Capítulo 2┃Ventos de Mudança
A luz do sol mais uma vez desperta o humilde bairro de Greyard na cidade de Baxford, os cheiros matinais se misturavam com o aroma típico da cidade, para além da fumaça do carvão, escura como o céu nublado, passeando de um lado a outro da cidade. Aquele dia, no entanto, era incomum. Estava bem mais claro que o normal, e apesar de haver a predominância cinzenta no céu, os raios solares estavam bem mais fortes que de costume.
De dentro da casa dos Sawyer, uma janela estava aberta, e nela a pequena e doce Dorothie Sawyer aprecia o céu. Pela primeira vez ela havia acordado primeiro que o seu irmão, e não sentia cansaço algum. Pelo contrário, se sentia tão cheia de energia como se tivesse dormido um dia inteiro. Não muito longe de sua casa, ela podia enxergar algumas árvores, elas estavam dando suas primeiras flores, talvez no ano, ou talvez no mês, a menina ainda não entendia muito bem sobre a passagem das estações, e como estas afetavam a flora.
— Mas o quê é que... Dory? Você já acordou? — Disse Richard, quando sentiu os raios de sol perturbando o seu sono, e por consequência o despertando.
Livrando-se de seu cobertor, logo se sentou na cama, e naquele momento um pensamento lhe ocorreu.
— Espera um pouco, que horas são? — Seu tom aos poucos passava de sonolento para um tremendo desespero.
— Não sei, mas a mamãe já acordou. É sábado. — Disse Dory, com sua voz meiga e suave.
— Ah, bem... Isso muda um pouco as coisas... — Richie se acalmou. Aos sábados, era comum que o seu transporte se atrasasse, então o jovem pôde aproveitar um pouco mais da manhã, comendo e se divertindo com sua irmã, até que fosse o horário de ir.
Parecia ser mais um sábado como qualquer outro, até que Richard chegou na estação para aguardar a chegada da locomotiva. Ele não avistou nenhum de seus colegas que via costumeiramente, apenas o pessimista Daniel.
— Oi, Richard. Hoje parece estar mais quente, não acha? — Comentou o garoto, expressando uma face neutra. Talvez não tenha dormido bem, pois raramente expressava qualquer coisa que não fossem comentários dizendo o quão comum são todos os dias em que precisa trabalhar.
— É, parece que o Sol saiu das nuvens ou algo assim. Será que os rapazes não virão trabalhar hoje? — Ele não compreendia, seus colegas nunca deixaram de trabalhar ao seu lado, mesmo aos sábados e nos feriados, sempre estavam juntos, mas hoje apenas Daniel, e alguns outros, com quem não tinha tanta intimidade, estavam lá.
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De qualquer forma, lá estava a grande locomotiva, soltando seus vapores ao alto e enchendo a estação com a fumaça gerada pelos exaustores. A viagem foi cativante, Daniel conversou com Richard pelo caminho inteiro, não apresentando estar mais ou menos animado para o trabalho, apenas apático - e de certa forma buscava por aquela interação com o garoto. Quando enfim chegou na grande Estação Industrial, o movimento ainda era o mesmo, homens e mulheres de todo o tipo indo de um lado ao outro, cegos para o ambiente à sua volta, e com a pressa para adquirir um mundo inteiro em seus bolsos. Depois de caminhar pelas vias exageradamente movimentadas com as grandes carruagens de ferro e fumaça, Richard chegou junto de todos os outros trabalhadores e seguiu para um outro setor.
Neste, cortava tiras de tecido com uma serra pontiaguda, entre espaços de onze segundos que - com a velocidade da esteira - criava cerca de um metro de tecido bruto a cada onze segundos. Permaneceu nessa mesma atividade por quase uma hora, até que alguém lhe chamou a atenção. Era um homem alto, de cabelo raspado e um ótimo porte físico. Diga-se de passagem, era como se fosse um gorila com a cabeça de homem, e tinha um rosto carrancudo. Estava arqueado para frente em alguns centímetros, talvez resultado de alguma briga anterior - e não seria surpresa se fosse, dado seu corpo avantajado. Vestia um casaco de lã cinza com um colete preto sem gravata. Sawyer se lembra de já tê-lo visto, estava junto do grupo que saiu mais cedo no outro dia. Ele chamou pelo rapaz, que o seguiu, apesar de intimidado pelo seu tamanho. Enquanto subiam as escadas, Richard só podia pensar que, se o mesmo decidisse que iria descontar seu estresse do trabalho no jovem, não iria sobrar nada para mandar de volta à sua mãe. Então a cada passo que dava naquela escadaria, encarando os degraus de cabeça baixa, ele ficaria cada vez mais decidido que, mesmo se aquele homem enorme quisesse iniciar uma briga ali, ele iria dar tudo de si para ao menos sobreviver.
O homem enorme finalmente parou, e assim parou também Richard, após subir as escadas e passar por um longo corredor. Eles haviam parado em frente a uma porta, que parecia ter algo escrito na frente, mas Richard não conseguia de maneira alguma enxergar qualquer coisa que fosse além das grandes costas daquele gigante, que com dificultosa gentileza bateu na porta, de forma a avisar a sua chegada para quem quer que estivesse do outro lado da mesma.
Abrindo-a, ele se encaminhou para o lado, deixando o caminho livre para o jovem Sawyer seguir em frente, e assim ele se deparou com um belo escritório, de muitas prateleiras, livros, carpetes no chão, finas tapeçarias na parede e um outro homem, que estava assentado em uma mesa de madeira de pinho polido, com adereços diversos sobre ela. Com alguns documentos em mãos, suspirou enquanto os folheava. Tinha um ar pesaroso.
— Você é um garoto ousado, Richard. Tenho que admitir. — Disse o homem sentado, quebrando o silencioso clima.
— Senhor... James? —Perguntou Sawyer.
— George, na verdade. Meu irmão viajou para Brightminster. — James e George Weissman, os irmãos empreendedores da costura, que juntos fundaram aquela grande fábrica de tecidos e processamento de couro. Eram dois élficos gêmeos, e era comum que as pessoas os confundissem. Os dois tinham o mesmo cabelo escuro e liso, a mesma pele alva como a neve, e é claro, as aurículas de ponta tradicionais em sua espécie. O que pouco diferenciava um do outro era o gosto pelas vestimentas, com George preferindo usar roupas de tom escuro, enquanto James preferia cores levemente mais vivas. E o mesmo assim estava, com um belo manto negro que repousava sobre a sua cadeira, um casaco frock coat de veludo carmim em tom escuro e uma gravata borboleta preta, formando um conjunto sobre o colete cinza escuro e a camisa branca.
George encarava Richard nos olhos, sentindo um profundo desdém pelo rapaz.
— Eu vou lhe perguntar uma única vez, e você vai me responder com sinceridade. Isto é, se ainda lhe restam colhões para o fazer. — Com o dito de seu chefe, Sawyer nem se atreveu a questionar, apenas engoliu seco, com medo, espantado por estar numa troca de olhares com aquele que concedeu a sua vaga.
— Me diga, o quê o levou a fazer isto? — perguntou ele, dificilmente mantendo o tom de voz. — Eu confiei em você, soube de sua situação e permiti que deixasse a fábrica antes de fechar, para os seus estudos. Ó céus, eu via potencial em você, rapaz.
— Senhor? Desculpe-me, mas... Eu não me lembro de ter feito algo fora da rotina. — Respondeu Sawyer.
— Então você vai mesmo tentar se fazer de inocente? Depois de ter sabotado as máquinas do setor de tecelagem? Depois de ter arruinado a carruagem do nosso maior fornecedor? Pelos céus, o senhor Hayfield... Tem alguma noção de quanto isso irá me custar? — O élfico de cabelos negros estava irado, quem sabe até mesmo no auge de sua raiva, pois um de seus funcionários havia lhe revelado que o grande gasto que ele tinha com reparos, manutenções e reclamações de seu dito fornecedor, eram todas fruto do operário, Richard Sawyer, a quem havia confiado liberdade para entrar e sair. E este nada mais era do que um infiltrado da fábrica concorrente "Lysa Vêtements", fundada por um estrangeiro que veio de Blemout, na Blanviera.
— Senhor, eu nunca fiz isso! Sou honesto quando falo, nunca menti para o senhor e nem para ninguém nesta fábrica! —Confuso e desesperado, Richard queria de qualquer forma mostrar para Weissman que era um bom trabalhador como os demais.
— Nunca mentiu, ou nunca foi descoberto mentindo? — E para o infortúnio de Richard, suas palavras não eram o suficiente. — E digo mais, eu quero você longe da minha fábrica. Nunca mais ponha os pés aqui, se eu ver esse seu rosto imundo naqueles portões, irei chamar pelas autoridades, e sabes muito bem que irei, se assim for preciso!
O semblante do jovem descaiu, sentindo como se tudo ao seu redor se rasgasse. Atordoou-se por um momento, até voltar a si novamente. — Senhor, eu lhe imploro, não me tire daqui. Eu posso trabalhar dobrado, até mesmo durante os domingos, mas não me demita! Eu tenho uma irmã mais nova, e também...
— Pare de choramingar, moleque. Você não foi mandado aqui por aquele maldito Blanviero? Então volte para as saias de veludo dele! Já gastou demais do meu tempo, saia deste escritório e que o diabo te carregue.
Aquelas palavras tinham um gosto amargo como café expresso. Foram dirigidas tão severamente que o rapaz nem o sentiu, quando o enorme segurança pegou em seu braço esquerdo, e o levou até a portaria. Durante o caminho, ele dizia algo para o rapaz, que não entendeu uma única palavra até ver o enorme portão de aço da fábrica.
— Ei, garoto. Você estava me ouvindo? — Perguntou, e Richard apenas o respondeu afirmando com a cabeça silenciosamente.
— Pois bem, vá agora. Você ouviu o senhor Weissman, se ele o vir, sabe-se lá o quê ele vai fazer contigo. — E assim lançou o jovem para fora e, tendo trancado o portão, voltou para dentro. Sawyer sentia-se tão perdido com toda aquela situação que foi até a estação e pegou o primeiro trem de volta para casa, mas acabou sendo expulso e deixado na estação seguinte, em um bairro de classe baixa chamado Wynne. O motivo foi porque aquela locomotiva estava destinada à passageiros que pagam pela sua viagem, diferente do ferroviário expresso, que leva os operários das suas regiões residenciais até a zona industrial.
Será uma longa caminhada até sua casa. Richard não sabe o caminho exatamente, então seguiu a linha férrea de longe, por uma estrada de terra. Enquanto caminhava, pensava consigo mesmo sobre tudo aquilo. Ele nunca havia sido um mal funcionário, sempre cumpriu com os horários, sempre deu tudo de si para cortar e transportar o tecido pela fábrica, quem poderia ter causado tamanha sabotagem? Richard ainda se lembrava de ter visto aquele grupo saindo da fábrica a alguns dias atrás, um grupo tal que havia visto poucas vezes antes. Mas agora, por quê aquele homem enorme iria almejar a demissão de Richard? Talvez não gostasse de sua presença lá, mesmo sendo basicamente a mesma que todos os outros operários. Ou talvez não fosse ele quem quisesse isso, mas outro, e se fosse mesmo outro, quem seria? Quem sabe Daniel, ele pode ter perdido a paciência com as atitudes de Richard, mas nunca demonstrou ódio quanto a isso. Ou talvez algum daqueles homens do dia anterior, aqueles que deixaram a fábrica fora do expediente. É óbvio, só poderiam ser! De certo notaram que foram vistos, mas não queriam atenção alguma, e por isso tiraram o inocente Richard da jogada. Uma trama sórdida, maquinada por mentes cruéis.
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Algumas horas se passavam, e não havia mais nada. Apenas o trilho, o chão de terra e uma abundante vegetação rasteira, nem sinal de vida, seja humana ou animal. Poderia estar mais perto ou mais longe de casa, não havia nada que poderia lhe confirmar coisa alguma, senão o sol que em breve iria se pôr, indicando que o dia estava para findar, e tornaria impossível o retorno pra casa sem luz alguma. Em algum momento, surgiram árvores no caminho e altos arbustos, e entre eles, Richard avistou uma pequena cabana de madeira. Ele nunca havia visto nada do tipo por ali antes, apesar de que dificilmente conseguiria ver muito através das altas e apertadas frestas da locomotiva expressa.
Sem ter muito oque temer, Richard seguiu até a cabana. Se encontrasse alguém, ao menos poderia pedir por ajuda. A cabana era uma casa humilde, feita com toras brutas de carvalho, tinha janelas sujas de poeira, uma chaminé aparentemente acesa e uma varanda com cadeiras de balanço feitas com madeira e fibra. Acima da porta havia o crânio de um cervo, que parecia ter uma bela galhada. Ali naquela varanda, havia um homem sentado numa cadeira, cuidadosamente descascando uma maçã. Ele vestia uma roupa simples, com calças longas que passavam da sua cintura, uma camisa que uma vez já foi branca, mas agora está amarelada de manchas de suor no pescoço e axilas, além de um suspensório duplo que mantém suas calças no lugar e um par de botas enlameadas e velhas. Era difícil ver seu rosto, pois estava parcialmente coberto por um chapéu de palha, mas pela barba grisalha e desgrenhada, era possível dizer que ele já era avançado de idade.
— Boa tarde, meu senhor. Sabe me dizer onde estou? — Perguntou Richard.
— Ocê tá no meu quintar, uai. — Respondeu o idoso, com o típico sotaque caipira. Aquela não era a resposta que Richard buscava, então o mesmo tentou algo diferente.
— Aqui ainda é Baxford?
— É sim. Brookshire. — Respondeu.
Brookshire é uma vila com alguns agricultores e criadores de gado. Apesar da maioria usar os terrenos para abastecimento próprio, alguns poucos apostaram na exportação, e com isso conseguiram tirar algum dinheiro, apesar da alta taxação. Este não era o caso do velho senhor, sentado ali.
— O senhor sabe como posso chegar na região norte de Baxford?
— D'onde ocê tá vindo, rapaz? O idoso levantou seu rosto, revelando sua feição enrugada, com profundas olheiras. Seu olho direito estava esbranquiçado, possivelmente cego.
— Eu venho da Estação Industrial, e só quero voltar pra casa logo. Você consegue me ajudar ou não? — Respondeu com aspereza, já cansado da longa caminhada e impaciente com a falta de cooperação.
— Cárma rapaz, cárma. Eu só tava mei ressabiado com tu. Aqui, tome uma maçã. — Cortou a fruta ao meio e ofereceu uma das fatias a Sawyer, que aceitou relutantemente. Em duas mordidas ela já estava acabada. Tinha um gosto doce no começo, mas que logo azedava. De qualquer forma, era muito bom sentir o gosto de algo depois de tanto tempo sem nada no estômago.
O idoso o levou até o seu pequeno celeiro, onde deixava seus animais. No caminho ele se apresentou, seu nome era Wilson, mas todos o chamavam de Velho Will. Contou sobre como chegou ali, após se aposentar da carreira militar, e Richard retribuiu contando um pouco sobre sua história, a sua família, sua vizinhança e trabalho, mas não comentou a demissão. O idoso entrou no celeiro e trouxe pra fora uma jumentinha cinzenta, que tinha uma mancha branca no rosto e uma coleira com um sinete cinza-escuro. Ela tinha alguns panos em seu lombo, que pareciam servir como uma cela.
— A Betânia leva ocê lá, é só dizê pra ela onde que fica. Vai, pode montá. — Disse o Velho Will
— Hum... Certo. — Ele não criticou, mas também duvidava da eficácia. Montou sem dificuldades na equina, que estava bem tranquila.
— E óia, cuida bem se entrar nessa briga com os Gretésvio. Eles e os da laia deles num são brincadeira, não. — Disse se referindo à Grande Guerra que ocorria, um conflito que envolvia majoritariamente o Reino de Galdênia contra o Império da Gretésvia. Ele retirou seu chapéu e revelou uma enorme cicatriz de queimadura, que cobria toda a sua cabeça, e acabou com todo o couro cabeludo que um dia estivera ali. A pele estava visivelmente sensível ao toque, rosada e possivelmente maleável.
— É coisa dessas Carruage da Morte. Se vê uma, corre, garoto. — Aquele era um aviso direto sobre os lendários Kriegerfaust, o estado-da-arte de guerra Gretésvio. Inigualáveis e quase imbatíveis no ar.
O Velho atrelou uma lamparina de óleo ao animal, para iluminar o caminho, e então, da forma como lhe foi instruída, Richard soprou nos ouvidos de Betânia o lugar onde queria ir, a sua casa na região norte. E instintivamente ela seguiu, como se já soubesse o caminho que deveria tomar até lá. Will colocou de volta seu chapéu e acenou, despedindo-se de Richard.
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A viagem não foi tão longa quanto esperado, a estrada estava tranquila e nenhum salteador tentou roubar a ele ou a pequena Betânia. No caminho, pensava sobre as palavras do fazendeiro, a Carruagem da Morte e a alta probabilidade de acabar entrando no serviço militar - pois era lei que todo homem desempregado e acima dos quatorze anos se alistar. Era certo que, se não conseguisse um trabalho logo, em algum momento o exército iria o encontrar e o levar para alguma trincheira fria e úmida. Ele espantou tais pensamentos com a confiança de que conseguiria arranjar algum trabalho antes disso.
Enfim, sem demora logo chegou em seu bairro, com suas ruas de cascalho enlameado e pouca luminosidade - contando apenas com alguns postes alimentados a querosene para iluminar a trilha, e alguns já nem funcionavam corretamente. Todas as casas já estavam escuras, certamente ninguém mais estava acordado, a não ser pela sua casa, que ainda tinha uma luz acesa na sala. E sua mãe, de tão preocupada, fez vigília aguardando pela sua chegada. Ele desceu da jumentinha, que procurava qualquer relva no chão para pastar. Então, assim como Will havia lhe dito, ele tocou o sinete cinzento três vezes, o som era um tanto abafado, não ressoava e também não ecoava muito. Ao toque do instrumento, o animal levantou sua cabeça e seguiu de volta pelo mesmo caminho que veio, relinchando. Apesar de surpreso e muito curioso, Richard voltou-se para casa, abriu a porta e encontrou sua mãe dormindo na velha poltrona da sala, e sua irmã aconchegada em seus braços, ambas aguardando pelo seu retorno. Ele sabia que ambas dependiam dele, mas sentia que havia falhado nisso, após sua demissão.
Quando deu um passo a mais e fechou a porta, o assoalho de madeira rangiu e as duas despertaram.
— Richard Gale Sawyer, onde você estava todo esse tempo? Ficamos preocupadas, você nunca havia chegado tão tarde em casa! — disse Susan, irritada, repreendendo seu filho pelo atraso. Dorothy ainda estava sonolenta, e nem conseguia entender oque estaria acontecendo.
Richard quase instintivamente mentiu, dizendo que estava fazendo um extra para conseguir mais dinheiro, mas seu espírito correto não o deixou, então se obrigou a dizer a verdade.
— Eu... E-eu fui demitido, mãe. — Não conseguia nem olhar em seus olhos, mantendo-se cabisbaixo todo o tempo.
O semblante de Susan subitamente descai. Respirando fundo, levantou-se da poltona, ainda com Dory em seus braços, e foi até Richard para o confortar.
— Tudo bem, querido. Nós vamos achar um jeito de sair dessa, não se preocupe. — O desespero estava à sua porta, mas não se deixou dominar, e como mãe, assim ela se manteve firme.
Os três tiveram naquela noite uma pequena refeição, com porções reduzidas em muito, pois não sabiam quando teriam o que comer novamente. Dory não entendia nada do que acontecia, mas estava tão alegre com o retorno de Richard, que não saia de perto dele, contando tudo oque fez durante seu dia, brincando em poças de lama, jogando pedras em uma lagoa e fazendo bonecas com velhos sacos de batata. Rich não contou muito a ela sobre seu dia, nem mesmo mencionou sobre o Velho Will e sua Betânia, apenas perguntando sobre seus amigos, e em especial a sua melhor amiga Madeleine.
Quando se deitou em uma cama, ele viu o céu estrelado por um dos pequenos buracos no seu telhado.
— Quer saber... ? Não importa o que o destino ou as estrelas tenham reservado para mim. Enquanto tiver minha mãe e irmã, eu continuarei fazendo o melhor que eu puder! — disse ele, e tão breve pegou no sono - de certo pela fadiga muscular - e dormiu profundamente.
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