Capítulo 3 - Propaganda enganosa
Dione e Marina chegaram à cidade sentindo uma mistura de esperança e apreensão. Após uma longa viagem, eles encostaram o caminhão de mudança em frente ao indereço indicando para a vaga de trabalho.
O endereço os levou a uma oficina movimentada, onde o barulho de ferramentas e motores preenchia o ar. O pátio estava repleto de carros, e todos os trabalhadores pararam o que estavam fazendo para observar a dupla recém-chegada.
Com passos determinados, Dione e Marina atravessaram o pátio e entraram num galpão.
O galpão da oficina era imenso, medindo 100 metros de comprimento, 60 de largura e 40 de altura. Quando Dione e Marina entraram, seus olhares percorriam o ambiente vasto, absorvendo cada detalhe.
Dione olhou para o alto e viu um funcionário gritando para outro que estava embaixo, ao lado de uma peça de motor pesada pendurada em um gancho, pronta para ser puxada.
- O que está esperando para puxar logo isso aí?! - bradou o funcionário no alto.
Um cabo de aço atravessava todo o galpão, e uma carretilha transportava a peça até o chão, onde um dos mecânicos puxava com uma corda, facilitando a descida.
A escada que levava à plataforma onde funcionava o escritório era de metal, com degraus vazados e corrimãos enferrujados pelo uso. No topo, a plataforma era ampla, com uma visão privilegiada de toda a movimentação na oficina. Foi de lá que colocaram a peça para descer, utilizando o complexo sistema de cabos e roldanas.
Os homens trabalhavam arduamente, suas mãos e roupas sujas de graxa. O cheiro de tinta fresca e de graxa impregnava o ar, tornando-o espesso e químico. Esse odor forte fez Marina espirrar várias vezes enquanto caminhava pelo galpão, tentando se acostumar ao ambiente.
Quatro homens interromperam suas atividades e os fitavam com curiosidade e desconfiança.
Dione deu um passo à frente, tentando esconder a tensão em sua voz:
- Como estão? Fui contratado para uma vaga nessa oficina.
Os homens continuaram a olhar para ele sem dizer uma palavra. Sentindo a necessidade de confirmar, Dione retirou o celular do bolso e leu em voz alta:
- Espera... O anúncio é esse: Vaga para mecânico - 6 dias por semana, 8 horas por dia, dois dias de folga por mês, moradia, cesta básica, auxílio saúde que se estende a toda família...
Dione olhou para os homens esperando uma confirmação, mas eles começaram a rir, um riso que parecia encher o galpão e tornar o ambiente ainda mais opressivo.
- Vai sonhando, cara! - disse um deles, e os outros continuaram a rir.
- Se descobrir onde existe um emprego assim, nos avise, meu irmão. - continuaram a rir, provocando ainda mais desconforto em Marina, que trocou um olhar preocupado com o pai.
Nesse momento, um homem magro, de cerca de 1,75 metros de altura, com uma barba rala e grisalha que cobria parcialmente seu rosto anguloso, saiu de dentro de um escritório no alto de uma plataforma, atraído pela algazarra. Ele usava uma camisa de flanela vermelha e azul, desgastada pelo tempo, com as mangas arregaçadas até os cotovelos, revelando braços finos, mas musculosos. Suas calças jeans estavam manchadas de óleo e graxa, e ele calçava botas de trabalho pesadas e sujas. Os olhos castanhos do homem brilhavam com uma curiosidade misturada a impaciência, enquanto ele ajeitava a postura e começava a descer as escadas em direção ao grupo.
- O que está acontecendo aqui?! - questionou ele, com sua voz carregada de autoridade.
- Ele veio em busca do emprego dos sonhos! - respondeu um dos trabalhadores, arrancando mais risadas de seus colegas.
- Todos, voltem ao trabalho, a festinha acabou! - ordenou o chefe. Os homens obedeceram, ainda rindo baixinho.
O chefe olhou para Dione e disse:
- Venha, vamos conversar no meu escritório. - Dione assentiu, mas quando Marina tentou segui-lo, foi barrada ao pé da escada.
- Preciso conversar a sós com o seu pai, meu anjo. - disse o chefe, com um sorriso simpático.
- Tudo bem, eu espero aqui. - Marina respondeu, tentando esconder seu desconforto.
- Maizon! - gritou o chefe, e sua voz ecoou pelo galpão. Um rapaz de cabelos pretos lisos, baixo, de olhos verdes e camisa xadrez veio rapidamente, limpando as mãos em um pano.
- Sim, chefe! - disse, prestativo.
- Acompanhe a senhorita até a cozinha e sirva-lhe um café e biscoitos.
- Claro! - respondeu ele, sorridente.
- Não precisa, eu não estou com fome... - disse Marina, resoluta.
- Venha... - Maizon pegou sua mão e a puxou gentilmente. - Não tenha vergonha, vai gostar das rosquinhas, são uma delícia! - disse ele, ainda sorrindo.
Dione observou com desconfiança, mas o chefe o tranquilizou:
- Ela vai ficar bem, não se preocupe.
Dione seguiu o chefe para dentro do escritório, enquanto Marina, ainda hesitante, foi conduzida por Maizon.
No interior do escritório, o chefe gesticulou para que Dione se sentasse em uma cadeira de metal desgastada, posicionada à frente de uma mesa desorganizada. O ambiente era claustrofóbico, com paredes forradas de prateleiras abarrotadas de peças de automóveis, manuais antigos e ferramentas. Uma luminária de mesa lançava uma luz amarelada, criando sombras profundas nos cantos do cômodo.
O chefe, afundou-se em uma cadeira giratória coberta de couro rachado. Ele retirou uma carteira de cigarros do bolso de seu jaleco manchado de graxa e, com movimentos precisos, colocou um cigarro nos lábios. Ofereceu um a Dione, que levantou a mão em recusa.
- Estou tentando parar. - disse Dione, com uma mistura de determinação e cansaço na voz.
- Hum... tenha muita força de vontade, você vai precisar. - aconselhou o homem, acendendo o cigarro com um palito de fósforo que riscou na caixinha sobre a mesa. A chama iluminou brevemente seu rosto anguloso antes de ele soprar o fósforo e descartá-lo em um cinzeiro transbordando. Ele deu algumas tragadas profundas, e o cheiro acre do tabaco rapidamente começou a enfumaçar o ambiente.
Dione observava enquanto o chefe se inclinava para trás, relaxando na cadeira. O homem entrelaçou os dedos sobre a barriga e exalou uma nuvem de fumaça, que se espalhou lentamente pelo escritório.
- Então... - começou o chefe, suas palavras saianham entre tragos do cigarro. - ... veio atrás da vaga de mecânico...
A voz do homem era rouca, carregada de anos de fumo e noites mal dormidas. Ele estudava Dione com olhos avaliadores, buscando entender o homem que se colocava à sua frente. A tensão no ar era palpável, e cada movimento parecia carregado de significado enquanto ambos se preparavam para a conversa que definiria os próximos passos de Dione.
Enquanto isso, no andar de baixo...
Ao entrar no que supostamente era a cozinha, Marina ficou assustada com o ambiente: não havia nada que lembrasse uma cozinha, apenas uma bancada de madeira desgastada no centro, suja de graxa. Ao redor, prateleiras de metal enferrujadas estavam repletas de ferramentas antigas, peças de motores desmontados e latas de óleo abertas, com o líquido escorrendo lentamente. O cheiro forte de óleo queimado e solventes químicos impregnava o ar, misturado com um leve odor de mofo que vinha de um canto onde caixas de papelão empilhadas estavam visivelmente úmidas. Em um canto, um compressor de ar enferrujado emitia um zumbido constante, acrescentando uma sensação de desconforto ao ambiente claustrofóbico.
Maizon encostou a porta e a fitou por um momento.
- Bonita desse jeito, só pode se chamar Julia. - disse ele, puxando conversa enquanto tentava descobrir seu nome.
- Meu nome não importa. Me sirva logo o café que quero ir embora daqui. - Respondeu seca, não querendo dar trela ao desconhecido.
- Mal-educada. Isso não combina nada com você. - Falou desgostoso.
- Não faz diferença para mim. Não estou tão interessada em seu café, vou procurar o meu pai, com lisença! - Pelo ambiente e pelo olhar aquizidor do homem, ela deduziu que algo estava muito errado, e decidiu sair, antes que as coisas se complicassem.
Ao passar por ele com passos rápidos, ele a agarrou por trás, a fazendo gritar de susto.
- Hei, me solta, o que está fazendo! - Com os olhos arregalados tentava se soltar da pegada firme dele.
- Você precisa me servir antes de ir embora. - falou com sorriso sínico e malicioso.
- Papai, SOCORRO! - Ela gritou relutante.
- Não perca o seu tempo, ele não pode te escutar. - Riu debochado e a puxou para a bancada.
- Meu pai já deve estar atrás de mim, vai se arrepender quando ele te encontrar, você não conhece o meu pai, é faxa preta em artes marciais! - Quaria intimidar o homem, mas não dizia nada além da verdade. Dione lutava bem, foi treinado em uma escola de karate.
- E eu sou o Bruce lee. - O homem debochou mais uma vez, rindo sem controle. Cessou o riso abruptamente, cerrou os olhos enchendo os pumões com o cheiro dos cabelos dela.
- Hum... como você é cheirosa!
- Me salta, seu tarado, SOCORROOOO!
Ela se debatia e não deixava fácil para o homem a missão de se aproveitar do corpo dela.
No escritório, Dione se sentia cada vez mais revoltado.
- O quê, não tem essa vaga anunciada?!
- Tenho a vaga, sim, mas não com esses benefícios que você está me dizendo. - respondeu o chefe.
Dione se levantou, a raiva transpareceu em seu rosto, pegou o homem pela gola da camisa e o puxou para perto de seus olhos.
- Está fazendo propaganda engonosa?!
- Me desculpa, eu sou apenas o chefe, quem toma conta do marketing são outras pessoas. Não sabia que esse anuncio existia! Um salário é o que posso oferecer no momento. - Falou em sua defesa.
- Acha que eu deixaria toda minha vida para trás por um mísero salário?!
- Acalme-se, senhor, vamos resolver isso sem violência, ok? - disse o homem, cheio de pavor.
- Tem noção de como foi difícil convencer minha filha a deixar seus amigos e sua vida para trás para me acompanhar?
- Posso imaginar que não foi fácil, senhor.
- Falei para ela que seria uma ótima coisa, que viveríamos bem, e que valeria a pena.
- Mantenha a compostura, homem! Se não quer o emprego, vá embora e me deixe em paz! - O chefe gritou, sério.
Dione o soltou, fechou os olhos e suspirou profundo, em seguida socou o rosto do homem que caiu para trás junto a cadeira, aterrorizado. Furioso, foi até ele, o ergueu do chão e o golpeou novamente no rosto o fazendo guspir sangue e cair derrotado sobre a mesa.
Dione começou a revirar o escritório da oficina em busca de dinheiro ou algo de valor, uma recompensa pela frustração e pela perda de tempo ao ter ido até ali. Ele abriu gavetas com violência, jogando papéis e objetos para o chão, e arrancou os armários das paredes, despejando o conteúdo no chão em um tumulto desordenado. Sua determinação o levou a uma pilha de caixas, atrás da qual encontrou um cofre oculto.
Sem hesitar, Dione pegou um pequeno maçarico que estava pendurado atrás da porta. Arrastou a potija para próximo do chefe, ferido sobre a mesa, abriu o gás, e acendeu as chamas com um dos fósforo. O brilho azul projetava sombras dançantes nas paredes do escritório. O chefe arregalou os olhos em terror.
- Diga a senha do cofre, ou vou te queimar feito um porco! - ameaçou Dione, aproximando a chama do rosto do homem.
- Eu não sei a senha, o cofre não é meu! - respondeu o chefe, cuspindo sangue e gaguejando de medo.
- Acha que estou brincando?! - Dione gritou, aproximando ainda mais o maçarico, fazendo o calor intenso fazer o homem gritar de dor antes de afastar novamente a chama.
- Me diga a senha, agora!
Dione foi até o cofre e colocou a mão nos números, esperando.
- Zero seis, vinte e três, meia oito, dezenove! - o chefe gritou, ainda sentindo a queimadura ardendo em seu rosto.
Com um clique, o cofre se abriu. Dentro, Dione encontrou dois maços de dinheiro e um pequeno bilhete que parecia um bilhete de loteria.
- O que é isso? - perguntou Dione, mostrando o papel.
- É um bilhete premiado... Pegue-o e vá embora com sua filha. Só me deixe em paz! - implorou o chefe, com medo pela sua vida.
Dione olhou nos olhos do homem por um momento, avaliando sua sinceridade. Finalmente, ele guardou o dinheiro nos bolsos.
- Vou acreditar em sua palavra.
- O prêmio é um carro. - O homem contou.
- Preciso de algo para amenizar essa decepção que trarei á minha filha, e acho que isso está de bom tamanho. - Falou guardando o bilhete no bolso.
- Um porche a fará esquecer essa frustração. - O homem deu mais detalhes sobre o prêmio, acariciando a quemadura no rosto.
- Nunca mais engane as pessoas com propagandas falsas! - Dione alertou com firmeza.
- Tu-tudo bem. Nunca mais farei isso! - prometeu o chefe, ainda tremendo de medo e dor.
- Agora durma um pouco enquanto minha filha e eu damos o fora! - O golpeiou forte no rosto o fazendo apagar.
Com o bilhete e o dinheiro em mãos, Dione se preparava para sair do escritório, decidido a nunca mais cair em outra armadilha como aquela.
Nesse momento, Marina batia desesperadamente à porta do escritório e girava frenéticamente a maçaneta.
- Abre a porta, pai, vamos embora logo desse lugar!
Dione abriu a porta que não estava trancada rapidamente, e ela caiu em seus braços, chorando.
- Filha, o que houve?!
- Ele tentou me abusar, e eu escapei por pouco! - respondeu ela, trêmula. - A porta! - ela se voltou para a porta e a trancou. - ... ele está atrás de mim!
- Fique calma, eu não deixarei nada de ruim acontecer a você. - Dione tenta lhe acalmar.
- Ai meu Deus, o que houve aquí?! - Ela se assusta com o chefe da oficina, ferido e desacordado sobre a mesa e com a desordem do ambiente.
- Eu também tive meus problemas. - Explicou ele.
Batidas fortes contra a porta começaram nesse instante.
- Abram essa maldita porta! Vimos pelas câmeras o que você fez ao chefe! - Dione fitou a câmera de segurança acima de sua cabeça. - Estamos armados, e você pagará por isso. E a garota sofrerá pela joelhada em meu saco!
- O que vamos fazer pai, eles vão matar a gente! - A menina dizia desesperada.
Dione segurou o seu rosto com as duas mãos e pediu calma.
- Primeiramente, desculpa por ter nos colocado nessa!
- Não é hora para isso, pai, eles vão entrar aqui e matar a gente! - Ela falou vendo as batidas se intensificarem.
Do lado de fora três homens estavam a porta. Todos fortemente armados. Um deles portava uma metralhadora.
- Vamos contar até três, se não abrirem vamos metrallar tudo! - Gritou o dono da metralhadora.
- Por quê portam armas em uma oficina?! - Marina queria saber.
Dione se aproximou da janela de trás do escritório sendo seguido pela filha. Olhou lá em baixo e viu a continuação do galpão repleto de carros inteiros e alguns desmontados.
- Isso não é apenas uma oficina, mas também um desmanche clandestino!
Marina olhava boquiaberta para o cenário lá em baixo.
Os três homens do lado de fora do escritório começaram a contagem regressiva, suas vozes eram cheias de ameaça e impaciência.
- Um...
Dione olhou rapidamente ao redor do escritório, com seu coração batendo forte. Havia poucas opções, e o tempo estava se esgotando. Seus olhos se fixaram na botija de gás do maçarico, uma solução arriscada, mas necessária. Com um movimento rápido, ele posicionou a botija atrás da porta e abriu a válvula do maçarico, permitindo que o gás se espalhasse pelo ambiente. Marina começou a tossir, seu rosto mostrava medo e confusão.
- O que vai fazer? - Perguntou, a voz trêmula e os olhos arregalados de preocupação.
- Corra para o banheiro agora! - Dione gritou com urgência, empurrando a menina que obedeceu sem pestanejar. Dione se deitou no piso, abraçando a filha na possível segurança do banheiro.
- Está tentando nos colocar em perigo?! - Marina perguntou apavorada, sua voz quase um sussurro de desespero.
- Se tudo der certo, não. - Respondeu com uma confiança forçada, tentando esconder o medo que também sentia.
A contagem regressiva do lado de fora continuava pausadamente:
- Dois...
O chefe despertou sobre a mesa, tossindo violentamente pelo gás em sua garganta. Seu olhar rapidamente captou o vazamento da botija.
- Três!
O som da contagem era uma sentença de perigo iminente. Dione sentiu um frio na espinha enquanto esperava no banheiro o resultado de sua arriscada manobra.
- SEUS TOLOS! - o chefe gritou para os capangas, em desespero, puxando a mesa e a virando, fazendo dela um escudo provisório, um refúgio do perigo iminente.
Os tiros começaram e as primeiras balas que atravessaram a madeira acenderam o gás que começou a se inflamar no ambiente.
Uma onda de calor e luz emanou da explosão, sacudindo todo o escritório. A porta foi arrancada de suas dobradiças com um estrondo, lançando os homens que estavam em frente a ela para trás.
Eles foram derrubados com força sobre os carros estacionados na oficina. O som de metal amassando e vidros quebrando ecoaram pelo espaço.
A explosão causou um curto-circuito imediato no painel de energia. Faíscas começaram a chover sobre os homens e os carros abaixo. Os fios elétricos crepitavam e zumbiam, criando uma sinfonia de destruição que ressoava pela oficina. Mas isso era apenas o começo.
Dione sabia que não tinha muito tempo. Pegou a mão da filha, chamando-a para fora. Marina estava atordoada, mas aparentemente ilesa. No entanto, o pânico estava crescendo em seus olhos.
Ao passar próximo à mesa, o chefe, que sobreviveu por um milagre, agarrou um dos pés da garota. Marina gritou e caiu sem amparo no chão.
- PAI! - gritou em pânico, sua voz carregada de terror.
- Vocês não vão escapar facilmente! - O chefe falou com fúria no olhar, e Marina fitou assustada o homem com o rosto avermelhado pelas queimaduras da explosão.
Dione voltou atrás e chutou o rosto do homem ao chão, libertando a filha imediatamente de sua pegada.
Eles correram pela plataforma em direção ao gancho da carretilha enquanto o caos dominava lá embaixo.
O chefe, duro na queda, se recuperou rapidamente e logo se levantou, pegando um pequeno machado no alto de uma prateleira, e foi atrás deles com expressão de fúria nos olhos.
Eles alcançaram o gancho preso ao cabo de aço, parte da carretilha usada para levantar e descer motores pesados.
O chefe, já do lado de fora, já prevendo os planos de Dione, correu ao seu encontro com o objeto em punho.
- Segure firme em mim! - Dione gritou para a filha e saltou, agarrando-se firme ao gancho, criando uma tirolesa improvisada.
A descida pelo cabo era lenta mas turbulenta, e a fumaça densa dificultava a visão. O ar estava quente e sufocante.
Dione olhou e viu o chefe da oficina batendo com um objeto contra o pino que segurava o cabo de aço, na intenção de derrubá-los ao chão.
Os homens restantes na oficina estavam se reagrupando, alguns tentando apagar o fogo e outros procurando a origem da explosão.
- Não deixem eles escaparem! - O chefe gritou para os funcionários enquanto batia freneticamente o machado contra o pino, empurrando-o para fora a cada golpe. Alguns homens começaram a disparar na direção de pai e filha, mas a visão estava embaçada pela densa fumaça que subia dos pneus que queimavam. Marina se encolhia no corpo do pai a cada disparo. Um dos homens, furioso, tentou ajustar a mira, mas uma pilha de ferramentas espalhadas fez com que ele tropeçasse e caísse ao chão.
O ar estava cheio de gritos, o som das chamas consumiam tudo em seu caminho e o cheiro penetrante de borracha queimada era insuportável. Dione e Marina se aproximaram rapidamente do chão.
- Malditos! Destruíram minha oficina! - Gritou o chefe, ofegante, terminando de soltar o pino com um último golpe.
O cabo se soltou e começou a cair. O sorriso de satisfação brilhava no rosto do chefe que observava com o machado em mãos. Seu trabalho teve um resultado inverso ao que esperava.
Dione e Marina foram impulsionados contra uma grande janela de vidro com estrutura de madeira. Dione estendeu as pernas e acertou o vidro, quebrando a janela em mil pedaços. Eles atravessaram a janela e caíram rolando pelo pátio do lado de fora. Estilhaços de vidro cintilaram ao sol.
Eles se levantaram rapidamente, ofegantes, mas vivos. Dione olhou para Marina, que estava pálida, com alguns cortes, mas segura. Ele a abraçou fortemente, sentindo o alívio e o terror misturados em seus corpos.
- Vamos, temos que sair daqui rápido. - Dione sussurrou, com a voz ainda trêmula, mas determinada.
Marina assentiu, ainda assustada, mas confiando no pai. Eles começaram a correr, deixando para trás a oficina em chamas e os gritos de frustração do chefe, que observava impotente enquanto sua vingança escapava por entre os dedos.
"Nunca teste a profundidade da água com os dois pés, você Pode cair em um buraco profundo e nunca mais voltar."
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