MARCO ZERO - O ADEUS DA BORBOLETA ROXA
Antônio passou aquela semana sem ter acesso a redes sociais e sem sair de casa. Otimizou o tempo para ter mais horas de estudos e aos domingos tinha uma folga, quando se podia assistir um Netflix e alguns vídeos no Youtube.
Estudar o assunto da prova final o fez se sentir mal por não o ter feito antes, afinal, acabou descobrindo que era extremamente fácil. Química inorgânica se tornara conta de adição para o garoto.
Embora estivesse sendo divertido estudar Química, aquela maratona estava deixava Antônio ansioso para voltar a usar suas redes sociais. Queria conversar com Rael para saber as novidades, mas também tinha um filete de esperança: acreditava que Luís iria mandar alguma mensagem.
Por fim chegou o grande dia. A prova final aconteceria dali a uma hora, Antônio estava sentado à mesa do café da manhã, os pés balançando freneticamente e seu celular a centímetros de sua mão, mas ainda sob a posse do pai.
— Ele será seu assim que você chegar em casa com a notícia que eu espero... — disse Tiago percebendo a ansiedade do filho.
— Deixa só eu olhar as minhas notificações... — suplicou Antônio.
— Não! — Tiago tirou o celular da mesa.
— Então eu já vou... Pelo menos não morro de ansiedade em casa! — Antônio se levantou. — Até mais tarde.
— Até!
Antônio pedalou com tranquilidade, aproveitando a brisa que alisava seu rosto e o canto das árvores por onde passava. Para reafirmar todo esse sentimento a borboleta roxa que o acompanhou na linha um e dois voou ao seu lado com o seu bater de asas tranquilo. O inseto acompanhou o garoto até o colégio, quando voou em direção as árvores, sendo perdida de vista.
— Antônio! — Rael surgiu comendo uma salada de frutas. — Eu te liguei, mandei mensagem, direct...
— Meu pai me colocou de castigo...
— Agora faz sentindo a mensagem dele... — Rael deu mais uma colherada na salada de frutas.
— Você compactuou com meu pai para me expulsar de casa... Que feio! — Antônio forçou uma irritação.
— Expulsar? — Rael cuspiu salada.
— Eu conversei com ele e a punição foi reduzida a um castigo... Mas porque tantas mensagens, direct e todas as formas de comunicação? O que você queria tanto me dizer? — Antônio estava ansioso pela resposta do amigo.
Mas antes de Rael falar alguém disse as costas do garoto:
— Na verdade eu queria falar com você...
Antônio teve um misto de emoções ao ouvir aquela voz. Sentiu ansiedade, felicidade, aflição... E tudo que fosse possível um ser humano sentir naquela situação.
— Oi... — disse Antônio se virando para Luís, com um sorriso bobo no rosto.
Alguns segundos de puro silêncio constrangedor.
— Vou deixar vocês sozinhos... — Rael saiu comendo sua salada de frutas.
— Então... O que você queria falar? — Antônio queria ser o mais natural possível, afinal, já beijou Luís uma vez, mesmo em outra linha.
— Eu queria te chamar para sair... Amanhã... As dez... No Café IES?
Antônio se distraiu com a fofura de Luís, ao tropeçar as palavras, que até se esqueceu de responder.
— Claro, amanhã...
— Ótimo... — O sorriso no rosto de Luís era encantador. — Boa prova! — Luís se aproximou timidamente e deu um beijo no rosto de Antônio, depois foi embora.
O dia começou bem e não tinha como nada dar errado, Antônio estava certo disso.
Antônio chegou à sala trinta minutos antes do início da prova, bem feito, já que a professora chegou vinte minutos depois, antes do horário marcado, como sempre.
— Vamos começar! Vocês já conhecem as regras, não preciso repetir! — A docente falava para Antônio e uma outra garota meio quieta.
A professora entregou as provas. Antônio não se assustou, tinha a certeza de que sabia resolver todas as questões. Eu uma hora o garoto ergueu a mão anunciando a professora que tinha terminado a avaliação.
A docente se aproximou do garoto com um sorriso malicioso no rosto, sacou o celular e leu o gabarito. A expressão de surpresa da professora deixou Antônio tranquilo.
— Para-Para... Parabéns... — disse a professora com dificuldade. A docente pegou uma caneta azul e escreveu a nota 10 no canto da prova de Antônio.
— Até o ano que vem! — Antônio pegou a prova e saiu feliz e satisfeito, gozando do ódio da professora.
— E então? — Rael estava do lado de fora da sala esperando Antônio.
Antônio esperou uns segundos, fazendo cena dramática, até revelar:
— Dez!
— Isso! — Rael abraçou o amigo. — Agora vamos para minha casa porque eu e você temos uma maratona de Stranger Things!
— Ahhh... Que tal algo mais romântico?
— O quê?! Isso não seria por causa...
Antônio deu um riso bobo.
— Aê... Encontros de casais vem aí! — Rael chamou a atenção do corredor.
— Não seja bobo! — Antônio corou.
Antônio correu em casa, contou a boa notícia ao pai e pegou o celular, depois foi para a casa de Rael. Assim como o garoto pediu, eles assistiram todos os filmes românticos, bons, na Netflix, o que deixou o Antônio ainda mais ansioso para o dia seguinte.
Aquele dia estava tão perfeito que Antônio se esquecera do evento importante do dia seguinte, além do seu encontro com Luís, foi preciso seu celular lhe avisar lá pelas dez da noite:
21/11/2019 — Aniversário de mainha.
Naquele momento Antônio se sentiu um pouco culpado por não ter lembrado do aniversário da mãe. E ficou entre um dilema: ir com o pai no cemitério visitar o túmulo da mãe, e depois passar o dia em luto, ou ir ao seu encontro.
A borboleta roxa que tanto acompanhava o garoto passou na janela do seu quarto, como sempre com o seu bater de asas tranquilo.
Ele não podia deixar a mãe, tinha de ir com o pai.
Pegou o celular e mandou uma mensagem para Luís:
Não posso ir amanhã, preciso ir com meu pai ao túmulo da minha mãe, amanhã é o aniversário dela.
Luto, eu entendo...
Podemos marcar para sexta.
Claro, o quanto antes :)
Antônio bloqueou o celular e, embora não fosse o final de dia que esperava, estava satisfeito.
O dia seguinte foi marcado por uma hora no cemitério. Tiago como sempre fazendo um discurso para a sua falecida esposa e Antônio cantando para a mãe. A volta para casa foi tranquila, mas o garoto não imaginava que fosse encontrar Luís as 12:00 na frente de sua casa.
— Sei que hoje é um dia difícil para você, mas fiquei em casa me sentindo inútil por não vir te alegrar um pouco... — Antônio se encantava cada vez mais por Luís.
— Pai eu...
— Pode ir! — Tiago nem pensou duas vezes.
Quando Antônio e Luís já estavam em suas bicicletas, o garoto perguntou:
— Ainda vamos ao café IES, né?
— Não... — disse Luís fazendo uns minutos de mistério. — Tem um parque na cidade e eu tenho duas entradas...
Antônio retribuiu com um sorriso.
— Então vamos! — disse Luís disparando.
Antônio já ia segui-lo, mas antes parou para admirar a borboleta roxa que passou por ele, só que dessa vez ela não continuou voo, pairou na frente do garoto e desapareceu, como se fosse uma mera ilusão. Em outras condições aquilo poderia ser estranho, mas Antônio sabia o que significava.
Ele partiu seguindo Luís. Se sentia verdadeiramente leve e livre. O tempo já não mais o prendia, ele não estava fora do tempo, mas sabia agir conforme queria, em vez de deixar o medo do futuro lhe controlar ou o peso do passado lhe esmagar.
Obrigado a todos que acompanharam até aqui! Aguardem as próximas histórias! Ainda a muitos mundos para visitar!
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