I
Durante três meses Valentino e Matteo treinaram no laboratório e se envolveram com a família, todos pareciam emocionados e pareciam fazer de tudo para agradar os dois. Matteo percebeu que os pais sempre davam mais atenção para Valentino, talvez por julgar que ele sentiria-se rejeitado, contudo ele era muito querido. E a única pessoa que estava atrás de Matteo o tempo todo era o irmão mais novo, de olhos arregalados e claros, cabelos encaracolados e escuros, pele levemente bronzeada e sorriso baboso, a criança tinha apenas quatro anos e não largava Matteo.
Finalmente era o dia que eles voltariam, para a sociedade, depois de meses em treinamento, meses testando todas as armas que foram equipados, apresentando-se para diretores. Matteo parecia ser o único a se indagar o porquê de tantas armas? O porquê de tudo aquilo? Quem ele deveria ferir? Enquanto estava sendo transportado para a casa que era da sua família. Ele pensava em como era? Como seria? Valentino estava desligado, preferia ficar apagado quando era transportado para qualquer lugar, Matteo no que lhe concerne era atento a todos os detalhes por isso questionava-se tanto. Quando o carro parou, Matteo pode sentir que a única coisa de carne em toda a extensão do seu corpo parou, ele realmente sentia doer, sentia acelerar, sentia um nó se formar em sua garganta. A porta do carro logo se abriu e não demoraram para ligar Valentino. Desceram, Grego, logo saiu do carro da frente.
__ Meus jovens, espero que aproveitem a estadia; queremos observar como vocês agem em sociedade.
Os dois ficaram em silêncio, não havia o que responder, afinal aquela era a casa deles, não era uma simples estadia, era a morada deles, se entreolharam, sabiam que deveriam voltar ao laboratório para conferir se tudo estava bem, trocar peças que eram possíveis de enferrujar, conhecer investidores que; "que salvariam outras vidas". Matteo foi o primeiro a andar em direção a casa, seus olhos avaliavam cada ângulo, tentando lembrar-se de qualquer coisa, forçava se aquilo o que fez Dess-sua secretaria virtual-ligar.
__ Senhor? As memórias sobre a casa, podemos passar algumas fotos novamente __ Falou nos circuitos do homem.
__ Passe.
Instantaneamente algumas fotos de sua infância até seu crescimento foram passadas, na maioria das fotos havia uma menina, adolescente e garota, Matteo já descobriu que ela era sua amiga desde a infância, contudo ela não foi a nenhuma visita, uma parte dele, estava ansioso para revê-la, conhecê-la, afinal não se lembrava de nada e só tinha as informações que sua família havia passado. Matteo aproximou mais da porta e antes que pudesse abrir a maçaneta olhou para trás, Valentino parecia reviver várias coisas, como se ele; sim pudesse lembrar. Grego por sua vez não tinha um sorriso no rosto ao ver a reação de Valentino, como se lembrar de algo fosse algo perigoso. Então, Valentino se moveu em direção a porta, seu punho estava fechado e era como se carregasse o verdadeiro ódio dentro de si, mas aquilo não era possível, ele era uma máquina incapaz de sentir, ao estar bem próximo de Matteo Valentino pronunciou com um sorriso, que mais parecia uma máscara.
__ Vamos irmãozinho, nossa família nos espera __ Havia uma, sutil zombaria da parte de Valentino, um escárnio disfarçado de apreço.
Matteo apenas balançou a cabeça em concordância, abriu a porta e ao fazer isso deu um pulo para trás, de suas ligações metálicas uma arma aparece em sua mão e na mão de Valentino, então era uma festa surpresa, todos ficaram apreensivos ao ver aquilo, um silêncio gélido reinou na sala. Os dois se entreolharam e logo Grego entrou intervindo.
__ Me desculpe __ Exclamou colocando a mão sobre a arma deles indicando que deveriam guarda __ Eles são preciosos, por isso os armamos, pessoas ruins podem vir atrás deles se descobrirem, por isso precisamos deles armados __ Fez uma pausa estendendo os braços para a mãe dos meninos __ A senhora entende... É questão de segurança para eles. __ Mudou de assunto __ Aliás está belíssima.
O homem aproximou-se da mãe a abraçando, falou algo no ouvido dela, e a mulher apenas concordou com um sorriso. Os robôs abaixaram as armas que logo se uniram a pele deles desaparecendo. Sorriram sem jeito, avaliavam todos que estavam no local, Matteo ativou o scanner, logo Dess lhe entregaria informações sobre todos ali. Ele e Valentino andaram entre as pessoas, cumprimentava alguns enquanto suas assistentes lhe passavam os dados sobre as pessoas presentes. Então o pai se aproximou, por algum motivo Matteo quase ergueu a arma novamente, talvez fosse por conta dos treinamentos intensivos, os dias de estudos sobre ataques e defesas, obedeceu ao chamado de Dess, que ele não deveria se mover.
__ Pai. __ Falou com um sorriso forçado disfarçando o que sentia.
__ Dessiré está no seu quarto __ Apontou para as escadas __ Ela veio nos ver todos os dias, desde do acidente, chorou muito, não a levamos porque sei que ela não ia concordar com o que fizeram a você __ O homem engoliu em seco __ Ela pensa que você se recuperou como uma pessoa normal, e que você perdeu metade das memórias __ Deu dois tapas sobre o ombro de Matteo e segurou uma careta, afinal seu filho não passava de metal, doeu-lhe a mão.
Matteo então subiu as escadas, deixando seu pai sozinho sem falar nada, eram tantos corredores, sentiu se perdido. Então notou uma seta verde de papel na parede, passou a mão descolando aquilo, soltou uma risada, como se conhecesse tal ato. Viu outras setas e as seguiu, até chegar na porta que julgava ser de seu quarto, pensou-se deveria bater na porta ou abri-la completamente, e optou pela segunda opção. Seus olhos vislumbraram fotos por todo o quarto, exatas 365 fotos, sua secretária fez questão de mostrar no visor, 365 fotos que ele ainda não viu e a morena estava em todas.
__ Uau. __ Foi tudo o que conseguiu exclamar, então seus olhos pararam nela, o cabelo escuro ondulado, a pele bronzeada, o sorriso estonteante, os olhos brilhantes. Mais uma vez estava perdido em sua mente; então uma memória o abala: a chuva caia fortemente sobre a pele dos dois, ele abraçou a mulher, estava frio, ele podia sentir aquilo mesmo não estando naquele dia, seus braços foram em volta do corpo dela; enquanto ele falava, enquanto ele prometia que a amaria para sempre. Voltando a realidade, o sistema dele estava parando, ele não se mexia, tudo a sua volta estava vermelho enquanto Dess falava em sua mente.
__ Falha no sistema... __ Repetidamente.
Em sua mente se formava memórias com Desirée, a mulher a sua frente lhe invadia, era tantas coisas para processar. O sorriso de Desirée logo se desfazia em preocupação, afinal; Matteo estava inerte, não se movia, ela aproximou colocando as mãos sobre os braços dele.
__ Matteo __ Tentou chamar a atenção dele __ Matteo, você está bem? __ Questionou por fim.
Ao escutar a voz da mulher, foi como colocar Matteo de volta no controle, o controle que ele não tinha desde que acordou, em seu visor apareceu que o sistema estava se iniciando e em questão de dez segundos ele estava de volta; falando novamente.
__ Eu só, fiquei emocionado, Desirée. __ Finalmente se movimentou, ele colocou às duas mãos no bolso, todas as suas memórias sobre Desirée estavam bem ali, Dess gritava na mente de Matteo que aquilo era uma falha no sistema, mas Matteo agarrava-se àquelas memórias.
Conheceu Desirée quando tinha exatos cinco anos, e desde então ele era a família e amigo dela. Tirou uma mão do bolso e colocou sobre a camisa, apertando com força, o que era aquilo que estava sentindo? A cada pulsada de seu coração era acompanhado por uma fincada, solicitou uma limpeza mentalmente, talvez estivesse guardando arquivos pesados de mais. Passou a mão pela cabeça, seu globo ocular piscava, sua visão falhava, seu sistema estava prestes a desligar de forma brutal, ele sentia a mão da mulher sobre seu braço o guiando até a cama.
__ Tem certeza de que está bem? __ A morena apertou a mão do amigo, parecia diferente, era como se Matteo não fosse o Matteo.
Ele olhou para ela, tentava se concentrar na voz dela, que falha era aquela? O que estava acontecendo?
__ Sim, estou bem __ Falou pausadamente tentando se concentrar naqueles olhos que lhe fazia sentir coisas que ele jamais poderia descrever, que parecia fazer todo o seu sistema rodar com perfeição. __ Eu, não estou acostumado com festa. __ Apontou para baixo referindo se a música que parecia subir as escadas e chegar até o quarto.
__ Quer que eu pegue algo para você?
Assim que ela fez essa pergunta Dess falou na cabeça dele:
__ Fale para ela chamar Jones, seu criador saberá o que fazer.
Ele ignorou completamente o que ela falou, e apenas sorriu para a mulher que tinha o olhar preocupado.
__ Eu senti sua falta __ Tentou mudar de assunto.
__ Como sentiu minha falta se nem mesmo pode se lembrar de mim? __ Perguntou incrédula.
__ Eu sabia que faltava algo __ Rebateu sem pensar, como se as respostas fossem automáticas.
O que estava fazendo? Por que permanecia ali? Por que se agarrou tanto aquelas memórias? Porque estava tendo sensações? Dores e coisas que jamais deveria sentir? Por que estava sentindo? Ele não passava de uma máquina? Fios e ligações metálicas? Ele puxou o ar de forma despretensiosa e então voltou a falar:
__ Por que está aqui em cima e não lá em baixo aproveitando a festa? __ Fez uma pausa para reformular sua pergunta. __ Poderia ter aproveitado e depois ter feito algo.
__ Você era a prioridade __ Olhou as fotos na parede, seu olhar estava um tanto quanto desesperançoso.
__ Devo me sentir especial? __ A observou sorrateiramente.
Ela ficou em silêncio, como se o que fosse falar fosse algo perigoso.
__ Apesar do que passamos na última semana, você ainda é minha melhor pessoa.
Deixou se levar pelas memórias e a cada vez que fazia isso, mais danificado ficava, o que havia feito? O que era tão terrível para fazer a mulher ficar séria do nada? Ele sentia que ela não confiava nele, seja lá qual for o motivo ele ia descobrir, Matteo deixava apenas o instinto fala por si, a convicção do que acreditava que sabia.
__ Pode confiar em mim dessa vez?
__ Eu não confio em ninguém. __ Ela Exclamou monótona. __ As pessoas estão sempre tentando te derrubar, estão sempre tentando te impedir. __ Soltou um bufar com seu curto desabafo. __ As pessoas são ruins.
Matteo ficou em silêncio observando a mulher, tentava entender as dores e mágoas dela, contudo ele era apenas um Android tentando descobrir a falha em seu sistema. Por impulso ele falou:
__ Eu não sou o monstro que você pensa, eu também sinto.
Desirée olhou para o homem incrédula e pronunciou baixo:
__ Você é muito pior do que eu penso __ Olhou para o homem, se olhasse bem para ela poderia visualizar uma falsa esperança, uma esperança que foi morta com o tempo __ Você é tão decepcionante quanto qualquer outro.
Ela visualizou ele fechar os olhos, como se cada parte de seu corpo estivesse doendo com as palavras dela, logo se levantou da cama e continuou a falar.
__ Te encontro amanhã... ou depois. __ Deu de ombros __ Logo nós veremos na universidade. __ Pronunciou evasiva.
__ Você vai para onde?__ Observou as mãos trêmulas dela, sabia que ela estava fugindo.
A mulher deu de ombros com o questionamento do homem, apenas queria fazer a surpresa e se preparar para tudo o que estava acontecendo.
__ Para casa.
Sem demais palavras ela apenas saiu, saiu da presença do homem o deixando com milhares de perguntas, o que estava acontecendo? Por que ela estava decepcionada com ele? Ele nem era ele, por que ele falou de tal forma com ela? Por que ele tinha aquela sensação de que deveria ser feito? O homem então se levantou para fechar a porta que ela deixou aberta, fechou os olhos e com a audição perfeita pode escutar tudo o que estava acontecendo na festa, Desirée havia se despedido dos pais dele e saído, Valentino estava tentando socializar.
__ Dess, mande uma mensagem para meu criador; eu vou carregar a bateria, ficarei no quarto, peça que ele avise minha família __ falou ativando a secretária eletrônica.
__ Sim senhor.
Assim, o Android deitou na cama e fechou os olhos, ele era movido por geradores automáticos da nova geração, bastava fechar os olhos e todo o seu sistema desligava e se carregava, exatamente como o sono humano, já Valentino era movido com um gerador antigo, precisava ser desligado e ligado a dedo. Amanhã seria um novo dia, um dia que ele teria para descobrir quem era Matteo, quem era ele e o que havia feito.
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