LINHA UM - O FIM DO RECOMEÇO
Antônio estava sentado em posição fetal ao lado da porta da sala de aula, se preguntava o que poderia ter dado de errado, o porquê de as questões terem mudado. Durante os dois minutos que ele ficou refletindo sobre aquilo foi como se o tempo parasse, na verdade era como se ele estivesse em outra realidade, as pessoas passavam por ele e não se importavam de vê-lo em desespero.
Uma borboleta roxa passou voando por entre as árvores do pátio ao lado, o bater de asas dela era lento e, sem nenhuma explicação, relaxante. Antônio observou-a subir lentamente entre as árvores e desaparecer misteriosamente.
— Antônio! — Rael gritou ao ouvido do garoto, o tirando do seu transe. — Tá tudo bem? — Rael se abaixou ficando ao lado do amigo, que continuava em estado de choque.
— Não... Não está tudo bem... — Rael continuava conhecendo bem Antônio.
Rael jogou a cabeça para a frente e olhou Antônio nos olhos, era nítido que o garoto emanava escuridão e em poucas frases aquela conversa poderia tomar um rumo onde Rael teria de ser o conselheiro.
— E qual seria o problema?
Antônio apenas levantou a prova.
— Ahh... Não é só isso... — Rael abaixou a prova.
— Tem também o fato do meu pai odiar mentiras, o fato de isso provar que eu ando mentindo, as suspeitas que ele vai ter? E se ele acabar descobrindo sobre a festa? Tudo se repetirá! — O grito de Antônio chamou a atenção de todos ao redor. Os olhares foram de julgamento, exceto o de Marcela, aquele era de raiva.
— Uau! — Rael estava espantado com tamanho sentimento aprisionado. — Entendi... Mas como assim "se repetirá"?
— Não foi nada... — desconversou Antônio.
— Está bem... Se não quiser me contar... Mas o que teria de tão preocupante nele descobrir sobre a festa?
Antônio engoliu em seco, aquele era o momento de contar a verdade ao amigo.
— Eu não contei a ele que sou bi... E se ele descobrir a festa será sobre como eu tomei todas e sai pegando todo mundo e ainda traí uma namorada que ele nem conhece!
— O quê?! — exclamou Rael. — Você não contou?
— Não tive coragem... Ele espera a perfeição de mim, como poderia decepciona-lo? — Antônio tentava justificar sua preocupação a si mesmo.
— Amigo... — Rael levantou o rosto de Antônio. — Ninguém é perfeito e se você continuar nessa busca desenfreada por perfeição vai chegar a apenas uma solução: DESTRUIÇÃO!
Aquela fala entrou na cota de déja vu que Antônio estava tendo naquela linha.
A volta para casa foi ainda mais pesarosa. Antônio mal tinha forças para pedalar direito, parecia que a qualquer segundo ele iria cair no meio do asfalto, a única coisa que lhe mantinha firme era a esperança de não receber bronca pela festa, embora o frio crepitante na barriga dissesse o contrário.
A porta de sua casa estava ali bem a frente, o garoto nunca percebera que a maçaneta era tão gélida, apenas naqueles cinco segundos que ficou ali parado sem reação. Olhou uma última vez a mochila para constatar que sua prova estava escondida o mais fundo possível e abriu a porta.
Diferente da primeira vez o seu pai não abriu a porta e nem estava ali parado com uma reação de desgosto, contudo a reação do pai de Antônio dessa nova linha foi ainda mais assustadora. Ele estava sentado no sofá, as pernas cruzadas e mal virou para receber o filho.
— Estava lhe esperando! — Foi a única coisa que o pai disse quando Antônio tentou ignora-lo e correr para o quarto.
O garoto não disse nada, só engoliu em seco e se preparou para o inevitável.
— O que significa isso? — O pai ergueu o celular e as imagens que ele mostrou eram as mesmas do marco zero.
— Como? — sussurrou Antônio, aquilo realmente tinha lhe deixado intrigado, até onde sabia tinha dado um banho no celular de Olivia e se Rael não recebeu essas fotos como o seu pai as teria? — Pai, eu posso explicar... — A única resposta possível encontrada por Antônio.
— Me mostre a sua prova de Química! — O pai aumentara um pouco o tom de voz.
— Lá vem... — sussurrou Antônio sabendo onde aquilo daria.
— Eu quero ver sua prova Antônio! — O pai repetiu levantando e olhando o filho de cima.
O pai de Antônio naquela linha do tempo ainda usava a mesma roupa social e ao olhar para o sofá Antônio percebeu que ele ainda usava a mesma pasta de couro preto.
O garoto não disse nada, afinal, não lhe vinha nada na cabeça, se lembrava da última vez que tentou enrolar o pai e acabou sendo expulso de casa, talvez se cooperasse com o seu responsável conseguisse receber apenas um castigo. Tirou a prova da mochila e mostrou a nota vermelha.
— Então eu te crio para isso? — O pai tinha um desdém na voz, o que foi bem desanimador para Antônio. — Eu te crio para ficar mentindo pelas minhas costas, para esconder coisas de mim?! — O pai já falava um pouco mais alto, Antônio não se aventurou a dizer nada. — A professora de química me ligou e disse que você foi para a final... — O pai se acalmou um pouco.
— Eu sei... Vou tentar passar!
— Você não tentará! VOCÊ VAI PASSAR! — A voz do pai voltou a se alterar.
Antônio agora tremia dos pés à cabeça, começou a suar em lugares que nem sabia que era possível, os olhos mal conseguiam focar os do pai de tamanha vergonha que sentia.
O pai pegou a prova das mãos do garoto e fitou o enorme UM vermelho e por um segundo Antônio não conseguiu decifrar o pai, aquilo não poderia significar algo bom.
— FORA DAQUI! — O homem dera seu ultimato.
Embora Antônio já esperasse por aquilo, não deixou de ficar surpreso.
— Vou ao trabalho e quando voltar não quero vê-lo aqui! — O pai pegou sua pasta de couro preto e saiu bufando.
Antônio ficou sem reação mais uma vez e, assim como na primeira linha, o anel foi mais uma surpresa. Um estalo veio da joia e um dos entalhes verdes se apagou.
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