ú n i c o
— Eu te amo, Alex.
Uma lágrima solitária escorreu por meu rosto ao pronunciar tais palavras. Era como se uma mão forte rasgasse meu peito e pressionasse com força desumana meu coração; partindo-o ao meio.
Uma confissão. Aquela era minha confissão. Estava entregando a ele meu sentimento em uma bandeja de prata e temia que ele jogasse-a contra a parede da sala.
Notei seus dedos longos percorrendo o caminho vazio em direção ao meu rosto, eles estavam gelados, transpiravam enquanto secavam minhas lágrimas. Fechei os olhos por sentir seu fique frio. Ele estava próximo demais. Podia ser abraçada por sua respiração entrecortada.
— Também te amo, Alice. — um brilho diferente surgiu em seus olhos castanhos.
Suas mãos fortes rodearam meu corpo, apertando-o contra o seu. Aquele abraço era cheio de felicidade ensaiada. Uma cena que repetiu-se milhares de vezes em minha mente, em tentativas falhas, no entanto, a realidade do momento não tinha como ser explicada. Era mais reconfortante que todos os meus sonhos passados, apesar de uma sensação incômoda pesar todo o cômodo.
Eu sorri. Um sorriso feliz e amargurado. Ele conseguia perceber a tristeza sentada no sofá assistindo tudo, penosa pelos cacos que logo seriam espalhados pelos cantos daquele lugar? Meu coração não aguentaria até o final do dia.
Transtornada, afastei-me de seu toque e tomei certa distância. O rapaz fitou-me, surpreso, enfiando as mãos nos bolsos do jeans escuro e surrado. Olhou ao redor e sorriu de canto. Quase acreditei na mágoa exalada de suas feições angelicais.
— Por que foge de mim, Alice? Mesmo depois de dizer que me ama? — seus olhos escuros como uma noite sem estrelas estavam presos em mim. — Não te entendo. Queria entender... mas não consigo. — ele andou até a porta, como se fosse embora, entretanto, voltou-se novamente para mim. — Vai me deixar ir?
— Estou confusa, Alex... — desmoronei sobre o sofá e escondi o rosto entre as mãos. — Só... não vá embora, por favor... preciso de você. — outra vez experimentei a sensação esmagadora de fragilidade, estava prestes a desmoronar. — Não me deixe sozinha no meio dessa bagunça. — tal frase saiu carregada de dúvidas, e podia ter mais de uma interpretação.
Rezei para que ele entendesse minha súplica, entretanto, quando fechei os olhos, aguardando, inconscientemente, por seus braços fortes rodeando-me novamente, ouvi o estalo da chave na fechadura. Então eu soube: ele estava me deixando, mesmo após dizer que precisava de sua companhia... ainda que boa parte de mim estivesse destruída. Mamãe estava certa, alguns amores não duram para sempre, especialmente os fantasiosos.
Sobressaltada, levantei do sofá e, num espetáculo conturbado de fúria, tomei o porta-retrato que descansava na mesa de centro e joguei-o contra a parede. As lágrimas caiam como uma tempestade de verão, turvando minha visão. Não sabia se era dor pelo abandono ou por entender a mentira que sobressaía-se na situação.
Os estilhaços de vidro espalharam-se pela sala e a fotografia escondeu-se debaixo da poltrona escarlate. Alex e eu, sorrindo para a câmera. A felicidade da foto era falsa como todo aquele lugar.
— Você quer me matar? — olhei para um canto e uma figura pálida observava-me, paralisada pelo medo.
— Eu pensei que... — sussurrei, descrente. — Ouvi a porta fechando... Você não foi embora? — perguntei, confusa.
— Tentei ir, mas não consigo te deixar aqui. — ele se aproximou, enroscando os braços em meu tronco mais uma vez. — Tente apenas não me executar, por favor. — beijou minha testa. — Espero por você o tempo que for. — seus lábios quentes chocaram-se contra os meus em uma carícia tímida.
Nesse ponto tinha plena certeza de que, quando sua boca afastasse da minha, nada seria como antes. Em poucos minutos eu estaria quebrada e ele não conseguiria juntar minhas peças. Teria de refazer-me sozinha.
Seus lábios afrouxaram num sorriso quando distanciaram-se dos meus, o brilho incógnito ainda preenchia seu olhar.
— CORTA! — o diretor gritou, sua voz estrondosa ecoou pelo set de gravação e todos aplaudiram e comemoraram. — A última cena de Tonight, Together está oficialmente gravada! Parabéns pela brilhante atuação, queridos!
Gabriel agradeceu o elogio e me abraçou forte. A luz em seus olhos tinha sumido, não havia sequer resquícios dela. Ele era realmente um bom ator.
— Você foi ótima, Marina! Quase acreditei em alguns momentos que me amava de verdade. — o rapaz riu e saiu da frente das câmeras. — Esse filme vai ser um sucesso! — disse, por fim, rumando ao camarim ao passo que recebia felicitações da equipe.
Eu sabia que Vitória esperava-o de frente ao espelho grande com luzes adornadas e beijaria seus lábios quando o visse – não de mentira igual fiz há pouco –, sussurrando em seu ouvido quão orgulhosa estava por sua atuação, depois ele agarraria sua mão e a levaria para casa; enquanto eu voltaria para o vazio do meu apartamento escuro no centro, sozinha.
Ainda fiquei um tempo ali, repassando os últimos acontecimentos, no meio do caos da equipe desmontando o cenário e conversando sobre o futuro.
Inegavelmente, não era Alice que falava com ele em toda aquela cena; por trás das palavras idealizadas de alguém inexistente, eu confessava meus sentimentos. E Gabriel nunca saberia, na realidade, ninguém saberia. Guardaria comigo, em segredo, o ardor no peito ao sentir o toque dele. No final, o certo a fazer era juntar meus cacos e ir embora. O filme seria um sucesso e a verdade continuaria escondida em minhas últimas falas.
Finais nem sempre são felizes fora da ficção fascinante das telas.
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