Um Lugar Chamado Hellptons
Charlotte respirou fundo ao entrar no bar, o cheiro que invadiu suas narinas era familiar e a deixava em paz, mesmo que por alguns segundos. Em seguida caminhou até uma mesa quando notou a intensa movimentação surgindo próximo ao balcão.
Enquanto fumava seu primeiro cigarro do dia tirou um momento para pensar, ela sabia que o que estava sugando suas energias era o câncer, sabia que ele estava se espalhando e todas as baboseiras que Jackson havia a explicado, ela poderia ter feito o truque que Uther fez, truque esse que havia a garantido alguns semanas confortáveis mas que não havia a curado, nada a curaria.
Charlotte sabia que Uther em algum momento naquele dia estaria experimentando uma das maravilhas de se ter magia: O preço a ser pago. Tudo que se é feito quando há magia envolvida tem um valor, um dia o preço pode ser uma dor de cabeça, um enjoo, um pouco de sangue saindo pelos olhos, calvície total, morte. Ela ensinaria a ele que sempre há como evitar pagar o preço fazendo outra pessoa pagar por ele, essa seria a lição número 1 para ele.
Seu reflexo no cinzeiro de cristal parecia bem melhor do que naquela manhã, havia vida em seus olhos e cor em seu rosto, um aspecto de ser humano e não de quase defunto, ainda pelo cinzeiro espelhado ela viu a mulher ruiva serpentear pela multidão até se aproximar silenciosamente.
A loura podia estar de costas, mas o cheiro no ar se intensificou e o ar se tornou insuportável.
— Você está atrasada, Emma. — Charlotte falou levando o cigarro aos lábios.
— Como você sabe que sou eu? — Emma perguntou entrando no campo de visão de Charlotte enquanto mechia em seu cabelo ruivo recém adquirido de sua última vítima.
— Usando meus super poderes.— Brincou Charlotte enquanto a amiga a encarava com um certo olhar de reprovação — Não precisa me julgar, estou apenas brincando. Bonito cabelo, roubou do cadáver de quem?
— Não adianta tentar me ferir, eu já estou morta, querida. — Emma respondeu em um tom divertido se esticando para segurar uma mecha do cabelo da loura — Mas sabe quem não está? Você. Isso significa que seu cabelo daria um ótimo novo cabelo.
— Também é bom te reencontrar. — Charlotte respondeu ignorando a pequena provocação.
Emma e Charlotte se conheciam a mais de vinte anos, isso só fazia a loura ter em mente que suas amizades mais duráveis eram com pessoas mortas ou quase isso.
— Tomei a liberdade de pedir algo para nós duas quando cheguei. — Emma se pronunciou — Sem cianureto dessa vez.
— Seu gosto por bebidas nunca me decepcionou. — Charlotte respondeu brevemente.
Um silêncio estranho recaiu fazendo com que ambas olhassem ao redor, pareceu que por alguns instantes todos no bar haviam se calado e isso sempre era sinal negativo.
— Engraçado, não sabia que já haviam reconstruindo isso aqui. — Emma comentou quando os sons de conversa e caos aumentaram novamente.
Charlotte sorriu, Hellptons não era o nome original do bar, na realidade o bar não possuía um nome, nem um endereço, cada vez que ele é destruído ele se reconstrói em um novo local. Mas contudo, é um bar diferente, onde todos os tipos de pessoas e seres são bem vindos, heróis e vilões sentam na mesma mesa para beber pacificamente, demônios e anjos apostam na mesma mesa sem violência. Hellptons sempre foi uma zona de paz e um ótimo lugar para bebidas de procedência duvidosa.
— Minha querida, você está de volta! — A voz animada de Laura rompeu os pensamentos de Charlotte a trazendo para a realidade — Joseph vai ficar tão feliz quando souber, não vimos você chegar.— A alegre senhora sorria para Charlotte mas ao ver Emma ali sentada fechou o sorriso — Você eu já tinha visto. Charlotte, filha, não sei o que você ainda faz sendo amiga de Emma, ela é má influência.
— Sua recepção sempre foi tão calorosa, me sinto até quentinha envolta desse amor maternal. — Emma debochou sentindo a raiva no olhar de Laura. — Talvez devesse chamar seus filhos para me cumprimentar já você estava com tanta saudade.
Laura fechou os punhos sentindo vontade de acertar a ruiva, porém se controlou levando em conta sua posição e idade contra as da sem forma.
— Isso aqui é um ambiente de respeito e paz, então comporte-se, Emma. — Laura falou colocando as quatro taças cheias de um líquido roxo sobre a mesa — Se você ficar nua sobre a mesa novamente farei uma reclamação por espelho com seu chefe.
— Não haverá motivos para falar com o reflexo do chefe dela, assim eu acredito.— Charlotte se pronunciou segurando a mão de Laura — Obrigada por tudo.
Laura sorriu e em seguida foi em direção ao balcão lotado.
— Ela nunca vai perdoar você ter desvirtuado o filho piromaniaco dela. — Charlotte comentou acendendo outro cigarro — Nem de ter feito o outro filho dela virar padre.
Emma riu jogando a cabeça pra trás, revivendo as memórias que aquele pequeno comentário desbloqueou. O passado com os filhos de Laura e Emma eram complicado até mesmo de ser descrito mas havia sido traumatizante o suficiente para os gêmeos e engraçado o suficiente para a ruiva.
Charlotte pegou uma das taças e fez um movimento rotativo, o líquido mal se mechia.
— Posso beber sem medo ou devo tomar algum antídoto antes? — Perguntou focando sua atenção na aparência estranha.
— Eu aprendi com meus erros.— Emma ergueu a taça para brindar — Um brinde as vadias que sobrevivem.
Charlotte ergueu a taça e brindou com a velha conhecida.
— Corrigindo, um brinde à quem está morrendo ou morto.
Emma revirou os olhos desaprovado o comentário.
A loura levou a taça a boca tomando uma grande quantidade, o gosto metálico e o cheiro estranho e doce fizeram com que a bebida deixada um gosto estranho na boca.
— Deus, isso é horrível! — Charlotte reclamou — É como se eu estivesse bebendo lama, moedas e açúcar.
Charlotte levou a taça novamente a boca e bebeu o restante, em seguida encarou Emma que já estava no fim de sua segunda taça, a ruiva sempre pedia duas taças de qualquer coisa que fosse beber como um toc alcoólico.
— Isso é o vinho com as sangue-sugas dentro. — Charlotte pronunciou vitoriosa reprimindo uma careta ao sentir algo se mexer após o último gole.
Emma bateu palmas rindo, ela tentava ignorar o real motivo de ter marcado aquele encontro, e continuaria a ignorar até aquele ser a sua frente provasse ser a Charlotte que ela conhecia e não uma versão possuída ou Fragmentada.
Já a loura a encarava com curiosidade, algo estava incomodando a ruiva, mas se Emma não queria falar Charlotte não a forçaria. Pelo menos não naquele momento.
— Você ainda sabe fazer aquele truque? — Emma perguntou tentando quebrar o silêncio.
— O do copo? — Perguntou e Emma concordou com a cabeça — Claro, você falava que era brincadeira de criança bêbada.
— Então o faça. — Ordenou — Quero ver se você ainda é a Charlotte que tira vantagem do mundo ou viver em Chicago lhe amoleceu.
Por mais tentador que fosse negar ou simplesmente ignorar o pedido, Charlotte decidiu fazer, seja por ser uma brincadeira divertida ou simplesmente por não ter pego a carteira quando saiu de casa.
Ela respirou fundo, pegou a sua segunda taça de vinho, a colocou em sua frente e em seguida estalou os dedos.
De início parecia que nada havia acontecido, porém o líquido roxo foi aos poucos mudando de cor até que o líquido antes roxo, se tornar transparente como a água. Em um movimento único, Charlotte bebeu toda a água presente na taça e virou-a com a borda em contato com a mesa e novamente estalou os dedos.
Não demorou muito um garçom surgiu com uma garrafa de vinho em mãos e um olhar vazio.
— Essa garrafa foi enviada por aqueles cavaleiros. — O garçom se aproximou colocando a garrafa de vinho sobre a mesa e apontando na direção de uma mesa vazia.
Emma bateu palmas como uma criança ao ver o mágico puxar um coelho da cartola, todas as vezes que Charlotte havia feito aquilo sempre parecia como da primeira vez. Um truque bobo que fazia alguém pagar uma bebida para elas.
— Você tem que começar a fazer seus próprios truques a partir de agora — Charlotte se pronunciou servindo a si mesma da garrafa — Eu estou morrendo Emma, e você sabe disso.
Emma piscou algumas vezes, os boatos eram verdadeiros e ela sabia disso melhor que ninguém, mas ao ver Charlotte ali esbanjando vida e transpirando magia se sentiu em dúvida de até onde tudo que ouvirá era verdade.
— Você poderia tentar curar isso a longo prazo. — Argumentou.
— Não, ele é terminal. E sabe o que é o pior? — Perguntou antes de tomar um gole da taça — Antes de saber do diagnóstico eu vivia bem, já passou um mês que eu descobri sobre o câncer e minhas dores pioraram, ando nauseada, algumas manhãs pós bebedeiras vômito meu próprio sangue e vivo cansada. Bem que Oliver dizia que o melhor remédio é não saber que se esta doente.
— Talvez seja a hora de abandonar as chuteiras, sussegar e esperar a morte te levar.— Emma bebeu todo o líquido de sua taça em um gole e a encheu novamente.
— Seu apoio é assustador.— Charlotte falou encarando o maço vazio e amassado em suas mãos. — Eu já abandonei tudo, amanhã falarei para o mundo isso, eu estou apenas esperando a morte bater na minha porta para eu abrir. Acho que eu só precisava falar com alguém para que eu sentisse que é real.
Emma fechou o rosto adotando um semblante irritado, a comprovação de tal sentimento veio quando a ruiva bateu a taça contra a mesa quebrando-a, a haste ela agarrou com força ameaçou investir contra a loura.
— O que você pensa que está fazendo? — Charlotte perguntou se levantando rapidamente e tomando distância.
— Você é uma maldita narcisista problemática que acha que sua morte não irá alterar nada, você está errada em tantos níveis que eu não sei nem por onde começar.
Emma investiu em um ataque contra a loura porém quase acertou um casal em outra mesa. As pessoas ao redor paravam a conversa e as jogatina para ver o que estava acontecendo, lembrando da terceira regra que o bar possuía que era " Não se envolver em brigas".
— Que tal tentar me explicar? — Charlotte falou desviando de outro ataque de Emma.
— Sua morte vai abrir portas que o mundo não está preparada para aceitar. — Gritou irritada, ela investiu novamente contra Charlotte, a loura desviou no último minuto fazendo com que Emma abrisse um corte na bochecha do homem de cabelos negros sentado no balcão — O apocalipse Marie, o maldito apocalipse.
A fala de Emma parecia confusa para Charlotte, talvez o vinho com as sanguessugas estava fazendo mal a ruiva. Alguns outros clientes do bar estavam de pé mas nenhum ousava segurar a ruiva.
— Então deixa eu ver se eu entendi, você quer me matar para me fazer aceitar que eu não posso morrer. Você sabe o quão insano isso parece? — Charlotte argumentou quando a ruiva a atacou, em um movimento rápido e certeiro Emma havia conseguido a cortar no braço com a taça quebrada.
— Você vai trazer o fim do mundo, de novo! — Emma gritou irritada enquanto Laura surgia de detrás do balcão — E antes que eu me esqueça o seu filho...
Charlotte não conseguiu ouvir o que Emma havia dito, pois sua vista escureceu rapidamente e quando seus olhos voltaram a abrir ela não estava mais no Hellptons mas também não estava mais em lugar nenhum.
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