VII
No dia seguinte, Matteo carregou a bateria cedo, olhava Desireé dormindo e um sentimento de solidão tomou conta de seu coração, ele se levantou respirando fundo, tentando se livrar de tal pensamento, caminhou a passos pesados até a varanda, um pássaro pousou perto de seu campo de visão e logo outro, não demoraram partir, juntos, aquela visão só serviu para atenuar o sentimento de solidão de Matteo, sua mão direita apertou a grade da varanda com tanta força que chegaram a entortar enquanto a esquerda ele passou pelo coração tentando aliviar aquela dor, então seus olhos ficaram embaçados, apesar de não cair um líquido ele estava chorando por dentro. Aquele era o pior sentimento que ele poderia sentir, porque não era somente sobre a dor, era o que desejava, desejava não existir, almejava ser realmente uma maquina e chegou a desejar morrer, ele já estava morto há muito tempo, o humano Matteo havia morrido e restava apenas o robô 10.22, e ele julgava ser a pior versão de si, percebeu isso naquele exato minuto. Deixou os pensamentos de lado quando escutou Desireé tossir e voltou sua atenção completamente a ela, sangue saia de sua boca, seu pescoço estava vermelho, as veias saltavam.
__ Dess, o que está acontecendo?__ Questionou solicitando a secretária eletrônica.
Ela demorou para aparecer, seu sistema estava lento, Greco estava a sua procura, estava mudando todo o sistema. Tudo estava travando.
__ Eles estão tentando acessar todo o seu sistema, senhor, isso faz com que o sistema do seu coração que foi usado nela pare de funcionar.
O homem viu a mulher se esgueirar para cair e então a segurou, ele a via perder a consciência enquanto a boca estava suja de sangue, Matteo a segurava com o medo entre os dedos, esperar por uma resposta de Dess, mas tudo o que escutou eram sons estranhos, então estava sozinho nessa, eles haviam desligado sua IA e estavam matando Desirée. Não demorou para que a imagem de Greco fosse projetada em sua frente, o homem parecia cheio de si, com a certeza inevitável de que venceu aquela briga, cruzou os braços falando de forma solene.
__ Achou mesmo que teria alguma oportunidade de escapar, querido Matteo? __ Questionou cínico. __ Foi divertido ver como passou por nossos sistemas, em virtude do seu esforço, tenho algo para você. __ Respirou fundo, ainda sereno. __ Você não poderia ter se livrado de mim nem que quisesse, nem em seu maior sonho, você está fadado a ficar no laboratório.
Toda a estrutura metálica de Matteo balançou, seu coração bateu tão forte que chegou a doer, respirou fundo esperando que o homem que criou o monstro que ele era, continuasse com a linha de raciocínio. Segurava firmemente a amada em seus braços.
__ Eu deixo a humana escapar se. __ Pronunciou maldoso. __ Você voltar para o laboratório, a humana ficará bem.
__ Quem me garante isso?
A risada de Greco foi tão aguda que fez os sensores de Matteo apitar.
__ Eu não sou o assassino, é você, quando matou todos aqueles homens inocentes, crianças. __ Ele deu de ombros balançando a mão __ Além disso, essa é sua única opção, se não voltar ela morre, afinal estou com o coração dela em minhas mãos. __ Ergueu a mão direita no ar e a fechou, pronunciando devagar. __ Literalmente. __ Um sorriso maléfico reinava.
Antes que Matteo pudesse pestanejar Greco havia desaparecido, então ela abriu os olhos, o mundo ao seu redor parou, nada além dela existia, e uma paz ficou sobre ele, nada podia deixa-lo mais feliz do que vê lá "bem", ela parecia fraca e ainda sentia dor. Passou a mão sobre o cabelo dela e sorriu, um sorriso de alívio e que declarava que faria tudo por ela.
__ O que aconteceu?
Ele ajudou a mulher a se levantar antes de falar qualquer coisa.
__ Um pequeno erro. __ Tentou omitir o que seus olhos entregavam.
__ Não minta para mim.
Desirée conhecia Matteo há muito tempo, tempo o suficiente para captar qualquer mentira da parte do homem, estralou os dedos, de modo a controlar sua ansiedade enquanto esperava a resposta.
__ Eu preciso ir até o laboratório __ Pronunciou relutante.
__ Não. __ Esbravejou __ Você não pode, Valentino vai te despedaçar e mal sabemos o que Greco pode fazer. __ Falou baixo, com a finalidade de demonstrar sua preocupação, havia inúmeros motivos para estar brava com Matteo.
__ Não torne as coisas mais difíceis do que já são. __ Deu dois passos para trás, precisava se afastar de imediato, para não se arrepender do que faria, já era difícil o suficiente ter que la deixa sem proteção.
Ela segurou no braço do homem, agarrou se a ele como se fosse sua tábua de salvação.
__ Um dos motivos para me apaixonar por você, era porque em toda a minha vida as pessoas diziam que não era para eu falar, me calaram e oprimiram dizendo que o que eu tinha para falar era desinteressante, então eu era uma boa ouvinte, sempre escutava e nunca falava __ Ela olhou para o homem como se implorasse por respostas __ Então você me fez perceber que eu não devia me calar não importa o que as pessoas falam, você me escutou quando o mundo não quis me escutar, então por favor, me deixe te escutar e entender o que está acontecendo. __ Ela não poderia descrever seus sentimentos e ações, afinal deveria odiá-lo, porém, diante da situação que vislumbrava, temia por ele e por ela.
Ele fechou as mãos em punho enquanto ela falava, poderia chorar se aquilo fosse possível para um robô, seu coração mais uma vez estava apertado, seu passado ainda era uma incógnita, ele podia vislumbrar o que fez através de seus olhos, todos os erros e acertos, mas através dos olhos de Desirée, as coisas diferiam, ele era outro alguém para ela, todos o seu sistema falhava, tudo travava, ele via a mulher às vezes vermelha e uma mensagem de erro aparecia. Ela no que lhe concerne, sentia tanta dor em seu coração que não podia explicar, era como se ele estivesse sendo apertado. Abraçou o homem como se aquilo pudesse demonstrar o que estava sentindo, ela não tinha a dimensão de tudo o que estava acontecendo, ela só tinha a certeza inexorável que não ia perder o homem mais uma vez. Ele então se soltou e envolveu a mulher em seus braços, apertou e fechou os olhos, escutava o coração acelerado, a respiração fora de compasso, ela trema e Matteo podia avaliar que aquilo era medo, olhou para o alto buscando as melhores palavras para colocar Desireé na situação, como explicar para alguém que perdeu parte do coração e recebeu parte de um robô?
__ Você tem parte do meu coração.
Ela balançou a cabeça com leveza.
__ Você também tem o meu.
__ Não. __ Pestanejou. __ Você tem literalmente o meu coração. __ Falou devagar. __ Quando você foi atingida, parte do seu coração foi afetada. Dess, com o intuito de lhe salvar pegou parte do meu coração e colocou. __ Apontou para o coração dela __ Por isso você passou mal agora, porque você tem parte de mim e com isso eles têm parte do controle sobre você. Eu sinto muito.
A expressão facial de Desirée, oscilou entre medo e compreensão, deu dois passos para trás. Respirou fundo, deixou o ar correr entre os pulmões antes de soltar, colocou a mão no coração, como ela não percebeu, como não foi capaz de perceber?
Estendeu a mão para se segurar em algum lugar, encontrou somente o braço de Matteo que ajudou a mulher a se sentar no sofá de braços mais próximos.
__ Eu sinto muito. __ Ele falou arrependido. __ Não queria que ficasse assim.
Ela balançou a cabeça negativamente enquanto seus pensamentos se organizavam.
__ Tudo bem, você fez o que achou melhor para que eu vivesse. __ Chegou a tal conclusão.
Ele se abaixou ao lado dela, ela no que lhe concerne ainda tentava entender tudo o que estava acontecendo, entretanto, ela tinha em mente que deveria se preocupar com o problema de agora.
__ Como vamos até o laboratório?
Matteo ficou em silêncio, pensava em como fazer isso e deixar a mulher segura, buscou em todo o seu banco de dados e lembrou se de algo, levantou-se e foi ate o laboratório, deixou tudo organizado e então voltou.
__ Eu tenho uma solução, vai doer um pouco, mas é uma boa solução. __ Segurou na mão da mulher.
Ela mordeu os lábios antes de falar qualquer coisa, colocou as mãos em cima das mãos de Matteo e então pronunciou:
__ Eu confio em você __ Esperou que o homem a explicasse.
__ A um esqueleto mecânico que a Dess estava trabalhando. __ Fez uma pausa reformulando suas palavras. __ Desde que te conheci, minha secretaria eletrônica avaliou que estou cada vez mais perto de ser um humano comum, ela também descobriu que parte do meu coração que era metálico se transformou em um completo coração biológico após entregar parte para você, tendo isso em vista, ela começou a trabalhar em uma estrutura metálica que se acomodasse com o corpo biológico e mantivesse algumas de minhas habilidades. __ Se levantou fazendo sinal para que a mulher o seguisse até o laboratório. __ Se eu fizer algumas adaptações nele, podemos instalar ele em você. __ Abriu a porta deixando visível o material que parecia o esqueleto humano. __ Assim que eu colocar sobre sua pele, pequenos micros robôs irão se separar e infiltrar-se dentro de você, até que todo o seu esqueleto seja coberto por essa estrutura, eles irão aumentar suas capacidades física até 30 vezes mais, além disso, você será um pouco parecida comigo, eles poderão projetar imagens em sua cabeça, você estará conectada na rede o tempo todos e eles podem sobrepor sua pele em algum momento de impacto e espero que virem arma também.
Ela apenas concordou com a cabeça e sentou na cama de laboratório.
__ Faça o que tem que ser feito.
Ele balançou a cabeça em concordância, se aproximou dos micro robôs que se agitaram, Matteo era o controlador principal, afinal havia sido o primeiro, não demorou para hackear todo o sistema dos micros robôs. Olhou para Desirée fazendo sinal para a mulher deitar e ela o fez. Ela precisava está completamente acordada para que fosse conectada, nesse caso ela não podia usar anestesia.
Cada um daqueles micro robôs ligados, Matteo fazia com que eles se movessem no ar e fossem até a mulher, eles se aproximavam e uma luz vermelha foi emitida, ela estava com os olhos abertos e sua respiração ficou pesada à medida que eles estavam próximos. Então tudo aconteceu, eles emitiram um barulho agudo e se infiltraram na pele dela, que gritou, a dor de sua pele sendo perfurada, o sangue em cada furo, a queimação que eles emitem, ergueu o tronco e fechou as mãos em punho, gritou, por ela e pela dor, voltou a abrir as mãos e então a levou até o cabelo e puxou na tentativa inútil de se livrar da dor, píxeis passavam na sua mente, ela pode sentir a mão de Matteo sobre seu corpo tentando a segurar, tentando tirar aqueles robôs.
Contanto, era tarde demais, ela parou de se debater, sua respiração ficou lenta e seus sinais vitais estavam caindo, seu corpo estava coberto de sangue e pequenos furos sobrepunham sua pele.
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