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— Eu tenho que ir— ele falou, mau humorado, permaneci grudada no seu colo enquanto ele se levantava. Nem precisava me ajudar no apoio de tão agarrada a ele que eu estava.

— Tome cuidado, fique alerta, olhe para todos os lados, não hesite— eu recomendo embora tenha plena noção de que ele sabe o que terá que fazer. Ele deu risada.

— Sim, senhora— disse, se livrando do meu aperto delicadamente. Ele tem mesmo que ir e saber disso só aumenta o aperto no meu peito.

Quando enfim botei os pés no chão, ele segurou meu rosto e me encarou fixamente.

— Tome cuidado, por favor— repeti num murmúrio, ele sorriu docemente.

— Eu volto antes que você perceba. Te vejo em breve, meu amor.— ele me deu um selinho rápido. Depois mais um, e mais outro. Quando me soltou eu senti que cairia, o aperto no peito aumentou — se é que isso é possível. Ele deu um passo para trás, eu bufei agitada.

No segundo seguinte, ele sumiu. Talvez tenha sido melhor, menos melodrama. Foi doloroso de um jeito estranho, eu estou sendo pessimista.

Me ajoelhei para recuperar as forças, tonta. Seth, que fazia a ronda, veio para perto de mim e encostou seu focinho na minha bochecha, levantando meu rosto, como se fosse me dizer que tudo ficaria bem. Sorri, tocada pela atitude e abracei seu pescoço enquanto ele me reerguia.

Acariciei seus pelos quentes e me afastei beijando o canto do focinho, ele abanou o rabo largo, e apontou para a barraca erguendo o focinho.

— Você vai ficar bem?— perguntei, ele bufou e assentiu— Queria estar lá, não é?— ele assentiu de novo, o censurei com o olhar, e sorri recuando— É pro seu próprio bem— falei, ele revirou os olhos negros, dei uma risadinha— Eu sei, também odeio ouvir isso. Mas seja paciente.

Voltei para barraca, ansiosa em ir dormir e só acordar quando Jasper chegasse, mas lutaria para ser corajosa. Quando entrei Isabella estava deitada de bruços no chão, sobre o saco de dormir. Cutuquei-a com a ponta do pé.

— Está viva?— perguntei.

— Preferia que não— ela resmungou abafado.

— O que houve?— me ajoelhei do seu lado, passando a mão nas suas costas.

— Eu sou um ser humano terrível— ela gemeu cobrindo o rosto.

— Por que?

— Eu beijei Jacob— murmurou, fiquei estática por uns segundos.

— Ah...— fiquei surpresa— Por que?

— Porque não quero que ele morra.

— Tá... e o que seu beijo impediria?— eu perguntei. Bella rolou no saco de dormir para me encarar, furiosa.

— Não está ajudando, Becca.

— Ouço muito isso— admiti— E também não é minha intenção.

— Ele disse que poderia acabar com a dor dele nessa luta... queria que eu o desse um motivo de voltar— ela esfregou o rosto. Seth ganiu do lado de fora.

— Que... filho da puta— eu ri, minha gêmea me encarou confusa— Pense por um minuto, Bella, parece que não o conhece. Nada disso faz parte da personalidade dele, ele não se sacrificaria por causa de um coração partido. Não acha mesmo que Jacob se mataria porque você vai se casar, né, Bella?

— Eu... não...— ela gaguejou corando.

— Mas e aí? Foi bom?— perguntei forçando naturalidade, como se estivesse falando do clima, Bella me atacou agressivamente aos tapas, gargalhei me defendendo— Ah, qual é, é o segundo cara que você beija! Eu preciso de detalhes.

— Como você sabe que eu retribuí?— ela me perguntou ofendida, recuando na barraca e abraçando as próprias pernas.

— Bom, você não voltou com o outro pulso quebrado— apontei.

— Ótimo saber que você me apoia em trair Edward— ela revirou os olhos.

— Nunca disse que apoio, mas também não julgo.

— Inspirador— Bella sussurrou. A barraca se abriu novamente e o rosto de Edward apareceu, sereno. Ele me encarou, depois minha irmã, é claro que ele escutou tudo, foi ótimo Bella não ter falado nada sobre o beijo embora eu ainda esteja curiosa. Seth reclamou do lado de fora, Jacob tinha se transformado, toda a acatéia sabia da desgraça pessoal de Bella. Conforme Edward entrava, eu saia. Me sentei ao lado de Seth enquanto esperava.

Ele é uma companhia agradável.

☼

Os minutos se passaram, a neve voltou a cair e eu me enfiei para dentro da barraca, Edward e Bella estavam num clima pacifico, juntos, apesar de tudo. Fiquei confusa mas não questionei nada, cada um sabe do seu, não é?

Seth choramingou.

— O que houve?— perguntei imediatamente preocupada, a barraca ficou pequena demais, me dando claustrofobia. Eu tenho que sair, andar em círculos, sei lá!

— Seth só está com raiva de ficar preso aqui com a gente. Ele sabe que o grupo o mantém fora de ação para protegê-lo. Está salivando para se juntar aos outros.

— Nos diga o que está havendo— pedi.

— Os recém criados chegaram ao final do rastro... funcionou como um feitiço, Jasper é um gênio— elogiou, me mordi para não atrapalhar a narrativa, sabia que mesmo se tentasse, Edward não conseguiria focar só em Jasper, ele está fora de seu alcance, veria apenas o que Seth estivesse vendo— Muito bom... começou. O primeiro grupo está na clareira. Emmett está se divertindo— Edward riu, bufei impaciente— Jasper está bem, Rebecca— me tranquilizou olhando brevemente na minha direção— ninguém pega ele. O segundo grupo está se preparando... eles ainda não nos ouviram, não estão prestando atenção.— Edward rosnou cerrando os punhos.

— O que foi?— Bella perguntou.

— Estão falando de vocês. Devem se assegurar que vocês não escapem... hm, bom movimento, Leah. Ela é rápida— elogiou— Um deles pegou nosso cheiro, mas Leah o pegou antes que ele pudesse se virar. Sam a está ajudando a dar cabo nele... Paul e Jacob pegaram outro... os outros estão na defensiva, não sabem o que fazer conosco... Não, deixe Sam liderar. Fique fora disso— instruiu, não precisava perguntar para saber que falava com Jacob— Separe-os, não deixe que protejam a retaguarda dos outros... muito bem, agora os leve para a clareira— Edward aprovou.

Subitamente, o silencio reinou, Edward ficou tenso e tão rápido que eu nem vi, nós três estávamos fora da barraca, cambaleei para o lado de Bella, confusa. Edward tomou seu lugar na defensiva na nossa frente.

— Vá, Seth!— ordenou. O lobo desapareceu por entre as arvores, a temperatura havia baixado de novo e eu cerrei os dentes para não batê-los. Eu e Bella nos olhamos assustadas e demos as mãos, algo errado? Perdemos alguém? Edward permaneceu atento às arvores, cerrei os olhos sem ver nada fora neve e os troncos das arvores— Ela está perto, posso ouvir os pensamentos dela... ela sabia que eu não estaria lá, seguiu meu cheiro, sabia que vocês estariam comigo. Você estava certa, Rebecca.

— Victoria.— falei entre dentes caçando entre as arvores com atenção redobrada, não pude captar nada.

— Ela nos achou— Bella gemeu agoniada, olhei para trás, não tinha como recuar, a ponta do precipício logo ali, não tem como fugir.

— E não está só— Edward sussurrou.

Ouvi os passos antes de localizar o alvo. Um garoto. Riley, reconheci quase imediatamente, o garoto que estava desaparecido há um ano, eu via imagens dele em todo lugar. As diferenças eram apenas a pele mais pálida e os olhos; vermelhos e cintilando na nossa direção enquanto ele andava calmamente para a nossa frente. Eu e Isabella nos escondemos nas costas de Edward.

— Riley— Edward chamou— Tem que me escutar. Ela está mentindo para você como estava mentindo para os outros que estão morrendo na clareira agora. Você sabe disso, sabe que ela te fez mentir para eles, que nenhum de vocês irá ajudá-los. É tão difícil ver que ela está mentindo para você também?

A confusão passou pelo rosto de Riley. Victoria apareceu no meio tempo, na copa das arvores, eu não teria a notado se não estivesse procurando, tão bela e furiosa como deveria ser lembrada, puxei Bella para trás de mim instintivamente.

— Ela não te ama, Riley. Ela nunca amou— continuou Edward— O único amor dela foi um homem chamado James, você não passa de um instrumento nas mãos dela— Victoria mostrou os dentes, posada como uma felina, pronta para atacar, Riley hesitando. Edward deu um passo na direção do garoto, sutil— Ela só está te usando para me distrair. Ela sabe que eu vou matá-lo e não se importa, na verdade, ela vai ficar aliviada de não ter que fingir mais. Sim..— Edward disse, vendo na mente de Riley que estava conseguindo o que queria— Você notou isso. Já viu a relutância nos olhos dela, suspeitou de certa falsidade em suas promessas. Você está certo. Ela jamais o quis. Tudo não passou de mentira.

— Ele é o mentiroso, Riley— Victoria falou, suavemente, contradizendo sua postura e expressão— Sabe que só amo você. Eu te falei dos truques mentais dele.

Houve um minuto longo de hesitação da parte de Riley, ele olhava para Edward e para Victoria, inquieto. Edward avançou mais na direção dele, devagar. Os olhos coléricos de Victoria se fixaram no espaço entre Edward, Bella e eu.

Me assustei com o movimento repentino do meio das arvores, Seth reapareceu e pulou em Riley num ataque que explodiu em rosnados, jogando neve para todos os lados.

Recuei com Bella mais passos, um vento congelante nos abraçou, e eu não sabia o que mais fazer se não esperar.

— Não!— Victoria gritou. Nos encarou furiosa e rosnando, mas logo recuou vendo a luta perdida, pulou da arvore com a intenção de fugir.

— Você sabe que não terá uma oportunidade como essa de novo!— Edward gritou para ela, a ruiva parou olhando na nossa direção por cima do ombro— Você quer as garotas. Quer que a gente sinta o que você sentiu quando matamos James! Quando o despedaçamos— ele disse em voz letal, andando na direção da ruiva— e o transformamos em cinzas! Em nada além de sujeira!

Victoria ferveu em raiva soltando um rugido feroz e partindo para cima de Edward. Eles se transformaram em vultos, um sobre o outro, uma luta bem mais selvagem do que as outras que presenciei com Bella nas noites anteriores.

Riley berrou, o barulho de cerâmica se partindo estalou e um pedaço branco foi arremessado aos meus pés, recuei ao ver a mão de Riley aos meus pés, se contorcendo. Bella escorregou na neve e caiu sentada, não olhei para ela para lhe estender a mão. Riley deu um chute no ombro de Seth fazendo o lobo dar passadas para trás rosnando selvagem. Queria gritar para que ele parasse, por Deus, Seth é uma criança. Minha garganta se fechou, vai ser culpa minha, culpa minha! Ele não devia estar aqui, ele está mancando e é tudo culpa minha.

Meu coração bate forte e irregular, Bella estava certa.

— Não, não!— implorei com a voz de choro. Queria fazer algo, mas não sabia o quê.

Victoria ao me ouvir se voltou na nossa direção, seu olhar doentio encontrou o meu, e Edward pegou a cabeça dela a afundando na neve. Seth foi arremessado contra uma arvore e eu me retrai revoltada, Riley pulou entre a briga de Edward e Victoria.

Foi tudo rápido demais, eu mal processei. Os vampiros se distraíram por um segundo. Edward estava preso, perdendo. Eles olharam na minha direção, mais precisamente através de mim e eu os imitei encarando Bella com preocupação. A chequei de cima a baixo, sua mão sangrava, pingando no chão, pintando a neve de vermelho, ela segurava uma pedra pontiaguda com força, sua mão tremia. Antes que eu pudesse reagir, senti meu corpo sair do chão.

Não pensei outra coisa. Eu vou morrer.