Capítulo 35 Vingança Tola.
O click saiu da arma com o mesmo desdém que Dione olhou o velho ali deitado ao chão. A munição acabara. Dione esboçou um sorriso sacana pela má sorte dele. Era chegado a hora literalmente do acerto de contas final entre os dois...
Mercedes ainda estava boquiaberta sem reação, olhando para a estrada que Lisa usou para fugir. As lágrimas ainda rolavam silenciosas por sua face, não acreditava que aquela mulher ensandecida fugiu daquela cena de horror com sua filha.
Dione mirou os olhos na mesma direção que os dela, admirado com a coragem de Lisa ao volante, talvez nem ele tivesse tantas destrezas assim. E um tanto admirado e orgulhoso, comentou:
- A garota é mesmo cheia de surpresas...- Deixou um sorriso bobo escapar pelos lábios - Ou eu sou um ótimo instrutor ou ela é uma ótima aluna. Está dirigindo melhor do que eu!
Ela lhe encheu de orgulho, mas não deixou de se preocupar com sua atitude. Por que ela se mandou daquela forma? Por que não os levou juntos? O que mais o preocupava era a mochila que estava no veículo.
__ Mercedes... Você está bem? -- Perguntou a mulher que parecia petrificada com o olhar voltado à estrada.
- É óbvio que não! Ela sequestrou a minha filha! - Mercedes começou a socar Dione no peito com raiva. A mulher dirigia como louca! Como poderia ficar bem com a filha presa dentro do carro com ela! Pra onde aquela idiota a levaria! Como pode fazer isso com uma mãe desesperada como estava?
- Ela está bem, fique tranquila! Lisa é uma moça responsável e confiável! - Dione a segurou pelos pulsos encarando seu desespero de mãe bem dentro daqueles olhos marejados de dor.
- Se ela fizer algum mal a minha menina... - Mercedes tinha razão de estar tão nervosa. Se fosse sua filha e não conhecesse Lisa, também estaria em pânico.
- Não vai fazer! Acredite! Confio nela plenamente! - Dione a abraçou apertando-a contra seu peito tentando acalmar aquela mulher.
- Tem certeza?! - Perguntou desconfiada e quis ouvir a resposta olhando profundamente nos seus olhos.
__ Tenho sim. - Falou sorrindo. Mas, depois do que viu o que Lisa fez, ele não tinha tanta certeza. Virou-se para o senhor caído no asfalto, ouvindo sua respiração ofegante. Ele era a prova viva do que a garota era capaz de fazer mediante pressão.
__ Sabe pra onde ela está levando minha filha? Espero que não seja para um bordel! - Mercedes ainda não se sentia confiante em sua resposta.
__ Bordel?! - Disse Dione se virando imediatamente para a espanhola nem acreditando no que acabara de ouvir sair de seus lábios. - Vai continuar? É sério isso? Ela acabou de salvar a gente, merece o mínimo de respeito! Por favor, Mercedes!
__ Desculpa... É que quando a vi parada aqui com você na esquina a uma hora dessas, é o que eu consegui imaginar. - deu de ombros ignorando seu comentário.
__ É assim que me enxerga? Um fanfarrão? - Era um mulherengo, isso era fato. Não sabia exatamente como sair dessa sinuca de bico que ela o colocou. Mas, Lisa? Ela merecia respeito!
__ Não! Claro que não! Me perdoe Dione, eu não sei o que eu estou dizendo, estou muito perturbada com tudo isso... - Ele deu de ombros e começou a caminhar para rua.
- É que aquela asiática me pareceu bem nova. E é bem bonita também. - Realmente, Mercedes não sabia quando calar a boca...
__ Acha que eu só poderia ter algo com ela pagando? - Falou furioso ao se virar para a mulher. O pensamento dela sobre os dois era ridículo! Mas, preferiu ignorar e começar a andar novamente.
__ Não! Claro que não! Mas, você tem algo com ela? - Dione não a respondeu. Ela foi atrás dele a passos largos.
__ Seu Dione, eu lhe fiz uma pergunta. Você tem alguma coisa com a Asiática? - Insistiu. Ele se abaixou no chão, pegou uma arma próximo a um corpo que parecia dar seus últimos suspiros, se levantou e atirou nele o descansando.
- Coreana, pra ser mais exato. - Respondeu ele caminhando em direção á Branco. Aquilo não ficou muito claro para ela, mas não iria importunar o homem com aquele assunto novamente. Ele apanhou o chapéu de Branco que estava caído pelo caminho.
- Você está bem Mercedes? - Repetiu a pergunta quando ela parou pelo caminho colocando a mão na boca vendo um dos cães estrebuchados no asfalto.
__ Sim. Novamente, graças a você...- Falou com semblante de nojo pela cena.
__ Mas ainda não acabou. Vamos terminar com isso e darmos o fora daqui, a polícia não demora chegar.
Isso era um mistério pertinente em sua mente. Por que diabos ela não apareceu? Aquele cruzamento havia se tornado uma zona de guerra e, nada? Olhou os prédios à sua volta e jurava ver rostos escondidos atrás das cortinas a lhe espiarem. Pobre almas covardes!
__ Você está ferido! - Mercedes falou olhando para a coxa do homem sangrando.
__ Não é nada. Eu estou bem. Vou dar um jeito nisso agora mesmo. - Dione retirou sua camisa e a amarrou sobre o corte para estancar de vez o sangramento.
Dione foi até o corpo de Branco que estava agonizando no chão. Ela o acompanhou ainda temerosa. Aquele velho parecia um demônio, temia que ainda pudesse atentar sobre si. Suas pernas esmagadas, o corpo coberto de sangue seu e dos cães, deitado em uma poça maior de sangue... Seu estado era digno de pena para muitos. Porém, ela lembrou da pensão. De todo horror vivido de momentos atrás. De estar sob a mira da sua arma. E todo medo que sentiu. Seu estômago embrulhou e estava prestes a vomitar sobre ele se não cobrisse os lábios e fechasse os olhos tentando manter o controle.
- Olha o que eu encontrei... - Falou Dione colocando o chapéu na cabeça vendo que encaixou perfeitamente. __ Nada mal. Até que me caiu bem.- Falou sorrindo para o homem e depois para Mercedes que não achou tanta graça, estando ainda abalada com tudo o que aconteceu. Dione Apontou o cano da arma para a cabeça dele e disse:
__ Quero que saiba que no fundo, bem no fundo mesmo eu ainda sinto pena de você. Por isso vou livrá-lo desse sofrimento.
O homem, agora derrotado, humilhado e sem forças nenhuma para pedir clemência, o olhou sem dizer nada.
__ Ou eu o deixo vivo? Acho que se for para uma cadeira de rodas, não ousará atormentar essa pobre mulher novamente. Ou vai?
__ Eu lhe subestimei. Olha em volta... Você acabou com praticamente toda minha família. - choramingou lamentando a perda dos filhos.
__ Devia ter desistido dessa vingança tola. - Falou Dione sem comoção em sua voz.
__ Por favor... Me mate de uma vez. Eu lhe imploro!
__ Bem, vou deixar pra Mercedes decidir isso. - Falou entregando a arma para a mulher a segurando pelo cano. Ela pegou a arma e surpresa o olhou.
__ Va em frente senhorita! Faça as honras da casa! - Dione fez uma referência em sinal de um pedido de desculpas de quando brincou consigo atirando sobre sua mão nos capangas da caminhonete. Ela apontou a arma para o sogro. Seu coração acelerou com a adrenalina da arma em sua mão. O sangue fervendo de ódio em suas veias e a raiva a guiando, olhou nos olhos inundados pela dor do moribundo e suas mãos ficaram um tanto trêmulas. Ele num ato insano começou a rir e a tossir.
__ Olha pra você... - Disse ao ver o estado dela. Fechou o cenho em tom esnobe e ainda completou - Vamos, atire logo! O que está esperando?! - Atire em mim sua desgra... - Antes que terminasse ela disparou. A bala atingiu o ombro do homem que urrou de dor colocando uma das mãos no ferimento. Dione fez cara feia, pois sabia o quanto doía um tiro na clavícula.
__ há! Não aí sua filha de uma puta ruim de mira! Sua filha deve atirar melhor do que você! Ai como isso dói!
Mercedes mirou outra vez, e de novo com as mãos trêmulas disparou novamente. O tiro arrancou uma orelha de Branco.
__ Ai! Ai! Ai! Tome essa maldita arma das mãos dessa louca, pelo amor de Deus! - Gritou Branco implorando.
__ Mercedes, é melhor deixar que eu faça isso... - Falou Dione levando
a mão rumo a arma. A mulher recusou erguendo o rosto afrontando o homem moribundo a sua frente.
__ Não! Eu preciso fazer isso! Por favor Dione, me deixe fazer isso!
__ Você está só torturando ele assim!
__ Dessa vez eu acertarei. - Falou ela com um meio sorriso que deixou Dione preocupado, olhando outra vez para o homem que agonizava a sua frente. Branco em meio a todo aquele desespero e dor começou a xingá-la.
__ E então sua vadia, já contou para ele como Slander a fodia? Contou o quanto lhe machucava durante a transa? Ele lhe tratava como um lixo! Aliás, você não passa disso, um lixo ambulante... Essas palavras acenderam o pavio da Espanhola. Sim, ela lembrava muito bem das dores e humilhações que seu parceiro a fazia passar. Elas eram pesadelos a lhe atormentar todas as noites. Mordeu os lábios com raiva e viu o fogo se acender em seu corpo lhe queimando de desejo por sua morte. O olhou friamente em seus olhos e cuspiu as palavras na sua direção...
__ Não. Seu filho não me fodia. Ele não passava de uma mulherzinha... - Branco a encarou agora confuso, talvez nunca soube das preferências do filho. __ Te vas a encontrar con Slander en el infierno, bastardo!
Ela gritou alto e começou a descarregar toda munição no homem. Aquele corpo se remexia sem sair do lugar, ao receber o impacto das balas. Branco morreu de olhos arregalados e com um semblante de desespero no rosto. As balas já haviam se acabado e Mercedes continuava a gritar e a puxar o gatilho fazendo-se ouvir o barulho seco da trava batendo no tambor vazio.
__ Hei, hei, hei... chega! Ele já está morto. Você conseguiu. - Falou
Dione retirando a arma das mãos da mulher e lhe abraçando. Logo após confortá-la, Dione se abaixou próximo ao corpo e passou a mão no rosto do homem fechando os seus olhos. Em seguida retirou o chapéu da sua cabeça e o colocou sobre o rosto do homem.
__ Não se preocupe, você fez a coisa certa. - Falou Dione se levantando. __ Com certeza não sentirá remorsos por isso. É a única coisa a se fazer para lhe deixarem em paz.
Eles ouviram vozes. Caminharam para o meio da rua e viram o taxista apontando uma arma para um rapaz e dizendo:
__ Vai andando... Ele achou que iria escapar, mas eu o derrubei com o extintor! - Sorria com seu feito mostrando ao casal a sua presa.
__ Como vai amigo? - Cumprimentou Dione em tom sarcástico. -
Drico, não é? - O rapaz gordo de cabelos pretos escorridos assentiu com a cabeça. __ É, eu decorei o seu nome.
__ Ele é todo seu. Acho melhor matá-lo também. - Falou o taxista olhando a bagunça já feita ao seu redor. Um a mais ou menos não faria nenhuma diferença.
__ Eu quero essa honra... - Disse Mercedes indo até o motorista e pegando a sua arma. Colocou o rapaz na sua mira e ele a olhou assustado.
__ Por favor, não me matem! Eu vou embora e vocês nunca mais me verão! - Suplicava o homem com as mãos juntas.
- Lamentablemente este es un camino sin vuelta! - Pronunciou a mulher em Espanhol.
__ Calma... Ainda não. - Falou Dione baixando o cano da arma com a mão bem devagar. __ Está pegando gosto? - Sorriu lhe olhando.
__ Por que não? Ele merece morrer!
__ Sim. Merece. Mas nós vamos precisar dele. Temos que desvirar o táxi do nosso amigo. - Falou se aproximando do hidrante que continuava a esguichar, começando a lavar as mãos e o rosto na água corrente.
Mercedes o encarou insatisfeita. Poderia pegar a caminhonete ou até mesmo irem a pé. Não aguentava ficar mais nem um minuto naquele vale de sangue que já começava a cheirar mal. E depois, quanto tempo levariam para tal fato? E a polícia? O que diriam sobre o estrago que fizeram? Mesmo assim, devolveu a arma ao taxista revirando os olhos de raiva.
Homens! Poderiam ser mais práticos! E no momento, fugir dali a qualquer custo era o mais prático...
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