Atritos e Decisões...
Ao entardecer, depois dos eventos anteriores nada a ser comemorado, Clarissa despertou com o som ensurdecedor da sirene da instituição, ecoando nos ares da catedral como sons agoniantes do chocar de metais. Primeiramente, quando seu corpo ainda se acomodava do conforto de seu cobertor, Clary sentiu como se teu coração saltasse em dilaceradas desesperantes, da sensação de pavor que inundou seu batimento. Pensou no recém descoberto Herondale, que com o pensamento de o perder, lhe despertou a pior sensação impura de medo e desespero, e a condenou a uma profundidade de dor, profana. Na noite passada suas emoções fora um poço de decepção, agora aquilo era nítido. Em sã de si mesma, a ruiva nunca se permitiria ser tão imprudente à tudo o que deixou escapar de como, o mais genuinamente que seu coração permitia, se sentia.
O que lhe era como uma fisgada agonizante em seu peito, que não a permitia ter do coração liberto de tantas turbulências... Era lembrar do rapaz pertencente ao submundo, de como sua face desabada em um poço de tristeza, não surgia dúvidas do quanto lhe magoou a dor suculenta e cruel causada unicamente por seu grande platônico amor de longos anos, até onde podia se recordar.
Destroçar o coração do rapaz, que seu coração nunca poderia amar da maneira como ela sentia amar Jace, inundava a menina ruiva com tamanha aflição...
O tão avassalador problema, que ela não poderia controlar à se curvar diante à suas vontades, era o tanto que seu coração destinava de um amor submisso à Jace.
Afinal de milhões de caras no mundo, Jace era o único que se curvava ao que sempre desejou em um grande amor para lhe consumir.
Diversão de todo aquele amor do tamanho dos céus, que sentia. Aventura.
E até o perigo que sempre andava lado de teu coração, juntamente com a determinação de amar o proibido.
Não importava como. Se aquele amor lhe consumisse, Clary sempre declarou que era aquilo o que desejava desde sua adolescência. Queria um amor avassalador. Que mal desse de lhe caber dentro do peito. Um amor do tamanho dos céus, que lhe inundasse por todo o sentimento amoroso. Malditamente era Jace e somente Jace, que atendia a tudo o que ela sempre desejou. Seu coração era tão pertencente ao Lightwood, da maneira mais profana a se imaginar.
O amor pelo rapaz, a consumia. Lhe cegava. E ela não poderia negar mais do quanto aquilo era a mais sincera e pura realidade que seu coração a condenava, por não amar aquele onde tudo seria menos complicado, também menos avassalador.
Seu coração era um turbilhão de desgraças, confuso com tudo o que dizia respeito o amor. Talvez um dia, tomando o caminho que Clary imaginava ser impossível, teu coração casasse com a ideia de amar Simon. E lhe permitisse então deslizar suavemente por paz e inundar aquele alívio que mais do que nunca, ela desejava sentir.
**********
O ar estava aquentando seu corpo. Revê-lo após os eventos desgastantes da noite anterior, ainda era cedo demais para seu coração lidar sem desmontar em pedacinhos.
Simon Lewis, em nenhum momento desde que chegara à catedral do instituto fitara a ruiva que tanto amava. Quando surgiu no local sagrado por Raziel, cumprimentara Daphne, como um bom cavalheiro. Os lábios carnudos, beijocara a costa da mão da garota, que na noite anterior defendera Clary de Imogen, com destreza e determinação.
- Muito prazer, senhorita... - parou subitamente, quando notou que sequer conhecia o primeiro nome da bela moça, estendendo a mão para Simon beijocar.
Daphne se sentiu como uma estranha vindo de um mundo o oposto daquele. Tudo era tão diferente e peculiar naquele lugar. Começando por filha de Valentim. De onde vinha, se o destino lhe criasse filha de um homem tão ardiloso como Valentim, seria condenada a morte, sem direito de ser julgada. Porém, ali no mundo peculiar que se encontrava, até seres profanos, cujo crianças noturnas/vampiros, eram livres para adentrar ao local sagrado sem a permissão em primeira mão, de clave. Era estranho cada pedacinho dali, como se tudo fosse oposto do mundo de que vinha.
- Senhorita Daphne, por favor. - sorriu para o menino, pertencente a raça de vampiros, com aparência muito graciosa para ser letal como outros vampiros. Inevitavelmente, Daphne se sentiu encantada com o jeito grandioso e tímido do garoto em sua frente, paparicando sua mão com os lábios. Em sua longa vida ela conhecera muitos vampiros... E com toda certeza, poderia dizer que nenhum deles era gracioso como aquele que lhe fitava com tamanha admiração. - É um tamanho prazer conhecê-lo, Lewis.
Clary não pôde controlar a vontade repulsiva que lhe atentava para arrancar aquele sorriso genuíno no rosto da mulher, recém chegada. Sentiu o coração bater raivoso, pesando uma bravura ardente em seu peito.
O que havia de tão especial naquela tal de Daphne? Porque Jace a considerava de extrema importância, e a fitara daquela maneira tão afetuosa? E agora Simon. Simon, seu namorado, que sofria por todo o amor que Clary reservava para Jace, também era um algoz nas mãos da outra menina. Foi impossível não sentir inveja por toda a atenção demasiada que Daphne recebia para si, como se fosse até mesmo uma autoridade maior que a senhora Imogen, a rabugenta. Embora, verdade seja dita, talvez a menina fosse mesmo uma autoridade maior que a avó de Jace. Afinal, se não por que raios Imogen lhe deixaria tomar posse do caso que atormentou todos na noite passada, sem alfinetar? Ou talvez até mesmo Imogen fosse uma súdita algoz da garota, que todos tratavam como rainha.
Estava pronta para se retirar do lugar, voltar para seu quarto, e espatifar o primeiro objeto em sua frente, apenas para aliviar um pouco de sua raiva, que se crescia em seus pulmões com alguma adrenalina. Mas o toque metálico de madeira fechando atrás dela, ecoou no instituto inteiro. Talvez mais algum ser celestial vindo para paparicar a moça?
- Olá a todos, acho que me atrasei um pouco. - conhecia aquela voz. É claro, como conhecia. Clary hesitou quando ouviu o alto feiticeiro do Brooklyn, com as pontas dos dedos emergindo magia. Passou a sorrir pela primeira vez em que Daphne surgiu, genuinamente, fitando Magnus com um afeto grande, como quem agradecesse pela vinda do senhor purpurina. - Daphne.
Então, seu sorriso maior que o rosto apagou como o fogo emergindo de uma água, quando Magnus fitou a todos na sala, mas quem realmente o chamou atenção como com Jace e Simon, foi a senhorita Daphne, que desesperadamente fitava os ares da catedral, caçando por alguém que não a tratasse como celebridade. Mas não havia um ser, ao menos não Clary, que o fazia sem parecer se esforçar. Céus, o constrangimento era visível em seu olhar de pupilas esmeraldas, que filha de Jocelyn, ainda tentava descobrir o que mais tinha naqueles olhos tão profundos da jovem Daphne.
Foi um instante até sua ficha cair, de que enquanto a incômoda hóspede, ainda estivesse abrigada ali, ninguém sequer pronunciaria seu nome se não fosse em caso de emergência. Levou outro instante então, para revirar os olhos carregados de raiva e repulsão, com a figura eufórica de feiticeiro Bane agarrando para um abraço caloroso, a então desconhecida, mas muito popular entre o submundo e caçadores natos.
- É um prazer maior do que posso dizer reencontrá-la, querida. - alegou o feiticeiro, os olhos brilhando em amarelo felino. Clary se sentiu tão pequena e indefesa, perante os olhos que ninguém tinha sobre ela. Toda a atenção, também a de Jace, estava exclusivamente para aquela maldita garota, que mal ela sabia se era uma caçadora ou não.
Filha de Jocelyn nunca se sentiu eufórica em ser o centro das atenções, mas naquele momento, ser o motivo de tantos olhares, lhe soava melhor do que ser ignorada, simplesmente jogada para um lado invisível, cujo ninguém pudesse enxergar. Reparou por fim, com o coração ardendo em tristeza, que até mesmo os olhos verdes da mãe se concentrava fixamente em Daphne. Qual diabos seria o seguinte passo? A mãe escolheria, desejaria ter de uma outra filha. Porque todos ali, pareciam lhe trocar por Daphne.
E sequer, aquela maldita baixinha de beleza exaltando dos olhos esmeraldas, era uma cópia igualável à Clary. Era somente uma, em um milhão, e jamais uma segunda Clarissa.
Daphne... Cujo sobrenome era também desconhecido... Era uma biscate que não merecia um cisco da platéia que estava a receber, tão grandemente.
Clary sentiu como se o ódio inundando seu peito, fosse lhe destruir, mas quando observou o sorriso de Jace alargar mais, direcionando da alegria para Daphne, seu coração fora destruído.
Destroçado como se tivessem gravemente, pisoteado.
***
- Quero os melhores nessa missão. - declarou Daphne,como faria a inquisidora Imogen. O olhar autoritário da recém chegada garota, encontrou o par esmeraldas dos olhos de Clarissa, e esta, diante do olhar incisivo de Daphne, sentiu quase como se o recado tivesse sido especialmente para ela. - Afinal é algo de importância extrema, estou errada?
Como diabos aquela garota era, ou poderia chegar a ser melhor que ela? Desejava profundamente que Jace fosse o único a não ser atraído pela megera que mal chegara, afinal, Jace era... Não, na verdade não era não. Verdade seja dita, há muito tempo que Clarissa não tinha a dádiva de sentir que pode chamar o garoto que tanto amava, de seu.
- Você pode confiar em nós, Daphne. - disse Izzy, pronunciando-se primeiro antes que Clary pudesse o fazer, devolvendo a indireta que lhe fora jogada em cima de si. - Posso comandar a missão ao lado de Jace. Posso ficar com Clary e a preparar para enfrentar essa espécie de demônios. Jace comanda a missão também, batalhando ao lado do Alec.
Clary não pôde deixar de impedir a raiva lhe invadindo, quando o rosto de Daphne se contorceu em desdém ao ouvir Izzy lhe incluindo na batalha, que lutariam contra espécies estranhas mais do que ser um Shadowhunter, poderia de fato ser. Sentiu tanta repulsa da garota, que pareceu não perceber enquanto a fitava com fúria acessa em seus olhos samambaia.
- Talvez não Isabelle, talvez não possa confiar em vocês, de fato. Apenas em Jace. - Izzy fitara de Daphne para Clary, tentando entender o que irradiava entre as duas, aparentemente furiosas. - Ao meu ver, Clarissa não é uma das melhores.
Uma risada nasal e muito preenchida de sarcasmo, deixou os lábios de Clary. Filha de Jocelyn e de um homem cujo não se orgulhava, sentiu-se um pouco como o pai enquanto ouvia as vozes malvadas de sua cabeça, lhe gritando mil e uma maneiras grosseiras para responder Daphne. Maneiras que quebrariam uma pessoa ao meio.
- Ao seu ver. - aquelas palavras foram ditas com tamanha repugnância. - Pode me dizer o que, ao seu ver, a filha de Valentim é?
Seu coração tão ameno, não era mais o mesmo. Clarissa não era mais a mesma por quem Jace se apaixonou. Não naquele específico momento. Ali, naquele momento, a maldade de Valentim lhe inundou, e chegou até seu peito. A fúria. Ódio mortal. E ira. Seria tão pouco incapaz de se controlar. E tão grandemente capaz de matar aquela garota cheia de preconceitos com si, apenas por sua origem.
Até quando diabos sofreria tal preconceito por sua origem? Afinal, shadowhunters não poderiam se julgar menos e batalhar contra demônios, mais? Porque, no final de contas sua origem não importava. O que importava era todo o bem grandioso que Clary tinha carregado no peito. E nossa, a Fairchild distante da maldade que no momento lhe invadia, era um bem grandioso por dentro, tanto quanto era por fora.
- O fato da senhorita ser a tão temida, filha do senhor causador de todos os problemas, não muda nada para mim. - Daphne tentara argumentar contra o palavriar atacante de Clarissa. - Jace foi criado por Valentim.
Citando o nome do Herondale - ou não. - Clary não entendeu onde tanto ansiava chegar, a nova maior autoridade da instituição.
- E no entanto, mesmo com a criação excrável de seu pai, Jace seria capaz de matar por quem ama. - concluiu Daphne, observando Clarissa de cima aos pés, com nariz empinado em náusea. - Algo que Valentim jamais faria. Jamais.
- E eu também faria. Mil vezes até. - Clary proferiu furiosa, cerrando os dentes. Sua ira tomava conta, e ela não percebeu quando seus punhos cerraram.
Tudo estava tenso. Izzy, - que a princípio parecia muito obstinada em comandar a batalha contra espécies extintas há séculos, agora, de maneira misteriosa tornavam a novamente aparecer - foi a primeira em notar a aflição desesperadora em Clary. Sentiu pela amiga, medo do que suas decisões, domada por ferocidade, poderiam resultar em sua vida. Já vivera como shadowhunter tempo o bastante para saber, que desacatar a uma autoridade maior que até mesmo Imogen, pudesse causar em uma consequência maligna. Talvez um destino fatal, ou uma prisão perpétua. Não desejava de nenhum dos dois péssimos destinos para a melhor amiga.
- Clary. Daphne. - para o alívio da irmã de Alec, o irmão mais velho intervira no atrito irradiando entre ambas as garotas rivais. Sentiu uma vontade grandiosa de agradecer o irmão, mas deixaria aquilo para o entardecer. - Desculpe a maneira como lhe chamei, senhorita Daphne. Mas ninguém sabe como realmente chamá-la...
A moça interrompera-o, sem cerimônias. Um sorriso perspicaz, a moça fez menção de lançar para Alec.
- Senhorita Bane parece apropriado, Alexander. - a voz da moça não ultrapassou do nível de sarcasmo que Clary usara com ela, anteriormente.
Então, quando lhe ouvira pronunciar do sobrenome de feiticeiro Bane, o impacto das palavras cortantes da mulher de língua ferina, lhe atingira como um turbilhão de dores lhe sobrecarregando. Clary sentiu o coração bater lentamente, esvaindo da raiva que estava por lhe tornar em submissa. O impacto das tais palavras proferidas pela mulher de aparência angelical, enganosa, e língua sonserina, fez com que sua mente desse saltos em três mil vezes mais. A raiva que até então, sentiu a dominar, passou a se transformar em uma repentina confusão das palavras ditas pela garota que, aparentemente, estava pronta para ser sua mais nova rival.
- Quer dizer Magnus Bane? - perguntou o amado do alto feiticeiro, com uma carranca ranzinza assumindo sua postura, antes muito determinado a por um ponto final no atrito raivoso entre ambas as moças.
O sorriso cretino, e a risada nasal deixando os lábios da mulher, era uma resposta afiada na ponta da língua.
- Sim Alexander, eu quero dizer o alto feiticeiro. - audaciosa, respondeu-o.
*****
- Eu quero saber o porquê. - uma pontada de dor aguda, atingiu o coração de Alexander quando pronunciou essas palavras.
Na verdade, depois de altas brigas e revelações, sua mente estava como o caos que sua vida se encontrava. Seu coração acelerava com todas as constatações que sua cabeça elaborava para responder suas perguntas que a outra mulher morena, não pôde. A outra mulher, cujo jurou herdar do sobrenome de seu grande amor. Queria realmente, com toda sua força de um shadowhunter, crer que não havia como o namorado se interessar por uma outra shadowhunter. Embora na verdade, segundo o parabatai e a irmã, Daphne não era de fato um anjo.
Se lembrava vagamente da mulher vinda de um lar que ele desconhecia, apenas para visitar seus irmãos. Acontecia há muitos anos, não com frequência, mas quase sempre o mais velho dos irmãos estava em Idris, ou apenas não tinha de tanto contato íntimo com aquela, para interagir com ela, a ponto de se tornar tão conhecido à moça, como Jace e Isabelle, de fato com um imenso carinho, se tornaram. Do pouco que se recordava, Daphne sempre foi alguém com muita simpatia e ingenuidade. Sempre muito genuína com tudo e todos a sua volta. E por um misterioso motivo, alguém com segredos que apenas Jace parecia conhecer e somente Jace, ela parecia confiar para guardar tais segredos. Irmã mais nova de Alec, também sempre fora grande amiga, muito próxima de Daphne, mas sequer ela sabia destes segredos que Jace e ela, encarceravam a sete chaves.
E quando percebeu com perspicácia que Jace e a melhor amiga a escondiam segredos que a tentavam a descobrir, Isabelle procurou por Alec.
Nunca o shadowhunter esqueceria como a irmã estava vulnerável, quando o procurou. Decepção era apenas um eufemismo para determinar a grande mágoa da irmã que ele defenderia com milhões de espadas e cálices mortais.
Tentou por fim, que Jace lhe confessasse o que tanto escondia a mil chaves com a amiga, mas o segredo que se plantava ali, aparentemente, era tão grandioso que Jace não poderia sequer cogitar a ideia de compartilhar com o parabatai. O parabatai e Isabelle sempre foram, de longes, as pessoas prediletas de Jace. Pessoas cujo ele confiaria sua alma, sem antes pensar duas vezes. Apenas se jogaria do precipício, pois sabia que Alexander e Izzy sempre estariam lá para pegá-lo nos braços, quando o precipício se encontrasse distante demais.
E no entanto, a confiança nos irmãos não era o bastante para que revelasse o que, por dias e noites, lhe atordoou, como Alec e Izzy, nunca o viram ficar atordoado. Vulnerável. E tão pequeno nos braços de amor, dos fiéis irmãos.
Por um tempo, odiou Daphne por aquilo, mas que diabos de culpa ela tinha, se Jace sempre era perfeito e se cobrava a cada dia para ser ainda mais...
- Alexander. - o namorado pronunciou-se em um fio de voz, sonolento. Alec se viu imerso em seus pensamentos, lhe puxando como a maré arrastava cada vez mais ondas para o mar. Sentiu náusea por tudo o que dizia respeito à tudo o que agitava sua mais nova e cruel realidade. A realidade do homem maligno, Valentim Morgenstern. E a realidade de um passado infeliz, tragando de volta alguém que odiou por tempos. - O que o traz aqui, em plena duas da manhã?
Era uma boa pergunta, a princípio. Alec na verdade não pensou no que suas ações poderia causar, quando bateu o pé para a irmã, lhe dizendo para sair de sua frente, ansioso para estar no apartamento luxuoso do namorado. As palavras de Daphne o levaram de volta novamente, para um ponto em seu coração que ele jurou ter adquirido um ponto final, há muitos meses. O ponto inseguro de sua alma, coração e peito. A insegurança sobre seu relacionamento e o que raios significava para o namorado, diante uma outra Bane.
A explicação mais perspicaz para as palavras da outra, era que talvez não passasse de um membro da linhagem Bane.
Mas, parando para pensar... Será que bruxos e feiticeiros procriam de suas próprias espécies, para tornar uma linhagem Bane? Ou será, que na verdade, aquela era mais uma desculpa sorrateira para não ter de pensar na possibilidade de uma traição vinda do amado submundano.
- Nós precisamos conversar. - disse Alec, finalmente. Os olhos azuis esverdeados, fixou-se prontamente no namorado, não querendo abaixar a guarda com a falta de vestes que o bruxo trajava no corpo malhado. - E eu quero verdades, Magnus Bane.
Ao passo que Alec trabalhava arduamente para que seu olhar não vacilasse na dureza, Magnus entendeu que o shadowhunter tinha de algo realmente sério para discutir contigo. Ou então, porque diabos o caçador invadiria sua residência de luxo, em plena madrugada. E lhe chamando por seus dois nomes, com uma carranca ranzinza herdado de Maryse.
- Alexander. - o bruxo iniciou suas palavras, calmamente, determinado a amaciar a fera irradiando de Alec. - Não sei o que raios aconteceu para que esteja assim, mas são plena duas horas da manhã, shadowhunter.
Feiticeiro se aproximou em passos contumazes e lentos, para alcançar o rosto de seu amado. Sabia como a ausência de seus vestes, provavelmente não facilitava nada para a postura ranzinza que o caçador tentava assumir, e por este motivo usaria de sua cartada... Tentadora.
- Não, nem mais um passo Magnus. - protestou o shadowhunter, levantando as mãos, tentando impedir a aproximação lenta de seu namorado. Já conseguia vislumbrar tudo. Usando de seus trajes inapropriados para o assunto sério que tinha a tratar, o feiticeiro tentaria o adoçar com maestria. E depois, com uma noite excitante que o faria esquecer do que, a princípio, o atraiu até o apartamento deste.
Alec não poderia, de maneira alguma, ser impensável de aceitar aquilo...
*******
O toque dos lábios de Alexander nos seus, era de longos séculos a melhor coisa que ele, Magnus Bane, já provara. Nem mesmo a vampira de séculos, a muito experiente Camille, poderia se superar. Alec era de longe, a melhor coisa para ele, em literalmente todos os sentidos. Não Camille, não a rainha da cidade natal, ou outra pessoa. Mas sim Alec e só ele. Ninguém mais além de Alexander era tão bom e se encaixava tão bem com o mágico, quanto o Lightwood mais velho o fazia.
Há alguns anos, quem imaginaria que Alexander Lightwood e Magnus Bane estariam aos beijos, perante a bela noite crepuscular? Claro que se fosse pelo bruxo isso já teria acontecido muito mais cedo, mas Alec sempre insistia em negar seus sentimentos, antes de finalmente se entregar a eles, naquela noite que deveria selar seu casamento com outra. Chegara a um ponto em que Magnus desistira do shadowhunter. E então ele deu o passo que este mais ansiava que ele desse. Um passo, depois dois.
Três.
Quatro.
Cinco.
Seis.
E seus lábios finalmente estavam nos seus, colados como Magnus ansiava nesses últimos dias em que todo o caos do mundo, vem sendo jogado em suas costas. Coladinhos nos seus, sem obstáculos que o separassem.
E até o último suspiro do caçador, Magnus desejava que fosse pra sempre assim. Que nenhum obstáculo fosse de fato tão grande, a ponto de separá-lo do seu grande amor. O único que amou e ama tanto, de uma maneira quase profana. E que o faz desejar ter daquele amor, para sempre.
E para sempre...
********
- Eu volto a repetir, senhorita Bane. Esse garoto não é nada meu. Não é meu neto. - a voz da inquisidora ferina, alterou, conforme a juíza se estressava mais enquanto conversava com Daphne.
A risada nada contente, e nem um pouco satisfeita com os gritos da juíza, lhe desacatando, foi tudo expressivo que a moça mostrou por Imogen.
Clary, pela terceira vez, tornou a revirar os olhos, revoltada com ambas as mulheres. Por um lado, agora estava um pouco grata a Daphne por ser a única capaz e corajosa o bastante para usar de tanta audácia com a inquisidora. E por outro, furiosa que a avó do garoto que tanto amava, ainda insistia em rejeitar o parentesco com o neto.
- Não levante a voz para mim, Imogen. Jamais. - gritou Daphne, levantando-se da poltrona que girava conforme seu comando.
Francamente, quando entrou para assinar os papéis que Imogen lhe mandara, não passou por sua cabeça o fato de que as palavras provocadoras que uma jogara para a outra, fosse resultar naquela troca de farpas, que se encontravam agora.
Não até que ela jogou de uma indireta, cujo não sabia ser, na verdade, um assunto delicado.
Não sabia que o fato de Jace e Imogen serem parentes de sangue, a atingia tanto, de maneira negativa.
- Escute só, você e Clarissa não passam de ciscos para mim. Não me calarei para nenhuma das duas. - apontou a senhora juíza, usando do mesmo palavriar que fez com Clary. Mas a diferença é que, não como Clarissa, Daphne sequer pensava em se chocar com palavras cruéis, vinda da mulher que a princípio, já lhe parecia muito cruel.
- Eu não diria que uma Bane se assemelha um tiquinho com um cisco, Imogen. - a voz de Daphne cortou qualquer rudeza na voz de Imogen.
Tempos se passou enquanto Daphne fixava os olhos em Imogen, fitando a juíza com destreza e perspicácia. Se havia algo a que a menina aprendera muito nova, era como manipular as situações. E manipular a situação com Imogen, não passava de uma tarefa nada dificultosa para ela. Sem perceber, Imogen acabava por facilitar para ela, com o jeito que lidava com as coisas e com as pessoas.
Chacoalhe o cabelo levemente, mantenha o olhar fixo no indivíduo e deixe que ele abra a mente para você.
Era o que muito cedo, sua família lhe dizia, se o que desejava era ter o controle sobre as pessoas. E agora, a cada vez que era desacatada, lidava com isto, a altura. Era maravilhoso quando não precisava perder da postura, e mesmo assim, ganhar a batalha.
- Daphne, ei. Acho que vocês duas precisam se acalmar para ter essa conversa. - Jace, que se mantinha parado, determinado a proteger Clarissa caso a amada decidisse se aliar com Daphne, contra a inquisidora, pronunciou-se finalmente. Era o mínimo que poderia fazer, já que para começo de conversa, aquilo era culpa sua. Não tanto sua culpa, afinal não escolhera ser neto justamente da mulher que odiava o homem que o criou, mais do que ele próprio nutria ódio por Valentim. E que odiava Clary também, como se nutrindo do ódio imperdoável pela filha biológica do homem, estaria atingindo em mão cheia, o mestre de todos os problemas. Simplesmente não escolhera nada disto. Era injusto que Imogen lhe odiasse de tantas maneiras, como se a culpa fosse de fato sua.
Afinal, tanto quanto Clarissa, Jace fora uma vítima nas mãos do homem ferino. E odiava ter de admitir sua posição antiga, mas não era a verdade? Ele viveu encarcerado nas garras do homem sem escrúpulos.
- O que Jace? Estou o defendendo, e o farei quantas vezes forem necessárias. - Daphne não deixou a postura defensiva de lado, nada afim de ter Imogen vencendo a batalha que se iniciara entre ambas.
Por alguns mais instantes, ambas cessaram suas falas...
- Acho que já chegou a hora desse mistério ter um ponto final. - tornou a dizer Daphne. - Hoje a noite quero que um teste de DNA seja realizado.
As próximas palavras da moça, fez o coração de Clary palpitar. E mal sabia ela, que Jace compartilhava da mesma sensação de sua amada.
- Se Jace é seu neto que a tanto tempo procura-se, a dúvida acaba hoje. - fora lentamente se aproximando da juíza, ficando de frente para a mulher de terceira idade.
- Como pretende isso, quer me contar? Porque nós duas sabemos que do jeito tradicional, um DNA jamais funcionará para um shadowhunter. - Imogen não se deixou abalar com a determinação de Daphne, desafiando exatamente o que ela nunca mais queria ouvir.
- Magnus prometeu que traria ela, a protegida do céu. E queridinha de Lilith. - contou Daphne, como se estivesse compartilhando de um segredo encarcerado a muito tempo, o cantando justamente para a única pessoa que era capaz de o compreender. - E aqui estou eu. A queridinha de Lilith, exatamente como ele falou que seria. Agora porém, estou falando dela. A primeira, que ao bradar na terra, eu toquei.
Imogen abriu levemente os lábios enraizados, e suas palavras foram tão confusas, quanto a conversa que estava por ter com Daphne.
- A primeira tocada pelo anjo. - sussurrou por fim, com algum medo movendo uma expressão em seu rosto.
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