—E se eu não tivesse dentes? - James pergunta ao meu lado, enquanto olhávamos o teto do meu quarto.

—Eu ainda te amaria. -Olho para os seus olhos negros, eu mal enxergava sua pupila.—Aliás, lembro de ter te visto sem os dentes da frente.

—Não conta quando éramos criança, você perdeu quatro de uma vez. -Ele ri.

—Minha vez. -Volto a olhar para o teto, pensativa. —E se eu não tivesse nariz?

James ri de novo antes de me olhar.

—Eu ainda te amaria e seríamos ótimos cosplays de harry potter, eu seria o harry e você...

—Cala a boca. - O corto.

—Mas você seria linda de qualquer jeito, com ou sem. -James se apoia no punho e se inclina para beijar meu nariz.

—Eu sei.

—Se eu gostasse de pizza, você me amaria mais?

Rio da pergunta dele.

—Com certeza, meu amor ultrapassaria Vênus.

—Isso foi muito profundo. -Ele se levanta. —Vou ir pedir pizza.

James sai do meu quarto e em menos de três segundos meu pai coloca a cabeça para dentro do meu quarto.

—Não façam filhos, vou tentar não fazer filhos também, tchau.

—Quem é hoje? - Pergunto me levantando.

—O nome é Thalia. -meu pai abre a porta por completo, entrando e da uma rodadinha, me mostrando todo o look. —Eu to um gatão, não é?

—O senhor está mais do que um gatão, está gostosão. -James diz enquanto entrava. —Com certeza algum filho será feito.

—Vira essa boca pra lá, de mim não vai sair mais nenhum-Meu pai o repreende.

—Não falei quem faria. -Meu namorado ironiza ao se jogar ao meu lado da cama.

—Eu não sei como ainda deixo você entrar aqui. -Papai diz saindo do quarto.

—É agora que a gente começa? -Zombei.

—Clarooo. -Ele se joga em cima de mim. —Eu quero gêmeos.

—Isso é tão ruim, mas eu estou gostando muito. - James enfia um pedaço de pizza quase todo dentro da boca, mas não fez nenhuma questão de esconder a careta de desgosto.—Isso tem gosto de...algo muito ruim.

—Sua definição de ruim é um pouco controversa. -Murmuro comendo meu pedaço.

Ele da de ombros, voltando sua atenção para o filme que passava na tv.

Amanhã vai fazer cinco anos que estamos namorando e eu não faço a menor ideia do que fazer. Sempre combinávamos algo, mas dessa vez nem tocamos no assunto.

Nós nos conhecemos há muito tempo, desde os meus cinco anos de idade.

Quando minha mãe morreu, meu pai achou uma boa ideia se mudar e a única lembrança que eu tenho daquele dia é o do James. Ele estava com uma fantasia de cowboy, me observando entrar na minha casa nova.

Desde então, de alguma jeito que eu não me lembro, nós nos tornamos melhores amigos.

E aos meus sete anos fomos fantasiados juntos de cowboy na festa fantasia do colégio. Ele amava cowboys e me fez ver todos os filmes existentes sobre isso.

Aos quatorze ele se apaixonou pele garota nova do colégio.

E aos meus quatorze descobri que estava caidinha pelo meu melhor amigo.

Aos quinze ele teve seu coração partido.

Aos meus quinze eu estava vendo ele sofrer por alguém que obviamente não o merecia.

Aos dezesseis ele apareceu bêbado no meu quarto:

—Quem quebrou seu coração de novo? -Zombei enquanto ele cambaleava até minha cama. —Deixa eu adivinhar...Veio se esconder aqui para sua mãe não te ver assim?

—Talvez. -ele murmurou e eu me joguei ao lado dele.

—Se você for dormir aqui, vai ter que pelo menos tomar um banho.

Ele deu um grunhido que mais parecia uma lamentação antes de me olhar.

—Eu estava bebendo no meu quarto. -Ele soltou uma risada forçada. —E você é insuportável, como eu posso ser tão apaixonado por você? Você nem quis ir vestida de cowboy ano passado e porra, você me irrita tanto quando aparece as seis da manhã na minha casa pra me perguntar qual sapato combina mais com a sua roupa. -Ele Bufa. —E odeio muito esperar você fazer isso todos os dias porque amo como você fica quando acorda.

—Você usou droga, James? -Sentei na cama, um tanto quanto sem reação.

—E eu odeio como você consegue por o pé no nariz e eu não, isso é um saco. -Ele coloca o travesseiro em cima da cabeça. —Não vou tomar banho, boa noite.

E aos meus dezesseis, eu fiquei o encarando a noite toda, esperando ele acordar e dizer que fez isso de brincadeira porque estava bêbado, mas não foi o que aconteceu:

—Aí meu Deus, Meg. -Ele diz ao acordar às sete da manhã e me ver o encarando. —Eu queria acordar com um analgésico ao meu lado, não levar um susto.

—Você estava drogado? -Repito a pergunta da noite anterior.

—Depende, se você por acaso não gostar de mim daquele jeito, eu estava mais que drogado, eu estava possuído.

—E se sim? -perguntei ainda assustada, esperei dois anos por algo do tipo e eu não sabia como reagir.

—E se sim? -Ele me olhou pensativo. —Então eu talvez tenha bebido até meu fígado pedir socorro só pra me declarar.

—Aaah, a primeira alternativa é mais criativa. -Murmurei finalmente me deitando ao lado dele. —Eu nunca resolvi um cubo mágico, você sim.

—E isso quer dizer que você é completamente apaixonada por mim e vai me dar um beijinho na cabeça pra essa dor dos infernos passar? -ele levantou a cabeça para me olhar, mas tombou de volta para o travesseiro.

—Talvez.

—Então não demora, como você acha que minha cabeça vai parar de doer?

E aos nossos dezessete completamos um anos de namoro.

Foi uma trajetória interessante até os nossos vinte e um.

—Eu sou mais gostoso do que ele. -James diz do nada, sorrio ao perceber que ele falava do Brad Pitt no filme clube da luta.

—Não discordarei, mas talvez eu não concorde. -Pulo do sofá, indo para o lado dele no chão. —Mas você tem seu charme.

—Ele não tem esse sorriso. -James faz seu típico sorriso conquistador.

—Ele morreria de inveja caso visse. -Entro na brincadeira.

—Se você quiser continuar alimentando meu ego, eu vou gostar, continua que eu te pago um sorvete.

—Só se for o grandão.

—Claroooo. -Ele tomba a cabeça, a apoiando na minha.

—Mas é claro que você é mais gostoso que ele, eu só estava brincando.

Você é meu raio de sol, meu único raio de sol. Você me faz feliz quando o céu está cinza. Você nunca saberá, querida, o quanto eu te amo.

Abbey Glover  | You are my sunshine