IV - Universo Imperfeito
O deus estava terrivelmente furioso.
As suas fúrias nunca podiam ser ignoradas ou menosprezadas. Quando o deus ficava zangado o universo suspendia-se e cataclismos reverberavam no contínuo do espaço-tempo. As estrelas explodiam e nasciam buracos negros. Morriam galáxias e nasciam nebulosas. Planetas inteiros eram dizimados. A energia pura circulava entre a matéria morta e a vida brotava, para depois morrer num frio esquecimento. O deus era demasiado poderoso para ser contrariado, demasiado suscetível para ser provocado. Sucedia, porém, que alguns insensatos desconheciam a organização divina, os preceitos sagrados e arriscavam a ousadia. Claro que descobriam que o deus era realmente omnipotente e magnífico, só que até ao castigo podiam passar preciosos minutos, horas, meses, anos e até incontáveis séculos em que se acreditava que bastava o livre arbítrio e a coragem para se alcançar a liberdade. Ou até podiam passar segundos e tudo seria esmagado antes mesmo de se começar a sonhar.
Naquela ocasião, o deus estava furibundo e a sua mão enclavinhava-se como uma garra, como se tivesse uma mão. Urrava e espumava, como se tivesse uma boca. Estremecia e irava-se, como se tivesse um corpo. As suas ordens tinham sido desobedecidas e fora enviada uma mensagem de paz para um lugar insignificante chamado Terra. O lar de criaturinhas conflituosas e orgulhosas que se chamavam humanos que conviviam em perpétuo atrito com as outras criaturinhas que eram os animais. Frágeis e patéticos, eram permeáveis a influências diversas e o deus detestava-os. E o seu desprezo era tão imenso que nem sequer se incomodava com a sua existência, até alguém se ter importado com eles ao ponto de lhes enviar uma proposta de concórdia entre povos universais. Pior, entre os humanos terrestres, por arrasto talvez também com os animais, e os deuses do éter infindo.
Ele não queria a paz. Ele era ultrapoderoso e podia querer o que bem entendesse! Ele seria para sempre inimigo de tudo e de todos, da vida e da morte, apenas por capricho e isso definia-o como um deus. De que valia ser-se um deus se não se podia comandar tudo ao seu redor e mais além? Os deuses não precisam de permissão para serem deuses. São-no!
Então o deus refletiu, como se tivesse cérebro. Acalmou-se, como se tivesse nervos e decidiu, com um pestanejar, como se tivesse pestanas, que iria enviar uma expedição punitiva.
E não seria a primeira vez.
***
Num clima apoteótico, os alienígenas estavam a ser recebidos no imenso salão da Assembleia Geral das Nações Unidas. O Secretário-Geral da organização fazia um discurso emocionado para os representantes de todos os países do mundo que ocupavam a totalidade das tribunas e dos assentos, numa lotação inédita para aquela câmara. Os convidados acotovelavam-se nas coxias e nos balcões que lhes estavam destinados, numa multidão reverencial e muda pela possibilidade ímpar de estarem a assistir a um acontecimento único que iria figurar nos compêndios de História pelos séculos vindouros. Podia-se afirmar sem exagero de que nada ficaria como antes após aquele encontro entre terrestres e extraterrestres. Haveria de se traçar um limite entre como era antes e como ficara depois a humanidade após descobrir que não estava sozinha no universo – finalmente essa verdade exibia-se ao escrutínio de todos, para toda a gente ver. Sem artifícios, sem dissimulações, sem ataques inesperados aos principais símbolos do engenho humano, sem conspirações perpetradas por homens de negro que tutelavam esses encontros especiais a coberto de noites escuras como os seus fatos impecavelmente engomados.
Estava tudo a acontecer em plena luz do dia, à vista de todos, a ser devidamente registado em imagem e som, cobertura jornalística exigente e profissional.
O programa que fora distribuído pelos repórteres, organizado em poucas horas pelos gabinetes de relações públicas, tanto da ONU, como da Casa Branca, que laboraram excitados numa colaboração inédita, indicava que depois da apresentação no edifício-sede das Nações Unidas, situado em Nova Iorque, aconteceria um intervalo, necessário por causa da viagem e que os alienígenas seriam, com toda a pompa, recebidos posteriormente pelo Presidente dos Estados Unidos da América, em Washington.
Kelly Hammerson fechou o ecrã do seu tablet, retomando a aplicação de escrita que a ajudava a tirar notas do evento. Ela era uma das jornalistas acreditadas para o evento e as suas credenciais foram obtidas devido a um golpe de sorte. O seu colega, mais dotado e com mais prestígio do que ela, muito mais ambicioso e reputado, adoecera subitamente com uma gastroenterite e ela apareceu para substituí-lo. Na realidade não desejava a substituição, preferia estar a investigar o caso de um roubo de joias que estaria ligado com um esquema de tráfico de diamantes com raízes em África, mas o seu chefe enviara-a para as Nações Unidas com um grito histérico, obstinado e bestial, enquanto mordia um hambúrguer e assistia à reportagem ininterrupta que o canal noticioso de televisão fazia desde o aparecimento da pequena nave espacial sobre os céus de Central Park, fazia mais de trinta horas. Ela nem sequer pensara em discutir, explicando que essa treta toda dos extraterrestres era ridícula, podia ser uma enorme notícia falsa de alguns engraçadinhos que tinham resolvido vestir-se com fatos de silicone para criar um vídeo viral, mas não adiantava, pois o seu argumento era falível tendo em conta que o mundo inteiro estava sintonizado para aquela mesma notícia... falsa.
Um vídeo verdadeiramente viral!
Outro dos motivos era que tinha uma renda para pagar e precisava daquele emprego temporário na agência independente de notícias para poder fazer face a todas as despesas que tinham vindo com o seu inesperado desejo de emancipação. Aos vinte e sete anos estava farta de morar com antigas colegas de faculdade e de navegar entre trabalhos parciais que não estavam relacionados com as ciências da comunicação, o curso que tanto lhe custara tirar, e a escrita, já que ainda sonhava ganhar um Oscar para o Melhor Argumento Original.
Os brilhos efémeros da passadeira vermelha em Los Angeles, na noite dos prémios da Academia, pareciam-lhe longínquos e impossíveis naquele dia em que observava entediada a devoção com que se recebia aquela estranha comitiva de cinco seres avermelhados, magros e pequenos, com grandes cabeças, que mudavam de cor como os camaleões consoante a temperatura do ambiente onde estavam – já os tinha visto verdes e amarelos, mas nunca cinzentos – que curiosamente eram idênticos a todas as representações de extraterrestres impostas pela cultura popular. Os olhos pretos enormes e rasgados vinham no pacote, três dedos esguios com extremidades arredondadas, como o ET adorável de Spielberg, pés demasiado pequenos e descalços que supunham um exercício de equilíbrio para que não se estatelassem na alcatifa fofa do salão. Só faltava as sondas ameaçadoras e as maquinetas para colocar implantes sob a pele, objetos que eles definitivamente não empunhavam e Kelly revirou os olhos, apagando essas impressões desdenhosas que ia escrevendo no tablet.
O exagero era tão abominável que ela não aguentou mais e levantou-se do seu lugar, num balcão destinado à imprensa que tinha sido montado como extraordinário para poder acomodar todos os jornalistas que manifestaram a intensão e o fervor de cobrir o acontecimento. Logo a sua cadeira foi ocupada por uma jovem mulher apertada num fato de duas peças, casaco e calças, que lhe pediu licença e agradeceu pela oportunidade. Ela não se importou, que ficasse com o raio da cadeira e com o furo, ela já tinha visto tudo o que havia para ver.
A rua estava irrespirável, parada e monótona. Os nova-iorquinos estavam como se tivessem sido todos paralisados por um qualquer feixe luminoso dos alienígenas que lhes fizera derreter os cérebros, para obriga-los a desistir de pensar e para que não vivessem mais do que para assistir ao momento do intercâmbio entre povos do vasto universo que por fim tinham conseguido encontrar-se, por fim porque as distâncias cósmicas eram impossíveis e obrigavam a esse isolamento. As pessoas colavam-se às montras de lojas e de cafetarias onde existisse um ecrã de televisão, juntavam-se em enxames em redor de alguém que assistia à transmissão através do telemóvel. Os ajuntamentos não emitiam um único ruído e era arrepiante. Apesar do calor do verão, Kelly sentiu frio e aconchegou o casaco leve nos ombros.
Começou a dirigir-se para a estação para apanhar um comboio para Washington. As suas credenciais permitiam-lhe acesso à Casa Branca e também iria tirar apontamentos da receção preparada pelo Presidente americano – que ela sabia que não iriam diferir da subserviência e encantamento demonstrado pelo emocionado Secretário-Geral das Nações Unidas... Os líderes atuais eram uns fracos!
Os automóveis estavam parados nas largas avenidas. Os condutores contemplavam embevecidos o que estava a acontecer e a sensação de paralisia e de sufocamento foi mais forte. Então ela lembrou-se que podia ser mais do que aversão. Podia ser... um pressentimento.
Era evidente que estava a deixar-se levar pela influência da cultura popular, mas se os próprios extraterrestres não se importavam de ser uma cópia dos seres inventados pelos maluquinhos dos Ovnis – até ao momento ela não tinha conseguido desmascarar os engraçadinhos com os seus fatos de silicone, tudo parecia muito perfeito – ela também não se devia acanhar quando a intuição lhe dizia que depois de as aparentes intenções pacíficas, viria um ataque massivo e a obliteração da humanidade. Riu-se para dentro, tinha uma cara fechada e feia por fora.
Dirigiu-se ao Central Park. Conseguiu desencantar um táxi e obrigou o homem a fazer o percurso, prometendo-lhe o dobro da bandeirada. Pediu recibo, a despesa seria apresentada à agência noticiosa, o chefe não iria regatear o preço da reportagem do milénio, com certeza.
A nave que servira de transporte aos extraterrestres estava a ser guardada por um batalhão de soldados. Capacetes azuis, para que não houvesse recriminações posteriores de que se estava a favorecer este ou aquele país no contacto que haveria de trazer tantos benefícios e riquezas ao planeta. Já o facto de a nave ter aterrado em território americano levantara alguma celeuma, mas os acontecimentos foram tão rápidos que o debate não tivera tempo de se exacerbar e de degenerar em conflito diplomático.
Ela aproximou-se de olhos colados na nave, a tentar perceber a falha que classificaria tudo aquilo como um embuste, mas o modelo estava muito bem feito, ela admitia-o impressionada. Talvez fosse gente de Hollywood, de uma produtora independente de filmes de quem nunca ninguém tinha ouvido falar e que procurava entrar no mercado competitivo do cinema com uma apresentação bombástica de uma invasão pacífica de alienígenas à Terra... Mas se fosse tudo uma fabricação com efeitos especiais à mistura, quem iria perdoar e esquecer essa produtora, mais tarde? Ninguém!
- Ei, minha senhora... Pode parar por aí. Esta área é restrita!
Ela olhou para o soldado que a interpelara. Era moreno, largo de ombros, ascendência hispânica, um olhar determinado e uma metralhadora Uzi em mãos que indicava que ele não estava para brincadeiras. Ela mostrou-lhe o cartão de jornalista e as suas credenciais. Ele abanou resolutamente a cabeça.
- Impossível, minha senhora. Os jornalistas não têm autorização para entrar neste perímetro. A cobertura jornalística será feita nas Nações Unidas e, a seguir, em Washington. E não é mais interessante? É lá que estão os extraterrestres. Aqui é só o aviãozinho deles.
- Quanto queres para me deixares ver a nave por dentro? – atirou ela.
O soldado fez uma careta ofendida.
- Minha senhora – alertou, mudando o tom de voz para mais grave. As costas endireitaram-se e ela viu que era bastante mais alto do que ela –, a proposta que me está a fazer é completamente inaceitável.
- O mundo mudou entre ontem e hoje.
- Um suborno será sempre um suborno, minha senhora.
- James... É esse o teu nome? James? Bem, é o que está escrito na placa, presumo que seja mesmo o teu apelido. Ouve-me, James... Ninguém precisa de saber. És americano, certo?
A boca do soldado converteu-se numa linha fina quando ele mordeu os lábios.
- Minha senhora...
Ela deixou-lhe um maço de notas amachucadas na mão esquerda. O que quer que fosse que ele iria dizer ficou entalado na garganta. Colou-se ao soldado e segredou-lhe um "por favor" numa súplica. Ele prendeu a respiração. Não era possível que estivesse a ceder com tanta facilidade, tão depressa, sem lhe dar mais luta, mas Kelly soube que ele estava a ceder. Já fizera aquilo as vezes suficientes para conhecer os sinais que lhe diziam que tinha conseguido vencer.
O soldado fez tudo com brusquidão, mas com uma determinação incrível e rápido, para conseguir iludir os outros camaradas. Deixou-a na rampa da nave que estava aberta, uma passadeira metálica formada por tubos redondos e macios que também deviam ser escorregadios – ela imaginou que seria praticamente impossível que os extraterrestres conseguissem descer por ali com os seus pezinhos ridículos, por isso deveriam levitar. James disse-lhe que entrasse e que a partir dali ficaria por sua conta. Se fosse apanhada, ele não iria defendê-la, ele nunca a tinha visto e acontecia o mesmo com ela, nunca o vira, entrara ali por sua conta e risco, iludindo a guarda montada.
Kelly concordou.
***
O ambiente era muito tranquilo. Acanhado, silencioso, assético e sem qualquer temperatura. Não havia calor, nem frio, nem cheiros ou sons. Apenas um sítio. Era esquisito, claustrofóbico, ameaçador, conseguia ser ao mesmo tempo repousante e estimulante. Kelly Hammerson olhava em redor e não sabia como podia começar.
Sentia-se indesejada, sentia-se confortável. Os seus sentidos baralhavam-se e ela recuperava a lucidez no mesmo instante em que se percebia a enlouquecer. Existiam outras dimensões, outros estímulos, era tudo demasiado gigantesco naquele cubículo onde só cabia ela de pé.
Resolveu fechar os olhos para se obrigar a deixar de ver, não que conseguisse ver alguma coisa pois não era capaz de discernir formas ou cores. O seu cérebro tentava encontrar o ponto de referência e ela via-se de cabeça para baixo, a flutuar ou encolhida. Nem sabia se tinha fechado os olhos. Procurou, no entanto, fazer algum gesto que lhe transmitisse a sensação da segurança perdida, das certezas desfeitas.
Os dedos tocaram em algo. Largo e macio. Seria a ideia de um botão, um ecrã tátil, a insinuação de algo que iniciaria um dispositivo algures.
As imagens envolveram-na e ela sufocou um grito.
Assombro e pânico.
Saiu aos tropeções da nave, sem fôlego, escorregou no fim da rampa, enterrou os sapatos desportivos na lama. Estava a chover, era de noite e ela sobressaltou-se ainda mais. Encontrou o soldado James, puxou-lhe pela manga do uniforme.
- Vem comigo! Precisamos de conversar!
Ninguém deu por eles. Os outros soldados não se aperceberam da invasão da nave pela jornalista, da colaboração do soldado, da viagem que tinha acontecido no interior da bela fuselagem aerodinâmica.
***
O soldado James chamava-se Edward James, ele gostava de ser tratado por Ted. Pediu-lhe isso quando a confiança já se tinha estabelecido entre eles. Ela disse-lhe que era Kelly Hammerson, como estava no cartão de jornalista, e que era Kelly, sem diminutivos. Havia confiança, mas não havia intimidade, tudo muito profissional. Ele escondeu-se do sargento e pediu-lhe que se acalmasse. Ficava ela mal, ficava ele em situação pior, podiam ser presos, os dois. Escondiam-se entre arbustos altos, perto da nave. O tempo era de euforia, de deslumbre, de maravilha, mas ainda existiam certos preceitos relacionados com a segurança que deveriam ser observados e ele era o braço da lei, naquele caso em particular. Nada de desleixos. Não queria que o seu nome fosse associado a um escândalo quando podia ser promovido por ter participado naquela guarda tão especial. Ele tentava dizer-lhe isto, mas ela não queria saber e só o mandava calar, acrescentando que devia ouvi-la. Tudo aos sussurros, atrás do arbusto.
- Isto não é o que parece! Estamos... estamos em perigo – acrescentou Kelly após um suspiro amedrontado.
Ted torceu os lábios, estava claramente contrariado. Olhou rapidamente por cima do ombro.
- Estamos em perigo... Afirmativo! Deves ir-te embora.
- Escuta-me, James...
- Ted.
- Ted... Essa nave... contou-me os seus segredos.
- Sim, claro que sim. Fico muito feliz por ti, conseguiste o teu furo jornalístico.
- É muito mais do que um furo jornalístico.
- Um livro de sucesso, então? Milhões de cópias vendidas, a ser recomendado como bibliografia essencial nas universidades mais reputadas do mundo?
Kelly fechou os olhos.
- Eu vi!
- Eu não posso ficar aqui por mais tempo.
Trémula, ela agarrou-lhe nos braços. Disparou de rajada como se precisasse de aliviar o peso daquele segredo, da revelação catastrófica, da responsabilidade que de repente lhe caíra no regaço:
- Eu vi o passado e vi o futuro. Eles já nos tinham visitado, antigamente, no dealbar da civilização. Os sinais nos monumentos antigos, o alinhamento com as estrelas, os portais estelares que permitiam as viagens pelo espaço, a veneração dos solstícios, os deuses alados e todas as manifestações divinas de poder e de assombro que tanto impressionaram os nossos antepassados... vêm deles! As pirâmides no Egito, na América Central, na Ásia pertencem-lhes, foram lhes dedicadas, são máquinas formidáveis para produzir energia que alimentavam os portais estelares. Depois a ligação perdeu-se, apareceram visitas esporádicas... Ovnis, sinais nas colheitas, as linhas de Nazca. Os olhos postos no céu! Tudo para revê-los, os deuses do passado, os magníficos arquitetos, a humanidade criada por eles. Eu vi, Ted. Eu vi tudo.
- Não estás a fazer sentido...
- Tudo faz sentido! – contrapôs Kelly transtornada. – São eles, os deuses regressam.
- É uma coisa boa para nós... Onde está o perigo?
- O deus não quer essa interação! Somos uma experiência, um minúsculo ponto no vasto universo, desprezíveis e esquecíveis. Eventualmente haveremos de nos destruir, o deus assim esperava... Ignora-nos, não quer que saibamos a verdade, devemos sucumbir à nossa própria estupidez.
O soldado afastou-se um passo, soltou-se gentilmente das mãos carentes dela.
- Não compreendo...
- Acreditas em mim?
- Quem é esse deus?
- Não sei! Alguma entidade superior e inconcebível! O deus despeitado quer... retribuição.
- Se somos assim tão insignificantes, por que motivo insiste na vingança?
- Os embaixadores não deviam ter vindo, revelar o grande mistério!
- Os alienígenas desta nave?
Kelly acenou com a cabeça. Declarou:
- A guerra vai acontecer em breve.
De repente, animou-se. Girou sobre os calcanhares e deixou o soldado Edward James, que gostava que o tratassem por Ted, de mão estendida à espera de uma melhor explicação sobre tudo aquilo que acabara de ouvir. Era demasiado incrível e estranho.
Não se oferecia a paz quando se preparava a guerra.
Ou sempre acontecera assim, na longa História da humanidade?
***
O calor dos holofotes que lhe estavam apontados causavam-lhe desconforto e ela sentia a maquilhagem recentemente aplicada a derreter. O coração batia acelerado como um tambor dentro da caixa torácica. Estava concentrada no comunicado que iria fazer, ao mesmo tempo sentia-se terrivelmente ansiosa por aquilo que estava prestes a fazer e o mundo todo era um borrão, ela era ninguém e tudo podia correr terrivelmente mal.
Como todas as estações de televisão estavam sintonizadas no que acontecia na Casa Branca e foi-lhe difícil conseguir espaço para fazer o anúncio que rabiscara à pressa. Indicara que era de suma importância, que se relacionava com a visita dos seres do espaço, mas a maioria dos editores considerou-a uma lunática à procura de publicidade e pouco lhe valeram as credenciais de jornalista, a evocação de seriedade nos seus trabalhos recentes. Contudo, houve uma estação local que acedeu a dar-lhe o tempo de antena que ela implorava. A condição foi que o seu comunicado não excedesse os três minutos, iriam inseri-la num espaço que estava previamente destinado a publicidade e embora a decisão tenha irritado o editor-chefe, o rapaz ambicioso resolveu assumi-la em pleno e Kelly Hammerson conseguiu um espaço para falar.
O operador de câmara apontou-lhe a lente, a técnica de continuidade fez-lhe sinal e a jornalista começou a falar. Surpreendentemente a sua voz saiu forte, assertiva, clara e imponente.
- Boa noite. Serei breve naquilo que vos tenho para dizer. Estou aqui em nome individual, mas acredito que no fim da emissão teremos dado início a um movimento crucial para salvar aqueles que mais amamos, para salvar este planeta que é a nossa única casa na imensidão do universo. Peço que me escutem, peço que compreendam que o que irei anunciar terá graves implicações e que não o faço para conseguir promoção pessoal ou para obter vantagens para mim... Faço-o em nome de todos nós!
"Nos últimos dias o nosso mundo mudou para sempre. Conseguimos a resposta à pergunta de séculos: estaremos sozinhos no universo? Não, não estamos sozinhos e a prova cabal foi-nos apresentada pela presença dos alienígenas que estão neste momento a serem recebidos de braços abertos por todas as nações do planeta. Eu também fiz parte dessa alegria mundial, eu também quis acreditar...
"No entanto, o acontecimento que traz alegria a milhões de pessoas, que traz maravilha e assombro, deve ser denunciado por aquilo que realmente é: uma armadilha! Uma pérfida armadilha!
"Os alienígenas não estão aqui para nos apresentar somente a mensagem de paz e de concórdia que supostamente trazem consigo. Com eles vem o prenúncio de destruição, terror e morte. Enquanto os nossos líderes estão subjugados ao encanto que os alienígenas destilam, venerando-os como... deuses da era tecnológica, seres mágicos que demonstram o poder supremo e inquestionável da ciência e da razão... a distração vai servir para que esses mesmos alienígenas despejem sobre as nossas cabeças todo o poder e a fúria de um deus zangado que fará a guerra das guerras. O apocalipse!
"Sei disto porque vi a segunda mensagem de subjugação e de obediência na nave dos alienígenas, à qual tive acesso de uma maneira extraordinária e que não poderei revelar. Vi a guerra! Vi a morte! Vi o sofrimento de todos os povos da Terra!
"A nossa obliteração acontecerá, minhas senhoras e meus senhores. Meus queridos amigos, cidadãos da Terra! Acontecerá o nosso desaparecimento do universo se não soubermos reagir a tempo.
"Unam-se a mim! Unam-se e resistam! Seremos um exército poderoso de resistentes contra esses malditos que vieram até aqui enganar-nos, ao mesmo tempo que nos distraem com ofertas benignas.
"Unam-se! Formemos o reduto de resistência que ninguém espera!"
Quando terminou tinha rostos petrificados voltados para ela.
Sentia-se afogueada, perturbada, zangada, mas sentia que tinha cumprido o seu dever. Baixou o braço e distendeu os dedos crispados. Exibira um punho fechado para vincar as palavras da mensagem e a sua força intrínseca. Não fora eloquente como um orador carismático, mas contara a verdade e acreditava que conseguiria reunir esse bando de resistentes. Havia sempre inconformados no mundo, gente diferente, idealista, perseverante, que professava a oposição ao comum como forma de estar.
A luz vermelha da câmara apagou-se e ela soube que tinha saído do ar.
Levantou-se da cadeira. A garganta estava seca, mas não tocou no copo de água que estava à sua disposição sobre a pequena secretária de madeira clara e barata onde fizera a sua curta declaração. As suas mãos tremiam, os seus joelhos eram como gelatina.
Houve uma comoção à porta. Nisto, o estúdio foi invadido pela tropa, um oficial postou-se diante do pequeno pelotão que atravancou a sala. Havia alguém a protestar sonoramente, a exigir que se retirassem, a pedir explicações. Kelly fechou os olhos. Sabia ao que vinham, mentalmente admirou-lhes a rapidez.
Foi levada sob custódia com a acusação de estar a pôr em causa a segurança nacional.
***
A questão dos alienígenas era demasiado delicada. As sublevações, os riscos e os aproveitamentos estavam a ser contidos de uma forma quase tirânica. Não havia margem de manobra, nem perdão possível para quem levantasse qualquer testemunho, falso ou verdadeiro, acerca das visitas especiais da Terra. Os julgamentos estavam a ser adiados para datas avançadas, supostamente para quando os alienígenas já teriam partido, para evitar embaraços ou incidentes diplomáticos. Nada podia melindrar a estadia de tão extraordinários visitantes.
Kelly não de admirou com a delicadeza e o secretismo com que estava a ser tratada, mas frustrou-se e quase que desesperou por estar encerrada numa prisão, sem saber se a sua comunicação tinha tido repercussões.
Todos os prisioneiros estavam em celas individuais, isolados uns dos outros e as primeiras horas, ela passou-as sentada na cama, com a cabeça entre as mãos. Os seus pensamentos corriam desenfreados e ela apanhava-os num feixe que apertava para que não lhe contaminassem a alma.
Se primeiro começava por entender que estava tudo perdido e desejar muito desistir, conseguia mudar abruptamente para um estado de euforia e convencia-se de que a luta estava apenas a começar.
A porta da cela escancarou-se estava ela pregada num canto, encolhida, a limpar as lágrimas que lhe desciam pelo rosto sem que ela quisesse verdadeiramente chorar. Um pranto involuntário e demente, um escape da tensão que lhe fazia o corpo doer.
Uma mão estendeu-se na direção dela.
- Depressa, segue-me!
Era o soldado Edward James.
Kelly Hammerson piscou os olhos embaciados.
Acontecia tudo como num filme, num mau filme da série B. Os alienígenas maus invadiam a Terra e ela, a jornalista tornada heroína, disposta a sacrificar tudo em prol da humanidade, era salva pelo soldado desertor que se tornaria no seu parceiro de aventura, de romance, de escolhas difíceis que levariam ao inevitável desfecho trágico e apoteótico de salvação através do martírio pessoal.
A vida era mais do que um filme da série B, certo? A vida era mais complexa, era livre de chavões, de situações tipificadas, de previsibilidades disfarçadas em coincidências, o destino e s escolha, os deuses perenes e os homens perecíveis.
Ela apenas estendeu a mão e foram os dois pelos corredores fora.
Aconteceu como num sonho, numa consciência diferente. De repente ela estava fora da prisão dentro do carro dele, que conduzia a alta velocidade por estradas e ruas que ela não conseguia reconhecer. Estava demasiado atordoada, demasiado enjoada. Apetecia-lhe um café, um cigarro, alguma substância forte que lhe fornecesse o estímulo que o seu sangue aguado pelas recentes experiências falhava em lhe providenciar.
- Onde vamos? – conseguiu perguntar, sem qualquer ânimo.
- Regressamos à nave. Vamos para o Central Park.
Enrolou as mãos uma na outra. Sentia-se aterrorizada, temia estar a desfazer-se, de não ter a coragem suficiente, por ela e por ele.
- O que fazes aqui, James?
- É Ted, para ti. Pensava que tinhas percebido que estava a tirar-te da prisão.
- Estás a arriscar-te e a fazer uma coisa estúpida.
Ele franziu os lábios. Não descolava os olhos da estrada.
- Ouvi o teu comunicado. Quero acreditar em ti...
- Não preciso de ajuda.
- Estavas presa. Como pensavas ajudar o mundo e dar início ao movimento de resistência contra a invasão dos extraterrestres?
Ela encolheu os ombros. A cabeça doeu-lhe terrivelmente e ela apertou as têmporas com a ponta dos dedos. Não queria pensar nisso, estava ainda a despertar depois de ter saído do casulo. A seguir percebeu que não podia escamotear as suas responsabilidades, que tinha mesmo criado esse movimento de resistência e que o primeiro membro da organização clandestina era o soldado Edward James.
- Vais ser castigado – observou ela.
- E tu vais ser perseguida. Somos, oficialmente e a partir de hoje, foragidos da lei e seremos procurados pelas autoridades. Sem qualquer hipótese de reversão das nossas situações. Até... ao fim.
Ela respirou fundo, aceitou o que estava em jogo acenando com a cabeça, afirmativamente. Não podia mudar o que acontecia, iria mudar, isso sim, o curso da História, a condenação da humanidade. Nunca imaginou estar naquela posição, mas era valente o suficiente para prosseguir adiante... até ao fim.
Chegaram ao Central Park. Não conversaram muito mais no automóvel dele que deixaram estacionado num local insuspeito. Ele apenas lhe revelou que estava de licença e que estava armado. Contou-lhe o plano de raspão, meias palavras, frases curtas. Iriam até à nave, procediam à sua sabotagem, dominariam os alienígenas, tentariam perceber como podiam reverter o que tinha sido posto em marcha contra a Terra. Parecia simples, parecia rápido, parecia coerente.
Implicou morte, tiros disparados. Dois soldados, companheiros de James, os alienígenas. Sangravam como qualquer criatura viva, comprovou Kelly alarmada, estranhamente insensível. Afastou os corpos para um compartimento mais próximo da saída, eram leves e pegajosos, moles nas suas carcaças vazias. Exibiam uma cor repulsiva, esmaecida, um tom provavelmente cinzento. Teriam uma alma que os abandonara? Eram espíritos que os iriam assombrar naquela jornada de sedição? Não importava. Os vencedores não se preocupavam com essas consequências menores dos seus atos tresloucados de supremacia e controlo.
Ela e James fecharam-se dentro da nave.
O interior estava sombrio, como se ligado em modo de poupança de energia. Ela olhou à volta, não recebeu a mesma interação histriónica e alucinogénia de quando tinha estado ali pela primeira vez. O lugar ter-se-ia encerrado por causa da ausência dos seus legítimos ocupantes que jaziam inertes e sangrantes numa antecâmara. Ela teve medo que tudo falhasse.
Havia movimento no exterior. O alarme tinha sido dado. Juntou-se ao soldado que se debatia com a consola, uma placa lisa multicolorida onde não existiam botões, interruptores ou qualquer protuberância física.
- O que fazemos?
- A nave vai levar-nos para o local onde se daria o encontro que desencadearia a guerra.
- Eles trouxeram-nos uma mensagem de paz – gemeu ela, apertando os braços.
- Pelos vistos, era tudo um esquema maligno para nos enganarem.
- Creio que eles não sabiam que estavam a ofender o deus... É o deus que nos quer punir, que nos quer erradicar do universo.
- Estás com remorsos? – Ele fixou-lhe um olhar aceso, intimidante.
- Eles não precisavam de morrer... acho.
- Vamos lá, querida. Nada de arrependimentos, partias-me o coração. As revoluções começam com sangue. E a nossa causa é justa e justificável. – Passou uma mão pela extensão do painel de luzes tremeluzentes. Não existia som, apenas luz e variações do espetro de cores que derivavam do branco. Compreendeu que a nave respondia ao seu gesto e anunciou: – A rota está definida. Partiremos dentro de cinco minutos.
- Como fizeste isso?
- Limitei-me a ligar-me telepaticamente aos instrumentos.
- Eles estão lá fora... O teu exército!
- O mundo todo está lá fora e espera uma resposta para o que acabou de acontecer. Mas nós não temos tempo para dizer-lhes o que querem ouvir. Estamos a ser cercados, vão abrir fogo.
- Como...?
- A nave conta-me. A nave está a contar-me tudo, como antes te contou o que estava para acontecer com a Terra.
- Por que razão fala contigo? Porque não continuou a falar comigo? – murmurou ela virando o rosto para cima. – Para onde vamos?
Edward James respondeu com um entusiasmo assustador:
- Para o Polo Sul!
***
O lugar era remoto, gelado, infernal. Um mundo branco inóspito sem qualquer vida onde os ventos sopravam com uma violência mortal. Estavam a muitos quilómetros da estação científica de McMurdo e não havia presença humana assinalável naquela planície nevada.
A nave estacionara e ficara novamente penumbrosa no seu interior. Kelly recusou-se a sair e aconselhou James a que não o fizesse. Não estavam vestidos para as temperaturas extremamente baixas e iriam morrer se pusessem um pé fora do ambiente climatizado do veículo. Ela estava desesperada, ele beijou-a para acalmá-la. O gesto foi tão inesperado e insensato que ela lhe deu uma bofetada, depois pediu-lhe desculpas.
A consola começou a transmutar-se em milhentas cores e eles souberam que tinha chegado a hora decisiva em que se iria decidir o futuro da humanidade, do seu mundo.
O soldado deu a mão à jornalista.
- Faremos isto juntos.
Passaram pelos corpos dos alienígenas. A porta exterior abriu-se, a rampa desceu. Um hálito gélido bateu-lhes nos corpos, nos rostos, as roupas colaram-se à pele arrepiada. Era como se estivessem despidos, tal foi o impacto do frio.
Pisaram a neve a tremer terrivelmente.
E nisto veio o calor do fogo da destruição que lhes estava prometida.
Deixaram de tremer, abrasados pelo cenário dantesco.
Kelly encolheu-se de encontro a Edward, os seus dedos apertaram mais a mão dele. Não compreendia na sua total extensão o que estava a ver, mas o seu instinto gritava-lhe que fugisse para se salvar. A muito custo manteve-se ali, ao lado do soldado, a mostrar a bravura que não sentia.
A expedição punitiva enviada pelo deus furioso era avassaladora. Uma nave negra e rubra pairava sobre a planície, a sua sombra quente, jorrando vapores escaldantes que curiosamente não derretiam o gelo e a neve, oprimia-os. Havia milhares de rostos estáticos que os fixavam, mas não existia essa multidão ali com eles, que continuavam sozinhos, de mãos entrelaçadas. Era tudo na mente, era tudo imaginado ou feito para que eles o imaginassem. A tenebrosa e gigantesca legião que viria para arrasar com o seu mundo. Não existia um representante, um porta-voz, um mensageiro que falasse por todos eles. Não existia um general, um estratega, um líder que os motivasse para que avançassem. Eram um corpo único, coeso, indivisível. Milhentos, infinitos guerreiros que se bateriam sem descanso até à vitória final sem precisar de uma ordem para agir, de uma indicação de como proceder. Independentes e mortíferos. A sua existência resumia-se ao objetivo de batalhar, de prevalecer, de conquistar, de devastar.
Kelly estava a sufocar ao compreender como era impossível derrotar aquela força gigantesca.
Mas Edward erguia-se hirto e disposto a tudo.
Até ao fim, dissera-lhe. Até ao fim, tinham combinado e essa jura seria o seu compromisso irrevogável.
Por isso foi ele que vociferou que a guerra não iria acontecer. Eles estavam ali para que não acontecesse. Foi orgulhoso e arrogante, cheio de empáfia declarou que representavam a humanidade e o desejo de paz, que ofereciam qualquer penhor para garantirem que não iria existir conflito. Se a guerra lamentavelmente fosse para acontecer, então acrescentou zangado que eles iriam resistir, eles iriam combater, eles iriam defender a sua casa até ao derradeiro fôlego.
Neste ponto do discurso, Kelly estremeceu.
Percebeu com um aperto no coração a amplitude do seu gesto. Era esmagador, como a força inominável que enfrentavam. Era uma espécie de final, de destino urdido sem que ela pudesse voltar costas e decidir que escolheria outro caminho. Não havia como escapar, não havia como argumentar ou inventar uma ilusão. Tudo começava naquela planície alva do Polo Sul. Começava e terminava.
A jornalista e o soldado estavam juntos e sozinhos.
Contudo, a Terra não jazia abandonada...
Concordaram com o contrato não verbalizado. Era uma troca possível. Havia pouco mais a acrescentar e não adiantava esmiuçar as cláusulas para se encontrar mais benefícios, menos danos, outras contrapartidas.
A multidão desfez-se e os dois, Kelly e Ted – finalmente chamou-o por esse diminutivo, um murmúrio assustado e carente, ele acariciou-lhe a face e inspirou-lhe coragem, mentiu-lhe que tudo iria correr bem – Kelly e Ted embarcaram no gigantesco vaso preto e vermelho e foram levados estrelas afora.
***
O deus estava abençoadamente distraído.
Através da manipulação do tempo tudo tinha sido esquecido na Terra e só precisara de um gesto, se capaz fosse de executar movimentos físicos com as suas limitações inerentes. Um suave acenar de dedos invisíveis que se contraíram uma nesga e a memória apagou-se do que tinha acontecido.
Nem o deus se recordava da sua ira, do agastamento, da azia tremenda que destruíra um par de galáxias e criara outro punhado de buracos negros supermassivos.
O triunfo era seu e o deus divertia-se com a sua grandeza esplêndida que estendia vagas de harmonia através do éter, vazios apaziguados pela sua indiferença magnânima.
Na sua coleção privada, vasta e nobre galeria repleta de tubos de variados tamanhos e formas cheios de líquido luminescente, existiam mais dois objetos recentemente adquiridos e que abrilhantavam o catálogo requintado.
O deus fixou o olhar aborrecido, se olhos tivesse, no espécimen feminino. A jornalista. Só por graça colocou-a ao lado do espécimen masculino, o soldado. As classificações redutoras das criaturas cansavam-no e ele desistia do deleite com que visitava aquele lugar.
Gostou, todavia, de ver os dois humanos recentemente capturados.
Bailou entre os tubos, envolveu-os com as mãos invisíveis que inventou para aquele momento e a seguir esqueceu-os, porque eram apenas mais dois, entre milhares de seres humanos, dessa longínqua e triste Terra, capturados ao longo das eras.
O deus dissolveu-se.
Poeira no seu conceito, essas eras.
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