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Capítulo 8

Louren

- Nos devíamos parar nesse bar. - digo ao passarmos por uma placa indicando um bar que fica somente alguns quilômetros afrente.

- Não é uma boa ideia. - ele não olha para mim.

- Claro que é! - cruzo os braços. - Nós temos muito dinheiro, pois você acabou de assaltar uma loja e em menos de três horas, vou sumir da sua vida. Você não acha que devemos fazer uma despedida?

- Despedida? - seus olhos finalmente encontram os meus.

- Isso. Brindamos com uma garrafa de cerveja, fumamos um pouco e você me larga em Stonefield. Fim.

E eu beijo você uma última vez. É claro.

- Uma garrafa de cerveja cairia bem. - Dick começa a concordar.

E beijar você também não seria nada mal.

- Então, o que me diz?

- Tudo bem. Vamos lá. - ele desvia do caminho e sorrio.

Minutos depois, Dick estaciona a camionete e saímos do carro. Logo na entrada do bar, homens enormes olham para nós com cara feia e escuto um deles me chamar de gostosa quando passamos pela porta dupla e vamos para dentro.

Tudo que faço é rir com a situação e Dick diz:

- Não sente repulsa?

- Pelo quê?

- Por te tratarem assim.

Nós ocupamos dois bancos altos de madeira em frente ao balcão.

- Dick - digo. - , você é homem. Vai me dizer que nunca chamou uma garota de gostosa quando a viu na rua?

- Não. Posso achar isso da garota mas não a como com os olhos e não a chamo de gostosa ao passar por mim. Isso é escroto.

- Nossa - cruzo uma perna sobre a outra. - Quanto cavalheirismo.

- Guardo o que penso da garota para mim e só digo à ela se... rolar algo.

- Hum... Entendi. - junto as mãos sobre o balcão. - O que pensa sobre mim?

- É sério? - ri e chama uma mulher que está despejando um pouco de vodka em um copo para um outro cliente.

A mulher vem até nós e Dick pede para que ela traga duas garrafas de cerveja. No momento em que ela se afasta, volto ao assunto:

- Vamos lá, Dick. - balanço seu ombro. - O que pensa sobre mim? Pode falar, eu aguento.

- Você é louca, sabia?

- Bom, você me acha louca. - sorrio. - Já foi um.

- Você não vai desistir desse assunto, não é?

A mulher volta com nossas garrafas de cerveja e as abre, fazendo as tampinhas saltarem.

- Não mesmo. - nego com a cabeça e levo a garrafa de vidro aos lábios.

- Tudo bem. - ele bebe um pouco da sua cerveja. - Você meio que não tem medo de nada, mas algumas coisas te assustam.

- Concordo. Tipo, hoje você me assustou a berça. - tomo mais um gole. - Mas depois que soube sua verdadeira história, não tive mais medo. O que mais?

- Mais?

- É. Não acredito que só pensa isso sobre mim!

- Tá legal. Calma. Me deixa pensar. - fecha os olhos por uns instantes e volta a abri-los. - Você é muito curiosa. É esperta, mas não sabe mentir. Tem bom gosto musical, gosta de viver o momento, é bonita...

- Sou? - o interrompo. - O quanto sou bonita em uma escala de 0 a 10?

- Agora já chega. - Dick cai na risada.

- Não! Eu quero saber. - argumento.

- Você é um 9 - ele leva a garrafa até os lábios.

- 9? - franzo o cenho. - Não mereço um 10? O que está faltando?

- Você perguntou minha opinião.

- Mas eu sempre me considerei 10.

- Então por que se importa com o que eu penso? - pergunta me olhando.

- Não me importo. Mas agora quero saber porque só valho 9.

- Porque... você usa essas botas de cowboy ridículas e isso não te favorece.

Olho para meus pés e digo:

- Adoro minhas botas.

- Então as use. Você não precisa mudar seu estilo para agradar a ninguém.

- Se eu trocasse as botas por um par de coturnos, você me daria um 10?

- Coturnos? É, quem sabe valeria um 10.

Caio na risada e ele faz o mesmo.

- Infelizmente não tenho coturnos. Terá que se contentar com as botas.

- O que quer dizer?

- Nada. - dou de ombros. - Nada.

Nós bebemos mais um pouco e Dick acende um cigarro antes de terminar sua cerveja. Ele estende um para mim e aceito com um sorriso.

Tá legal. Não sei como se faz isso. Não sei flertar com sorrisinhos e mexidas no cabelo. Eu só consigo me atirar para cima do cara e acabei de perceber que isso não funciona com ele. O que mais eu tenho que fazer?

- Me fala da sua vida amorosa.

Mas que merda é essa que eu estou falando?!

- Louren, ainda não saquei qual é a sua. - dá uma tragada.

- Só estou puxando conversa.

- Você é uma péssima mentirosa. Puta merda.

- Se não quer falar, não fala - viro a cara.

Ficamos sem dizer nada e só tragamos nossos cigarros. Porém, uma voz grave e rouca quebra o clima que havia se instalado entre nós.

- Vocês dois estão a fim de um joguinho?

Nos viramos no banco e encaramos um homem extremamente grande e careca. Seus braços enormes e tatuados estão cruzados sobre o peito e uma jaqueta de couro com alguns broches revelam que ele curte muito heavy metal.

- Não estamos não. - Dick nega com a cabeça.

- Que tipo de jogo? - pergunto.

- Louren, cala a boca! - Dick sussurra com os dentes cerrados.

- Deixa a garota falar. - o careca sorri maliciosamente.

- Que tipo de jogo? - pergunto mais uma vez, tentando mostrar confiança.

- Luta. O perdedor paga toda a bebida que o ganhador quiser.

- Isso parece interessante. - arqueio as sobrancelhas para Dick.

- É, mas não estamos a fim. - ele dá as costas ao careca. - Já estamos quase indo embora.

- Acho que está com medo...

- Não estou com medo, só não quero me meter em confusão. - diz Dick sem encará-lo.

- Que confusão? Essa vai ser uma luta justa e... divertida. - o cara descruza os braços para estralar os dedos das mãos e lá estão mais tatuagens. Uma letra em cada dedo formando o nome Dead.

- Você pagar toda a nossa bebida seria demais! - sorrio.

- Isso se ele ganhar. - ri. - Vou deixar o franguinho aqui pensar um pouco. - ele se afasta, voltando para a sua mesa.

- O que me diz, Dick? Acha que não consegue derrubá-lo?

- Lou, a questão não é essa. Se eu perder vou ter que pagar bebida pra esse cara.

- Mas você não vai perder. Ele já está aqui há mais tempo que nós. Sentiu o hálito dele? Está quase bêbado, ao contrário de você. - digo. - Bastam uns socos e desviar de alguns que ele vai cair e você vai ganhar.

- Você é doente. - ele esfrega o rosto com as mãos e solta uma longa respiração. Então se levanta e continua: - Ei! Onde vamos lutar?

O careca exibe um sorriso de dentes amarelos e aponta para a porta do bar. A luta será lá fora. Com certeza ele não quer quebrar as mesas e garrafas desse lugar.

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