𝓒𝓪𝓹 09
Capítulo 9 - Discórdia
Naomi tentava, mais uma vez, acalmar a situação, mas a cada provocação, ela perdia mais a paciência e isso estava nítido em seu rosto, a professora de produção audiovisual, mau chegou na sala e pediu para criarmos um curtametragem, um mini filme, em grupo e apresentar daqui três semanas.
— Gente, sério, precisamos começar a trabalhar direito! — Naomi exclamou, tentando fazer alguém ouvir. — Vamos focar na ideia. Alguém tem sugestões para o curta?
Alicia, de braços cruzados, olhou para Amélia, visivelmente irritada.
— Se a Amélia parar de se distrair com tudo o que se move, talvez a gente consiga iniciar isso, né? — ela disse, sarcasticamente.
Amélia, sem se abalar, responde
— Desculpa, Alicia, eu não estava tentando prestar atenção nas sua piadas, é difícil competir com a sua presença, ela é de ofuscar — ela provocou, com um sorriso afiado.
Alisson, observando de longe, não perdeu tempo.
— Não se preocupa, Amélia, a gente entende que piadas são seu jeito de esconder o quanto está perdida sempre — disse Alisson, com um sorriso malicioso.
Amélia virou a cabeça, olhos estreitos.
— Ah, sério? Se alguém aqui precisa de ajuda, parece que é você, não eu — respondeu, com raiva contida.
Naomi suspirou, se aproximando das duas.
— Gente, pelo amor de Deus, vamos focar! — Naomi pediu, quase implorando. — Precisamos criar algo agora.
Leonardo, que estava em silêncio, interveio.
— Que tal simplificarmos? Algo mais direto, que a gente consiga fazer rápido — sugeriu, tentando apaziguar as coisas.
Alicia, cética, respondeu:
— Ah, claro, Leonardo sempre sabe o que é simples, né? Não quero mais um clichê, já falei.
Alisson riu, mas logo se controlou.
— Então, deixemos a Alicia decidir tudo, né? Ela já tem as respostas para tudo — disse, zombando.
Alicia, furiosa, cortou.
— E você, Alisson? Ficar só jogando piada e não ajudar em nada? Tá achando que estamos aqui só para ouvir seu sarcasmo?
Alisson não hesitou e se levantou, indo em direção a Alicia.
— Se você se importa tanto com o projeto, por que não dá uma ideia que não envolva provocações? — desafiou.
Amélia, com os braços cruzados, observava.
— Podem ficar discutindo o dia todo, mas eu estou aqui para fazer algo que valha a pena — disse, com um sorriso de desdém.
Naomi já estava sem paciência.
— Para tudo! Se vocês não pararem com isso, a professora vai ver que estamos só criando problemas, não um curta— avisou, com firmeza.
Amélia, finalmente, sugeriu.
— Que tal duas personagens se desafiando o tempo todo, mas no final descobrem que têm mais em comum do que imaginam? — ela fala, olhando diretamente para Alisson.
Alisson, com um sorriso travesso, respondeu:
— Ah, agora a "garota doce" teve uma ideia. Vai ser isso, Amélia? A "bad girl" vai ensinar a boa menina?
Amélia deu de ombros.
— Só estou tentando pensar em algo melhor do que essa disputa de egos — respondeu, mantendo o tom afiado.
Leonardo tentou mais uma vez.
— Isso pode funcionar, mas precisa de algo mais sólido. Não pode ser só provocação.
Alicia, revirando os olhos, cortou.
— Claro, porque a ideia de "conflito" precisa ser sempre super profunda, né?
Naomi, cansada, decidiu pôr fim à discussão.
— Ok, então é isso. Vamos fazer uma história de duas pessoas que se provocam, mas têm mais em comum. Agora, vamos decidir como será a parte visual. Se não começarmos logo, vai ser só mais uma briga — falou, exasperada.
Alisson, com um sorriso malicioso, provocou:
— Vamos ver o que isso vai dar. No fim, o verdadeiro curta vai ser sobre como a gente se odeia.
Amélia respondeu com o mesmo tom.
— E se não der certo, pelo menos gravamos a briga como parte do curta.
Nesse momento, a professora entrou na sala, interrompendo a troca de farpas.
— Ei, pessoal, cadê o progresso? Estou esperando o trabalho de vocês, pelo menos uma descrição— a professora exclamou, exigindo que se concentrassem no projeto.
Naomi, tentando controlar a situação, olhou para o grupo.
— Vamos fazer nossa casa, que tal amanhã à tarde, às 16h? Todo mundo concorda? — Naomi sugeriu, já se preparando para encerrar a discussão.
Amélia, com um suspiro, respondeu.
— Ok, mas se isso virar mais uma sessão de "quem provoca quem", vou embora.
Alicia, impaciente, concordou.
— Só não venham atrasados.
Alisson, com o sorriso travesso de sempre, disse.
— Isso vai ser divertido. Vamos ver o que conseguimos fazer juntos... ou não.
O grupo, ainda em clima estranho, marcou o encontro para o dia seguinte. A tarefa estava longe de ser resolvida, mas pelo menos agora havia um plano.
Naomi estava empolgada demais, como sempre. Enquanto o resto do grupo parecia aceitar o plano, eu já previa o desastre. Respirei fundo, tentando me preparar mentalmente para o caos que seria o dia seguinte.
"Se isso virar mais uma sessão de 'quem provoca quem', vou embora." Porque, sinceramente, era tudo o que eu queria evitar. A última vez que fizemos algo juntos, Alisson me irritou tanto que quase explodi. Só de lembrar daquele sorriso provocativo e do jeito que ela sempre me tirava do sério, eu já sentia vontade de cancelar tudo.
— Relaxa, vai dar tudo certo — Naomi sussurrou quando notou minha tensão.
Eu queria acreditar nela, mas... Alisson. Aquela garota tinha um jeito de transformar tudo em um desafio, como se estivéssemos em um jogo no qual eu nunca me inscrevi.
Alicia, por outro lado, estava mais preocupada com o horário do que com o clima tenso. Ela sempre foi do tipo controladora, para quem atrasos eram imperdoáveis.
Já Alisson? Ela parecia se alimentar do caos, com seu sorriso torto de quem sabia exatamente o que estava fazendo. "Isso vai ser divertido." Claro que seria, para ela. Provocar as pessoas era seu talento natural. Eu já conseguia imaginar como seria o dia seguinte: uma mistura de provocações sutis, egos inflados e, se eu não me cuidasse, mais um de seus joguinhos irritantes.
Naomi tentou mudar o assunto, aliviar o clima, mas minha cabeça já estava no que estava por vir. Eu sabia que esse projeto de grupo não seria apenas sobre construir algo. Com Alisson, nunca era só isso.
Na tarde seguinte...
Chegamos na casa da Naomi e o ambiente já tinha aquela familiaridade que eu tanto precisava depois de uma semana caótica, o aroma suave de incenso preenchia o ar, misturado com um toque amadeirado do perfume que Naomi sempre usava.
Espalhamos nossos materiais sobre a mesa de jantar, já prontos para nos organizar, o projeto precisava ser entregue em poucos dias e ainda estávamos dividindo as responsabilidades. Era a oportunidade perfeita para cada um mostrar suas habilidades, se tudo desse certo, poderíamos até tirar uma nota decente.
— Ok, vamos lá — disse Naomi, empurrando uma pilha de folhas para o centro da mesa. — A gente precisa definir quem vai cuidar de cada parte.
Alisson, sentada do outro lado, só me lançou aquele olhar meio preguiçoso, meio provocativo, como se estivesse desafiando o quão sério eu levaria tudo isso, eu segurei a vontade de revirar os olhos, ela sabia que por conta do meu grau de autismo levo as coisas bem a sério e com organização.
Claro, ela estava ali porque Matteo pediu, e eu não tinha outra opção além de aceitar a presença dela.
— Amélia, você pode começar a introdução, já que você entende mais de contextualizar os temas, eu fico com a parte de referências visuais — Naomi sugeriu, já pegando seu bloco de notas.
— Alisson pode cuidar da parte prática, já que manja mais de execução, E... Alicia, você cuida da pesquisa teórica, tudo bem? — Completei, tentando fazer com que cada um ficasse confortável com a sua função.
Alicia fez uma careta, como se o que eu tivesse dito algo errado.
— Pesquisa teórica? — Ela reclamou, com aquele tom de voz que parecia sempre carregado de desdém. — Isso é tipo... a parte mais inútil, quem liga para teorias? A gente devia focar no que importa de verdade.
Naomi suspirou de leve, mas antes que eu pudesse responder ou argumentar, Alisson, que até então parecia apenas observando, decidiu se manifestar.
— Se ninguém ligasse pra isso, Alicia, a gente nem estaria aqui fazendo um projeto que precisa de teoria ou você acha que vai passar só com piadinha sem noção? — A voz de Alisson saiu firme, mas não agressiva, ela apenas cravou os olhos em Alicia, que ficou visivelmente desconfortável.
Fiquei um pouco surpresa, admito, não esperava que Alisson fosse sair em minha defesa, ainda mais porque ela costumava ser a primeira a me provocar, mas agora, o foco da sua implicância era claramente outra pessoa.
Alicia apenas deu de ombros, resmungando algo, e ficou quieta, eu podia sentir o ambiente voltar a se equilibrar, mas sabia que hora ou outra iria haver discussão de novo.
Continuei organizando os papéis, tentando ignorar a sensação estranha de que algo maior estava se desenrolando ali, algo que ainda não conseguia entender.
— Ótimo, vamos seguir assim, então. Cada um com sua parte e depois nos reunimos pra revisar tudo, se alguém precisar de ajuda, só falar — concluiu Naomi, tentando amenizar o clima.
Eu sabia que, a partir daquele momento, as coisas entre nós não seriam exatamente as mesmas.
E, no fundo, eu me perguntava se isso era bom ou ruim.
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