Esse lado do paraíso
PARTE DOIS
Era a temporada fria do ano.
O chão estava coberto de uma densa quantidade de neve, o que fez Jeongguk fazer mais força enquanto caminhava do que normalmente faria. O cachecol e o enorme agasalho não pareciam fazer diferença, mas ele estava determinado a enfrentar o frio até a floresta.
- Jeongguk! - sua mãe gritou alguns metros dele. Jeongguk parou, não esperando que ela realmente o visse. - Volte já para dentro. O que você pensa que está fazendo saindo nesse frio??
- Mãe, eu só vou-
- Me ver?
Jeongguk parou de falar, olhando atrás de uma árvore, de onde o som vinha, vendo Taehyung parado ali, não parecendo incomodado com o frio.
Seus olhos pretos eram mais profundos e escuros que anos atrás, sua expressão mais séria e madura que antes. Seus cabelos castanhos de antes também mudaram, tornando-se pretos como seus olhos, e Jeongguk realmente não sabia como, afinal, Taehyung garantiu a ele que não havia pintado. Seu corpo estava forte devido aos exercícios que o outro fazia, e Jeongguk até o acompanhava as vezes, mas a motivação de Taehyung certamente era maior que a sua para aquilo. A razão, nem mesmo Taehyung sabia.
- Taehyung! O que você está fazendo aqui?!
- O que você está fazendo aqui. Está incrivelmente frio e você está congelando - Taehyung falou, observando o calor se concentrar nas orelhas descobertas do outro. - Eu disse para você não se colocar nessas situações por minha causa.
- Você não manda em mim - Jeongguk retrucou, virando-se e voltando para casa. Taehyung riu levemente, seguindo-o. - Você não tinha como adivinhar que eu estava indo ver você.
- Não tinha, mas imaginei que você faria isso. Hoje está estranhamente mais frio que todas as outras vezes, sei que ficaria preocupado.
- Está nevando! Isso nunca tinha acontecido antes.
Taehyung não tinha certeza. Ele sabia que nevava antes naquele vilarejo, mas nunca tinha visto. Entretanto, a neve acabou com o tempo, assim como o sangue dos lobos nas pessoas do vilarejo. Eram informações que surgiram em sua mente depois do seu décimo sexto aniversário, e agora, aos vinte anos, elas só continuavam a aparecer.
A razão pela qual seus pais o odiaram desde o nascimento, foi uma delas.
- Taehyung - Jeongguk o chamou, e ele percebeu que havia parado na metade do caminho. Acelerou os passos para alcançar o outro. - Você tem estado no mundo da lua ultimamente, está me deixando preocupado.
- Não há com o que se preocupar, anjo - Taehyung disse, beijando os lábios de Jeongguk levemente quando estava próximo o suficiente.
- Você não me engana, sabia?
- E nem tento.
- Engraçadinho.
Taehyung riu, negando levemente com a cabeça enquanto acompanhava Jeongguk já dentro da casa até a cozinha que agora ele tão bem conhecia. Como havia dito a Jeongguk, eles fariam aquilo aos poucos. Agora, seus pais o conheciam bem e também sabiam o tipo de relacionamento que eles tinham - mesmo que já viessem desconfiando. Taehyung dormia com eles as vezes, mas ainda entrava e saia do vilarejo apenas quando sabia que ninguém além de Jeongguk e sua família sabiam - como hoje. A neve tirou todos das ruas e os manteve dentro das casas.
Mesmo assim, viver na floresta há muito tempo havia deixado de ser assustador ou solitário. Ele e Jeongguk haviam construído sozinhos um pequeno casebre com os materiais encontrados na floresta ou que seu pai ajudou a disponibilizar. Não era nenhum pouco como uma casa comum, mas Taehyung garantiu que serviria. Jeongguk confiava o suficiente nele para acreditar em suas palavras.
Como dormia em sua forma lupina, aquele casebre realmente era o suficiente, e isso também garantia a mobilidade que ele precisava para fugir ou se exercitar, treinando todos os dias o controle do seu lobo. Era mais fácil depois daqueles seis anos, mas haviam sido quinze sem sair da sua forma lupina. Ainda perdia a consciência quando se transformava, o que significava um risco na qual ele não poderia colocar Jeongguk, por isso, ele evitou mencionar novamente a velha história de que era um lobo, deixando que a mente de Jeongguk continuasse a pensar que era apenas brincadeira sua.
Era o melhor para ele. Para eles.
- Taehyung, sinceramente, não sei o que seria de mim sem você. Jeongguk está cada vez mais impossível - a mãe de Jeongguk disse ao vê-lo na cozinha, entregando-lhe um copo cheio de chocolate quente. - Você viu hoje, não viu?? Eu não sei o que passa na cabeça desse garoto.
Taehyung negou, fingindo estar indignado com Jeongguk também, que havia puxado uma cadeira para se sentar ao seu lado após conseguir seu próprio chocolate quente.
- Eu não sou o culpado. É Taehyung. Eu não sairia se ele morasse aqui.
Taehyung riu alto, levando a mão até a de Jeongguk na mesa, rindo ainda mais quando o outro bateu na sua mão levemente.
- Vamos morar juntos quando tivermos a nossa própria casa.
Jeongguk revirou os olhos, bebendo o chocolate quente para não responder Taehyung quanto aquilo. Sua mãe aproveitou a oportunidade para iniciar uma conversa.
- Mas o que você estava fazendo lá fora também, Taehyung? Frio como está, deveria ter ficado aquecido em casa.
- Justamente, mãe! Pergunte a ele por qual razão ele estava do lado de fora - Jeongguk fez um bico indignado.
- A verdade é que eu queria muito vê-lo - Taehyung disse para a mãe de Jeongguk, mas olhando para o outro. - Eu estava com saudades.
Jeongguk tentou fingir que ouvir aquelas palavras não havia mexido com ele, mas seu rosto foi o primeiro a denunciá-lo.
- Ele continua virando um tomate por qualquer coisa que você fale.
- Mãe!
- É a verdade!
- Vocês dois quando se juntam são impossíveis. O papai ficaria do meu lado - Jeongguk resmungou enquanto deixava o copo na pia e ia em direção ao próprio quarto.
- Ele ficou muito preocupado com você desde que começou a nevar - ela disse assim que Jeongguk saiu de vista. - Ver você fora de casa provavelmente aumentou a preocupação dele.
- Eu vou falar com ele, não se preocupe - Taehyung disse, deixando o copo vazio na pia também antes de seguir para onde o outro havia ido.
O quarto de Jeongguk havia mudado diversas vezes com os anos. Seus pais fizeram reformas na casa, que agora contava com mais cômodos além do quarto de Jeongguk que havia sido aumentado. Era organizado como ele próprio, além de tudo ter a cor que Jeongguk mais gostava: roxo. Em frente a cama, havia um local que ele havia feito sozinho para colocar o presente mais valioso que já recebera, o colar de ametista.
Taehyung fechou a porta do quarto assim que adentrou o ambiente, observando Jeongguk retirar as peças de roupas mais pesadas que havia usado para sair. Taehyung foi em direção a cama e sentou-se na beirada, observando em silêncio.
- Eu fiquei muito preocupado - Jeongguk começou, permanecendo segurando o cachecol como se ele fosse o que lhe desse coragem agora. - Nevou a madrugada toda. Eu só conseguia pensar em como você estava. Quando amanheceu, eu só queria vê-lo. E você estava do lado de fora, Taehyung, naquele frio.
- Guk, não é grande coisa. O frio realmente não me incomoda tanto assim. Eu posso lidar com isso. Mas você-
- Isso não é sobre mim, Taehyung! - Jeongguk falou de repente, o tom de voz alto o suficiente para que o outro percebesse que aquilo realmente o estava incomodando. Taehyung ficou em silêncio. Jeongguk mordeu o lábio inferior, jogando o cachecol no armário do quarto. - Eu sei que você diz que está tudo bem e eu... Eu acredito em você quando diz isso. Mas não consigo deixar de pensar que enquanto estou aqui, você está lá, sozinho. E você não me deixa ir, mas você também não quer ficar aqui e eu, eu... - Jeongguk se virou para olhar Taehyung, seus olhos fitando-se ao mesmo tempo naquele momento. - E eu quero estar com você, mas não posso.
Taehyung sentiu o coração apertado ao ver a primeira lágrima escorrer pela bochecha de Jeongguk. Ele não sabia que aquilo estava incomodando tanto assim ao outro. Sua primeira reação foi levantar-se e ir até ele, puxando Jeongguk para um abraço a qual o outro facilmente aceitou.
- As vezes eu sou tão idiota, Jeongguk, me desculpe. Eu não percebi que estava diminuindo a sua dor. Eu tenho deixado você muito triste com todas essas besteiras que eu falo, em? - Taehyung disse, sentindo como o coração de Jeongguk batia rápido contra ele.
- Não são besteiras... - Jeongguk disse baixinho.
- Eu vou ser mais cuidadoso agora. Vou... Vou ficar com você mais vezes também. Aqui. Tudo bem?
- Mesmo? - Jeongguk fungou. Taehyung confirmou, afastando-se apenas para enxugar as lágrimas perdidas.
- Mesmo. Eu não quero ver você chorar nunca mais por minha causa, Guk. Apenas se forem lágrimas de felicidade, ok?
Jeongguk sorriu, sentindo o toque quente dos dedos de Taehyung contra a sua pele.
- Mas essa foi a primeira vez que eu chorei de tristeza por sua causa. Você é bom o tempo todo - Jeongguk garantiu. - Eu apenas, hoje... Foi demais pra mim ver você no frio. Eu não quero ver isso nunca mais.
- Não vai. Não se preocupe. Vamos cuidar um do outro.
- É o nosso lema - Jeongguk sorriu, e Taehyung pressionou os lábios nos dele de forma doce.
- É isso aí.
✧
Os últimos dia do inverno congelante estavam chegando. A neve se desfazia lentamente, diminuindo sua densidade aos poucos.
Jeongguk arfou, o calor de sua respiração percorrendo a fina camada fria do quarto. O corpo de Taehyung contra o dele fazia-no esquecer de tudo ao seu redor, e seus corpos unidos pareciam ser a maior certeza de sua vida. Seus gemidos estavam contidos, buscando não denunciar exatamente o que estavam fazendo, mas Taehyung os ouvia bem. Bonitos e tão bons de ouvir, como o próprio Jeongguk era.
Todo o seu corpo tremeu com o prazer quando Taehyung novamente arremeteu-se contra ele, arqueando as costas quando o êxtase o consumiu por completo. Apenas ver Jeongguk tão perdido nas próprias emoções foi suficiente para levar Taehyung até lá, deixando que seu próprio corpo caísse contra o de Jeongguk na cama.
Suas respirações demoraram para estabilizar, os corpos aquecidos pelo calor que compartilhavam um com o outro. Jeongguk foi o primeiro a falar depois do silêncio confortável.
- É uma pena que seu aniversário só seja amanhã. Seria o presente perfeito - ele disse com o tom de voz brincalhão, fazendo Taehyung sorrir enquanto deixava um selinho em sua boca.
- Quem realmente estaria ganhando um presente de aniversário aqui, em? Você parece muito contente - Taehyung provocou, acomodando-se ao lado do outro. Uma corrente fria chocou-se contra a janela, deixando que uma fina brisa entrasse no quarto. - Essa temporada realmente está acabando? Só parece mais frio a cada dia.
- Pelo menos a neve está sumindo aos poucos. Isso é ótimo.
Taehyung mordeu o lábio inferior, pensativo. Sua mente não lhe deixava acreditar que aquilo era um bom presságio.
- De todo modo, não vá na floresta por esses dias, tudo bem? Eu me sentirei mais tranquilo se permanecer em casa - Taehyung disse, torcendo para convencê-lo de primeira (o que obviamente, ele sabia que não aconteceria).
- Por que não posso ir? - Jeongguk pronunciou confusamente.
Taehyung suspirou, apenas olhando para Jeongguk com carinho. Seus olhos castanhos encaravam-no em busca de respostas, e ele quase se sentiu mal por pedir algo sem realmente ter uma certeza para aquilo.
- Eu não sei, eu só... Tenho estado preocupado esses dias.
A expressão de Jeongguk mudou como sempre acontecia ao entrarem em um tema delicado. Ele se sentou na cama, como Taehyung fizera outrora, o cobertor cobrindo suas intimidades. Já fazia um tempo que o outro estava mais vigilante.
- E você quer ficar sozinho na floresta mesmo assim, e ainda espera que eu concorde com isso? - Jeongguk perguntou, insatisfeito.
- Guk, são só pressentimentos. Você sabe, já contei a você deles. Eu só sinto, mas não sei o que é.
- Igual daquela vez, certo? Com o meu pai - Jeongguk disse com a voz baixa, como se contasse um segredo. - Você disse que ele deveria ficar em casa naquele dia, mas não sabia o porquê. Ele acreditou em você e ficou... E no outro dia...
- Aquela construção era antiga, Guk. Poderia ter acontecido naquele dia ou não, mas aconteceu. Então eu sei que não devo ignorar esses pressentimentos. Se você estiver aqui, ficarei mais tranquilo que estará seguro.
- Mas você não tem certeza disso, tem? E se o problema estiver no vilarejo? Não seria mais seguro que eu estivesse com você? - Jeongguk perguntou seriamente, e Taehyung mordeu a língua com as palavras, porque era a verdade.
O problema estava em seu lobo.
Como poderia protegê-lo se não tinha total controle da fera? Ao menos, se estivesse em casa, o risco seria menor. Poderia protegê-lo e não colocá-lo em risco ao mesmo tempo.
- Eu não ficarei distante - Taehyung garantiu. - E se acontecer algo, eu saberei se você me chamar.
Jeongguk riu fraco, empurrando o peito de Taehyung levemente.
- Não tem como você me escutar da floresta, Tae - ele disse.
Taehyung sorriu, devolvendo a pequena provocação para Jeongguk, fazendo-o rir enquanto fazia diversas cócegas nele.
Mas é claro que tinha. Assim como os pressentimentos, ele não sabia como, mas a certeza de que era possível não sumia.
Não importava a distância, a voz de Jeongguk o alcançaria.
✧
A neve dissipou dias depois do seu aniversário, mas o frio permanecia o mesmo. Jeongguk abriu a porta naquela manhã, sentindo a intensa onda gelada tocar sua pele com força. Seus olhos foram em direção a floresta, apenas pensando se Taehyung estaria bem.
- Querido, não pegue esse frio todo. Entre - sua mãe pediu, e Jeongguk concordou, mas assim que planejava fechar a porta, ele viu um lindo coelho branco vindo de uma parte da floresta. Parecia machucado, o que fez Jeongguk ir na direção dele, se afastando de casa.
Assim que se aproximou do coelho, agachou-se na frente dele, segurando cuidadosamente o animal que nem mesmo reagira. Parecia cansado. De sua pata até um pouco acima do pescoço, havia um ferimento, o sangue ainda fresco.
Seus olhos arregalaram lentamente quando ele notou que não era um ferimento comum. Era uma mordida.
- Como... - Jeongguk murmurou. - Não existem mais lobos aqui.
Um grito agudo o fez se levantar com o animal na mão rapidamente. Quando seus olhos viram além, da direção mais profunda da floresta, sua mente demorou para acreditar.
Havia tantos lobos que seu coração ameaçou parar naquele momento. Suas pernas congelaram, e sua respiração estava descompassada.
Impossível, Jeongguk pensou, pois sua voz nem mesmo saia. Ele tentou se mover, vendo o movimento dos animais, cada vez mais dentro do vilarejo, mas não conseguia. O medo pareceu tomar de conta dele totalmente.
Quando ele sentiu o olhar de um dos lobos caírem sobre ele, um braço segurou-o pelo pulso, puxando-o em direção a sua casa. Sua atenção voltou para a floresta, para a direção onde ele sabia que Taehyung estava, mas sua voz não saiu.
No fundo, ele sabia que Taehyung nunca havia mentido para ele, por isso era fácil acreditar em suas palavras. Mas o receio sempre esteve lá. Agora, chamá-lo? E se fosse verdade, e se Taehyung realmente fosse capaz de escutá-lo? Eram tantos lobos... Ele não o colocaria em risco.
A porta foi fechada, e Jeongguk sentiu seu corpo ser abraçado, não mais o frio do lado de fora, mas o simples calor de sua casa.
- Ainda bem que cheguei a tempo. O que você estava fazendo do lado de fora, Jeongguk?! - seu pai ralhou, e a mãe de Jeongguk mal entendeu quando chegou na sala. - Se aqueles lobos tivessem vindo por outra direção, você... Pelos céus... - ele estava tremendo.
- Lobos?? Do que você está falando? - ela parecia confusa, mas a expressão do marido foi suficiente para perceber a gravidade da situação. - Precisamos sair daqui.
- Não tem como. Eles vieram dos dois lados - o pai de Jeongguk falou, puxando Jeongguk e o fazendo sentar em uma cadeira da cozinha, de frente para o corredor para a sala. - Tudo que podemos fazer é nos enconder e torcer para que os deuses nos mandem ajuda.
- Me ajude a cobrir as entradas - a mãe de Jeongguk disse, e seu pai assentiu rapidamente. Eles correram pelos cômodos, deixando Jeongguk sozinho.
O coelho continuava parado em seu colo, seu pequeno nariz se movimentando algumas vezes. Jeongguk tentou puxar o ar, sentindo dificuldade para fazê-lo. Estava em choque.
Não entendia a razão de sentir aquele medo avassalador. Ele já tinha visto um lobo antes. Mas era diferente agora. O medo não parecia ser dele.
A dor que agora sentia no corpo, uma fina e lenta agonia, também não. Aquele conjunto de sentimentos que apossava-se dele agora até mesmo parecia ser das pessoas do vilarejo.
O coelho pulou para o chão, escondendo-se atrás do fogão, e Jeongguk deixou que ele fosse, juntando forças para levantar também. Seus pais voltaram, tendo fechado os outros cômodos, faltava apenas a porta da sala agora. Jeongguk respirou mais forte, disposto a ajudar sua família, mas levou um susto quando seu pai o impediu de ir em direção a porta.
- Não se mexam! - ele murmurou, e foi só aí que Jeongguk finalmente ouviu.
O som dos gritos, o som dos ganidos, os rosnados.
Eles poderiam ter passado despercebidos se não fosse o cheiro de sangue impregnado nas roupas de Jeongguk, o que chamou profundamente a atenção dos lobos mais próximos.
E eles forçaram a porta com força até que ela cedesse.
Quando três lobos aos poucos adentraram a sala, com dentes ensanguentados a mostra e rosnados baixos e ameaçadores, Jeongguk sentiu as pernas perderem as forças. Seus joelhos de sobraram no chão, e ele sentiu uma culpa enorme.
- Me desculpem - Jeongguk murmurou. As manchas vermelhas em sua roupa chamavam sua atenção mais que tudo. Ele nunca deveria ter saído de casa. Taehyung estava certo.
Ele sempre esteve.
Jeongguk sentiu as lágrimas desabarem. A partir daí, tudo se tornou uma completa confusão em sua mente. Ele sentia seus pais tentarem lenvantá-lo, mas não tinha forças para isso. Os rosnados estavam mais próximos, e ele sabia que os lobos os atacariam nos próximos segundos.
Sua mente ficou escura, até o ponto que as batidas do seu coração foram as únicas coisas que ele conseguiu ouvir. Então, sua voz, que mal conseguia sair, permitiu-se surgir para dar a Jeongguk sua última solicitação. Tão baixa, mas tão profundamente, as palavras saíram.
Taehyung.
O som do rosnado alto chamou a atenção de todos na sala. Jeongguk abriu os olhos fechados, vendo o momento exato que o grande lobo negro pulou sobre o lobo menor que tentava atacá-lo, derrubando-o. Tão rápido fizera isso, ele se esquivou para os outros, atacando-os também, facilmente derrotando seus corpos menores. E quando o primeiro voltou a se erguer, o lobo negro se pos sobre ele, rosnando perante o seu rosto, fazendo o lobo menor ganir de medo.
Os olhos de Jeongguk reconheceriam aquele lobo negro em qualquer situação, pois ele tinha o salvado um dia. Mas acima de tudo, havia algo brilhante e prateado na pata daquele grande lobo.
Os lábios de Jeongguk entreabriam enquanto suas forças lutavam para que conseguisse se levantar.
O colar de malha que havia dado de presente para Taehyung.
O lobo negro olhou para eles, e diante disso, uivou alto, fazendo com que o som fosse escutado por praticamente todo o vilarejo.
Os dois lobos que estavam na sala se levantaram e correram, e o lobo negro deixou que o menor abaixo dele fizesse o mesmo. O som da debandada foi ouvido por todos, os lobos correndo novamente para além da floresta, de onde vieram.
Jeongguk viu o lobo negro olhar para ele. Aqueles olhos pretos e profundos, sim, jamais os esqueceria. Seus pais pareciam ainda mais abismados, mas para Jeongguk, não era nada. Não havia o que temer agora.
- Taehyung - Jeongguk murmurou, sentindo a força que não havia antes surgindo agora. Ele ficou de pé, ouvindo o lobo negro rosnar levemente para ele com sua aproximação.
- Jeongguk, volte para cá agora! - sua mãe gritou, desesperada.
- Está tudo bem, mãe, ele não vai me machucar - Jeongguk disse, e então, olhou profundamente nos olhos de Taehyung. - Eu conheço você, e você me conhece, certo, Tae? E vamos cuidar um do outro, porque é o nosso lema, não é? - Jeongguk disse, e ele tem certeza que viu um brilho nos olhos do lobo antes que ele avançasse em sua direção.
- Jeongguk!! - seu pai gritou, desesperado, apenas para parar por um momento, ouvindo as risadas fracas do filho, sem entender o que estava acontecendo.
Agora que reparava bem, Jeongguk nada mais do que recebia várias lambidas na bochecha do grande lobo negro.
- Pelos céus, isso não é possível - a mãe de Jeongguk mal conseguia acreditar.
- Eu sabia que você lembraria de mim - Jeongguk murmurou, levando seus braços até o grande pescoço do lobo, fazendo um carinho em sua pelagem, mesmo que fosse quase impossível pelo modo como o lobo continuava tentando lambê-lo. Ele percebeu a tensão dos seus pais, e olhou para eles sem parar de fazer carinho no lobo negro. - É Taehyung, vocês não precisam ficar com medo. Ele é um lobo agora, mas não fará mal a ninguém. Está tudo bem.
- Mas Jeongguk...
- Mãe, por favor, ele não é como aqueles lobos de antes. Ele é bom. É Taehyung. Vocês gostam dele, certo?
Seus pais se entreolharam, e mesmo que o medo tentasse domá-los, eles concordaram, deixando a tensão de lado, percebendo o modo como até Taehyung em sua forma lupina pareceu relaxar com aquilo.
- Por que ele não volta ao normal? - sei pai perguntou, se aproximando de Taehyung. Jeongguk sentou-se no chão, e o lobo negro facilmente fez o mesmo, abaixando a cabeça contra o seu colo.
- Eu acho que não é tão simples assim - sua mãe disse. - Ele provavelmente teria o feito se pudesse.
E Jeongguk concordou com o que ela dissera. Era Taehyung ali, mas ao mesmo tempo, era a versão de um lobo que também tinha uma personalidade. Como na primeira vez que se viram, ele era mais selvagem, e um pequeno pedaço dele provavelmente gravou os olhos de Jeongguk e sua gentileza por salvar sua vida.
Agora, Taehyung parecia lembrar de seu rosto mesmo que o lobo estivesse no controle, mas o fato que o lobo rosnara antes só mostrava que ainda não era perfeito. Deveria ser por isso que Taehyung teve tanto medo.
Ele sempre esteve tentando protegê-lo do lobo dentro dele.
Sorriu levemente, fazendo carinho nas orelhas grandes do lobo, vendo como a calda mexia-se de forma manhosa. Ainda não conseguia perdoar o mundo por fazer Taehyung e esse lobo sofrerem tanto sozinhos.
Mas eles não estavam mais sozinhos agora, Jeongguk lembrou. Ele estaria com eles para sempre.
Até o infinito.
___________
último capítulo será publicado amanhã ♥️
espero que tenham gostado!!!
até mais <3
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