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⠀⠀⠀05 ❟ uma amizade antiga e outra nova

AN OLD FRIENDSHIP AND ANOTHER ANEW

 uma amizade antiga e outra nova 

⠀ ⠀ ⠀─É um pouco decepcionante que demorei tanto para descobrir, para ser sincera.

⠀ ⠀ ⠀Shannon já tinha terminado seu bolo, ajeitou seus talheres no prato e afastou-o para o centro da mesa. Deu um último gole do seu suco e abaixou o cálice da sua boca lentamente.

⠀ ⠀ ⠀─Eu tinha percebido que ele desaparecia, mas não sou do tipo de bisbilhotar, sabe.─continuou, notando que nenhum dos garotos parecia reagir.─Pensei que estivesse escondendo alguma criatura, e que saía uma vez por mês para tomar conta dela.

⠀ ⠀ ⠀Ela parecia falar sozinha, explicando suas hipóteses e teorias para três estátuas de cimento. Ainda assim, tomava conta de usar um tom baixo para que ninguém indesejável ouvisse; afinal, ela não queria espalhar um segredo alheio.

⠀ ⠀ ⠀─Isso explicaria as cicatrizes, mas era meio improvável. Afinal, uma criatura provavelmente precisaria de cuidados mais recorrentes, então descartei essa ideia.─comentou, tagarelando sobre as diversas criaturas que tinham necessidades específicas e que precisavam de um cuidador responsável para satisfazê-las.

⠀ ⠀ ⠀James sacudiu sua cabeça, saindo do transe em que estava preso. Sirius parecia ter feito o mesmo, dando um empurrão em Peter. Os três encararam-a por uns instantes.

⠀ ⠀ ⠀─Mas, enfim, vocês deveriam aprender a mentir...─Shannon divagou, parando ao notar que os três garotos se levantaram em sincronia.

⠀ ⠀ ⠀Antes que pudesse impedir, James e Sirius tinham entrelaçados seus braços com os dela, um em cada lado, e suspenderam ela do chão. Arrastaram o corpo dela para a saída, enquanto Peter corria para abrir a passagem para os dois.

⠀ ⠀ ⠀Shannon não tentou escapar, mas tampouco fazia questão de ajudá-los em "sequestrá-la" para fora do Salão Principal. Eles continuaram carregando-a por uns minutos, chegando em algum corredor deserto perto da estátua de um cavalheiro.

⠀ ⠀ ⠀Por fim, os dois garotos liberaram Shannon, que calmamente arrumou suas vestes amassadas. James, Sirius e Peter olharam ao redor com cautela e certa agitação em seus olhos, certificando-se que ninguém estava nas redondezas.

⠀ ⠀ ⠀─Fique de vigia, Pet.─mandou o Potter, apontando para os corredores em que se uniam ao lugar que estavam.

⠀ ⠀ ⠀O garoto assentiu, aceitando aquela tarefa com orgulho, e ficando parado na frente deles, seu pescoço virando de um lado para o outro. Enquanto isso, James e Sirius fizeram um paredão em volta da garota, impedindo que ela fugisse–mesmo que não estivesse planejando isso.

⠀ ⠀ ⠀Talvez fosse uma tentativa de intimidá-la ou só tentavam manter as coisas discretas, mas seja o que fosse não fazia muito efeito em Shannon. A garota continuou encarando-os com indiferença, e até com um pouco de tédio.

⠀ ⠀ ⠀─Escuta aqui, Shannon. Não estamos para brincadeira, tá entendendo?─falou James, em uma voz grave. Estava claríssimo que os dois tinham suas preocupações com a situação em questão.─Você não irá contar para ninguém. Ninguém. Sobre o segredo do Remus. Tá bom? Ninguém.

⠀ ⠀ ⠀─Se contar─acrescentou Sirius, sua cara estranhamente macabra.─, você se arrependerá, eu posso te garantir isso.

⠀ ⠀ ⠀Shannon soltou uma risada esbaforida, desconcertando ambos garotos.

⠀ ⠀ ⠀─É admirável que estejam ameaçando alguém pelo bem do seu amigo, sério.─admitiu ela, calma.─Mas, relaxem um pouco. Não precisam me matar nem nada disso. Não contarei a ninguém.

⠀ ⠀ ⠀─E devemos simplesmente confiar em você?─perguntou Sirius, sua voz cheia de veneno.─Alguém que conhecemos há alguns meses e que nem sabíamos da existência dela antes disso.

⠀ ⠀ ⠀Shannon ergueu ambas mão em um ato de rendição. Sua expressão se mantinha contida, sem nenhum indício de mágoas pelas palavras deles. Tinham o direito de estarem desconfiados dela naquela situação, mas ainda assim...

⠀ ⠀ ⠀─Não há necessidade de serem grosseiros comigo.─argumentou, em sua defesa.─Se eu quisesse mesmo espalhar o segredo dele, acham que eu faria questão de contar pras únicas pessoas que indubitavelmente já sabem? É algo imprudente, e eu não faria isso.

⠀ ⠀ ⠀─Ela tem um ponto.─reconheceu James, mas ainda parecia receoso.

⠀ ⠀ ⠀─Não podemos arriscar, cara!─Sirius quase cuspiu enquanto gritava em sussurros.─Não deve ser à toa que ela não tivesse amigos antes de nós.

⠀ ⠀ ⠀─Não tenho nenhuma intenção em prejudicar seu amigo, tá bom?─disse ela, de saco cheio.─Podem me deixar ir ou vão me manter sob questionamento o dia inteiro?

⠀ ⠀ ⠀James e Sirius olharam um ao outro, aparentemente discutindo em silêncio.

⠀ ⠀ ⠀Shannon suspirou de maneira exasperada, dando um outro minuto para os dois garotos que permaneceram conversando entre eles. Após receber nenhuma resposta, ela pediu licença em um sussurro e escapou quando revelou-se uma oportunidade.

⠀ ⠀ ⠀─Ei, espera aí!─quando James e Sirius perceberam, já era tarde.

⠀ ⠀ ⠀Ela acelerou o passo, desviando da mão de Peter que tentou agarrá-la.

⠀ ⠀ ⠀─Droga!─eles xingaram em voz baixa, mas não a seguiram.

⠀ ⠀ ⠀A garota não tinha ficado abalada pela situação—claro, tinham dito que ela era praticamente uma desconhecida e que não confiavam nela, mas não era nada demais.

⠀ ⠀ ⠀Por mais que sua cabeça parecesse ter o peso de cinquenta bigornas, Shannon manteve sua cabeça erguida (figurativamente, claro, já que ela tinha o hábito de analisar os padrões do chão enquanto caminhava).

⠀ ⠀ ⠀A aldrava de águia lhe apresentou um enigma ao vê-la diante da entrada; "o que pode ser quebrada, mas nunca segurada?"

⠀ ⠀ ⠀─A confiança.─uma voz sobressaltou Shannon em seu próprio balanço, virando-se para deparar-se com Austin Davis.─E aí?─sorriu antes de fazer moção para entrar.

⠀ ⠀ ⠀Shannon se apressou para adentrar a sala circular, com graciosas janelas cuja luz da tarde cintilavam através dos vidros. Austin sorria despreocupado, seguindo-a para dentro da Sala.

⠀ ⠀ ⠀─Terminei sua tarefa.─ela disse, encarando-o.

⠀ ⠀ ⠀─Sério?─admirou-se, um brilho juvenil e inocente em seus olhos.─Que impressionante, você é mesmo rápida!

⠀ ⠀ ⠀Ela assentiu, caminhando até a estátua para subir aos dormitórios e buscar os pergaminhos que estavam em sua mochila.

⠀ ⠀ ⠀─Muito obrigado.─Austin agradeceu, apanhando o par de papéis em suas mãos.

⠀ ⠀ ⠀─Não precisa agradecer─o garoto fez uma careta, como se não gostasse da humildade da garota, porém ela continuou:─, você me pagou. São negócios, não favores.

⠀ ⠀ ⠀─Vixe, você é sempre assim?─ele fez questão de mostrar seu desencanto, mas logo voltou a sorrir.─Mas, enfim, eu agradeço mesmo se tenha sido mais um serviço do que uma boa ação.

⠀ ⠀ ⠀Shannon deu de ombros, sem energia para discutir.

⠀ ⠀ ⠀─Você não tem muitos amigos, não é?

⠀ ⠀ ⠀─Sua mãe nunca te disse que é rude perguntar isso?─ela retorquiu.

⠀ ⠀ ⠀─Não tenho mãe.─deu de ombros, não parecia muito triste sobre aquilo.

⠀ ⠀ ⠀─Seu pai, então.─corrigiu, sem dar muita importância.

⠀ ⠀ ⠀─Ele me diz que é bom ser honesto sempre.

⠀ ⠀ ⠀A garota quase soltou um suspiro exasperado por aquilo–o menino tinha a capacidade de irritá-la bastante, e com facilidade.

⠀ ⠀ ⠀─Boa noite.

⠀ ⠀ ⠀─Boa noite, rabugenta!─o tom dele era estranhamente alegre.

⠀ ⠀ ⠀Após aquela interação (e a confrontação com os amigos de Remus), Shannon se sentia completamente exausta. Tão exausta, de fato, que conseguiu dormir com uma facilidade quase assustadora quando sua cabeça acomodou-se no travesseiro de penas.

. . .

⠀ ⠀ ⠀Na véspera de Natal, Shannon encontrava-se frente a um dilema. Tinha notado uma mudança drástica no comportamento dos seus amigos–e não soube se era para melhor ou pior.

⠀ ⠀ ⠀James e Sirius eram os mais notórios, enquanto Peter somente seguia seus exemplos. Remus, por outro lado, parecia cambalear entremeio duma corda bamba. Aparentava mais doente do que o comum; sua pele pálida e as cicatrizes vermelhas e inflamadas. Seu corpo tampouco exalava uma linguagem corporal de conforto.

⠀ ⠀ ⠀E a corvina não tinha certeza se era por causa da última lua cheia ou por causa das artimanhas do seu grupo de amigos.

⠀ ⠀ ⠀Shannon, depois da revelação, era constantemente importunada pelos quarto (mais especificamente, dois) garotos da Grifinória. Eram insuportáveis. A seguiam pelos corredores, lhe acompanhavam em sua ida à biblioteca e até consideravam invadir o banheiro feminino (para garantir que ela não "deixasse escapar o pequeno segredo peludo").

⠀ ⠀ ⠀O dia do Natal estava prestes a chegar, em questão de meras horas, quando Shannon O'Brien entrou no Salão Principal para tomar seu jantar. Como de costume, os quatro garotos sentaram ao redor dela. James e Sirius sentavam um em cada lado, enquanto Peter encontrava-se diante dela.

⠀ ⠀ ⠀Remus misteriosamente voltou aos cuidados da Madame Pomfrey pelo resto da tarde.

⠀ ⠀ ⠀Na manhã de Natal, porém, Shannon acordou para um dia em plena solidão. Era refrescante, como o ar fresco dos jardins depois das aulas de Poções.

⠀ ⠀ ⠀Ela abriu o par de presentes que tinha recebido da sua família. Um suéter de lã (que levemente irritava sua pele) feito por Molly Weasley. Havia sido tricotado à mão, com uns buracos entremeio os nós e muito amor.

⠀ ⠀ ⠀A Sra. Weasley começou aquela tradição quando seu primeiro filho nasceu; de tricotar um suéter de lã com a inicial de cada membro da família.

⠀ ⠀ ⠀Shannon, aparentemente, fazia parte dela.

⠀ ⠀ ⠀Por mais que coçasse sua pele, ela o vestiu. Com um calor aquecendo seu peito, tanto literal como figurativamente.

⠀ ⠀ ⠀─Que suéter fofo—comentou Austin, descendo da série de degraus que levavam aos dormitórios.─, sua mamãe que tricotou?

⠀ ⠀ ⠀─Minha mãe está morta.─Shannon disse. Agora me deixa em paz, era o que realmente queria dizer. Porém descobriu que a revelação daquele fato deixava as pessoas desconfortáveis, e então causava que elas fossem embora.

⠀ ⠀ ⠀─Sua vózinha, então?─ele corrigiu, com naturalidade.

⠀ ⠀ ⠀─Não. Agora me deixe em paz.─já não queria ser educada com ele.

⠀ ⠀ ⠀─Ui, alguém acordou estressadinha.–Austin zombou.

⠀ ⠀ ⠀Shannon revirou os olhos e ficou de pé, saindo pela porta e descendo o espiral de escadas. Não queria e não seria mais educada com ele. Quando chegou no andar térreo, deu uma olhada pelo arco do corredor, que dava uma vista esplêndida dos jardins. Aquilo foi suficiente para convencê-la a sentar no gramado húmedo pela neve derretida pelo sol.

⠀ ⠀ ⠀Usou sua capa para não molhar o resto das suas vestes, pondo-a na grama como uma toalha de piquenique. Sentou com as pernas esticadas, as mãos em cada lado e os olhos viajando pelo horizonte do Lago Negro. Podia ouvir como os pássaros cantavam, como suas asas batiam para mantê-los rodopiando pelos ares.

⠀ ⠀ ⠀Às vezes Shannon gostaria de ser um pássaro. Não no sentido literal. Afinal, se realmente quisesse, poderia virar uma animaga. Talvez não seria um pássaro, mas, com um pouco de sorte, seria algum animal com asas. E se realmente quisesse, teria de esperar sua graduação para logo se inscrever no programa do Ministério para supervisionar o processo.

⠀ ⠀ ⠀Quem seria burro o suficinete para virar um animago por conta própria?

⠀ ⠀ ⠀Shannon queria ser um pássaro porque assim poderia conviver com seus iguais. Poderia até existir diferentes raças de pássaros, mas, no final, eram todos da mesma espécie. Ela nunca poderia conviver com a espécie dela. Ela nem sabia qual era exatamente a espécie dela.

⠀ ⠀ ⠀Sua linha de pensamentos foi interrompida pelo som acolchoado de passos vindo de trás dela. Ela não se mexeu, mantendo os olhos em direção reta. O dono dos passos, porém, caminhou até ficar na frente dela, obstruindo a paisagem.

⠀ ⠀ ⠀A silhueta enfraquecida e frágil de Remus Lupin se erguia perante seus olhos.

⠀ ⠀ ⠀─Oi.

⠀ ⠀ ⠀Sua voz passava a mesma impressão da sua aparência.

⠀ ⠀ ⠀─Olá.─respondeu.

⠀ ⠀ ⠀─Posso me juntar a você?─perguntou, incerto.

⠀ ⠀ ⠀Ela deu uma olhada de canto, finalmente encarando-o por completo. Alguns segundos passaram. Encolheu de ombros, e Remus tomou aquilo como um convite.

⠀ ⠀ ⠀Seus joelhos tocaram quando o garoto sentou-se de pernas cruzadas.

⠀ ⠀ ⠀─Deve estar se perguntando por quê estou aqui.─comentou ele, com uma voz suave.

⠀ ⠀ ⠀─Na verdade, não.─falou Shannon, apoiando o queixo na mão enquanto seus olhos voltaram ao trajeto admirador dos jardins.─Seus amigos já vieram me perturbar sem convite antes.

⠀ ⠀ ⠀Remus se encolheu no lugar, como se tivesse vergonha.

⠀ ⠀ ⠀─É por isso mesmo que estou aqui.─deu um risinho desajeitado.─Queria me desculpar pelo comportamento deles.

⠀ ⠀ ⠀Shannon virou o pescoço lentamente, focando no garoto.

⠀ ⠀ ⠀─Não é sua culpa.─deu de ombros, virando de volta na direção do Lago Negro. A água estava tão, tão preta que até parecia ser um buraco no universo ao redor da grama branca.

⠀ ⠀ ⠀─Eles estão fazendo isso por minha causa.─ele sorriu. Shannon conseguia vê-lo pela visão periférica.─Sou responsável.

⠀ ⠀ ⠀─Não vou aceitar suas desculpas, então.

⠀ ⠀ ⠀Remus quase estalou seu pescoço ao virá-lo para encarar a garota, que mantinha seu olhar para frente.

⠀ ⠀ ⠀─Por que não?

⠀ ⠀ ⠀─Não acho que seja sua culpa.─disse.─Então, não tenho pra quê aceitar desculpas.

⠀ ⠀ ⠀Ele demorou um tempo para processar suas palavras, mas quando conseguiu, soltou um suspiro pesado.

⠀ ⠀ ⠀─Isso é uma forma bem estranha de dizer que não tem pra quê se desculpar, sabia?─ele riu, como se Shannon fosse a pessoa mais engraçada daquele mundo.

⠀ ⠀ ⠀Ela o olhou com esquisitice.

⠀ ⠀ ⠀─Qual é a graça?─indagou, com a voz firme.

⠀ ⠀ ⠀Remus hesitou, um sorriso bobo nos lábios e as bochechas e o nariz avermelhados pelo frio.

⠀ ⠀ ⠀─Você.─disse ele, rindo ainda mais ao ver a careta que ela vez.─Sua forma de... uh, se expressar. É um pouco confusa, e alguém poderia até dizer que enganadora.

⠀ ⠀ ⠀─Está me chamando de enganadora?─Shannon perguntou, franzindo a testa.

⠀ ⠀ ⠀─Não! Não, não.─Remus negou, esclarecendo que:─Estou te chamando de gentil.

⠀ ⠀ ⠀Gentil.

⠀ ⠀ ⠀Shannon pausou, tentando entender que parte da forma de expressão dela era gentil. Não conseguiu encontrar nenhuma.

⠀ ⠀ ⠀─Suas palavras parecem um pouco intensas demais. Seu tom não ajuda muito também, não. Mas, no fim das contas, você não é má. Só precisa analisar as estrelinhas, se alguém quiser perceber isso. Quando alguém precisa de ajuda, você ajuda. Quando alguém faz algo de errado, você corrige. Você é gentil.─Remus pausou também, parecendo pensar em suas próximas palavras. Mas, continuou.─Você não contou a ninguém sobre minha... condição.

⠀ ⠀ ⠀─Um...─deu de ombros, com um tom casual.─, ainda prefiro chamar de seu pequeno problema peludo.

⠀ ⠀ ⠀Remus riu, o som retumbando pelos galhos das árvores pintadas de branco.

⠀ ⠀ ⠀─Dá impressão que eu tenho um coelho mal comportado.─brincou.

⠀ ⠀ ⠀─Exato.─a ponta dos lábios de Shannon se ergueram levemente.

⠀ ⠀ ⠀─Engenhoso.─admitiu Remus, assentindo.

⠀ ⠀ ⠀─Obrigada. Eu sei.─não tinha dito aquilo de maneira sarcástica, mas Remus deve ter achado que sim porque ele começou a gargalhar.

⠀ ⠀ ⠀Sua risada foi diminuindo até que só restasse um sorriso meigo no rosto dele. Aquela expressão fez que o estômago de Shannon embrulhasse, então decidiu olhar pro Lago Negro de novo. Ela não era tão engraçada assim, por que ele parecia tão entretido com sua presença?

⠀ ⠀ ⠀─Já que não vai aceitar minhas desculpas, então aceite minha gratidão.─Remus disse, encarando-a. Seus olhos pareciam fixados nela.─Se fosse outra pessoa, tenho certeza que já estaria empacotando minhas malas.

⠀ ⠀ ⠀Um nó se formou na garganta de Shannon. Não era mais o sentimento estranho de antes, mas sim um sufocante. Cheio de peso e de culpa. Remus agradecendo que ela não tivesse contado seu segredo era redundante. Afinal, ela tinha um segredo parecido. Quem era ela para expor um lobisomem quando ela mesma era um monstro?

⠀ ⠀ ⠀Remus notou a mudança de humor dela.

⠀ ⠀ ⠀─Era brincadeira.─aclarou, achando que a garota tinha ficado triste pelo cenário dele ser expulso de Hogwarts.─Tenho certeza que Dumbledore acharia uma forma...

⠀ ⠀ ⠀─Agradecimento aceito.─ela o interrompeu, sacudindo a cabeça.─Mais alguma coisa?

⠀ ⠀ ⠀─Você quer que eu vá?─perguntou Remus, mas era diferente da forma que outras pessoas diziam.

⠀ ⠀ ⠀Quando Shannon fazia essa mesma pergunta, a maioria das pessoas ficam ofendidas e acham que ela está tentando encerrar a conversa. Não era exatamente isso. Ela só não queria lidar com o silêncio denso que vinha quando acabava o assunto. Não era sua intenção rejeitar as pessoas que falavam com ela. Ela só não sabia como continuar a conversa, então esperava que a outra pessoa fizesse aquilo por ela.

⠀ ⠀ ⠀Ele parecia ter entendido aquilo. Talvez da mesma forma que ele "analisava as entrelinhas". A pergunta dele não era acusatória, mas sim compreensiva. Era calma. Remus dizia que ela era gentil, mas quem era gentil mesmo era ele.

⠀ ⠀ ⠀─Não.

⠀ ⠀ ⠀Um sorriso contagiante tomou conta do rosto dele. E Shannon foi contagiada por ele também.

⠀ ⠀ ⠀─Tudo bem, então.─ele disse, decidindo olhar para a paisagem que ela estava admirando antes.

. . .

⠀ ⠀ ⠀O Natal de Shannon não havia sido exatamente como ela tinha planejado. Aquela conversa na frente do Lago Negro tinha mudado bruscamente a forma que ela via Remus Lupin. Não que ela o visse como alguém ruim, mas agora não conseguia ignorar o fato que ele era bom demais.

⠀ ⠀ ⠀Antes só conseguia considerá-lo como uma extensão do James e do Sirius, que sempre estava lá e tentava controlar as pegadinhas deles quando elas passavam dos limites.

⠀ ⠀ ⠀Só que agora sentia como se fosse o mais próximo que ela tinha de um amigo. Não só porque ele constantemente a convidava para ler algum livro da Agatha Christie–ele finalmente leu O Assasinato de Roger Ackroyd–na biblioteca, mas também pelo fato deles serem iguais. Ele não sabia disso, claro, mas Shannon sim.

⠀ ⠀ ⠀Por mais que Remus e Shannon se aproximassem, James e Sirius ainda tinham suas suspeitas a respeito dela e continuavam perseguindo-a durante as férias. Porém, por sorte sua, o feriado já estava perto de acabar. Quando os alunos voltassem das suas casas, a rotina de Hogwarts voltaria aos trilhos e James e Sirius não teriam mais tanto tempo para aborrecê-la.

⠀ ⠀ ⠀Isso não era a única razão pela qual Shannon ansiava pelo retorno das aulas.

⠀ ⠀ ⠀Uma camada fofa de neve branca cobria as torres do castelo quando o resto dos alunos voltaram para Hogwarts. Shannon não se juntou ao pé da plataforma onde os outros esperavam seus colegas com anseio. Em vez disso, escolheu um canto do jardim para esperar um amigo seu.

⠀ ⠀ ⠀As horas passavam, acumulando-se na ampulheta do tempo. E nenhum sinal de Regulus Black.

⠀ ⠀ ⠀A garota sabia que já tinha chegado, afinal podia escutar a gritadeira das conversas vindo dos corredores. Todos já tinham chegado. Então, por que Regulus não chegou? Shannon temia a resposta.

⠀ ⠀ ⠀Uma parte dela já sabia. Um vozinha na sua mente lhe sussurrava venenos cheios de dúvida e insegurança, corrompendo sua esperança pouco a pouco.

⠀ ⠀ ⠀Cinco figuras passaram pelo corredor interno, entrando nos jardins pelo caminho de pedras. Se as vestes pretas e as gravatas verdes não fossem pista suficiente, seus rostos eram; Avery, Mulciber, Crouch Jr. e Malfoy.

⠀ ⠀ ⠀Aquela vozinha irritante tinha razão.

⠀ ⠀ ⠀Regulus Black riu com prazer por algo que Mulciber lhe contara, e por sua expressão não se tratava de nenhum ato bondoso por sua parte.

⠀ ⠀ ⠀Shannon se levantou em um impulso, não sabia o que pretendia fazer. Antes que pudesse pensar, seus pés começaram a se mover. Seus olhos fixados em Regulus, seu amigo. Caminhou e caminhou. Já estava a dez metros. Logo cinco, logo dois.

⠀ ⠀ ⠀Regulus congelou ao vê-la, parada na sua frente.

⠀ ⠀ ⠀Seus amiguinhos continuaram andando, ignorando sua presença por completo.

⠀ ⠀ ⠀O silêncio perdurou. Shannon sentia as palavras acumulando-se na sua garganta, entupindo sua boca, mas nada saía. Nada saía. Ela não conseguia tirar as palavras da sua boca.

⠀ ⠀ ⠀Ela devia falar algo.

⠀ ⠀ ⠀Deveria ter falado há séculos.

⠀ ⠀ ⠀Aquele comportamento não era surpresa alguma. Já tinha notado os sinais, os avisos.

⠀ ⠀ ⠀Era óbvio.

⠀ ⠀ ⠀Regulus sempre gostou um pouco demais das aulas de Defesa Contras as Artes das Trevas.

⠀ ⠀ ⠀E com a ascensão de Voldemort, era inevitável que Regulus plantasse sua admiração no mesmo jarro que os seguidores do bruxo das Trevas.

⠀ ⠀ ⠀Shannon só não esperava que fosse dar frutos tão rápidos.

⠀ ⠀ ⠀E se ele tiver a Marca...

⠀ ⠀ ⠀─Ei, Black! Vamos pras masmorras, você vem?

⠀ ⠀ ⠀─V-Vão indo sem mim.─Ele disse, sua voz dedurando seu nervosismo.

⠀ ⠀ ⠀Seus amigos soltaram risadinhas desdenhosas, mas não disseram mais nada. Eles foram embora sem ele. Era só Shannon e Regulus. Como sempre havia sido.

⠀ ⠀ ⠀Shannon e Regulus no vagão vazio do trem no começo do primeiro ano do garoto. Shannon e Regulus no vagão da ponta nos anos posteriores, com um punhado de doces para acompanhá-los. Shannon e Regulus nas aulas em dupla da Corvinal e da Sonserina.

⠀ ⠀ ⠀Ela abriu sua boca, juntando a determinação necessária. Precisava falar alguma coisa, qualquer coisa.

⠀ ⠀ ⠀─O quê você quer de mim, O'Brien?─Regulus interrompeu suas palavras silenciosas.

⠀ ⠀ ⠀Os olhos dela se abriram, uma surpresa decorando suas pupilas escancaradas.

⠀ ⠀ ⠀─É O'Brien agora?─Ela perguntou, tentando ao máximo controlar sua voz. Por fora, alcançou um tom estável e calmo, mas, por dentro, uma tempestade rugia no seu peito.

⠀ ⠀ ⠀Regulus rangeu os dentes, pego desprevenido. Não pensava que Shannon responderia com tanta rigorosidade. Não imaginava que ela fosse confrontá-lo, pra começo de conversa.

⠀ ⠀ ⠀─Qual é o seu problema, hein?─O garoto perguntou, estufando o peito com autoridade.

⠀ ⠀ ⠀─Eu não tenho problema nenhum.─Ela falou, com dignidade. Queixo erguido e mãos firmes.─Você, por outro lado.

⠀ ⠀ ⠀─Não ouse!─berrou de repente, afastando-se dela como se sua presença tivesse queimado sua pele.─Não me trate como criança.

⠀ ⠀ ⠀─Criança? Do que você está falando?─perguntou.─O que isso tem a ver com a gente?

⠀ ⠀ ⠀─Tudo! Você me trata como uma criança, você age como uma criança!─esticou os braços, apontando para os jardins como um louco.─Olhe ao redor, Shannon, veja o mundo de verdade!

⠀ ⠀ ⠀─Reg, isso não...

⠀ ⠀ ⠀O garoto cortou suas palavras, mas Shannon nem sabia o que ela planejava dizer.

⠀ ⠀ ⠀─Mamãe me contou o que você é.─os olhos dele pareciam brilhar com prazer pela maneira que a expressão de Shannon quebrou.─Uma banshee. Inacreditável! Dumbledore só pode ter ficado maluco em deixar uma aberração como você cursar Hogwarts.─suas palavras pareciam navalhas, sangue transbordando dos cortes.─Agindo como se fosse alguém normal. Você é uma desgraça para os bruxos. Pior do que os sangue-ruins que infestam esse lugar como uma maldita praga. Você é uma encarnação do podre, da sujeita que é nossa sociedade. Manchando aqueles que mantêm o sangue puro, o sangue limpo!

⠀ ⠀ ⠀Uma aberração como eu...

⠀ ⠀ ⠀─Só me deixa em paz!─terminou sua gritaria, cruzando seus braços com uma respiração ofegante.

⠀ ⠀ ⠀Shannon engoliu o nó na sua garganta, sacudindo sua cabeça para afastar qualquer resquício de esperança que sobrasse. Ergueu os olhos e encarou o garoto com um olhar distante.

⠀ ⠀ ⠀─Como quiser.

⠀ ⠀ ⠀Ela deu as costas e, com passos firmes e o coração pesado, começou a se afastar. Seu peito parecia tentar prendê-la ao chão, e teve que arrastar seu coração para não deixá-lo para trás. Com Regulus Regulus. Com Reg. Seu querido, primeiro e melhor amigo. E agora só alguém que ela conheceu em algum momento no passado.

𝟎𝟏. ✷ ˖ ࣪ ˒ O RETORNO DA SUMIDA: oioii, voltei. sinto muito, muito pela demora. desde fevereiro, hein! tenho me afastado de tudo ultimamente, mas hoje bateu uma inspiração e consegui terminar esse capítulo que estava acomulando poeira nos meus rascunhos.

𝟎𝟐. ✷ ˖ ࣪ ˒ MUITÍSIMO OBRIGADA: só queria agradecer por todos que ainda acompanham freaks, apesar dessa pausa gigantesca! vou tentar não desapontá-los de novo<3

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