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Acordei com os dentes rangendo e o barulho do vento forte do lado de fora. Eu e Bella praticamente esmagávamos a mão uma da outra num aperto firme em busca de calor humano. O frio envolvia meus ossos, eu não sabia como poderia ser morrer congelada até aquela noite. Eu sentia o frio mesmo agarrada a minha gêmea, com casacos grossos e enrolada no meu saco de dormir.

— Q-q-que hora-s-s s-são?— Bella gaguejou, tremendo comigo.

— Duas— Edward e Jasper nos responderam em uníssono. Sentados de frente para nós, em algum lugar da barraca escura. Seus rostos não visíveis.

— O que podemos fazer?— Jasper perguntou, a voz transparecendo agonia.

— E-e-está tu-t-tudo b-bem— gaguejei quase mordendo a língua. Me espremi contra Bella, nos abraçamos com força, não melhorando nada.

Do lado de fora, na neve, um dos rapazes gemia, infeliz.

— S-s-saiam daí— Bella ordenou, entre dentes.

— Eles estão bem— Edward disse com impaciência— Jacob está preocupado com vocês. O corpo deles é equipado para isso.

Jacob ganiu de novo, irritado.

— O que quer que eu faça?— Edward discutiu com o garoto— Não estou vendo você fazer nada de útil— acusou— Por que não arruma um espaço quente ou coisa assim?

Jacob rosnou do lado de fora.

— Não será necessário— Edward disse entre dentes, Jasper não desviou o rosto, sempre de olho em mim, alheio a discussão. A barraca se abriu e eu gemi amaldiçoando Jacob de todas as formas por deixar o vento entrar junto com ele, antes de o fechar atrás de si.

— O que pensa que está fazendo?— Jasper rosnou para o intruso.

— Seu maninho acabou de dizer para arrumar algo quente, e aqui estou eu— disse o moreno, vestido apenas com um moletom. Ele avançou na nossa direção. Edward segurou o ombro dele, Jasper mostrou os dentes.

— Não será necessário— Edward repetiu.

— Tire as mãos de mim— Jacob rosnou.

— Tire as mãos delas— Edward retribuiu, olhei para nossos pés, Jacob encostava nos nossos tornozelos mas eu mal sentia seu toque. Apenas bati os dentes com minha sósia. Jasper segurou o braço de Edward e os irmãos se encararam, Jasper com a sua mascara severa e Edward, incrédulo— Não— Edward disse, respondendo a conversa silenciosa, Jacob revirou os olhos.

— A ideia me agrada tanto quanto a você, mas o cachorro está certo— Jasper respondeu.

— Ouça seu maninho, sanguessuga— Jacob provocou querendo retribuir o apelido— Ou espere até elas agradecerem por terem perdido todos os dedos.

— Cuidado— Edward alterou soltando o moreno, Jasper o soltou.

— Cheguem para o lado, meninas— Jacob riu abrindo espaço entre Bella e eu, abriu um pouco o lado dos nossos sacos de dormir, colocando uma perna em cada um e envolvendo cada uma com um braço, não resisti a tentação de aquecimento e me apertei contra seu corpo seminu— Meu Deus, vocês estão congelando— ele reclamou, passando as mãos nos nossos braços, para criar fricção. Me encolhi ainda mais envolvendo minha perna na dele.

— Controle-se.— Edward disse num alerta. Em outro momento me perguntaria do que estavam falando, mas preferi ignorar.

— Relaxem, vocês já vão esquentar— Jacob disse, fingindo não ter ouvido.

Eu e Bella dividimos espaço no peito do garoto e com os minutos passando, os tremores foram embora.

— Pronto, estão bem?— Jacob perguntou ao notar que paramos de bater tanto os dentes.

— Sim— Bella respondeu, permaneci quieta, absorta no conforto, o sono veio me domando de novo. Jacob nos puxou mais para si. Grunhi sonolenta, senti Bella segurar meu braço sobre o peito de Jacob, ela gemeu de conforto. Em breve dormiria também. O vento lá fora rugiu.

— Seth está bem?— perguntei, pouco lúcida.

— Está, não se preocupe, ele é mais resistente do que aparenta— Jacob disse, a voz distante.

— Ótimo— suspirei. Ficamos em silêncio por um bom tempo, eu bem fora de órbita.

— Pode pelo menos controlar seus pensamentos?— Edward rosnou. Meus olhos tremeram, incomodada pelo som.

— O que foi? Está incomodado que ela possa ter sentimentos por mim?— ouvi Jacob provocar.

— Calem a porra da boca.— pedi num sussurro irritado, cobrindo meu ouvido que não estava grudado no peito barulhento de Jacob.

Não ouvi mais nada, no minuto seguinte, já estava completamente apagada.

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Não tive nenhum sonho. Acordei apenas por causa da sensação insuportável de calor e o formigamento no meu braço. Está claro quando abro os olhos. Jacob deixa a cabeça deitada sobre meu braço e ronca alto, Bella dormia serena no peito dele, ele a abraçava e eu o abraçava por trás. Me afastei do seu corpo caloroso, bufando e puxei meu braço querendo me livrar do peso. Jacob sequer notou, limpou a garganta por um momento e voltou a roncar. Estamos sozinhos na barraca. Me levantei e passei por cima do casal para sair do sufoco e equilibrar a temperatura do meu corpo com o frio do lado de fora. Jasper apareceu do meu lado poucos passos depois, ele levantou a mão para tocar meu rosto, mas a deixou cair sem completar o processo.

— Como você está?— perguntou me avaliando.

— Com calor— suspirei e o abracei, ele me abraçou de volta, com cuidado para não encostar na minha pele descoberta— E feliz por você ainda estar aqui— acrescentei.

— Ainda tenho uma hora— Jasper suspirou, Edward passou por nós para entrar na barraca.

— Eu não sei o que dizer— sussurrei— Acho que estou assustada.

— Eu sei— Jasper beijou o topo da minha cabeça— Mas eu sei me cuidar.

— Não estou preocupada só com você, Jazz, sei que sabe se cuidar... mas e Esme? Alice? Carlisle? Acha que ele vai ficar bem? Espero que ele não hesite na hora H.

— Carlisle é pró vida, mas ele não vai hesitar, Becca, é a ultima coisa que precisa se preocupar— Jasper passou a mão nos meus cabelos. Houve um tumulto na barraca. Jasper ficou atento, e Seth também.

— O que foi?— sussurrei, tensa, meus olhos passando de Jasper para Seth, eles tinham acabado de se acalmar! Não podia haver outra briga tão cedo. Jasper não me respondeu, recuando comigo nos braços. Ouvi a respiração ofegante de Jacob de dentro da barraca— Não, não— resmunguei observando a barraca. Eu não podia ouvir nada do que era falado, me custou ficar no escuro e esperar. Depois de um minuto longo Jacob saiu da barraca, estressado, Jasper o seguiu com o olhar enquanto ele corria para o meio das arvores. Ele e Seth se ajeitaram das posições defensivas, mas aumentaram o espaço entre eles— o que houve?— repeti, impaciente.

— Nada demais, Edward tirou o cachorro de cima de Bella e eles se desentenderam, só isso— ele me explicou.

— Só isso— repeti— Por tão pouco todo mundo quase se atraca, que maravilha— resmunguei.

— Está tudo sob controle, Becca— ele me consolou— Agora venha, vou te fazer comer alguma coisa— ele me puxou pela manga do casaco, parou na frente da barraca e Edward que falava com Bella sobre algo de "melhor noite" estendeu o braço para fora da abertura da barraca, entregando uma mala a Jasper que reconheci ser a mala com nossas comidas. Fiz careta.

— Não estou com fome— balancei a cabeça. Jasper me ignorou, Edward estendeu um saco de dormir, atendendo a pedidos mentais do irmão— Jasper— insisti— Eu estou bem— ele continuou me ignorando, segurou as coisas todas com uma só mão e se abaixou na minha frente para me jogar no seu ombro. Dei um gritinho me debatendo— Porra, Jasper!— eu ri.

— Olha a boca— me censurou.

— Não dá, está embaixo do nariz— zombei, não precisava olhar para saber que o loiro revirava os olhos, dei um sorrisinho, satisfeita.

— Incrível, vou me casar com uma garota da primeira série— resmungou. Ri baixinho.

— Me solte— balancei as pernas— está balançando demais— reclamei, ele começou a se balançar ainda mais me deixando tonta— Crianção!

— Você inspira a criança em mim— ele zombou. Parou de andar, jogou as coisas no chão e depois me jogou sobre o saco de dormir, no meio da neve, se ajoelhou na minha frente a abriu a mala— Ah, devo acrescentar, você inspira a mãe em mim também, tendo que cuidar de uma mulher tão crescida que nem se alimenta direito— falou, eu gargalhei.

— Está soando mais como uma vó— argumentei, ele revirou os olhos, pegando uma garrafa de suco de uva e a passando para mim.

— A comida está fria demais— avaliou franzindo a testa e balançou a cabeça olhando na direção da barraca, por cima do ombro. Um uivo ecoou pela floresta me obrigando a tapar os ouvidos pelo barulho.

— O que foi agora?— perguntei imediatamente estressada.

— Agora Jacob sabe que Bella vai se casar, Edward falou sobre isso de propósito— Jasper disse em tom de reprovação. Tomei meu suco de olhos arregalados sem saber o que dizer.

— Porra, que vacilo— comentei depois que terminei de virar a garrafa. Jasper balançou a cabeça em sinal de descaso.

— Não posso fazer nada sobre isso— decretou voltando a checar a bolsa, tirou dela um saco de cookies com gotas de chocolate, me passando o mesmo— Está com muita fome?— me olhou preocupado.

— Já disse que não, vovó Lurdes, mas eu posso comer isso se te deixar mais calminha— balancei a embalagem.

— Coma tudinho— Jasper zombou afinando a voz, nós rimos, Bella chegou em nós a passadas largas com Edward logo atrás, nos lançou um olhar severo por conta da nossa imparcialidade com seus problemas. Recolhi os lábios segurando a crise de riso na hora errada.

— Viram Jacob?— ela perguntou.

— Não— respondi mordendo a língua para não completar "no meu bolso é que não está". Abri o pacote de cookies e soquei uns três na boca para ver se assim eu conseguiria não rir. Senti o olhar de Jasper em mim e evitei a todo custo encará-lo porque sabia que se olhasse na sua direção, ele me faria perder toda a postura. Bella bufou fazendo o caminho de retorno, Edward a ajudou a atravessar a neve lhe estendendo o braço. Quando os perdi de vista, olhei para Jasper, terminando de mastigar, e não foi outra, começamos a rir e eu engasguei com um pedaço do cookie.

— Do que está rindo?— Jasper me perguntou rindo e dando tapinhas nas minhas costas enquanto eu tossia.

— Do que você está rindo?— indaguei.

— De você, ora!— seus ombros tremiam, mas ele segura a onda melhor que eu— Você é uma péssima irmã— acusou, balançando a cabeça em falsa reprovação.

— É culpa sua— apontei para seu rosto, tomando um pouco de ar entre as risadas— A gente não pode se encarar em momentos assim, eu fico fraca— cobri a boca deitando a cabeça no seu colo, tentando me segurar, ele colocou a mão na minha cabeça rindo.

— Somos seres humanos terríveis— ele disse— Por que somos assim?

— Por que o problema não é nosso?— sugeri.

— Você não está ajudando, Rebecca— ele riu.

— Ai, meu senhor— respirei fundo, me contendo— Você está certo— fiz careta me reerguendo.

— Bella ainda está atrás dele— comentou, os ouvidos apurados— Vai falar com ela agora?

— Acho que ela não vai querer me ver.

— Provavelmente está certa— Jasper concordou, o olhei torto, ele sorriu malicioso— O que foi?

— Ah, eu te odeio— ri e o beijei, indo mais rápido do que o desejado, recuando por causa do frio, Jasper abriu um sorriso mais triste, entendeu de cara minha frustração repentina.

— Sinto muito por não ser tão quente— sussurrou, o repreendi com o olhar.

— Não fale bobagens.

— Bobagens— respondeu ele, ri de novo e revirei os olhos.

— Incrível, vou me casar com um garoto do primário— reclamei, ele abriu um sorriso bobo e mexeu com meu cabelo. Tirei a mala do caminho entre nós e subi no seu colo o abraçando, suspirei enchendo seu rosto de beijos. Quando o bom humor passou, parecendo com um sopro, as preocupações voltaram— Vou sentir sua falta— resmunguei.

— Eu não vou demorar.— repetiu ele, pela milésima vez naquela semana.

— Eu sei, isso não me impede de sentir sua falta— insisti, ele me apertou contra si.

— Eu sei— concordou— Também vou ficar preocupado com você durante toda a luta, mas nós devemos focar que acabará tudo bem, e poderemos cair na gargalhada de novo em momentos errados mostrando como somos seres humanos ruins— ele tentou descontrair, eu sorri, mas não pude manter, o relógio batia alto nos meus ouvidos, o tic tac dizendo que o tempo havia acabado, fiz bico contendo a vontade desnecessária e estranha de chorar. Bufei e me recompus depressa.

— Eu te amo, cachinhos— falei.

— Eu te amo mais, minha deusa— ele beijou meu ombro, mantendo os lábios ali por um momento. Ficamos em silêncio por uns minutos, não precisávamos dizer nada e nem queríamos, está tudo bem, ficará tudo bem.

Eu tenho meu mundo nos braços, não preciso de mais nada.