Capítulo 10
Louren
Acordo e demoro alguns minutos para conseguir me sentar e lembrar de onde estou. Na caçamba da camionete do Dick, usando suas roupas e ao lado dele. Toco minhas têmporas com os dedos e sinto minha cabeça latejar. Acho que nunca enchi tanto a cara como ontem, nem sei como vim parar aqui e muito menos como acabei vestida com as roupas do Dick, que se remexe ao meu lado, então abre os olhos e se senta.
- Oi. - diz.
- Oi. - até o som da minha voz faz minha cabeça martelar. - O que rolou ontem? - pergunto. - Não me lembro de nada.
- Bom, resumindo; ocê deu remédio pra um bêbado, fez ele dormir, eu ganhei a luta trapaciando, bebemos, você quis tirar a roupa em cima do balcão e terminamos a noite nadando nesse lago gelado pra caralho.
- Nadando?
- É.
- Tentei tirar a roupa em cima de um balcão?
- Sim, mas eu tirei você de lá antes que os bêbados vissem algo.
- E nós nadamos mesmo?
- É. Mas fica tranquila que você ficou de calcinha e sutiã.
- Ai meu Deus... - fecho os olhos.
- Você é fraquinha pra bebida, hein? - ele pula para fora da caçamba e faço o mesmo, mas assim que ponho os pés no chão, sinto um enjoo terrível e preciso me segurar na camionete para me manter equilibrada.
- Minha cabeça está me matando. Preciso de um remédio.
- A gente compra no caminho. - ele tira a camisa que está usando e desvio olhar, mas fico tentada a ficar espiando enquanto Dick procura por uma peça limpa no banco de trás. - Hoje você vai chegar ao seu destino; Stonefield. - veste uma camisa preta com alguns detalhes em branco e cinza.
- Finalmente. - digo, porém não há empolgação em minha voz.
- É. - ele vai para o banco da frente. - Vamos.
- Você espera eu me trocar? - pergunto e Dick põe a cabeça para fora da janela.
- Não precisa se trocar. Minhas roupas ficam bem você.
Dick liga o motor e vou para o seu lado. Sem perceber, já estou sorrindo e o mais estranho é ver um sorriso em seu rosto também.
°°°
Saio do banheiro do posto de gasolina de banho tomado e dentes escovados, mas a ressaca ainda está acabando comigo. Troquei a calça de moletom do Dick por uma saia jeans, calcei minhas botas de cowboy e vesti sua camisa novamente. Mas para combinar mais comigo, a amarrei um pouco acima do meu umbigo e enrolei as mangas curtas até os ombros.
O encontro enchendo o tanque da camionete e quando me aproximo, lhe estendo a calça.
- Não quero a calça, mas vou ficar com a camisa. - digo e ele me observa.
- Tudo bem. - sorri de lado e pega a peça de roupa. - Vamos entrar e comprar algumas coisas. - Dick joga a calça no banco de trás e nós vamos até a loja de conveniência.
Ele vai pegando uns salgadinhos e eu procuro por algum remédio para dor de cabeça. Passo pelas prateleiras e os encontro ao lado de várias cartelas de camisinhas. Rio ao pegar um dos pacotes e ler a embalagem: Sabor morango. Imagino como seria usar uma dessas com Dick e rio um pouco mais alto, chamando a atenção do homem no balcão. Ele tira sua atenção da revista que está lendo para me olhar feio e viro o rosto. Coloco a camisinha de volta no lugar e pego os remédios para a dor de cabeça. Já estou quase indo encontrar com Dick no fim do corredor, quando escuto a voz de uma reporter na televisão que está presa ao canto da parede.
No fim da tarde de ontem, um casal foi o autor de um assalto a uma loja de conveniência na estrada da Rota 75, perto de Stonefield. Uma quantia de aproximadamente 4 mil dólares foi levada pelos ladrões e o momento da ação foi registrado pelas câmeras de segurança do local.
Agora a repórter some e as imagens das câmeras de segurança mostram Dick estacionando a camionete no posto de gasolina. Nós saímos do carro, Dick enche o tanque e depois vou para a direção enquanto ele corre para a loja. Então as imagens mudam e vejo Dick apontando a arma para as pessoas que estavam na loja ao mesmo tempo em que pega uma sacola de pano e esvazia o caixa. Voltam as imagens do lado de fora da loja; Dick entra no carro e dou a partida.
Os assaltantes fugiram em uma camionete vermelha e a placa foi anotada por um funcionário do posto de gasolina que tentou correr atrás do veículo em movimento e quase foi baleado. Um dos bandidos foi identificado pela polícia como Dickson Gilbert, de 24 anos. Ele já foi preso por assalto a mão armada e porte ilegal de armas, e foi solto no final do ano retrasado. Porém, Dickson está sendo procurado por homicídio desde que saiu da cadeia. Já a garota que dirigia a camionete parece não ter passagem pela polícia. Um retrato falado da cúmplice foi feito, ela não parece ter mais que 20 anos...
- Dick - chamo por ele.
- O quê? - se aproxima de mim com latinhas de refrigerante e pacotes de salgadinhos.
- Olha. - aponto para a televisão que mostra uma foto de Dick na cadeia ao lado de um desenho do meu rosto.
- Porra! - resmunga.
- O que a gente faz? - olho para ele.
- Vamos dar o fora da daqui! - Dick joga as coisas em qualquer prateleira e segura minha mão.
Ele me puxa para fora da loja, mas digo:
- Não paguei pelos remédios.
- Então paga logo. Tô esperando lá fora.
Jogo uma nota no balcão e nem espero pelo troco. Corro até a camionete e sento ao lado de Dick que já está dando a partida e nos colocando na estrada.
- Nunca achei que fosse aparecer na televisão como procurada. - jogo a cabeça para trás. - Eu me ferrei. Eu me ferrei.
- Eu já sei o que fazer. Vou te deixar em Stonefield e aí você vai embora. - Dick segura a direção com força. - Eles querem me pegar, você não fez nada. Eu me viro, mas você precisa ficar longe de mim.
- Eu sei... - apenas afirmo com a cabeça e me esforço para não olhá-lo.
°°°
Uma hora depois, a placa de madeira nos deseja boas-vindas a cidade de Stonefield. Logo começam a aparecer as primeiras casas, lojas, alguns prédios, e então Dick finalmente estaciona em uma praça onde algumas crianças correm com seus cachorros.
- Pronto. Chegamos. - diz.
- É. Chegamos.
- Com o dinheiro que a gente... conseguiu, você pode pegar um ônibus, ir pra uma cidade maior, arranjar um emprego...
- Eu vou me virar. - dou de ombros.
Ele sai do carro no mesmo instante que eu e pega minha bolsa no banco de trás para me entregar.
- Bom, é isso. - Dick se encosta contra a camionete e enfia as mãos nos bolsos. - Boa sorte com sua... mudança de vida.
- Obrigada, Dick. - sorrio segurando a alça da bolsa sobre o ombro. - Vê se você entra na linha, tá?
- Eu vou tentar. - dá um sorriso pequeno. - Tchau, Louren.
- Tchau, Dick. - dou as costas e começo a andar, mas antes de me afastar demais, me viro e o encaro. Ele está olhando para mim, olhando de um jeito bom.
Vou até ele novamente e solto a bolsa no chão aos meus pés. Me aproximo do seu corpo e seguro seus ombros.
- Eu sei que posso me arrepender disso depois, mas sei que não vou me arrepender agora. - agarro sua nuca e o beijo. Me pegando de surpresa, Dick envolve suas mãos em minha cintura e a aperta, então solto uma respiração ofegante entre um beijo e outro, e ele acaricia minha língua com a sua. - Eu vou com você pra onde você for. - digo quando me afasto, mas ele logo volta a me beijar.
- Você é doida, garota. - puxa meu lábio inferior com sua boca. - Você é doida.
- Sou sim, mas você é ainda mais doido por querer que eu vá com você tanto quanto eu. - coloco minha testa contra a sua.
- Que merda, Lou. - diz. - Eu quero mesmo isso. - acaba rindo.
Colo meus lábios nos seus novamente e ficamos assim até o momento em que entramos na camionete e caímos na estrada.
Marcus
Por volta das dez da noite, vejo Carla sair da lanchonete do Jona e caminhar pela calçada enquanto põe as mãos nos bolsos da jaqueta. Atravesso a rua e a sigo silenciosamente. Ela se vira algumas vezes, mas me escondo e ela segue caminhando. Quando se aproxima de um beco, corro e a pego por trás. Ela tenta gritar e se debater, mas tapo sua boca com um pano e ela desmaia em meus braços na mesma hora.
Louren vai voltar logo, logo.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro