Fragmentos do Nosso Amor
✧ Créditos:
Fanfic por: amanddyh
Co-Autor: PurpleGalaxy_Project
Betagem por: lalisaglowps
Design por: @blurxvenom
Aos 8 anos, eu abri os olhos e percebi que existia. Foi uma experiência horrível, foi um dos piores momentos da minha vida, só não se compararia ao dia de hoje, dia 01 de Setembro de 2020, quando estou completando meus 20 anos.
Ninguém sabe a sensação de esquecer de quem você é, seu nome, sua idade, sua vida toda. Eu tinha perdido meus primeiros oito anos de vida em um único dia. Abri os olhos e a onda de lágrimas me atingiu, eu segurei por um momento, pois estava assustado demais para pensar. Naquela época, eu era apenas uma criança que só me lembrava da dor insuportável que senti quando a água entrou em meu corpo. Quando olhei para os lados, o primeiro rosto que vi foi o dele. Ele tinha cabelos castanhos e olhos pequenos, bochechas fofas e estava com os olhos lacrimejados, o nariz muito vermelho. Estava usando o que parecia uma roupa de hospital branca, e parecia ser muito pequeno, até eu perceber que eu também era muito pequeno, pareciamos ter a mesma idade, mesmo que eu não soubesse quantos anos tinha naquele momento. Eu vi quando seus olhinhos pequenos se arregalaram e ele apertou minha mão sorrindo. Me soltei de seu aperto, até porque estava assustado sem conseguir gritar ou falar, confuso e com medo, eu sentia meus olhos arderem. Então eu chorei, e aquelas pessoas maiores do que eu se aproximaram abruptamente, me fazendo chorar mais e me desesperar. Meus ouvidos pareciam abafados, pareciam cheios de água. As vozes estavam abafadas, então me esforcei, conseguindo sussurrar:
— Não consigo ouvir… — Minha voz mal saiu, eu não ouvi minha própria voz e acreditei ter ficado surdo, o que me desesperou mais. E então um homem muito grande e de jaleco branco se aproximou, eu me assustei e tentei me afastar, percebi uma coberta no meu corpo e a puxei para cima cobrindo minha cabeça.
Minha audição voltou aos poucos, eu ouvia suas vozes abafadas ficando cada vez mais claras, foi quando senti algo no meu dedo do pé, parecia que alguém havia me beliscado. Eu senti dor, e então eu puxei minhas pernas, abraçando-as por baixo da coberta. Então eu ouvi uma risada infantil e, quando minha audição melhorou, percebi que havia sido aquele garotinho. Isso me deixou bravo, eu puxei minha coberta para baixo novamente, sentando no colchão com dificuldade apenas para encará-lo com a minha cara de bravo e mostrá-lo que eu não gostei do que ele fez, mas só recebi um sorriso e uma risadinha em troca do garoto.
Kim TaeHyung era o nome dele. Tinha seis anos e ele era meu melhor amigo desde quando nascemos, segundo o homem alto que se dizia ser meu pai. Eu gostaria de ter me visto no espelho naquela hora para ver se éramos parecidos, senti falta de uma figura feminina ao seu lado, como o casal que se apresentou antes como os pais de TaeHyung, mas eu não sei sequer se tinha uma mãe.
Eu queria explicações. Me disseram que eu tinha apenas cinco anos e meu nome era Jeon JungKook. Meu pai se chamava Jeon Jongsun, e minha mãe, Lee Yuna, havia falecido no mesmo acidente que eu sofri, e eu não sabia se eu deveria chorar ou sentir tristeza. Eu vi os olhos marejados do senhor Jeon, mas eu não senti nada com a informação. Eu não a conhecia mais, eu não me conhecia mais, eu não tinha lembranças nenhuma com aquela senhora, então sua perda não impactou tanto quanto acho que deveria. Mas pela tristeza dos outros (até TaeHyung estava chorando com a informação) provavelmente ela foi uma boa mulher e uma boa mãe, é o que me fizeram acreditar.
E então eu saí do hospital, e ele estava lá do meu lado. Kim TaeHyung vestia um casaco caramelo, andava segurando as minhas mãos, esquentando-as do frio que nos atingiu quando saímos do grande hospital. Eu havia me soltado dele duas vezes, mas ele voltava a segurar minha mão enquanto sorria, e eu não achava graça, me perguntando porque os três adultos nos encaravam rindo. Eu não gostava dele, ele parecia legal, mas no momento que o conheci ele apertou minha mão e beliscou meu dedo do pé.
Nós éramos vizinhos, descobri quando eu e o senhor Jeon paramos na frente de uma casa branca com telhado vermelho. Os pais de TaeHyung juntos ao filho deram tchau indo para a casa da direita que era branca também, porém com detalhes verdes e um jardim bonito na frente. Isso significava que ele apenas precisava andar três passos — ou melhor, pelo menos 10 passinhos com suas pernas curtas —, tocar a campainha uma vez e o senhor Jeon já estaria lá abrindo a porta para ele. Apenas dois segundos depois de eu ouvir a porta de minha casa bater, eu já estaria sentindo seus braços me envolverem em um abraço e uma risada que antes eu achava chata (ele ria para tudo), mas eu achei fofa.
Eu peguei em suas bochechas com as duas mãos, apertando-as porque eram muito fofas, enquanto ele sorria e olhava para mim. Quando ele parou de rir, eu sai correndo para o quintal da parte de trás da casa que eu algum momento deveria me acostumar a chamar de lar, escutando os passos atrás de mim. Eu corria dele e ele corria atrás de mim, me abraçava e brincava de carrinho comigo. Ele gostava do meu boneco do Homem de Ferro, mas eu me sentia mal vendo ele brincar com meu brinquedo favorito. Eu chorava e ele me devolvia o brinquedo, então brincava com o outro boneco, o do Homem Aranha.
Eu passei a gostar muito dele.
Aos nove anos, meu pai — que eu conseguir a chamar de pai apenas um ano depois de passar o tempo com ele — me levou até o túmulo onde tinha a foto de uma mulher sorridente. Seus olhos se parecem com os meus, eu levei flores rosas pra ela e senti uma dor no peito que me fez chorar alto. Senti seus braços me envolverem novamente, TaeHyung estava lá quando eu senti pela primeira vez a falta de uma mãe e como ela poderia ter sido boa para mim, e como poderíamos ter sido uma família feliz.
Aos dez anos, eu recebi uma cartinha de outra menina da escola. Tinha corações e uma caligrafia engraçada, ela escreveu me chamando de bonito e que ela me achava legal, que eu era inteligente e que gostaria de ser minha namorada. Eu fiquei confuso no momento, e bem na hora, TaeHyung estava entrando no meu quarto e sentando na minha cama. Eu mostrei a cartinha e seu sorriso sumiu. Não entendi o seu comportamento estranho naquela época, mas acho que era ciúmes. No final, eu não gostava da menina, ela ficou triste, mas depois foi brincar de pega-pega com seus amigos, então ela não ficou triste por muito tempo, era um amor bobo de criança. Aos doze anos, minha puberdade começou, e eu comecei a me sentir estranho comigo mesmo. E em como eu me sentia em relação a TaeHyung. Ficamos depois da aula na escola, e estávamos juntos, quando TaeHyung me pediu para ir ao banheiro com ele, e então ele me beijou. Meu primeiro beijo. Eu fiquei confuso e sai correndo. Cheguei em casa e bati a porta rezando para ele não vir me ver, eu estava com medo do que estava sentindo, porque eu não havia achado estranho ou desgostado. E também éramos dois garotos… Mas, no dia seguinte, ele veio na minha casa para irmos para escola juntos. Ele fingiu que nada havia acontecido e eu decidi fazer o mesmo, sabendo que a partir daquele momento na verdade eu nunca esqueceria aquilo.
Aos quatorze anos, uma garota da minha sala me mandou mensagem. Eu tinha ganhado um celular de presente há pouco tempo, e eu não sabia como ela tinha conseguido meu número. Ela me chamou pra sair, mas eu recusei educadamente, eu imaginei que ela gostava de mim, o jeito que me olhava durante a aula ou o suco que me comprava algumas vezes de gentileza, era clichê e fofo. E lá estava TaeHyung coincidentemente falando dela no dia seguinte, ele me fez inúmeras perguntas, se ela era bonita e se eu sairia com ela. Parecia curioso demais, e eu pensei que ele estava com ciúmes, então ele me incentivou a convidá-la e eu fiquei mais confuso ainda. Eu já gostava dele, porque ele queria que eu saísse com outras garotas? Então eu fechei os olhos e o beijei, bem rápido, como um “cala a boca, idiota, eu não penso em outras pessoas, só em você”. Mas eu sai correndo de novo. No dia seguinte, fui até sua casa e o beijei-o verdadeiramente após ele não recusar minha aproximação repentina ou recusar minhas mãos em seu rosto bonito.
Eu sabia que ele gostava de mim também.
E eu estava começando a me apaixonar perdidamente por ele.
Aos quinze anos, ele me pediu em namoro, e eu fiquei chocado ao perceber que ainda não tínhamos oficializado nada, não passamos de beijos e mãos bobas. Então contamos para os nossos pais, que ficaram nada surpresos, acho que já era óbvio desde quando éramos pequenos. Todo mundo sabia o quanto éramos grudados. Foi nessa mesma época que ele me levou para vários encontros: parque de diversões, cinema, lanchonetes, bailes da escola, um mais incrível que o outro, os lábios dele eram tão doces, a textura macia me deixava viciado… e excitado.
Aos dezesseis anos, foi a época que meu corpo passou a mudar muito mais, e eu estava sentindo desejos muito fortes, desejos que eu não sabia como lidar. O simples fato de pensar em TaeHyung me deixava com calor, pois ele estava crescendo junto comigo, e eu percebia sua mudança de garoto de rosto infantil para um rapaz muito bonito, sua voz ficou mais grossa nessa época. Eu não conseguia me segurar quando ele chamava meu nome com sua voz rouca. Sabíamos o que queríamos, mas a insegurança e o medo sempre falaram mais alto, tínhamos medo de machucar ou decepcionar um ao outro, até que finalmente aconteceu, e perdemos a virgindade juntos. Não foi uma experiência mágica, nossa primeira vez foi bem estranha pela inexperiência, ansiedade e medo, um pouco dolorosa também, mas ao mesmo tempo muito especial, porque nos gostavamos muito, e porque era um nível superior de intimidade que nos sentíamos confortáveis, e eu era muito novo para admitir ou ter certeza, mas eu já sabia que eu não era só mais apaixonado por aquele garoto de sorriso bonito e personalidade incrível, eu estava começando a amá-lo.
Quando eu fiz 17 anos, foi uma época difícil pra mim. Uma sequência de coisas ruins aconteceram em tão pouco tempo, tantas que era difícil demais de assimilar. Meu pai foi parar no hospital por causa de um acidente na estrada. Ele quase não sobreviveu, e foi a pior época da minha vida. Dói lembrar, dói de falar, dói só de pensar o terror que foi. Ele estava lá, mas parecia não ser o suficiente, porque ele estava estranho, ele me abraçava, ele me beijava, mas parecia tão distante no momento que eu mais precisava dele. Então, chegou um boato em mim, maldito boato, de que ele havia apostado com os amigos dele que ele conseguiria tirar minha vingirdade. Eu implorei para ele falar que era mentira, mas a hesitação no seu olhar, o seu comportamento de dias atrás me mostraram o contrário do que sua boca negou. Foi então que meu chão desabou, e eu não consegui sair de casa durante algumas semanas. Eu me esforçava para conseguir ir ver meu pai no hospital. Era tão doloroso ver ele naquele estado que eu passei alguns dias sem ir para não ter que vê-lo daquela maneira. Depois me senti a pior pessoa do mundo por ter abandonado ele e por não estar lá quando ele abriu os olhos, mas passou, eu acho. Ele me perdoou, mas eu nunca me perdoei.
Ainda nessa época, TaeHyung se afastou para alguns dias depois Jaehyun chegar na minha casa com o rosto machucado, implorando por perdão, dizendo que cometeu um erro em espalhar rumores falsos de TaeHyung. Aquela cena me assustou, TaeHyung nunca tinha se mostrado tão agressivo. Quando JaeHyun foi embora, ele veio correndo e me abraçou o mais forte que conseguiu, foi o abraço mais forte que ele já me deu, e eu percebi que fui injusto, sua hesitação era pelo absurdo dos boatos, e não por ter me apostado. Seu estranhamento era apenas o estresse por sua mãe estar doente, coisa que eu não sabia na época, eu mal via ela quando ia na casa dele. Mesmo que o que ele tenha feito fosse errado, eu não pude me recusar a perdoá-lo, eu o amava, e aquilo tudo quase nos destruiu. Meu pai estava em casa novamente e ele estava de volta em minha vida como antes, meu amor mais forte do que nunca, a esperança voltou, e eles me tiraram do fundo do poço que eu me encontrava, finalmente estava feliz novamente.
Aos dezoito anos, eu e meu pai nos mudamos para eu poder começar a frequentar a faculdade de medicina, era uma carreira que meu pai sonhava para mim, mesmo eu sendo um aluno completamente mediano nas aulas e vestibulares. Então eu e TaeHyung nos afastamos, mas claro que não terminamos. O relacionamento a distância foi difícil, TaeHyung parecia cada vez mais estressado, imaginei que era por causa da doença da sua mãe, as ligações foram parando e as mensagens também. Eu me recusei a acreditar que ele estaria me largando — ou pior, me traindo —. Eu me recusei muito. E passei mal com os sentimentos ruins da distância. Olhando agora, era bem doentio aquelas emoções, como se eu tivesse tendo abstinência de Kim TaeHyung, e era ridículo eu me sentir assim por alguém, como se precisasse dele para respirar. Eu fui mal nas aulas, fiz meu pai se estressar, comecei a fumar por rebeldia e para ter uma válvula de escape do estresse da vida adulta que me engoliu sem eu perceber, e fiz uma loucura. Faltei uma aula importante para pegar o primeiro ônibus para voltar para a cidade e encontrar TaeHyung.
Ele não estava em casa, mas sua mãe me atendeu, ela parecia tão fraca e usava um lenço na cabeça, mas seu sorriso ainda estava no rosto. Eu não sabia que era tão grave, mas ela tentou seu melhor para não demonstrar vulnerabilidade, senhora Kim era uma pessoa muito boa. Ela me informou o lugar onde TaeHyung havia ido, era um cinema ao ar livre, um lugar cheio de carros e casais assistindo um filme de romance que passava em um telão gigante. Eu fui andando entre os carros tentando encontrá-lo, vi um carro em uma colina alta, e vi duas pessoas nos bancos da frente. Eu conhecia o meu TaeHyung de longe, de costas, e de todos os ângulos possíveis, ele estava ali. Afastado… com uma garota. Eu recusei-me a pensar o pior, eu estava mentindo para mim, pois era mais fácil do que admitir que eu estava obcecado por Kim TaeHyung, e que ele iria me substituir no final, era assustador o pensamento. Impedi os pensamentos ruins indo até lá, e ele estava com o braço ao redor de uma menina. Eles faziam uma pose enquanto ela segurava o celular na frente deles.
Era óbvio que ele estava me traindo.
Eu tirei uma foto e voltei para a casa de TaeHyung, enviando a foto a ele quando sua mãe me deixou entrar para passar a noite. Eu vi que ele visualizou, pois segundos depois veio as mensagens:
“Onde você está?
Você veio me ver?
Kookie-Ah, cadê você?
Não pense nada de mais, ela é apenas uma amiga.”
E então eu desliguei o celular e ri incrédulo ao escutar aquela mentirinha clássica, vi inúmeros parceiros de amigos meus dando a mesma desculpa dias antes da traição ser descoberta, e eu estava mais incrédulo ainda ao perceber que estava me esforçando para mentir para mim mesmo só para não me machucar. Eu queria que ele fosse homem o suficiente para me contar, para contar olhando nos olhos da pessoa que ele disse que amava um milhão de vezes. Eu queria ver se ele tinha coragem.
Então ele chegou e me encontrou no seu sofá. Eu tinha certeza que meu semblante era frio e raivoso, seu olhar confuso e assustado me revelou que eu estava o fazendo sentir medo.
— Por favor, não pense algo errado, me deixe explicar — ele gaguejou, se aproximando a passos muito curtos.
— Explica. — Meu tom saiu mais grosso do que eu esperava, eu estava com raiva, ele estava me traindo!
— Eu a conheci na faculdade, ela se tornou minha melhor amiga, só que ela vai se mudar amanhã e hoje ela terminou com o ex-namorado babaca dela. Eu só queria animar ela um pouco para ela não passar seu último dia na cidade triste… Ela sempre quis ir num daqueles cinemas ao ar livre, eu a levei lá para animá-la. Apenas isso. — Falou sem hesitação, e eu quase acreditei de imediato.
— Você espera que eu acredite em você depois de eu chegar de uma viagem longa para fazer uma surpresa para o meu namorado encontrar ele com outra garota de uma forma tão íntima?!
— Eu só tava com o braço no ombro dela porque somos amigos, não tem nada demais. Por favor, acredite em mim.
— Você prometeu que não ia mais me machucar. — Minha voz saiu embargada naquele momento, e eu sentia que iria desabar. Era difícil de acreditar.
Eu o vi pegar seu celular, o que me deixou mais bravo, o seu celular era mais importante do que a pessoa que ele dizia amar chorando na frente dele?
— Oi, Taennie, acabou de me ver e já está com saudades? — foi uma voz feminina que soou de seu celular, me deixando confuso.
— Noona, poderia falar porque fomos até o cinema?
— Eu já te falei mil vezes que eu queria assistir aquele filme no cinema ao ar livre antes de ir embora, já que aquele palerma do meu ex namorado nunca se importou de verdade comigo para fazer algo por mim. Eu acho que não te agradeci o suficiente Taehyungie, por ter feito esse dia tão bom quando eu me sentia tão pra baixo. Você é o melhor amigo que eu poderia ter, seu namorado tem tanta sorte de ter você. — as palavras me pegaram de surpresa, porque parecia tão verídico. Sua espontaneidade em falar parecia tão natural, que me fizeram entrar em conflitos sobre minhas emoções.
— Então é verdade… — eu sussurrei percebendo que duvidei dele mais uma vez. Ele se despediu da garota na ligação antes de se aproximar.
— Eu te amo, eu jamais faria nada para te machucar de novo, eu juro. — ele se aproximou sob meu olhar captando cada movimento mais perto, ele segurou meu rosto como eu costumava fazer com ele quando éramos pequenos, ele beijou meu nariz, e depois minhas bochechas úmidas, beijou minha testa, antes de me beijar na boca, transmitindo todo seu amor naquele beijo.
E eu me senti um lixo por duvidar dele, mas todos os meus sentimentos ruins foram embora quando ele me tornou seu mais uma vez na sua cama. E aquela noite foi uma montanha russa de emoções, mas eu percebi que nada importava quando estava preso entre seus braços fortes e sentindo sua respiração tranquila no meu peito desnudo, aquele lugar era o meu paraíso.
Aos dezenove anos, TaeHyung se mudou para a mesma cidade que eu, e para o mesmo complexo de alojamentos da faculdade também. Seu prédio era do curso de artes que ficava há dez minutos do prédio onde eu estudava medicina, ele não se importava em sair do meu quarto quando faltava apenas cinco minutos para sua aula da manhã começar, e não se importava em chegar vinte minutos atrasados se isso significasse que ele poderia passar boa parte do intervalo no gramado da faculdade me beijando enquanto estávamos compartilhando sorvete e salgados.
Ele era o namorado dos sonhos.
Tomamos várias advertências e avisos quando outros alunos nos deduravam ou acabavam flagrando eu saindo do quarto de TaeHyung no meio da madrugada, pois não compartilhávamos o mesmo quarto. Nossos colegas de quarto eram muito festeiros e quase nunca passavam a noite nos alojamentos, então não viamos problema. Os hormônios à flor da pele, nos faziam ficar a noite toda acordados, independentemente das aulas que iniciavam às sete horas da manhã e iam até a tarde, sem tempo para descanso.
Foi a melhor época da minha vida, e tudo porque TaeHyung estava do meu lado.
Aos vinte anos, eu acordei.
Acordei em uma cama de hospital, e ao meu lado, um rapaz. Era meu pai, senhor Jeon Jongsun. Ele estava sentado em uma cadeira e, quando me olhou, percebendo que eu o encarava, ele se assustou, quase caindo da cadeira que estava. Ele chorou de felicidades e segurou minha mão com tanta força que machucou um pouco.
Ele correu até uma porta de correr, chamando por alguém. Uma mulher de uniforme azul escuro e um rapaz de jaleco branco adentraram o lugar onde eu estava, se aproximaram me olhando com sorrisos no rosto, parecia um pouco macabro para ser sincero.
— O que aconteceu? — Sussurrei.
Eu fiquei em coma desde os meus oitos anos.
Meu pai chorava de alegria, a euforia estava estampada em seu rosto, tenho certeza que estava se segurando para não me abraçar e acabar me machucando.
Com ajuda, eu me sentei na maca. Eles tiraram aparelhos que estavam conectados em mim e seringas que estavam em minhas veias, doeu muito.
Eu havia acordado.
— Cadê o TaeHyung? — Perguntei com a voz rouca e fraca.
— Vamos voltar depois para fazer alguns testes, por enquanto vamos deixar vocês dois terem o momento de vocês. — Disse o tal médico antes de se retirar junto com a enfermeira.
— TaeHyung… Cadê o TaeHyung? — Me esforcei de novo, necessitando de respostas para minha confusão.
Dessa vez, ele não estava do meu lado segurando a minha mão.
— Filho, eu estou tão feliz que você finalmente acordou! — Falou ele entre lágrimas, me abraçando, e eu o abracei de volta, o mais forte que eu consegui, pois estava assustado com o que estava acontecendo.
— Por favor… O TaeHyung…
A verdade veio após alguns minutos de insistência da minha parte, mesmo fraco por ter passado anos em uma maca, eu queria saber a verdade. Meu pai ficou assustado com meu comportamento, e parecia receoso demais em me contar o que houve, mas eu chorei e implorei para ele me contar, pois tinha que saber, não era possível que aquela fosse a minha vida.
Meu pai traiu minha mãe com a mãe de TaeHyung e minha mãe descobriu o caso do meu pai. Ela ficou com raiva e queria se vingar deles. Me colocou no banco de trás do seu carro ao lado de TaeHyung e se suicidou, jogando o carro no lago. Tentando levar minha vida em forma de punir meu pai, e meu melhor amigo em forma de punir sua mãe. Mas eu sobrevivi e ele não.
Kim TaeHyung morreu aos oito anos de idade.
E eu na realidade eu nunca acordei do meu coma aos oito anos.
Toda minha vida, toda minha realidade, todas as fases da minha vida, tudo o que eu conhecia e o que eu jurava ser real foram uma completa mentira do meu cérebro imaginativo, que andava criando uma realidade paralela para eu poder viver uma vida normal, já que não teria a oportunidade de viver na realidade por causa dos erros de adultos inconsequentes. Foi cruel demais.
Ele nunca existiu.
O Kim TaeHyung que esteve comigo quando eu acordei aos oito anos de um acidente sem memória, que estava comigo aos nove quando eu vi o túmulo da minha mãe. O menino que sentiu ciúmes de mim e depois foi o meu primeiro beijo aos quatorze, o TaeHyung que foi meu primeiro namorado aos quinze. Quem tirou minha virgindade aos dezesseis anos, que antes de tudo, esteve comigo nos meus piores momentos aos dezessete. O mesmo Kim TaeHyung que me fez ter as minhas primeiras crises de ciúmes aos dezoito e depois coloriu completamente meu mundo aos dezenove anos, não estava ali nos meus vinte, porque ele nunca existiu.
E a realidade dói no meu peito, o fato daquele ser humano maravilhoso, de risada engraçada, de sorriso brilhante, de personalidade divertida, de olhos hipnotizantes, de boca macia e de voz gostosa fora apenas um fruto da minha imaginação para preencher o vazio da presença do TaeHyung da vida real na minha cabeça.
E aqui estou eu, Jeon JungKook, de vinte anos, no hospital central de Seoul, após ter acordado de um coma de quase mais de dez anos, descobrindo que estava existindo apenas por máquinas por causa da culpa de um pai que cometeu inúmeros erros e que não conseguia deixar seu filho partir sem antes ter a chance de pedir desculpas. Me encontro sentado em uma cadeira de rodas na janela do quarto de hospital, visualizando as gotas de chuva que atingem a janela e deslizam na mesma velocidade das minhas lágrimas, refletindo sobre todos esses vinte anos que eu não vivi, que eu apenas imaginei, que eu apenas sonhei, e percebo que todos aqueles anos de risos e lágrimas, momentos incríveis e momentos difíceis, agora existem apenas na minha memória, guardadas no fundo do meu coração e da minha alma, apenas fragmentos de um amor que nunca foi real.
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S
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