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Capítulo 44 - O Valete o Rei e a Rainha

As batidas na porta continuavam insistentes fazendo o som das pancadas dos punhos sobre a mesma vibrarem alto no ambiente. Lisa estava aflita, sabia que isso era um péssimo sinal. Antes, Tinha se munido de coragem, mas não esperava que fosse colocada a prova assim tão rápido.

__ Fique calma! Tudo vai dar certo. Vamos colocar um ponto final no seu sofrimento de uma vez por todas. - Dione falou levantando já pensando exatamente como agir. __ Vou me esconder atrás da porta bem rente à parede e você abre de forma habitual e tenta não delatar minha presença. - Dione logo se posicionou fazendo o que disse, enquanto as batidas continuavam insistentes.

__ Lisa! Abra logo a porta! - Ordenou vendo a coragem dela falhar com a proximidade do inimigo.- Lembre-se: Normalidade. - Reiterou, ao ver a garota olhando assustada para porta contendo-se.

__ Tudo bem, eu vou abrir. - Ela disse ajeitando a roupa no corpo e passando as mãos no rosto, suspirando profundamente como se aquilo lhe inspirasse ao que teria que fazer.

A porta é aberta e um sujeito aparentando ter uns 37 anos, magro, com uma boina preta na cabeça, camisa branca de manga comprida listrada de preto, calça jeans e sapatos pretos, se apresenta diante dela. Ela aparentava calma. Bem diferente de quando ouvia as pancadas a minutos atrás na madeira da porta.

__ Você?! - Lisa falou com espanto ao reconhecer o sujeito.

__ Não vai me convidar para entrar?

O homem perguntou manso com um sorriso sarcástico estampado na cara e logo atravessando a porta sem esperar sua resposta. Ela deu alguns passos para trás tentando aumentar o espaço entre eles vendo seu corpo começar a reagir em modo de defesa com a proximidade dele. As mãos suavam frias e o estômago começava a embrulhar. Ele parou vendo o medo no olhar dela e a fitou com satisfação. Lisa trocou olhares dissimulados com Dione.

Dione não estava nem um pouco interessado em saber quem era o sujeito de rosto afilado, olhos castanhos e barba rala à sua frente. Se aproximou abrupto do homem pelas costas e o agarrou pelo pescoço enérgico, lhe dando um sossega leão e o fazendo pender para frente prensando sua cabeça contra o seu corpo.

__ Achou que iria encontrar a garota indefesa e sozinha?! É assim que o seu Neco quer pegar a minha grana?! Enviando babacas?

__ Hei, hei... calma aí meu irmão! Do que está falando?! - Disse o homem assustado se debatendo.

__ Ele é um velho experiente, já devia ter entendido que tentar roubar a minha grana é uma missão suicida. Está mandando ovelhas pro matadouro. - Dione apertava o pescoço do homem com muito mais força a cada palavra que dizia.

__ Ai! Pare pelo amor de Deus! Está me sufocando! Lisa, por favor, manda ele parar!

Dione voltou o olhar em pura interrogação para Lisa esperando qual seria o veredito. Torcia para não ser surpreendido pela caixinha de Pandora novamente. Estava claro para ele que o homem ao seu domínio era um mandado do seu Neco.

__ Lisa... Ele vai acabar me matando! - Falou o homem com dificuldade de respirar já com o rosto avermelhado.

__ Solte ele Dione! - A pandora o surpreendia novamente.

__ O que?! - Ele não acreditava. __ Quer que eu solte ele?!

__ Sim, está com problema de audição cara? - Falou o o homem batendo a mão livre nos braços musculosos de Dione, que apertou seu pescoço com mais força o fazendo perder a fala e começar a se sufocar.

__ Você sabe com quem está falando seu cretino?! É melhor baixar essa bola! - Dione queria um mínimo de respeito.

__ Dione, Dione... solte ele. Confie em mim. - Falou Lisa com espanto, intercalando o olhar no homem se sufocando e já perdendo a cor, e em Dione que ainda parecia cheio de dúvidas se questionando se aquilo era o correto.

Ele não o soltou de imediato. A dúvida sobre essa atitude dela reinava dentro de si. Só que sabia que alguns segundos a mais e o sujeito preso em seus braços sufocaria. Após alguns segundos, decidiu mais uma vez confiar na pequena, o soltou o jogando no chão fazendo que caísse de joelhos levando uma das mãos na garganta a massageando para aliviar a dor e tentando recuperar o fôlego.

__ Quem é esse sujeito? - havia Irá na pergunta, ainda não estava satisfeito de ter o liberado.

__ Ele se chama Plínio. É um dos amigos do seu Neco. Não esquenta. Ele é como se fosse da família. - Lisa falava olhando direto nos olhos de Dione. O olhar da moça lhe deixava dúvidas. Parecia esconder algo muito grave e que o fazia detestar essa situação.

__ O que você quer aqui? - Dione o questionou.

__ Nada de mais, apenas vim ver se o seu Neco estava. A gente costuma jogar cartas pela manhã. - Plínio falou se sentando no chão, ainda esfregando a área dolorida.

__ Isso é verdade? - Dione perguntou desconfiado olhando para lisa.

__ Sim. É sim. - Lisa respondeu seco. Não estava muito disposta a prolongar aquele assunto.

__ Ele é uma boa pessoa? Você confia nele? - Dione reforçou a pergunta. Precisava ter certeza que não era uma armadilha.

__ Sim. Confio. - Foi seca mais uma vez.

__ Então seja bem vindo a essa casa! Desculpe o transtorno. - Falou Dione levando sua mão na direção dele para que o homem a usasse de impulso para levantar. Ele olhou receoso mas decidiu segurar sua mão.

Dione o colocou de pé o puxando com um solavanco.

__ Você é maluco meu irmão?! Atira primeiro e pergunta depois?! - Plínio falou com insatisfação.

Dione se abaixou, pegou a boina que havia caído, bateu a poeira ilusória dela e a colocou no topo da cabeça do rapaz, deu um sorriso de deboche o vendo ajeitar o chapéu do seu jeito.

__ O Seu Neco não está, Plínio. Deu uma saída. - Lisa lhe explicou um tanto temerosa.

__ Então eu volto uma outra hora. - Talvez eu o encontre por aí.- ele disse dando um sorriso sem graça e se virando para a porta. Tinha cumprido sua tarefa e não pretendia mais ficar na companhia daquele homem intimidador. Dione se colocou no seu caminho e o questionou com sua melhor cara de mau...

__ Pra que a presa? Seu Neco não está, mas você pode jogar uma partida comigo. Eu também preciso vê-lo. Tenho que acertar umas coisas com ele também. Vamos jogar, enquanto isso ele chega. Lisa, tem um jogo de baralhos aí? - Dione perguntou a garota ainda ali parada em sua frente, sem tirar os olhos do homem que engoliu em seco.

__ Tenho sim. Vou pegar. - Falou sorrindo entendendo a sua jogada e se retirando.

__ É melhor não. Você tem cara de quem joga bem e eu não quero passar vergonha em sua frente. - Plínio tentava achar uma desculpa convincente para deixá-lo partir sem aumentar mais sua desconfiança.

__ Sou péssimo no baralho. Só não perdi a minha esposa no jogo, por que eu não tenho uma. - Dione brincou com sarcasmo. Venha. Sente-se... - colocou as duas mãos firmes no ombro do homem o forçando a caminhar até se sentar com tudo na cadeira junto à mesa.

(...)

Logo lisa voltava com o jogo de cartas e era iniciada a rodada do jogo. Dione embaralhou de uma forma impressionante as cartas às fazendo desfilar de uma mão para outra com graça, elegância e puro exibicionismo.

__ Olha a habilidade que você faz isso... Você não me engana, com certeza é um ótimo jogador. - Plínio sorria admirado.

Sou o embaralhador oficial do clube, apenas isso. - Falou rindo, olhando para Lisa que também deu um sorriso cúmplice. O que vai ser, truco?

__ Truco é perfeito. - Lisa confirmou sorrindo, assumindo seu lugar na mesa.

__ Vocês é que mandam. - Disse Plínio.

__ Vai ser truco então. - Falou Dione distribuindo as cartas sobre a mesa observando a tensão aumentar sobre todos.

__ Se você joga bem Dione, quero ver essa partida, pois o Plínio também é fera no baralho! - Lisa tentava amenizar o clima.

__ Há, é mesmo? Vamos ver... - Falou Dione jogando sua carta.

__ Lisa... por favor, não o deixe cheio de expectativas. Eu não jogo tão bem assim. - Plínio comentou sem graça.

Dione, aproveitou a concentração do homem nas cartas em sua mão e resolveu puxar conversa enquanto jogava.

__ Quer dizer que você é como se fosse da família? - Plínio trocou olhares com Lisa e respondeu:

__ Sou sim. Aqui eu me sinto em casa. - Disse sorrindo enquanto escolhia a próxima carta.

Dione não deixou de reparar na enorme cicatriz que o homem carregava num lado do rosto. Apontou para ela fazendo uma observação sobre o que poderia ter provocado.

__ Você tem uma bela cicatriz ai. Como conseguiu ela?

__ Me cortei ao pular de uma cerca quando tentava escapar de um maldito cão. - Disse olhando para Lisa assustado torcendo para que ela não desmentisse a sua versão.

__ Ou seria uma gata? - Dione questionou com sarcasmo.

__ Há não. Eu nunca correria de uma gata. Não diga isso, o que pensa que eu sou? - falou sem graça.

__ Eu só estou brincando Plínio. Relaxa! A quanto tempo conhece essa família?

__ Seu Neco e eu já éramos grandes amigos bem antes dele se casar com a dona Jane. - Disse jogando.

__ Quantos anos exatamente você tinha na época Lisa? - Perguntou olhando para a moça esperando a resposta. Lisa olhou assustada para Dione entendendo a pergunta e trocou olhares com Plínio.

__ Doze anos. Eu tinha doze anos na época. - Falou encarando Plínio.

__ Hum... ainda era uma criancinha.

__ Tenho lisa como minha sobrinha seu Dione, sou como um tio para ela. Não é verdade Lisa?- Os homens olharam para ela esperando a resposta.

__ Sim. É verdade. Plínio é o tio que eu nunca tive.- confirmou num sorriso acanhado sem mostrar os dentes.

__ Se você é tão bom como a Lisa disse, alguma coisa está tirando sua concentração, um jogador experiente nunca jogaria essa carta. Essa rodada é minha. - Disse recolhendo-as.

__ Confesso que estou um pouco nervoso.

__ Não fique Plínio, aqui você está entre família. - Falou firmando uma das mãos no ombro do homem e rindo para ele que também riu sem graça de volta. Esperou Dione se virar para Lisa e revirou os olhos bufando, Plínio esperava apenas uma brecha para se mandar dali.

__ Vamos continuar, eu não costumo perder a segunda rodada. - Falou tentando entrar no clima.

__ Quantos anos você tem Plínio?

__ Tenho 36 anos.

__ É casado? Tem filhos?

__ Que nada... ainda não encontrei minha cara metade. Você sabe né, sorte no jogo, azar no amor. - sorriu. Eram perguntas demais para seu gosto.

__ Sim. Sei como é. Podemos dar as mãos. - Disse Dione concentrado.

__ Eu ainda não tenho 40 anos, espero que a partir de hoje, eu comesse ter mais sorte no amor. - Completou ele sorrindo para Lisa que lhe devolveu o sorriso.

__ O problema do Plínio é que ele gosta de garotas mais novas. - Lisa falou firme como se tivesse começado a encarnar um personagem, o fitando.

__ É mesmo Plínio?! Gosta das novinhas?! - Dione questiona voltando o olhar para ele.

__ Eu prefiro sim. Há algum problema nisso? - Falou incomodado girando o pescoço para Lisa e Dione.

__ Não. Nem um. Olha para nós... eu tenho quase quarenta anos, e Lisa dezenove. Não que eu tenha preferência para as mais novas, mas é que o coração não escolhe idade, cor e nem religião. - Falou Dione erguendo sua mão aberta sobre a mesa. Lisa colocou a sua sobre a dele que a segurou carinhosamente.

__ Não me diga que vocês estão juntos?! -Falou fingindo um entusiasmo. Vocês formam um ótimo casal! Você é um sujeito legal... - Falou se virando para ele.__ Eu faço todo gosto. Podem acreditar. - Falou jogando a sua carta.

__ Olha só! Você tinha um trunfo. - Disse Dione vendo Plínio bater a rodada.

Lisa fitava os olhos de Plínio com uma náusea se formando em ondas no seu estômago novamente e o viu soltar uma gargalhada, comemorando a vitória. Isso a fez se lembrar de como eles riam quando a abusavam. Plínio passou a língua sobre os lábios ainda rindo, fitando lisa. Ela relembrou dessa sua mania e isso lhe arrepiava os pelos do corpo, de como eram ruim os abusos, em todos os sentidos, desde antes de começarem.

__ Vamos continuar, ainda não acabou! A diversão só está começando. - Falou Plínio cheio de confiança já começando a gostar da brincadeira.

Lisa se lembrou que ele disse essa frase quando já tinha lhe machucado muito e que ainda não era o suficiente. Plínio juntou as cartas e as embaralhou. Às bateu sobre a mesa e quando ia distribuir, Lisa bradou:

__ Pare! "Agora sou eu que dou as cartas." - Dione e Plínio olharam com espanto.

__ Sim. Fique à vontade. - Disse o homem lhe entregando o montante. Lisa distribuiu as cartas uma a uma com um ar superior.

__ Plínio, Uma mulher de trinta anos ainda é muito velha pra você?

__ Olha seu Dione, para lhe ser bem sincero eu...

__ Uma de trinta é sim muito velha para ele. Lisa anteviu a resposta firmemente o fitando.

__ Vinte e cinco então?

__ Menos, bem menos... - Falou Lisa sem tirar os olhos do homem que começou a se sentir desconfortável.

__ Vinte?

__ Menos.

__ Dezoito? - Lisa sorriu sarcástica e falou:

__ Dione, nem dezessete, quinze ou dezesseis...

__ Menos?! Plínio... Me diga que não é verdade. - Dione questionou lhe olhando com sarcasmo esperando a resposta.

__ Fala pra ele Plínio, qual sua idade favorita de mulheres. -- Lisa bateu a palma da mão com violência sobre a mesa o fazendo dar um pulinho na cadeira com os susto que aquilo provocou.

__ Eu não sei onde vocês estão querendo chegar com essa conversa. É melhor eu ir embora! - Disse ameaçando se levantar.

__ Doze, doze anos... Plínio gosta de garotinhas de doze anos seu Dione! - Falou sem tirar os olhos do homem. Plínio se levantou abrupto derrubando a cadeira e já sacando uma arma que carregava em sua cintura, um revólver calibre 22 e o apontando para Dione ao ver que também se levantou.

__ É melhor você ficar quietinho aí grandão, se não quiser levar uma bala bem no meio da cara!

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