessa vez, balançando a cabeça.

— Vou guardar isso, Mal. Valeu.

— Sempre! Agora, vai dormir, porque já está tarde e amanhã  você não vai querer estar com essa cara de sono.

Ela se afastou, deixando Liam sozinho. Ele ficou por um momento olhando para o céu antes de soltar um suspiro, pensando em Theo e em tudo que aquela relação significava. Apesar dos desafios, ele sabia que estavam construindo algo verdadeiro — e isso fazia tudo valer a pena.

                    [🐄🌼🌲]

O sol mal havia despontado no horizonte quando Emily, a avó de Liam, abriu a porta do quarto com suavidade, mas com a firmeza de quem tinha uma missão: acordar o neto.

— Liam, menino, levanta. O café tá na mesa e já passou da hora de você se juntar a nós — disse, sua voz doce, mas com um tom que não aceitava resistência.

Liam resmungou algo ininteligível, puxando o travesseiro sobre a cabeça como uma última linha de defesa. Emily, no entanto, não era alguém que recuava tão facilmente.

— Sem essa preguiça. Vamos, rapaz. Se ficou acordado até tarde, a culpa é toda sua!

Vencido, Liam soltou um longo suspiro antes de finalmente sentar-se na cama, os cabelos desgrenhados e os olhos semiabertos.

— Tá bom, vó… tô indo.

Enquanto ele descia as escadas para a sala de jantar, ainda meio sonolento, encontrou Malia sentada à mesa, mexendo em um pão enquanto tomava seu café com uma expressão travessa. Assim que Liam cruzou a porta, ela arqueou as sobrancelhas, um sorriso já dançando em seus lábios.

— Bom dia, dorminhoco. E olha, antes de você pegar o pão, preciso te contar: parece que seu cowboy tá chamando atenção logo cedo.

Liam franziu o cenho enquanto colocava uma xícara de café em frente a ele.

— Do que você tá falando, Malia?

Malia colocou o pão de lado e cruzou os braços, claramente se divertindo.

— Do Theo. Ele tá lá fora, conversando com a Alisson, uma moça da roça. E, olha, ela tá bem… interessada, digamos. Um sorriso aqui, uma mãozinha no braço dele ali... Parece que ela não economiza nos flertes.

Liam engoliu o café errado e começou a tossir, seus olhos arregalados.

— O quê?

— Relaxa, primo. É só conversa. — Mas o tom provocador de Malia não ajudava em nada a acalmar Liam.

Sem pensar muito, ele largou o café na mesa e foi até a varanda. De lá, viu Theo ao lado do celeiro, encostado em uma cerca de madeira enquanto Alisson ria de algo que ele havia dito. Ela claramente se inclinava mais do que o necessário, e Liam pôde sentir a pontada familiar de ciúmes surgindo.

Sem querer parecer desesperado — mas incapaz de disfarçar completamente — Liam foi até eles com passos largos.

— Bom dia, Theo, — ele cumprimentou com o melhor sorriso que conseguiu forçar. — Tudo certo por aqui?

Theo o olhou, surpreso, mas logo abriu um sorriso.

— Bom dia, Liam. Só tava trocando umas palavras com a Alisson.

Liam dirigiu um breve olhar à moça, que o encarou com um sorriso mais do que satisfeito consigo mesma.

— Ah, que ótimo — respondeu Liam, cruzando os braços e tentando não parecer tão ácido quanto se sentia. — Mas você sabe que minha vó já tá esperando ajuda pra alimentar o gado, né, Theo? É importante não perder tempo.

Theo levantou uma sobrancelha, percebendo a tensão sutil na voz de Liam.

— Claro, já ia pra lá agora mesmo.

Antes que Theo pudesse completar a frase, Alisson deu uma risadinha.

— Ah, você é mesmo o braço direito de todo mundo por aqui, Theo. E tão cedo... impressionante.

Liam interrompeu antes que Theo pudesse responder, colocando uma mão firme no ombro dele.

— É verdade, Theo é dedicado demais. Sempre tem alguém precisando dele, não é?

Theo olhou de Liam para Alisson, claramente percebendo o ciúme na cena, mas optou por não comentar.

— Isso mesmo. Bem, Alisson, foi bom conversar com você, mas… trabalho me chama.

Ela lançou um último sorriso a Theo antes de se afastar, mas não sem lançar um olhar para Liam, cheio de uma provocação silenciosa que só ele pareceu perceber.

Quando ficaram sozinhos, Theo se virou para Liam com um sorriso divertido.

— Sério, Liam?

— Sério, o quê? — respondeu Liam, cruzando os braços, emburrado.

Theo deu um passo mais perto, abaixando a voz.

— Não sabia que você tinha um lado ciumento. Interessante.

— Não tô com ciúmes, só tô cuidando do que é meu… quer dizer, quero dizer… Ah, esquece!

Theo riu, o som caloroso e baixo.

— Tudo bem, cowboy da cidade. Você é bem fofo assim, sabia?

Liam abriu a boca para responder, mas Theo passou por ele antes que pudesse dizer mais, ainda rindo suavemente enquanto seguia em direção ao gado. Sozinho no caminho, Liam bufou irritado entrando dentro da casa da sua avó.