LINHA DOIS - O HOSPITAL
Barulho para todos os lados, coisas sendo derrubadas e gritos. A cabeça de Antônio doía e seus olhos não conseguiam focar em nada, ele parecia estar de ressaca, só que num nível bem pior.
O garoto apagou.
Antônio sentiu o sol quando tudo clareou outra vez, conseguiu abrir os olhos, uma pequena borboleta roxa passou por ele, antes de ser arrastado para dentro de uma ambulância.
Apagou outra vez.
Antônio acordou num quarto de hospital, a cabeça já não doía mais, os olhos conseguiram focar nos equipamentos ligados ao seu corpo. O garoto agradecia por estar em segurança, contudo, a angústia ainda estava presente. Olhou o horário no relógio, já era 10:30, aquilo só indicava uma coisa: ele tinha falhado outra vez. Com certeza seu pai já teria recebido as fotos, já perdeu a prova de química e teria de fazer a final.
— Cof Cof! — Alguém pigarreou.
Antônio levantou um pouco o dorso para olhar a frente de sua cama. Tiago estava ali sentado, as pernas cruzadas, os dedos mexendo freneticamente e o rosto emburrado.
— Eu queria conversar com você! — Anunciou Tiago seco.
Antônio só o fitou, já imaginava onde aquela conversa chegaria, independente do caminho que seguisse.
— Você poderia explicar isso? — Tiago levantou o celular com as mesmas fotos de sempre: Antônio beijando garotos e garotas na festa de Luís.
Ao garoto engoliu em seco e respondeu rápido, não queria ter uma tortura mental além da física.
— Eu fui a uma festa pai...
— É... Você foi a uma festa em vez de estudar para uma prova que por acaso você perdeu! — O pai já falava um pouco mais alto.
— Não irá se repetir...
Tiago riu.
— Como acreditar? Como saber se você não está mentindo outra vez? — Tiago fitou Antônio que não teve argumento contra aquilo. — Mas isso não irá voltar a acontecer... — Antônio não entendeu o que o pai queria dizer sobre aquilo, Tiago foi até a porta e antes de sair disse: — As despesas já estão pagas, quando você tiver alta não retorne para casa! — E saiu.
Aquilo não foi uma surpresa para Antônio, embora a ocasião diferente, o final era o mesmo. O garoto olhou para a mão, o anel ainda estava lá. O segundo entalhe verde piscou freneticamente e depois se apagou, Antônio já poderia começar a sua terceira e última chance. Colocou a mão esquerda na joia, mas antes de gira-la a porta do quarto abriu num solavanco e Rael entrou.
— O que você fazia nos subúrbios?
Antônio escondeu rápido a mão com o anel.
— O que você está escondendo? — Rael se aproximou na cama.
Antônio fitou Rael enquanto tentava pensar em alguma coisa que pudesse tirar a atenção do amigo, mas por fim, percebeu que podia contar, afinal, aquela linha iria se resetar.
— Eu vou te contar algo que você não pode contar a ninguém... — sussurrou o garoto.
Rael assentiu com a cabeça.
— Eu tenho um anel que me permite viajar no tempo! — Antônio levantou a mão com a joia no dedo. — Com ele eu posso refazer as coisas da forma certa.
Rael fitou o amigo, os seus olhos já diziam o que ele evitava falar:
— Ele enlouqueceu de vez!
— Ok... Tenho dois questionamentos! O primeiro é: de qual anel você está falando?
Antônio olhou para a sua mão e viu a joia lá, não poderia estar louco.
— Você não consegue vê-lo? — perguntou o garoto confuso.
Rael negou com a cabeça. Antônio não soube o que dizer.
— Meu segundo questionamento é: se for verdade, se você consegue viajar no tempo, o que está tentando fazer certo?
— Quero impedir meu pai de descobrir que sou bi, quero tirar uma boa nota na prova de química e não ser expulso de casa! — Resumiu Antônio.
— Espera... Impedir? Mas já não faz uns dois meses que você contou?
— E tudo voltava a se repetir! — pensou Antônio.
— Talvez eu não tenha contado... — Antônio disse meio a contra gosto.
— O quê?! — Rael estava incrédulo.
— Eu não estava pronto, não queria essa mudança, ele achava que eu era perfeito...
— Eu vou te dizer uma coisa, não sei se meu eu do passado disse isso... — Brincou Rael ao se sentar na cama. — Você não precisa ser perfeito a ninguém, você tem de agradar a si mesmo, essa procura por perfeição só irá lhe levar a um resultado...
— Destruição! — disseram os dois em uníssono.
Rael olhou o amigo intrigado.
— Talvez o meu eu do passado seja menos louco que Antônio! — pensou Rael.
Mas antes que pudesse dizer isso a porta do quarto se abriu e uma enfermeira entrou.
— O horário de visita acabou!
Rael se levantou, deu uma última olhada de alerta ao amigo e saiu junto com a enfermeira.
Embora Rael tivesse dito lindas palavras, Antônio ainda assim queria tentar uma última vez, queria tentar consertar tudo. Girou o anel, o terceiro entalhe piscou, o garoto tirou a joia, pela última vez, e um clarão tomou conta, Antônio fechou os olhos a espera de que tudo voltasse ao normal.
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