𝓒𝓪𝓹 10
A sala estava cheia de conversas soltas e risadas baixas. Naomi, Alicia e os outros do grupo trocavam piadas e falavam sobre a festa do final de semana, como se aquele fosse o evento mais importante do semestre. Já eu, sentada um pouco afastada, apenas ouvia enquanto mexia no celular, perdida nos próprios pensamentos, mas o clima de leveza foi cortado quando Alicia entrou com o rosto inchado, olhos vermelhos de choro, e foi direto para até nós.
- O que houve Alicia? - Madson perguntou preocupada, levantando-se para falar com Alicia.
- Alex... a gente terminou - respondeu com a voz frágil, fazendo questão de soluçar de forma dramática.
Suspirei fundo, sabendo o que viria a seguir, já tinha ouvido essa história mais vezes do que gostaria, Alicia sempre fazia isso - a vítima da situação, sempre a incompreendida, e a Alex? Bem, Alex era sempre pintada como a vilã da história.
- Eu não sei o que fiz de errado! Eu tentei tanto! - Alicia lamentou, se jogando nos braços de Naomi. - Ela me tratava tão mal e eu só queria que desse certo...
Naomi e os outros tentaram consolar Alicia, mas eu sabia das verdades ali, apenas revirei os olhos, sabia que Alicia tinha um dom para se fazer de vítima, mesmo quando todos sabiam que os dois lados daquele relacionamento eram problemáticos, mas que Alex nunca a trataria de tal forma, até por que Alicia as vezes merece, mas Alex nunca faria isso, alguma coisa aconteceu aí e ela não quer dizer.
O intervalo chegou, decidi me afastar um pouco, caminhei até o armário, enfiando os livros e materiais ali dentro com mais força do que o necessário. Estava irritada, mas não apenas por Alicia, na verdade, ainda estava me sentindo desgastada pela briga recente com Matteo, o ruivo não me deixava em paz, ele ainda não conseguia aceitar bem sua sexualidade, e isso a sufocava, me trata como uma bebê sem seus sentidos.
Enquanto organizava as coisas no armário, senti alguém se aproximar. Era Alisson. Sempre ela. Com aquele jeito despreocupado e provocativo, Alisson encostou na parede ao lado, observando Amélia.
- Você tá bem? - Alisson perguntou, embora soubesse que eu não estivesse, ela me conhece bem o suficiente para saber.
- O que você acha? - respondi, com o tom cheio de frustração.
Alisson ergueu uma sobrancelha, se afastando da parede e se aproximando mais.
- Brigou com o seu irmão de novo? - perguntou.
Bufei, não estava com paciência para dar muitos detalhes, mas não consegui evitar.
- Ele simplesmente não entende, sempre acha que é só uma fase, ou pior, que eu tô querendo chamar atenção. - fechei o armário com força, sem olhar para Alisson.
- Seu irmão é um idiota - disse Alisson, sem rodeios. - Mas, você sabe, isso não vai mudar o que você é. Não importa o que ele ache, ou o que ele fale. - Ela colocou uma das mãos no meu ombro, me fazendo finalmente olhar para ela.
Mantive o silêncio, surpresa com a sinceridade da voz de Alisson. Havia algo reconfortante na maneira como ela falava. Algo que mexia comigo, como se aquelas palavras fossem além de uma simples provocação.
- E lembre-se - continuou Alisson, inclinando-se um pouco mais perto - nunca deixe que ninguém defina quem você é. Nem seu irmão. Nem ninguém.
Essas palavras ficaram ecoando na minha cabeça, mesmo depois que Alisson se afastou. Não era comum Alisson dizer algo que me fizesse pensar tanto. Era sempre mais fácil as provocações, as trocas afiadas de palavras, mas aquilo... Aquilo parecia mais profundo.
No final da aula, eu já estava cansada e só queria ir para casa. Foi então que Alisson apareceu do nada, com o capacete da moto nas mãos e um olhar casual, como se aquilo fosse completamente normal.
- Matteo pediu pra eu te levar pra casa - ela disse, me entregando o capacete.
Sério? Eu olhei para o capacete com desconfiança. Não estava exatamente ansiosa para aceitar a carona, mas que escolha eu tinha? Acabei pegando o capacete e, logo depois, saímos juntas da faculdade. No começo, parecia que ela ia me levar direto para casa, mas, de repente, Alisson mudou o caminho.
Não disse nada, apenas seguiu por uma estrada diferente, e, antes que eu percebesse, estávamos na praia.
A visão do pôr do sol era de tirar o fôlego. O céu estava pintado com laranjas e rosas que faziam meu coração bater mais rápido, como se aquela cena tivesse o poder de me paralisar por um segundo.
- O que estamos fazendo aqui? - perguntei, ainda tentando entender o motivo daquela parada.
- Achei que você podia usar um momento pra esfriar a cabeça - ela respondeu, enquanto acendia um cigarro, os olhos fixos no horizonte.
Tentei me concentrar no mar, mas meus olhos sempre voltavam para ela. Havia algo na maneira como ela segurava o cigarro, aquele jeito despreocupado de estar ali, como se nada mais importasse. Foi então que me peguei admirando Alisson, sem perceber. Quando nossos olhares se encontraram, ela deu um sorriso sacana e estendeu o cigarro na minha direção.
- Quer?
Meu rosto esquentou, e rapidamente desviei o olhar.
- Não, obrigada - murmurei.
Pelo menos ela pensou que eu estava curiosa sobre o cigarro, logo depois disso ela riu baixo, sem insistir, ficamos em silêncio por um tempo, só observando o céu mudar de cor, aquele silêncio, porém, não era desconfortável, era... algo mais.
- Sabe, minha tia sempre dizia que a gente precisa de um refúgio - Alisson quebrou o silêncio, sua voz carregada de uma sinceridade inesperada. - Ela foi a única pessoa que me apoiou de verdade quando meus pais me chutaram de casa. Minha irmãzinha era muito pequena pra entender, mas minha tia... ela foi como uma mãe pra mim e ainda é.
Olhei para ela, surpresa, nunca esperei ouvir algo tão pessoal vindo de Alisson, era raro ela falar de si mesma, muito menos de algo tão profundo.
- Isso é... - comecei, sem saber bem o que dizer. - Sinto muito pelo que aconteceu com seus pais, mas é incrível o que você se tornou, uma das garotas inteligentes que tá sempre no top 10 maiores notas do seu curso de fotografia.
Ela deu de ombros, como se aquilo não fosse nada demais.
- Não precisa sentir, eu tenho a minha tia, minha irmã, isso é suficiente pra mim - ela deu uma pausa, me encarando de lado. - E obrigada, eu tento não me distrair, mas ultimamente...
Ela não terminou a frase, mas o silêncio que se seguiu era tenso, cheio de significados que eu não conseguia entender completamente.
Quando ela finalmente me deixou em casa, eu desci da moto e ficamos ali, na frente da porta, nos encarando. Aquele olhar entre nós duas dizia mais do que qualquer palavra, eu não sabia o que estava acontecendo, mas havia algo no ar, algo que me deixava confusa e... nervosa?
- Aliás, você tá até que aceitável hoje - ela soltou, quase num sussurro.
Eu ri, surpresa com o comentário.
- Isso foi um elogio saindo da boca de Alisson Rubens? - provoquei, um leve sorriso escapando dos meus lábios.
Ela apenas me deu um aceno, montou na moto e foi embora. Fiquei ali, parada na porta, sentindo meu coração bater rápido demais, e não conseguia entender o porquê.
Suspirei, encostando a cabeça na porta, tentando acalmar as emoções que fervilhavam dentro de mim. Foi quando Matteo apareceu, com uma expressão preocupada.
- O que está acontecendo com você, Amélia? - ele perguntou, me analisando.
- Nada - respondi, já irritada de novo. - Não é da sua conta, já tenho 19 anos. Posso cuidar de mim mesma.
Passei por ele e fui direto para o quarto, me trancando lá dentro. Eu repetia para mim mesma que não havia nada acontecendo. Nenhum sentimento. Nenhum desejo. Mas, no fundo, eu sabia que algo estava crescendo ali, algo que eu não queria admitir.
🤍✨
Espero que estejam gostando gente, em breve irei postar mais capítulos beijoos mua💋
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro