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O Problema Chegou a Cidade

O céu estava azulado e o sol cobria a todos como uma manta aquecendo a cidade surpreendendo a todos que saíram de casa esperando mais um dia frio de janeiro.

O trânsito evoluia de maneira lenta, fazendo Charlotte se remexer desconfortávelmente no duro banco no táxi. O trajeto que levaria cinquenta e quatro minutos estava sendo feito a quase três hora e meia, e a demora estava a sufocando aos poucos.

— Negócios ou férias, gracinha? — O taxista barbudo perguntou após um longo silêncio.

— Estou voltando pra casa.— Charlotte respondeu encarando o movimento crescente de pessoas, carros e demônios que ocupavam as calçadas e avenidas — Se é que eu posso chamar isso de lar.

O coração da loura pareceu apertar antes de acelerar loucamente enquanto o táxi permanecia parado.

— Eu vou ficar aqui — Pediu fazendo o motorista virar-se em sua direção. — Preciso pagar algo?

— Qualquer amiga do John é minha amiga também, gracinha. Essa vai para a conta daquele narcisista metido a adivinho. — O homem a respondeu lançando uma piscadinha para a loura e destravado as portas do pequeno táxi.

Charlotte sorriu agradecida e saiu do carro arrastado a pequena mala de rodinha que trazia consigo, o amigo de John acenou antes de acelerar não sumindo totalmente de sua visão. Ela atravessou a rua e continuou a andar, talvez Londres não houvesse mudado tanto na sua ausência, tudo parecia perfeitamente igual, como uma maldita casa de boneca. O vento batia contra o rosto da loura trazendo uma sensação boa.

O céu de repente escureceu e uma chuva de pingos pesados caiu molhando a todos, dando a entender que a presença da loura era o suficiente para  alterar o clima da cidade. Charlotte continuou a andar calmamente mesclada ao anonimato que Londres permitia a todos.

De longe seus olhos alcançaram seu antigo apartamento, talvez a senhora Wany ficasse feliz de ver a bêbada desagradável para quem alugava o apartamento, ou talvez fosse a hora de Charlotte voltar para sua própria casa e parar de fugir do passado.

A jovem tocou a campahia apreensiva, pediu silenciosamente que Wany não houvesse vendido suas poucas coisas.

— Quem é? — A pergunta quase mecânica saiu pelo pequeno interfone.

— Sou eu... Charlotte Hunter.

O barulho das chaves poderia ser ouvido a alguns metros sem dificuldades, Wany parecia extremamente nervosa, talvez ansiosa ou apenas com medo da presença da loura a sua porta.

Wany abriu a porta e encarou Charlotte por alguns segundos antes de abraça-lá.

— Charlotte, não imaginaria que você demoraria tanto pra voltar. — Wany falou se afastando da loura e abrindo a porta para que ela entrasse. — Por onde andou menina?

— Como sempre por toda a parte, senhora Wany. — Falou respirando aliviada ao ver o sorriso no rosto da senhoria do apartamento.

— Desculpe ter mudado as chaves, temos novos moradores e como eu não conseguia falar com você não pude lhe avisar. Troquei também a fechadura do seu apartamento. — A senhora retirou do chaveiro duas chaves e entregou a loura.

— Obrigada. — A jovem se limitou a responder antes de caminhar até as escadas.

Um sentimento familiar se apossou de Charlotte ao começar a subir, um aroma marrom e verde musgo de pura nostalgia. Talvez não houvesse nada melhor que o lar, nada melhor que morrer na cidade que havia condenado e salvo mais de uma vez.

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