Em seu peito sentiu um aperto e sua respiração perdeu o curso. Seus olhos quase esbugalhados grudaram nos belos e brilhantes olhos dela.

- A-Ah... - O loiro murmurou e imediatamente largou a caixa que tinha em mãos.

- Puxa... - Ela disse ao ver a caixa cair no chão. - Eu... - Pensou um pouco.

- Desculpe... - Procurou onde enfiar o rosto avermelhado, pegando o objeto novamente e o colocando num canto.

- Tudo bem... - Passou a mão nos cabelos negros e sedosos, apertando os lábios.

Jackson estava em loop com aquela cena, tentando não parecer tão idiota. Balançou a cabeça rapidamente e engoliu em seco.

- Em que eu posso t-te ajudar? - Limpou as mãos na calça.

Logo em mente lhe sobreveio as únicas lembranças que os dois tinha ali na loja de conveniência. O dia em que se conheceram.

- Eu queria saber se você tem algum cereal sem açúcar ou do tipo? - Os seus braços para trás e sorriso simpático faziam Jackson ter borboletas em seu estômago.

- Cereal? S-Sim... - Balançou a cabeça afirmando.

- Bom... poderia me mostrar onde fica? - Ela questiona, dando um pequeno sorriso com o canto da boca.

- Claro, claro que sim! Eh... me siga, por favor. - Murmurou, abaixou o olhar e começou a andar.

Uns metros de distância dali, Yugyeom e Bambam se mantinham escondidos no fundo da loja e observavam tudo.

- Ele gosta dela? - O moreno assentiu. - Ela sabe? - O mais velho negou. - Por que ele não se declara? - Indagou.

- É complicado de explicar... - Apertou os lábios e soltou um riso fraco.

- Ah, entendo... - Olhou para os dois lados, já que percebeu que Bambam ainda não havia se afastado, analisando o amigo e a garota do lado de fora. - Bambam, eu... - Pronunciou e ele pareceu entender.

- Desculpa, eu esqueci... - Riu timidamente e se afastou do mais novo.

- Tudo bem... - Coçou a nuca e olhou para os dois lados.

Em cansados passos, Jackson levava Madelyn até o corredor de cereais. A morena seguia ele, um tanto pensativa.

- Você pode encontrar alguns cereais aqui... - Estendeu a mão, apontando para as prateleiras e Madie seguiu com os olhos. Seu tom de voz era um tanto desanimado e neutro.

- Ah, obrigada... - Colocou uma mecha de seu escuro cabelo para trás da orelha e notou como Jackson suspirou cansado, voltando para o início do corredor. - Eh, espera... - Sua consciência a fez falar.

Na mente dela, ele parecia estar tão mal. Como se algo estivesse o incomodando.

- Hum? O-O que foi? - Até hesitou em pensar algo, mas não tinha jeito. Olhá-la por completo e ver a maneira que ela controlava o seu coração era único.

- Tá... tudo bem? - Indagou, e tudo o que o loiro pode ouvir naquele momento foi a voz dela dizendo aquilo. Era como se soubesse. Como se pudesse sentir. Como se... ela o conhecesse.

- O quê? - Talvez fosse um tanto complicado de crer que ela realmente havia perguntado, pois Jackson não aparentava estar tão mal. Mas será?

Novamente, não muito longe dali, se mantinham os jovens que discutiam sobre o loiro e a morena.

- E ela não se lembra de nada depois. - O rapaz de mechas vermelhas explicava e Yugyeom franzia as sobrancelhas, desacreditado.

- Nada mesmo? - O mais velho murmurou algo como "Sim, sim". - Caramba, que complicado... - Inclinou a cabeça enquanto dizia.

- Eu sei, mas o Jack não desiste fácil. E ela parece ter mexido com o coração dele mesmo. - Riu levemente, se lembrando de quando o amigo contou pela primeira sobre como eles se conheceram.

Estava tão animado e apaixonado. Parecia mais um garoto de treze anos depois de seu primeiro beijo. Bambam ficava feliz de ver o seu amigo assim, já que ele nunca tinha namorado com ninguém.

- Bom, nunca se sabe... As coisas mudam de repente e a última que podemos controlar é o coração. - Se recostou na parede e encarou o moreno.

- Ah não... - Olhou para os corredores e viu quem passava por ali.

- O que houve? Ela foi embora? - O jovem de cabelos mais claros ficou curioso e se aproximou.

- A chefia entrou na loja, provavelmente está procurando o Jackson! - Exclamou, gesticulando energicamente.

- Relaxa, ele não vai atrapalhar. - Segurou o ombro do mais baixo.

- O chefe tá indo na direção do corredor em que eles estão. Ah não, ele não vai estragar nada! - Imediatamente abriu a porta e foi direcionado os passos até o homem que continuava comendo os amendoins salgados versão light.

- Bambam, espera! - Yugyeom tentou chamá-lo, mas foi inútil.

A expressão de impaciência do moreno mudou automaticamente quando cruzou o olhar com o seu chefe.

- Eaí, chefia... - Colocou os braços para trás.

A voz mais jovial e como que brincalhona murmurou, e o mais velho parou de se mover.

- Oh, olá Bambam. Eu estou procurando o Jackson, você viu? - Exclamou, colocando mais um amendoim entre os lábios e o puxando para comer.

- Hum... Uhum. - Foi simples.

- E onde ele está? - O mais velho continuou, olhando aos arredores.

- Ah... ele tá por aí, sabe? - Riu de maneira forçada enquanto mexia nos cabelos e batia o seu pé direito no chão repetidas vezes.

- Sei, sei sim... - Deu um riso sarcástico. - Cadê ele? - Sua expressão mudou para algo mais sério.

- Bem, ele... - Buscou por uma desculpa rápida. - Ele foi ao banheiro! - "Que droga!" ele pensou, pois não era uma desculpa boa o suficiente.

- Sério? Então ele já vai voltar, preciso lhe falar sobre um assunto. - Pegou outro amendoim dentro da embalagem e Bambam seguiu com os olhos a mão dele até colocar o grão dentro da boca.

- E comigo? Não tem nada para me dizer? - Uma expressão de confusão surgiu no rosto do homem. - Uh... O senhor emagreceu sabia? - Um riso sem graça foi pronunciado.

- Hum... Obrigado. - Levantou uma das sobrancelhas. - Por acaso está com algum problema? Já terminou de organizar as caixas? - Perguntou de maneira mais rude ao jovem.

- A-Ah, as caixas? Eu... - Não tinha muito o que dizer mais.

- Caixas organizadas, já podemos ir embora... - O mais novo de cabelos claros apareceu, com um fino e receoso sorriso no rosto.

- Arrumaram tudo? - Indagou um tanto admirado.

- Sim, o senhor já pode ir! - Bambam entrou na ideia do amigo. - Deixe as chaves comigo, eu fecho o lugar! - Tomou o molho de chaves que estava preso na calça do mais velho e começou a o empurrar para a saída.

- Espera, e... - Tentou justificar.

- Pode ir, chefia, eu e Jackson resolvemos o resto. Boa noite! - Exclamou quando o rechonchudo senhor de óculos passou pela porta.

- Ufa... - Yugyeom murmurou, limpando a testa com as costas da mão.

- Você realmente arrumou tudo o que faltava? - O moreno de mechas vermelhas questionou curioso e guardando as chaves no bolso. O mais novo apenas assentiu. - Meu Deus, como? - Esbugalhou um pouco os olhos.

- Não tinha muito, faltava apenas uma caixa no caminhão e o seu amigo já tinha a colocado para dentro. - Mexeu em seu próprio cabelo, olhando para um ponto aleatório.

- Ah, entendo... Obrigado, talvez eu não conseguisse despistar ele. - Completou, colocando a mão em um dos ombros de Yugyeom.

- Sem problemas... - Riu e deu um pequeno sorriso.

- Temos que ir, antes que Jackson e ela apareçam. Pode deixar que ele fecha tudo... - Chamou o mais novo e logo saíram dali.

(☂︎)

Era incrível a maneira como ela era perfeita. Como ela podia enxergar. Como uma conexão. Ela sabia quando havia tristeza por trás de um sorriso.

E foi isso o que aconteceu com Jackson.

- Desculpe? - Ele questionou incrédulo, talvez fosse bom demais para acreditar.

Aliás, quem acreditaria que a pessoa por quem você tem sentimentos mostraria uma possível preocupação? Existem os esperançosos, mas é complicado.

- Eu perguntei... - Mordeu o lábio inferior, também estava hesitante. - Se está tudo bem? - Seus olhos brilharam naquele momento e era como se a sua voz se tornasse a mais doce de todas as vozes.

Como?

- Ah... É claro que eu estou bem... - Deu o pior de seus sorrisos forçados e parecia tentar convencer a si mesmo. Mas Madelyn estava acostumada a saber quando alguém finge que está tudo bem.

- Tem certeza? - Inclinou o rosto, analisando Jackson por completo. Estava óbvio que havia mentido. O loiro franziu as sobrancelhas. - Eu sei que não nos conhecemos, mas... Se precisar desabafar, eu tenho tempo de sobra. - Olhou as horas no celular e deu de ombros.

Sim, na visão dela eles não se conheciam. Talvez se Jack não soubesse quem ela era, não aceitasse essa ideia e como sempre guardaria todo esse sentimento ruim.

Mas desabafar com ela não foi uma ideia tão ruim assim.

Quando foi cair na real, estava sentado do lado de fora da loja, no chão. Havia fechado tudo e ligado o alarme, pois Bambam tinha ido embora. E lá estava ela com ele, sentada ao seu lado e olhando para o céu.

Os dois estavam ainda calados, Jackson aceitou bater um papo e não queria perder a companhia dela. Madie esperava o loiro se sentir bem o suficiente para falar sobre algo. Mal imaginava que o coração dele pulsava como louco, apesar de estar um tanto para baixo.

- Então? - A morena decidiu se pronunciar. Ele virou os olhos para ela e... Era tão lindo o jeito que o rosto da garota ficava sendo iluminado pela luz do poste e com as estrelas refletidas em seus olhos. - Sobre o que quer falar? - Deu um gole em seu refrigerante em lata.

Madelyn havia comprado dois refrigerantes, um para ela e o outro para Jackson. Parecia que estava retribuindo o que o loiro fez na noite em que se conheceram.

Não ventava muito, mas os fios castanhos do cabelo dela se balançavam e ele apoiava o rosto em sua mão. Quando notou que ele ainda se mantinha em silêncio, imitou a maneira que ele estava, talvez para discontrair.

- O que está fazendo? - Ele soltou um pequeno riso. Ela riu também, com aquele sorriso maravilhoso.

- Não sei, você não diz nada. Acho que estou tentando pensar como você e saber o que quer desabafar para uma estranha como eu... - Cruzou os braços e apoiou o rosto nos joelhos, suspirando. Jack sorriu enquanto a observava, passou a mão em seus cabelos loiros e também deu um gole no refrigerante.

- Eu acho que... - Assim que começou a falar, a garota aumentou a sua atenção. - Nem sempre eu vou estar bem. Nem sempre as coisas vão correr da melhor maneira mas... - Ela franziu as sobrancelhas, enquanto ele explicava e olhava para o céu iluminado. - Por que eu sempre finjo que está tudo bem? - Finalmente voltou para os olhos dela.

- Talvez, você ainda seja um dos esperançosos que vivem nesse mundo. - Titubeou, um tom de voz confortante surgiu.

- Só que eu não quero ser assim, não mais... Eu acho que preciso chorar as vezes... - Ela rapidamente o interrompeu.

- Madelyn... Me chame assim. - Como se ele não soubesse.

- Bom, Madelyn... - Seu coração ainda tropeçava ao dizer isso. - Acho que todos precisamos chorar, se alegrar e amar. E o estranho é que eu tenho motivos para todas essas coisas e mesmo assim me sinto... - Buscou a palavra, mas ela não parecia vir.

- Incompleto? - Ela clareou os seus pensamentos.

Sim, por Deus, sim! Eles tinham que ter uma conexão.

- Exatamente... - Suspirou, mais aliviado, um pequeno sorriso apareceu em seu rosto.

- Olha... - Ela pensou.

- Me chame de... Jackson. - Era como se voltasse no tempo.

- Jackson... - Escutar ela dizendo isso, chamando o seu nome, era único. - Não sou muito boa em conselhos e nem quero te dizer para fazer algo. Mas... Se eu estivesse em seu lugar, pensaria nos bons motivos que tenho e encontrar o que me falta. - Completou. - Mas isso seria algo que Madelyn faria, entende? - Indagou.

- Sim, eu entendo... - Respondeu, com as mãos juntas.

- Então o que acha de começar a fazer isso agora? Vamos, eu te ajudo. - Chegou mais perto, se sentando mais próximo dele e o mesmo percebeu. - O que te faz... Chorar? - Estendeu a mão e quatro dedos, como se fosse contar.

- Chorar? - Olhou para a rua por um instante e voltou para ela. - Eu não sou muito de chorar, mas acho que... Pessoas. Pessoas já me fizeram chorar. - Balançou a cabeça positivamente e Madelyn assentiu.

- Eu também já chorei por culpa das pessoas e as vezes minha. Mas então, achamos um dos motivos. Agora, o que te faz... Se alegrar? - Havia abaixado um dos dedos.

- Hum... - Parecia começar a pensar. Jackson se sentia feliz por muitos motivos simples. Desde um dia ensolarado até uma foto de cachorrinho que encontrava no Instagram.

- Pense o tempo que quiser... - Ela moveu o rosto para o outro lado e Jack riu.

- Acho que muitas coisas me fazem sentir alegria. Pessoas, o clima, o meu humor naquele dia e... Comida? - Um tanto confuso com a última coisa que disse, ele levantou as sobrancelhas.

- Ah, mas comer é muito bom. Eu gosto muito quando o meu irmão cozinha algo, tipo... - Ela riu de si mesma. - Bom, qualquer coisa. E também, doces como um sorverte. Quem não se sente bem depois de um sorvete? - Estava sendo totalmente sincera e Jackson queria não rir de maneira tão boba como estava fazendo.

- Madelyn, você parece ser... - Não completou o que iria dizer, pois ela o interrompeu.

- Eu sei que sou meio... Louca? - Passou a mão nos cabelos. - Talvez não tanto, mas quem não é, mesmo que pouco, louco? - Formou um beiço nos lábios e foi recebida com o mesmo sorriso bobo do loiro.

- Dizem que os loucos são os mais conscientes e belos... Os mais interessantes. - A analisou dos pés a cabeça. Ela notou o olhar dele.

- A-Ah, e você acha isso? - Pôs uma mecha de cabelos atrás da orelha, olhando para o outro lado da rua. Estava fugindo do olhar dele.

- Me baseando em você, acho que sim. O que o cara que você conheceu hoje a noite e que trabalha na loja de conveniência acha importa para você? - Eles finalmente voltaram a se encarar. Madelyn engoliu em seco com os olhos tentadores de Jackson.

- B-Bom, voltando... O que te faz... Eh... A-Amar? - Apertou os lábios, sua respiração subitamente se acelerou e não sabia muito bem o que estava acontecendo com o seu coração.

- Eu acho que... - Se aproximou e seus rostos já estavam perto o suficiente para que sentissem a respiração um do outro. - Recentemente... - Era bom demais estar no olhar dele. Se imaginar mais próximos um do outro, talvez num abraço.

Isso com certeza já havia se passado na mente de Jackson, pois tinha aceitado estar apaixonado pela garota desmemoriada.

O que estes pensamentos fazem na cabeça dela?

- Talvez não seja uma pessoa em especial, talvez sejam momentos, sensações e ideias que se passam em minha mente. - Dizia com a sua voz rouca e mais baixa que era levada pelo vento. - As vezes sinto vontade de apenas... - Sua atenção foi para a boca dela, a qual a mesma umedeceu. Até que não conseguiu completar o que iria dizer.

Aquela mão quente em seu pescoço, o desejo repentino, a delicadeza, o sabor. Tudo isso impediu Jackson de falar, pois Madelyn havia segurado em seu maxilar e pescoço, e o puxado para um beijo.

Quase que um susto, mas valeu a pena. Bastante inesperado, mas ao mesmo tempo tão almejado. Talvez o loiro achasse que isso era algo impossível de acontecer, apesar de estar apaixonado. Mas foi a garota que tomou uma atitude e o puxou.

Os lábios macios de Jackson se encaixavam perfeitamente nos delicados lábios de Madelyn e era tão mágica a direção disso tudo. E como as sensações são capazes de nos controlar facilmente, Madie só foi perceber o que estava acontecendo quando por seu corpo passou como que um choque. Jackson havia colocado uma de suas mãos na cintura dela.

Então, lentamente saindo da hipnose em que o beijo do loiro a prendia, a morena descolou a sua boca da dele e puderam se encontrar pelo olhar.

O que exatamente havia acabado de acontecer?

- Me desculpe, eu... - Se levantou um pouco desconcertada e se virou de costas. Seu rosto estava totalmente vermelho.

Em sua mente tinha beijado um rapaz que acabou de conhecer, mas que fez o seu corpo pedir mais. Como se o conhecesse...

- Tudo bem... - Também ficou de pé, umedecendo a boca pois ainda sentia o sabor do gloss de melancia que a garota usava.

- Olha, eu não tenho o costume de beijar estranhos, tá? Não sei o que houve comigo e que eu senti vontade de te... - Não queria usar a palavra. - E eu fiz... - Cruzou os braços ese repreendia mentalmente diversas vezes.

- Fica tranquila, eu... - Coçou a nuca. - Não tem problema nenhum, tá? As vezes a mente faz isso e acaba nos convencendo a... Beijar pessoas. - Sim, essa frase não fez muito sentido. Nada fazia muito sentido naquele momento.

- Não se importa mesmo? - Voltaram a se encarar. Jackson engoliu em seco ao ver os lábios avermelhados da garota e ela sentiu o coração tropeçar ao ver como o loiro a olhava.

Claro que Jackson não se importava, isso era o que ele mais queria. Só era complicado de se acreditar, assim como tudo o que tinha acontecido antes.

- Não, pode ficar tranquila... - Sorriu sem mostrar os dentes e ela retribuiu.

- Então, só mais um minuto... - Segurou pela gola da blusa dele e juntou os seus lábios.

Indubitavelmente, ele estava sonhando.