Nada é eterno como a morte
A dupla permaneceu parada após tocar a campanhia, Charlotte repassa a mentalmente os detalhes de seu plano maluco.
A porta foi aberta e Wilbor encarou a dupla com felicidade no olhar
— Espero que possa me ajudar. — A mulher sorriu para a dupla. — Eu agradeço pelo que vem a seguir.
Daniel entrou estranhando a atitude da híbrida de fada e anfíbio, ela parecia mais contente que a última vez.
O ser deu as costas para loura como se consentindo com o que a loura havia planejado, Charlotte puxou do ar uma lâmina e golpeou a híbrida, Daniel gritou assustado.
— A liberdade é um dos seres mais lindos — O ser falou antes de virar um amontoado de pó.
— Você matou a minha empregada? — Meziriel gritou surgindo atrás da loura — Vocês não poderam se mexer — falou deixando os olhos se tornarem amarelo. —Teria sido um golpe inteligente engolir as cinzas e se tornar a dona da casa, como resultado você me obrigaria a devolver a alma da criancinha e das outras diversas pessoas que estou possuindo. Agradeça ao seu amigo Daniel por ser um froxo e seu plano ter dado errado.
Ele recolheu o pó do corpo da hibrida e engoliu em uma única lambida.
— Você ainda precisa de máscaras mesmo tendo vencido? — Charlotte falou encarando Meziriel.
Daniel encarou a amiga assustado, ela não havia lhe contado o que planejava fazer, tudo que ele sabia é que eles chegariam na mansão e Charlotte se entregaria sem brigas, naquele momento ele descobriu que tudo que ele sabia era mentira, que todo o plano que ela havia contado a ele na noite anterior era mentira.
— Me desculpe. — Daniel sussurrou.
Meziriel estalou os dedos deixando seu rosto verdadeiro aparecer, naquele momento não existia mais Arnael o "sem forma" que ele havia inventado, tudo que a dupla encarava era Meziriel, o ser que um dia havia sido anjo e que havia condenado Amber ao vazio, depois tomado posse do corpo de Charlotte e a condenado ao inferno.
Daniel permanecia em silêncio deixando com que algumas lágrimas fugisse, ele estava fazendo a amiga se entregar a pessoa que havia destruído a vida dela.
— Vamos, me acompanhe.— Meziriel ordenou fazendo com que a dupla o seguisse de modo mecânico e obrigatório.
Eles caminharam até uma porta de madeira que se encontrava fechada, Meziriel abriu-a revelando um cômodo com papel de parede vermelho e dourado, no centro do quarto havia alguns desenhos no chão.
Daniel sentiu que conseguia enfim se mexer, e avançou contra Meziriel que o parou ainda no ar.
— Quando você vai entender que sua presença é extremamente dispensável? — Meziriel falou e com um movimento de mão jogou Daniel contra a estante de livros que havia no cômodo. — Agora apenas nós, os relevantes. Você descobriu quem é meu maior inimigo? Meu único concorrente? — Meziriel segurou o rosto de Charlotte A encarando nos olhos.
— Sim, eu sou sua maior e única inimiga, já que Deus não deverá descer do seu trono prateado. — Charlotte respondeu — Você me matar faz com que nenhum outro ser, caçador ou seja lá o que eu for venha tentar lhe impedir, me matar dará a você a fama que você tanto almeja.
— Sempre adorei que o sacrifício fosse exposto, talvez eu pendure sua linda cabecinha na porta da casa quando eu acabar.
Meziriel amarrou as mãos de Charlotte utilizando magia e a puxou até o centro do desenho feito no chão, em seguida agitou a mão no ar fazendo com que a roupa que ela vestia fosse substituída por um vestido longo vermelho sangue.
— A roupa com que se morre é tão importante quando o modo que se morre. — Ele falou encarando a mulher — Nem tente queimar as cordas, elas não permitem que quem esteja amarrada possa usar magia, você ainda pode se curar mas não onde elas estão presas.
— Agora você me mata. — Charlotte falou como se não se importasse.
Meziriel riu e pegou um pedaço da corda a amarrando um pouco abaixo da cicatriz no pescoço da loura, para ter a certeza de que quando abrisse o corte que a mataria, ela não se curaria.
— Claro que não. — Meziriel deixou que os olhos amarelos ficassem evidentes — De joelhos e sem se mexer, gracinha. Sempre gostei de uma mulher submissa, isso me dá idéias interessantes.
Charlotte sentiu vontade de vomitar por aquela insinuação, seus olhos se dirigiram onde Daniel estava, o choque contra a estante havia o apagado completamente, ou talvez ele fingisse muito bem.
— Eu espero que você não tente nada! Já basta ter matado minha empregada.
— Seria um pouco difícil já que eu estou amarrada. — Ironizou a loura enquanto Meziriel se aproximava trazendo consigo uma cadeira.
Pela primeira vez em anos se permitiu sentir, se permitiu pensar que depois daquele dia não sentiria mais nada. Então ela se permitiu sentir saudade do irmão e suas piadas ruins, sentir saudade de Daniel e seu maldito cabelo macio, sentir saudade de Edgar e suas frases sem sentido.
— Meu sacrifício está melancólico? — Meziriel perguntou retoricamente se sentando e pegando a lâmina que ela havia usado para matar a híbrida — Isso é uma adaga perigosa e poderosa demais para menininhas tristes como você.
Meziriel teve uma ideia ao ver as costas nuas da mulher a sua frente, o vestido de costas abertas lhe permitia realizar o que planejava, ele sorriu ao abrir um corte começando próximo aos ombros e finalizando no fim da coluna da loura arrancando no processo uma boa quantidade de sangue. Logo em seguida levou a lâmina a boca, tal qual um chefe provando o prato principal a ser servido.
— Você tem o sangue quente demais para qualquer ser vivo e humano. — Comentou brevemente — Só conheci uma pessoa assim, não sei por onde aquela demônia deve estar hoje. Mas não devemos falar de relações passadas, o importante é você, e o hoje. Seu sangue é uma maldita e deliciosa bebida dos deuses. — Meziriel falou fazendo outro corte perto do primeiro enquanto a jovem reprimida uma careta de dor — Você ainda pode desistir de salvar a filha do seu amiguinho herói e reinar do meu lado no inferno que eu planejo montar. Você sempre teve potencial, se removesse essa máscara, você poderia ser linda. — Finalizou passando a faca levemente no rosto da loura.
— Eu não uso máscaras, não finjo ser outras pessoas para sugar tudo delas, eu não sou você. — Charlotte alfinetou enquanto sentia o dedo do homem desenhar algo em suas costas utilizando o sangue dos cortes que estavam já se fechando.
— Você me cansa com esse seu blá, blá, blá. Quando eu controlava esse corpinho nós nos divertimos, ou você esqueceu todo que nós vivemos?
— Os assasinatos e destruições? Nunca esqueci, são pesos que carregarei para sempre em minha memória.
— Você continua me cansando com esse seu blá, blá, blá — O ser se abaixou de frente para a loura segurando o rosto dela nas mãos — Faça o que quiser, pegue o que quiser, Demônios com potencial e Deuses como você fazem regras, não as seguem.
— Eu não sou...
— Não adianta negar sua origem, você sabe o que sua mãe era, o que eu sou, e o que o seu pai era. Você sabe a maldição que carrega e o sangue amaldiçoado de Edgar que corre em suas veias. — O ser passou novamente a faca no corte que já havia fechado.— Você é uma Deusa, ou um demônio com um potencial muito grande. Destinada a coisas grandes e morrerá por uma causa pequena.
Charlotte reprimiu a vontade de revirar os olhos, agradecia que Daniel estivesse apagado em um canto da sala para não presenciar a cena. Ela sabia que Meziriel tentaria a torturar e a fazer mudar de lado.
— Vamos reformular o contrato, Daniel levará a alma da filha dele de volta a Londres e você ficaria aqui. Como um cão de guarda protegendo meu reinado.
— Um cão de guarda? Eu prefiro a morte a uma coleira.
Meziriel puxou a corda que estava presa ao pescoço da loura como se para ilustrar que ela já estava de coleira.
— Você é entediante. — Meziriel reclamou — Preciso apagar os sigilos que um dia eu deixei em você quando estivemos sobre a mesma pele. — Meziriel abriu novamente o corte que estava cicatrizado. — Este corte é só por diversão, os outros são úteis.
Meziriel fez um corte perto do ombro da loura, assim que a faca passou por ele do corte saiu uma luz seguida de um sangue azulado.
— Anjos e demônios não deveriam deixar tanta sujeira. — Reclamou abrindo um corte perto do pulso da loura e o processo da luz e o sangue azulado se repetindo — Se eu lhe deixasse morrer com isso você voltaria para mim, não que seja ruim estar dentro de você, mas eu tenho planos maiores que isso.
Charlotte estava se sentindo exausta, os olhos pesavam e o corpo doia, sob o vestido o sangue começava a deixar grandes marcas.
Meziriel sorriu vendo o corte se fechar lentamente.
— Eu poderia fazer isso o dia todo e não perderia a graça, eu estou me divertindo. — Ele se abaixou levantando o rosto com semblante esgotado de Charlotte, aproveitou para por a venda nos olhos dela dando lhe um selinho como se fosse um beijo de boa sorte. — Uma morte definitiva para a minha senhora do sul.
— Eu não teria tanta certeza se fosse você. — Charlotte ouviu a voz mas não soube identificar de onde vinha.
— Na minha casa você não fala. — Meziriel ordenou a voz desconhecida ao se levantar — Muito bom ver um velho amigo, conte-me, você ainda tem pesadelos de quando eu usei você para matar sua família? Você ainda lembra o gosto do sangue dos seus filhos?
Meziriel riu antes de avançar contra o desconhecido, o som de algumas coisas se quebrando podiam ser ouvidas. Charlotte se praguejou mentalmente por nunca querer ter aprendido a arte de ver sem os olhos com Eliott, ou então ter aprendido como se projetar acordada para fora do corpo com Alex, ela somente conseguia se projetar e invocar pessoas vivas quando estava dormindo.
Charlotte tentou focar nos outros sentidos como Eliott havia lhe ensinado. Suas mãos não conseguiam alcançar nada além do próprio corpo, respirou fundo focando nos cheiros do ar, além do fedor de ferrugem e do cheiro enjoativo de algodão doce, havia no ar também um cheiro de cigarro mentolado e colônia pós barba. Sua cabeça não conseguia formar uma imagem concreta de quem era o dono do segundo aroma, na cabeça da jovem havia a imagem de um homem sem rosto.
— Vou lhe deixar falar, feiticeiro, apenas para saber quais são suas últimas palavras.
— Você estava tão feliz a torturando que não percebeu que as cinzas o tornou algo que pode morrer.
O som de algo caindo em seguida borbulhando pode ser ouvido muito claramente, em seguida um longo silêncio.
Ela sentiu alguém se aproximar pela frente.
— Tenho certeza que é seu dia de sorte, Sorcière. — Charlotte sentiu a venda ser tirada dos seus olhos e o segundo aroma ganhar finalmente um rosto.
Meziriel estava morto, o pó do que deveria ser o corpo sem vida do anjo estava jogada sobre uma poça de sangue azulado. John utilizou a adaga que havia usado para matar Meziriel para cortar as cordas que prendiam a Hunter mais nova.
— Sorcière, talvez devêssemos conversar em um outro momento — John entregou a adaga para Charlotte e sorriu para ela antes de desaparecer pela mesma porta que deveria ter aparecido.
Charlotte se levantou do chão e caminhou até onde Meziriel havia morrido, Daniel estava começando a despertar. A loura se aproximou das cinzas do homem que mais ódiou e em um movimento rápido a colocou na boca, a engolindo em seguida.
Ela fechou os olhos sentindo o poder da casa fluir.
— O que aconteceu? — Daniel parecia confuso quando despertou.
—John aconteceu. Um maldito ingleszinho, metido e narcisista. — Charlotte respirou fundo reprimindo um grito de dor. — Ele matou Meziriel. Merda ele tinha me falado que iria matar o segundo demônio da criação quando ele estivesse feliz. Merda!
Os cortes eram um dos seus menores problemas, John ter matado Meziriel e junto com isso acabado com quase todas as chances de recuperar a alma de Kate esse sim era seu maior problema.
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