Enquanto eu estava sentada numa mesa do café da faculdade, o movimento ao redor parecia distante. Naomi, minha melhor amiga, falava animadamente sobre Leo, mas eu mal ouvia. Meus olhos insistiam em se desviar para Alisson, cercada por seus amigos, como sempre.

— Amélia, o que você está tanto olhando para lá? — Naomi perguntou, com uma sobrancelha erguida, percebendo minha distração.

Franzi a testa ao perceber o rumo dos meus pensamentos. — Nada... Só estou pensando — respondi, tentando encerrar o assunto antes de começar.

— Pensando sobre o quê? Parece que está decifrando um quebra-cabeça. O que você tem contra Alisson? Ela é só mais uma dessas meninas sem noção que a gente vê por aí — Naomi insistiu, olhando na direção de Alisson.

Soltei uma risada sem humor. — Talvez porque ela acha que o mundo tem que se curvar para a majestosa Alisson Rubens. Pessoas com ego eu até entendo, mas ela... é impossível.

— E se ela só estivesse tentando se proteger? Você nunca pensou em conversar com ela de verdade, sem essas implicâncias? — Naomi sugeriu.

Suspirei, já cansada de repetir essa conversa toda vez que o nome de Alisson surgia. — Já tentei, Naomi. Você sabe disso.

— Sem implicâncias, Amélia — ela rebateu, firme.

Balanço a cabeça, discordando. — Somos de mundos diferentes. Eu prefiro ficar no meu canto, passar despercebida. Ela faz de tudo para chamar atenção. Não tem como dar certo.

— Acho que você está se precipitando — Naomi disse com um encolher de ombros, deixando a conversa morrer ali, pelo menos por enquanto.

Mas, enquanto o dia passava, me sentia cada vez mais sozinha. A presença de Alisson no meu campo de visão me incomodava, mas eu não conseguia parar de observar. O que a tornava tão diferente? Por que todos gravitavam em torno dela?

— Tá tudo bem? — Naomi perguntou, me tirando dos pensamentos.

— Sim, só estava pensando na festa de sábado. Você e Leo vão mesmo? — perguntei, tentando mudar de assunto.

— Claro! Matteo vai encontrar a Alisson lá. Vou convidá-los pra sentar com a gente. — As palavras de Naomi foram suficientes para fazer meu coração disparar. Alisson? Perto de mim? Isso só podia ser uma péssima ideia.

— Ótimo... incrível — murmurei, carregada de ironia.

Nesse momento, Alicia e Alex se aproximaram da mesa.

— Já pensando na festa, meninas? — Alicia perguntou, radiante, sem perceber a tensão.

— Planos? — perguntei, levantando uma sobrancelha.

— Alicia teve a brilhante ideia de nos fazer seguir um tema dos anos 80 — Alex respondeu com um sorriso malicioso.

— Só quero que a gente se divirta! — Alicia retrucou, animada. — Quem sabe você não arruma um garoto por lá... Isso, claro, se a Alisson não começar a brigar com você de novo.

O comentário de Alicia me deu um frio na barriga. — Tomara que essa festa não acabe em confusão — murmurei.

Como se invocada pela conversa, Alisson entrou no café, acompanhada de Matteo. Ela nos avistou imediatamente e, com um sorriso debochado, se aproximou.

— Olha só quem está aqui! O grupinho das maravilhas — ela provocou, o tom carregado de sarcasmo.

A tensão no ar ficou palpável quando Alisson virou para mim, o sorriso ainda mais malicioso. — E aí, boneca, preparada para a festa? Ou vai preferir ficar em casa com seus livros e aquelas roupas... diferentes? — O olhar dela era puro desafio.

Senti o sangue ferver. — Talvez eu só queira me divertir de uma maneira mais consciente. Sabe, sem desmaiar de tanto beber — respondi, minha voz afiada de raiva.

Ela riu, um som seco. — Você acha que se esconder atrás de livros todos os fins de semana é se divertir? Que curioso. — O olhar dela percorreu meu rosto com uma mistura de interesse e provocação.

Matteo, que até então estava quieto, interveio. — Pega leve, Alisson. Ela é minha irmã.

— Relaxa, ela sabe que estou brincando, não sabe, boneca? — Alisson piscou para mim, mas a intenção por trás do gesto estava longe de ser amigável.

— Adoraria ver você dançando na festa. Vai ser um espetáculo. O que acha, Alicia? — Alisson perguntou, sem tirar os olhos de mim.

Alicia deu de ombros, rindo junto. — Se ela tiver coragem, vai ser divertido.

Alex tentou mudar de assunto, claramente desconfortável com a crescente tensão. — E você, Alisson, o que vai vestir na festa?

— Eu mesma, como sempre — Alisson respondeu, sem se preocupar em ser modesta.

— Chamativa, você quis dizer, né? — retruquei, sem me segurar.

Ela sorriu, mais afiada que nunca. — E você, Amélia? Pronta pra festa, ou vai usar as roupas que você sempre usa na faculdade?

Eu a encarei, decidida a não recuar. — Vou me vestir como quiser, e isso não é da sua conta.

— Vamos ver... — Ela disse, ainda se divertindo às minhas custas. — Essa festa vai ser interessante. — Com um último olhar provocador, ela se virou para Matteo, deixando uma carga elétrica no ar.

Fiquei em silêncio, sentindo meu coração disparar. Eu mal podia imaginar o que aquela festa traria, mas sabia que nada ali seria simples.

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Mais tarde, enquanto eu caminhava pelo campus, a luz do entardecer refletia meus sentimentos confusos. A ideia de enfrentar Alisson na festa me deixava ansiosa, mas... algo em mim também parecia ansiar por aquilo.

— Cuidado com o que deseja, Amélia — sussurrei para mim mesma, sentindo a expectativa e a ansiedade pulsarem juntas.

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Horas depois, sentada na beira da minha cama, eu me sentia completamente sozinha. O quarto que antes era meu refúgio agora parecia um espaço vazio, refletindo a solidão que crescia dentro de mim. Peguei o celular e rolei pelas mensagens antigas de Sol, minha antiga amiga... e talvez algo mais. Cada conversa parecia de outra vida, tão distante que mal reconhecia aquela versão de mim mesma.