Capítulo 13 - Mr. Darcy
Música:
Hoje vou deixar duas músicas, aí vocês escolhem!
Nocturne C minor Op 48, No. 1,Chopin (pra quem gosta de música clássica, essa música/peça/sei lá é muito linda).
Ou,Teenage Fever, Drake (acho que sou bem eclética afinal haha)
Capítulo 13 – Mr. Darcy
"Deus não permita tal coisa. Seria a maior infelicidade de todas! Achar agradável uma pessoa que decidimos odiar! Não me deseje esse mal. (Jane Austen, Orgulho e Preconceito)
– O importante é contextualizar tanto a obra quanto a autora em sua época... – comecei de pé em frente à turma. Como sempre acontecia, eu ficava muito nervosa antes de apresentar qualquer trabalho, mas era só começar a falar que coisas que nem me lembrava que sabia saiam, e, logo quando acabava, eu já não me lembrava muito bem o que tinha dito. Era uma espécie de "transe" (?).
Eu não sabia muito bem como evitar isso mas durante toda a leitura do livro eu imaginei o Zayn como o Mr. Darcy, o que foi um pouco perturbador e ao mesmo tempo me dava mais vontade de ler. O jeito distante, misterioso e arrogante, às vezes acreditava mesmo que o Zayn fosse um personagem de um livro, ou pelo menos, da ficção que eu criei dele.
– Uma leitura superficial das obras da Jane Austen nos dá a impressão de que é uma descrição crua e acrítica dos costumes do século XIX, ou mesmo conservadora, como apontam alguns estudiosos da literatura inglesa, homens, é claro. – acabei solando e vi o professor de literatura, homem, pigarrear, mas soltou um risinho em seguida, acho que ele concordava comigo.
A porta se abriu fazendo com que toda a turma olhasse para o sujeito que ousava atrapalhar nossa apresentação e que já estava mais de 15 minutos atrasado para a aula.
– Que bom que decidiu aparecer Sr. Malik, sente-se. – e esse era o professor sendo irônico com o Zayn, Mr. Darcy da vida real atrapalhando minha apresentação e acabando com a minha capacidade de articular palavras e formar frases, ou pior, eu parecia ter esquecido como se fala. É, o "transe" havia acabado e nenhum "A" sairia da minha boca, muito menos algo sobre literatura, Jane Austen, feminismo ou Elizabeth Bennet.
-Porém, – seguiu Waliyha, salvando nosso trabalho e me poupando do constrangimento de ter simplesmente travado com a presença do seu irmão – as descrições dos costumes sociais de Orgulho e Preconceito bem como o restante da Obra da Jane Austen é carregada de críticas... Por trás de uma descrição "crua", temos ironias e críticas severas, apresentando mulheres com personalidade forte, cheias de opiniões e que, geralmente, questionavam os desígnios de sua família, especialmente, em relação ao casamento. Essa crítica é apresentada por meio da narração e também pode ser identificada, principalmente, na personagem principal que, no caso, é a Elizabeth Bennet, a Lizzy.
Recuperei o ar e vi que o Zayn escolheu a primeira cadeira da fila do meio, em outras palavras, bem de frente pra mim, que por acaso, destino, carma ou azar, estava vazia, esperando que ele a ocupasse e me atrapalhasse ainda mais.
-Lizzy é uma espécie de anti-heroína, de língua afiadíssima, sempre tem uma resposta para o frio e misterioso Mr. Darcy, que decide aparecer nos momentos mais inconvenientes. – quase cortei a minha própria língua e só Harry, no canto da sala parecia ter entendido, ou era o que conseguia ver, já que me recusava a falar olhando para frente, onde lá estava o dito cujo. – Mal sabia Jane Austen que Mr. Darcy inspiraria boa parte dos personagens masculinos de best-sellers, desde Edward Cullen até Mr. Grey, todos homens misteriosos, bonitos, ricos e chatos. É claro que isso é mais a leitura da dupla do que a dos estudioso, mas... Que bom que temos Lizzy para nos salvar! Penso num final alternativo que Elizabeth diria "não sou obrigada" e deixaria Mr. Darcy na chuva, esperando horas pela resposta e iria tomar um chá, comer biscoitinhos, ler um livro...
Minha amiga estava quase arrancando meu braço, a última parte não estava no script, mas juro ter ouvido alguns alunos soltando uma risadinha discreta e, mesmo tendo evitado, consegui captar a imagem do Zayn arqueando as sobrancelhas.
– Na verdade, Lizzy conseguiu ver no Mr. Darcy uma pessoa amável e sensível por baixo da sua arrogância e do seu mau-humor, Soph está certa, Mr. Darcy pode ser bem chato às vezes, mas... – Waliyha tomou as rédeas do trabalho antes que o meu mau humor, também conhecido como humor "quero matar essa pessoa que está na minha frente me encarando", estragasse nosso trabalho final de literatura avançada. Aliás, que raios estava fazendo o Zayn na turma de literatura avançada? Universo sem me pregar mais peças, se já não bastasse ser o meu monitor de álgebra.
Depois de alguns minutos finalizamos a apresentação, pondo fim à tortura psicológica de ter que aguentar o Zayn me encarando. Porque ele estava me encarando afinal? Vamos colocar essa pergunta naquele grupo de questões insolúveis, junto com a criação do universo; como se formam os buracos negros; porque o céu é azul e por ai vai.
Nessas duas semanas subsequentes ao baile ele não tinha sequer olhado na minha cara até esta manhã, em que ficou insistindo em me encarar de maneira absolutamente inconveniente. Talvez eu deva retomar os testes sobre a teoria "gêmeo do mal", aplicabilidade exemplar na prática. Eu só não sabia quem era o Zayn de hoje, se era o Zayn legal que me salva de um porre no baile de inverno e me leva até em casa ou se é o Zayn que não me conhece e passa por mim pelos corredores como se não tivesse tirado o meu "bv".
Credo, me devolva meu primeiro beijo seu inconveniente. Gritei internamente enquanto fingia prestar atenção no grupo que falava sobre Oliver Twist.
– A vida de Oliver é uma verdadeira desgraça. – o menino de cabelos loiros que apresentava o trabalho soltou fazendo a turma rir enquanto eu suspirei me vendo no pequeno Oliver, só me metendo em burrada. Obviamente meus infortúnios não se comparam aos de uma criança órfã obrigada a cometer pequenos furtos em Londres, mas me deixem fazer drama, é isso que alimenta a alma dos adolescentes, e eu sou só uma adolescente que decidiu se desapaixonar tarde demais. Cada suspirada era uma memória diferente do Zayn e aquilo parecia que nunca ia passar, assim como a aula: e-ter-na.
Alguma hora o tempo decidiu parar de brincar com a minha paciência e o sinal finalmente bateu.
– Continuamos com as apresentações na semana que vem... – disse o Sr. Becker enquanto os alunos já se levantavam e desocupavam afobados a sala de aula.
– Bate aqui, amiga! – Waliyha disse animada e quando me virei ela estava com os braços no ar esperando que fizéssemos um "hi-five" comemorativo. – Mandamos muito bem, dez com certeza!
Respirei fundo e tomei coragem pra me levantar da cadeira e fazer o tão requisitado "hi-five" com a minha amiga que não parecia entender muito bem o porquê do meu desanimo, acho que nem eu me entendia muito bem.
– Bem, eu vou vazar daqui. – Waliyha disse e tinha uma expressão surpresa e ao mesmo tempo debochada. Arqueei a sobrancelha tentando compreender o que estava acontecendo. – Deixa de ser babaca, affe, Zayn...
Temperatura ambiente caindo dez graus, minha pressão atingindo níveis preocupantes, bochechas coradas: seja bem-vindo à atmosfera Zayn Malik.
Até me situar e notar que o Zayn estava atrás de mim, minha amiga já tinha cruzado a porta da sala e me deixado ali com o seu irmão. Fechei meus olhos tentando enviar um pedido de socorro por telepatia, mas aparentemente ninguém me ouviu e lá estava eu e Zayn, um de frente pro outro.
– Hm, quer dizer que eu sou o Mr. Darcy? – ele disse soando meio orgulhoso (?) e arqueou as sobrancelhas como se esperasse por minha resposta.
– Não, Zayn, você só é um inconveniente que chega atrasado na aula e atrapalha a apresentação dos outros. – disse tentando administrar os mil sentimentos conflitantes que eu sentia em relação ao Zayn, pois, ao mesmo tempo que queria sair correndo da sala, eu só queria contemplar o quão lindo ele ficava usando essa camisa branca larga e jeans surrado somada ao combo topete caindo sobre a testa e óculos de grau armação retrô.
Ao mesmo tempo que eu tinha vontade de bater nesse menino, eu tinha uns flashes terríveis do meu primeiro beijo, de nós dois dançando no baile e sonhava que aquilo se repetisse.
– O que foi hein, Sophy? – pelo seu tom de voz ele estava claramente debochando do meu "apelidinho" do mesmo jeito que fez no baile.
Ele me olhou de cima a baixo e tive vontade de me esconder, só o seu olhar já me deixava absolutamente vulnerável.
– Não vai me agradecer por ter te salvado no baile? – ele soltou meio convencido, será? Era isso mesmo que eu estava ouvindo do Zayn? Ele me parou só pra amaciar o seu ego, querendo saber se era o protagonista do livro, meu "salavador"? Nossa, que nojo.
– Obrigada, mas eu não preciso ser salva, não por você. - tentei colocar bastante ênfase em todos os "nãos", às vezes eu ficava mesmo impressionada com a capacidade do Zayn de despertar o meu lado mais ácido.
– Hm, Tomlinson, então? Achei que ele tivesse te trocado pela coroa de rei do baile. – eu achava que conhecia o lado debochado do Zayn, mas ainda não tinha escutado as palavras "rei do baile" saindo da sua boca.
-Estamos bem, obrigada por perguntar. Aliás, se você não se incomoda, eu já vou indo porque o "rei do baile" deve estar me esperando para irmos andando pra casa juntos. –abri aspas com as mãos e revirei meus olhos antes de me afastar em direção ao corredor.
-Ah, só toma cuidado pro seu namoradinho não te prender no vestiário de novo, seria péssimo se não tivesse ninguém pra te salvar. – Zayn soltou e suas palavras conseguiram bloquear a minha saída triunfal. Parei antes de passar pelo vão da porta e voltei a olhá-lo enquanto tomava coragem de falar o que estava entalado na minha garganta.
-Zayn, eu não sei o que você é e também não sei o que você pensa que é pra mim, mas você não é o meu Mr. Darcy, não é o protagonista da minha história, você não é o meu herói, ou sei lá o quô. Eu vou perguntar pela última vez, porque você está falando comigo? – ele me olhava meio confuso, mas havia um sorriso no canto da sua boca, o que me dava ainda mais raiva. Ele estava debochando de mim mais uma vez.
Respirei fundo juntando forças pra terminar de falar o que havia começado.
– Eu não estou aqui pra entreter você, não sou seu instrumento de vingança pro Louis, eu não sou nada sua, e preferia que você continuasse me tratando como se eu não existisse. – tentei não soar magoada, como efetivamente estava, e engoli o choro adiando o inevitável. Sua expressão parecia um pouco aborrecida, não sei bem, não consegui parar para encará-lo depois disso, só atravessei a porta e encontrei um mar de alunos no corredor me fazendo sentir insignificante, a mesma sensação que tinha ao estar do lado do Zayn.
Voltei pra casa sozinha. Não tinha Mr. Darcy, rei do baile, irmão gêmeo do bem ou do mal. Só eu, cabeça baixa, secando as lágrimas bobas que começaram a cair logo que me afastei da entrada do colégio. Queria mesmo entender o que o Zayn era pra mim e por que ele sempre estava presente nos momentos certos para me abandonar no final e me deixar magoada. Cada vez parecia fazer menos sentido gostar do Zayn, ainda que isso parecesse ser inversamente proporcional a intensidade do que eu sentia por ele.
"Hm, quer dizer que eu sou o Mr. Darcy?", me lembrei do questionamento de mais cedo, respirei fundo, parei de andar por um instante. Senti um vento gelado em meu rosto, me deixando gradativamente mais calma.
Bem, Eu não sei sobre ele, mas eu com certeza não era Elizabeth Bennet, eu não tinha o amor do Mr. Darcy.
N/a: oieeee, então, o que acharam? Como estão todos? Espero os votos e comentários ❤️ to cansadíssima, mas fiz com amor!
Beijos
Maria Clara
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