LINHA UM - A FESTA
Tudo voltou ao normal!
Antônio estava ao lado de uma árvore, estava com uma dor de cabeça e tudo parecia girar, jogou o dorso para o lado e vomitou tudo o que tinha comido, quando terminou se levantou bem melhor. A cabeça estava parando de doer e o mundo já não parecia estar rodando.
Antônio olhou melhor ao redor e conseguia reconhecer todo aquele lugar, conhecia o prédio logo a frente, a grande rua mais abaixo que levava aos subúrbios, ele estava na festa da noite passada, como isso seria possível?
— Obrigado Antônio, você disse que seria sério! — Uma garota magricela estava parada a frente de Antônio, embora estivesse com os olhos marejados, não parecia triste, parecia com raiva. — Você é um grande babaca! — Ela saiu bufando.
Antônio não conseguia lembrar-se daquela noite, sua cabeça doía ainda mais se ele tentasse recuperar as lembranças. Ele foi trotando para o prédio, seu corpo parecia mole, ele se sentia bem estranho, por que estava vivendo aquela noite outra vez?
— Aí galera, ele voltou! — Uma garota gritou assim que Antônio entrou no salão da festa.
Todos começaram a gritar o nome do garoto em uníssono. Antônio só tentou passar pela multidão em meio a muita gente bêbada e muita gente já desmaiada no chão. Ele se jogou no balcão de bebidas e ficou ali com a cabeça baixa.
Por um segundo o garoto tentou organizar as ideias, ele se lembrava de ter sido posto para fora de casa, lembrava de levar um grande ZERO e lembrava também do... ANEL!
Antônio levantou a cabeça, e olhou para a mão direita, bem no dedo anelar estava a joia dourada. E então só foi fazer uma conta de um mais um e o garoto chegou ao resultado de que aquele anel o fez viajar no tempo. Ele não sabia como e nem o porquê, mas aquela era a chance que tinha para reparar todos os seus erros. E o primeiro deles era achar Olivia.
A música estava altíssima, todos pulavam, gritavam e jogavam bebidas para todos os lados. Antônio tentava achar Olivia, mas era impossível com todos querendo lhe abraçar e fazê-lo dançar. E, para piorar, as luzes foram desligadas e uma discoteca, que viera de algum lugar do teto, começou a piscar frenética. Ele teria de pensar em alguma coisa, mas o quê?
O garoto se jogou numa escada lateral e ficou ali tentando pensar em alguma coisa que pudesse ajudá-lo, se ao menos Rael estivesse ali.
— Oi... — Um garoto pouco atlético se aproximou de Antônio, era só o garoto que Antônio considerava mais bonito do colégio, Luís Campos. Por um instante Antônio até achou que fosse algum tipo de alucinação do álcool que o seu eu passado tomou, mas quando Luís Campos tocou o seu braço ele soube que aquilo não era um sonho. — Posso? — Luís apontou para o lugar no degrau ao lado de Antônio.
— Claro... — Antônio ficara nervoso. Por que era tão difícil ser uma pessoa apaixonada?
— Então? Curtindo a festa? — O garoto usava um casaco preto e uma calça jeans, mesmo sendo uma roupa simples Antônio ficou impressionado como ela caia bem em Luís.
— Ahh... Sim... Está bem legal! — Antônio respondeu no impulso.
"Legal?" "Por que eu disse isso?"
— Percebi... Você estava se divertindo bem com os garotos e as garotas... — Luís tomou um gole do seu refrigerante.
— Olha eu não sou sempre assim, é só que... é só que...
— Ei! Calma! — Luís interrompeu a explicação confusa de Antônio. — Não precisa se explicar, você só estava se divertindo no aniversário do seu amigo, nunca pensei que meu aniversário pudesse ser tão divertido! — Luís jogou a garrafa de dois litros do seu refrigerante até o outro lado do salão e tentou acertar a lixeira, errando miseravelmente.
Antônio se questionou sobre como não conseguia lembrar que aquela festa era o aniversário do cara que ele era a fim desde o primeiro dia do Ensino Médio.
— ... E talvez eu devesse seguir seu exemplo... — Luís se virou e, num bote rápido, roubou um beijo de Antônio. Embora tivesse sido pego de surpresa ele não reclamou, afinal, um de seus sonhos estava se realizando quase sem nenhum esforço.
O beijo já durava uns vinte segundos e Antônio não queria parar de nenhum jeito, mas então ele viu um flash e instantaneamente os dois se viraram parar ver o que estava acontecendo.
Olivia estava parada olhando para os dois pombinhos.
— Essa vai ficar de lembrança Luís! Já te enviei!
Luís retribuiu com um sorriso bobo, o que o deixava extremamente fofo.
— Ei Luís! — uma garota chamou pelo aniversariante. — Vem aqui para um desafio!
Luís olhou para Antônio como pedindo licença.
— Tudo bem, pode ir... — Antônio precisava pegar o celular de Olivia e teria que sair mesmo.
Olivia estava no balcão de bebidas. Antônio pensou por uns dois minutos a fim de encontrar a melhor forma de abordar a garota e não parecer "suspeito", contudo, como já imaginava, seus planos não pareciam nada aceitáveis. Não era um bom ator para fazer um personagem que não o garoto que odiava a namorada do amigo.
Quando Olivia começou a andar em sua direção ele se desesperou, precisava fazer alguma coisa. A garota tinha o celular na mão direita e um copo de refrigerante na esquerda, Antônio se levantou e, num tapa repentino, jogou o celular de Olivia dentro do copo de refrigerante.
— Desculpa Olivia, foi mal... De verdade... — Antônio pegou o celular da garota e, discretamente, tentou liga-lo, mas, para seu alívio, o celular estava morto.
Olivia respirou fundo, pegou o copo, e o celular destruído, e saiu sem dizer uma palavra.
O alívio tomou conta de Antônio, ele queria ficar ali na festa e comemorar, mas precisava voltar para casa e tentar estudar para a prova do dia seguinte.
Seu pai ainda não havia chegado, assim como Antônio imaginava. O garoto correu para o quarto e pegou o livro de Química. Fazia uns dois minutos que ele lia sobre balanceamento quando, subitamente, veio a ideia de apenas refazer a prova. Tateou os bolsos da calça e tirou o papel com o enorme ZERO vermelho na frente.
Antônio pegou uma folha de caderno e passou a noite e a madrugada procurando as respostas certas e anotando, não apenas a letra correta.
Antônio usava óculos escuros e tentava se manter acordado, naquela linha do tempo ele não estava de ressaca, mas sim com sono por causa da sessão respostas.
Rael vinha em sua direção, ainda tinha o mesmo molejo ao andar.
— Então você foi a festa! — Rael repetiu a afirmação da mesma forma.
Antônio ficou surpreso por um segundo, mas depois chegou a reposta obvia, Olivia ainda poderia ter contado para ele.
— Sim, fui a festa... Foi demais... Você perdeu!
— É... Olivia me contou... Inclusive ela disse que você jogou o celular dela no refrigerante...
Antônio deu um riso meio cínico.
— Espero que não tenha sido de propósito, ficaria muito decepcionado com você! — Rael ficara sério.
— Não... Claro que não... É só que eu bebi demais e sai um pouquinho do controle...
— Ela disse isso também...Você ficou muito mais leve desde que contou ao seu pai que era bi...
Aquilo também não tinha mudado, Antônio responderia a mesma coisa, mas foi interrompido pelo estrepito seco do sinal.
— Tenho que ir... Minha prova de Química é agora! — Rael deu um tapa no ombro de Antônio.
— Ai... — Gemeu o garoto em retaliação.
O amigo só saiu em disparada.
— Nos vemos no intervalo!
Antônio não estava nervoso por causa da prova, sua barriga não estava gelada, suas mãos não suavam e sua cabeça não imaginava os piores cenários. O garoto tinha certeza de que tudo daria certo, tinha anotado no papel as respostas para consulta, caso se esquece-se de alguma, tudo daria certo.
Caminhou confiante até a sala e assistiu a aula de redação sem nenhuma preocupação, sem ficar colado a um livro e sem surtar com a possibilidade de decepcionar seu pai.
O sinal tocou anunciando o fim da aula de redação e o início da aula de Química.
— Guardem todos os aparelhos celulares e vamos começar a prova! — anunciou a professora entrando na sala. — Como dito antes, essa prova não terá segunda chamada, então quem perder irá direto para a final! O resultado será dado imediatamente após o término da avaliação.
Antônio já espera por aquilo, até então tudo estava acontecendo da mesma forma que lembrava.
As provas foram entregues e com o aval da professora todos prestaram atenção nas suas questões. Ao ler os enunciados, a preocupação que Antônio não tinha começou a tomar-lhe conta, as questões eram todas diferentes.
— O que é isso? — ele sussurrou a si mesmo.
Antônio não teve nem reação, olhou para os lados e todos estavam focados em suas questões e ele nem se quer tinha escrito seu nome.
— Professora! — Ele ergueu a mão chamando a atenção da docente e de toda a turma.
— Antônio... O que foi? — Naquela linha do tempo a professora de Química tinha ainda mais desprezo pelo garoto.
— Tem certeza que é essa prova mesmo?
A professora soltou um riso de canto de boca e não respondeu à pergunta de Antônio, mas o garoto soube da resposta assim mesmo.
Antônio entrou em desespero e, assim como na outra linha do tempo, começou a olhar as questões dos alunos do lado, ele copiou o gabarito e só quando terminou lembrou que as alternativas poderiam estar novamente desordenadas.
— Professora! — Maria estendeu a mão. A professora foi até a mesa da garota, a frente da de Antônio e depois de escâner o gabarito, anunciou:
— Muito bem Maria, nota 10 como sempre! — O sorriso da docente foi de ponta a ponta do rosto, ela nem escondia que Maria era sua aluna favorita.
Antônio nem esperou a professora voltar a sua mesa e já a chamou outra vez. A docente não disse nada, apenas escaneou o gabarito da prova de Antônio, sacou a caneta vermelha e escreveu um grande UM na prova do garoto.
— UM?! — Essa foi a única reação de Antônio, a nota o paralisou, junto ao pensamento de que tudo estava se repetindo.
Embora a nota tivesse sido melhor do que a anterior, sendo um pouco otimista, a situação de Antônio era a mesma. Os mesmos pensamentos voltavam a assolar a mente do garoto, a leve brisa se transformava aos poucos numa tremenda tempestade, ele não poderia impedir o caos, não importa o que acontecesse.
— Estude para a final Antônio! — A professora deu um sorriso maliciosa de satisfação e voltou a sua mesa. — Já pode ir! — Alertou a docente enquanto Antônio tentava entender como aquilo aconteceu outra vez.
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