Sanguessugas
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Há muita gente na sala de estar e todos olham para mim. Há em grande maioria, olhos vermelhos que me fazem tremer e puxar Reneesme para trás de mim, por instinto. Muita gente, muita gente! Minha mente quer me fazer correr dali.
— Está tudo bem, tia— Renesmee me garante, saindo de trás de mim— Venha ver a Zafrina, ela é do Brasil, pode te mostrar o que quiser que você veja e...
— Agora não, Nessie— Edward corre para a frente da menina e a puxa para seu colo, tenta ser discreto mas eu vi o que ele tentou esconder.
Os outros recuaram quando eu dei um passo para a frente. Estão com medo de mim?
— Pelo visto ouviram a meu respeito— resmungo, incomodada, Jasper vem para o meu lado, ninguém parece estar o notando, aposto que está usando seus dons para que não se incomodem com todas suas cicatrizes de guerra. Imagino que seja tarde para me incluir nessa.
Ninguém falou nada até que dois vampiros se aproximam de mim com o olhar interessado, me medem de cima a baixo.
— Disseram que você tem um dom interessante, fora o escudo da sua irmã, parece ser muito útil— diz o de cabelos brancos, mais pálido do que eu estou acostumada, a pele leitosa me lembra a dos Volturi.
Espera aí?
— Escudo?— pergunto confusa, o outro vampiro que me ronda passa ao lado de Jasper como se ele nem estivesse ali, Jasper mexe os ombros, irritado com a análise deles. Eles dão a volta em nós e param na nossa frente.
— Vladimir, Stefan, chega, por favor— Edward pede.
— É verdade, sobre seu dom ser como o de Alec?— pergunta o loiro com um sotaque pesado, francês ou italiano.
Eu estou a um passo de provar a ele como é, mas Bella se meteu afastando-o da minha frente.
— Pare com isso— ela sibila.
— Escudo?— repito, pegando o pulso de Bella.
— Teremos proteção— o moreno aponta para Bella— E ataque— ele aponta para mim.
— Agora sim teremos uma chance contra os Volturi— diz o loiro, ele estica a mão para tocar meu rosto, mas eu agarro seu pulso antes que o faça e o empurro para o outro lado da sala. Seu amigo tenta reagir, mas Jasper torce o braço dele nas costas e segura seu pescoço, o imobilizando. Ele rosna e morde o ar, indefeso.
— Não toca nela.— Jasper sibila no ouvido do moreno. Aposto que se livrou de seu disfarce, pois todos da sala reagiram a ele, finalmente, recuando e sibilando. Agora somos a dupla de aberrações? Que engraçado ter algo assim no mundo do sobrenatural.
O loiro retorna, como se fosse me atacar, mas toda a família Cullen se mete no meio.
— Já chega, Vladimir!— Carlisle vocifera— Ela é da minha família e se não forem respeitá-la, a saída é logo ali— ele fala com firmeza.
Jasper empurra o moreno, Stefan, para o lado, dando-lhe um tapa na cabeça.
Os dois riem de descaso se juntando de novo, fora da linha de defesa que fica na minha frente.
— Só estamos querendo ver de quem nossa vida vai depender no campo de batalha— Stefan fala— Eleazar nos disse que ela tem um grande poder.
A raiva já está comigo, eu venho para ajudar e eles me tratam como querem? Como a porra de uma arma? Um mero objeto. Nos seus sonhos!
Mostro os dentes e dou cinco passos na direção de Vladimir, mas Carlisle segura meu braço, me impedindo de arrancar a cabeça daquele merdinha de sorriso arrogante.
Olho para Carlisle, furiosa.
— Se eles querem ver o seu dom, então mostre-o.— ele fala, para minha surpresa, arregalo os olhos, realmente não esperava que Carlisle fosse me permitir ferir alguém, mesmo que eles se curem rápido, sua falta de empatia por esses convidados me dá uma clara vantagem. Abro um sorriso psicótico voltando para mirar os amigos.
Me concentro na raiva e a tensão no cômodo aumenta. Os vampiros ao fundo se remexem, desconfortáveis e se espremem para fora da minha reta. Ao notarem que eram os alvos, os amigos se encaram, perdendo os sorrisos.
Todos ficam quietos por um momento, mas eu me sinto muito conectada a meu dom para não saber o que estou fazendo. A névoa se projeta, eu a sinto como naquela vez que derrubei os lobos, ela faz parte de mim, como minha pele, visível apenas para mim, a estico na direção dos dois, não quero deixar ninguém de fora.
— Vai doer só um pouquinho— comento irônica, e então os tentáculos os tocam. Os dois gemem e se ajoelham como se alguém os tivesse esfaqueado na barriga. Stefan começa a se debater, como que para apagar algum fogo em seu corpo e logo começa a gritar.
Vladimir está com uma camiseta branca fina e justa, as rachaduras em sua pele são visíveis e começam a se espalhar, ele resiste bem, mas logo grita também. Carlisle toca meu ombro e eu entendo que devo parar mesmo sem o olhar, inspiro fechando os olhos para me acalmar e a névoa se recolhe. Jasper abre caminho para ficar do meu lado, eu ouço, e quando abro os olhos todos estão me encarando com surpresa, medo, ou até certa indignação pela apresentação violenta. Olho para onde Edward estava com Renesmee, e noto que ele deve tê-la tirado da sala. Fico rapidamente grata pela criança não ter visto isso.
Eu não me importo que esses outros vampiros tenham medo de mim, talvez seja até melhor, talvez isso os obrigue a pensar duas vezes em nos trair, eu vejo algum lucro... mas me importaria muito se Reneesme tivesse medo também.
Quem nunca havia presenciado, obviamente fica surpreso e desvia o olhar quando olho na sua direção.
— Sua vaca— sibila Stefan se recuperando. Jasper rosna ameaçando ir na direção do moreno, mas eu o seguro.
— Eu vou matá-lo!— Jasper diz entredentes, os olhos cintilando furiosos para Stefan que deita no chão.
— Deixe-o— falo para Jasper, as narinas do meu marido se inflam, e ele sacode a cabeça, se contendo.
Vladimir começa a gargalhar, encolhido no chão como se estivesse rezando a Alá.
— Glorioso!— ele grita, ergue o rosto, as cicatrizes vão se curando, ele me olha com admiração, como se eu fosse um troféu, e fica de joelhos na minha frente— Fantástico!— ele sorri para mim.
Desvio o rosto, irritada, olho para a Bella.
— Vamos para outro lugar, Bella— falo— Espere aqui, está bem?— peço para Jasper, ele assente, sério, olhando severo para Stefan— Vamos— falo com minha sósia.
Minha gêmea assente e eu corro com ela para fora, sentindo o olhar de todos os outros nas nossas costas. Eu não queria ouvir seus sussurros nem nada me comparando com os gêmeos Volturi ou outro tipo de monstro, mesmo que não me importe, sei que isso impregnaria na minha mente então só foco em Bella. Ela é rápida e, apesar do meu lado competitivo querer ultrapassa-la só para ter o controle, deixo ela ir na frente.
Eu percebo para onde ela está me levando, mais adentro de Forks, na direção da casa de nosso pai, não há nenhum outro cheiro de vampiro, minha ansiedade muda de foco quando paramos perto da casa.
— Por que aqui?— indago, olhando para a casa, só a dez metros de distância. Há arvores entre mim e a casa, estamos em um ponto cego.
— Porque eu preciso falar com você, sem que mais ninguém ouça— Bella me explica, de repente o nervosismo toma conta do rosto dela. A olho de soslaio, desconfiada— Nem Edward— ela sussurra.
— O que está havendo? Por que aqueles homens te chamaram de escudo?
— É o meu dom, Becca... um que Eleazar imagina que eu compartilho com você, mas a diferença é que eu só protejo.
— E eu só ataco?— suspiro, cruzando os braços, ela olha para o chão, sem me responder— Como assim você protege?
— Posso incluir as pessoas no escudo, impedir que Edward leia a mente de quem estiver dentro dele, impedir que Kate eletrocute as pessoas, acho que posso até protegê-los de Jane. É uma barreira mental, eu venho treinando com Zafrina e Kate.— ela fala apressada, não parece estar prestando atenção nas próprias palavras.
— Quem é essa Kate?— a interrompo— A de Denalli?
— Sim.
— Ela tem um dom?— pergunto confusa.
— Olha, a gente pode falar dos dons dos outros depois?— Bella pede, parece irritada— Você verá tudo, eles gostam de se exibir.
Mais de um? Ah, ok.
Paciência, Rebecca.
— Eu quero falar sobre o futuro, e... caso a gente não sobreviva a isso. Eu não devia compartilhar, eu sei, mas eu sinto que vou explodir com essa informação— Bella me olha, torturada— Há uma possibilidade de a gente não sobreviver, Becca.
— Me fale o que eu não sei— a encaro com tédio. Eu deveria esperar qualquer outra coisa? Preferia não pensar na morte de ninguém importante para mim, incluindo a minha. Prefiro focar apenas em luta, não em resultado, ainda não.
— Mas Renesmee pode sobreviver— Bella continua como se eu não tivesse falado— Alice me mostrou um jeito. O bilhete que ela deixou para Carlisle era de um livro meu, ela queria que eu o encontrasse, no livro havia o nome de um advogado que mora aqui por perto, eu não sei do que se trata ainda, e preciso da sua ajuda, eu vou sair e preciso que você tome meu lugar para levar Reneesme e Jacob para passar o natal com o papai.
Eu congelei por um momento e olhei ao redor. A neve, as decorações. Como eu pude ignorar isso?
— Imagino que vá ser rápido, talvez eu me encontre com ele mais uma vez— ela continua mas eu congelei no tempo, mal a ouço. É natal. Pareceu que o tempo tinha voado e eu não vi nada. O mundo fica muito contorcido, por um momento longo.— E eu preciso que você me prometa, Becca, que vai me ajudar com isso, por Renesmee. Caso vire mesmo uma luta na clareira, preciso que você mate Demetri, ele é o rastreador dos Volturi, não podemos arriscar que ele encontre minha filha— Bella continua como um burburinho de fundo, mas eu tento me concentrar.
— Nessie pode viver— murmuro, franzindo a testa.
— Sim— Bella arfa— Ela vai. Eu vou fazer o que for preciso, ninguém pode saber disso, Becca, ninguém com a mente vulnerável para Aro.
— E o papai? Ele vai ficar bem?
— Não há porque os Volturi virem atrás dele depois de nos exterminarem.
— Está bem— arfo— Está bem.... quando terei que ser você?
— Amanhã.... amanhã a noite— ela me encara, dividida entre tristeza e raiva, mas sei que nada é minha culpa.
Nós olhamos nos olhos uma da outra por um longo momento, então partimos para um abraço, em sincronia.
A abracei com força, ela retribuiu. Estamos perto da morte, posso entender o desespero dela ainda que o meu estivesse atrasado, eu sei que uma hora ele vai chegar, só espero não ser esmagada com o medo porque eu tenho que estar suficientemente bem para lutar, para proteger minha família. Mesmo que só alguns de nós vão sobreviver, talvez.
Se houver um meio para Nessie sobreviver, imagino que isso vá incluir Edward e Bella. Talvez até Jacob. Não... eu não vou me permitir pensar demais nisso. Eu não vou perder ninguém. Afasto Bella para a encarar.
— Você disse que estava treinando. Acha que essas pessoas poderiam me ajudar a treinar também?— pergunto. Bella faz careta. Depois de eu ter quase matado aqueles dois, os dispostos a me ajudar não devem ser muitos. Pelo olhar deles, duvido que qualquer um.
— Você parece ter um controle bom sobre seu dom.— ela fala, desconfortável. Eu quis responder que dava para aprimorar, como qualquer outro, mas fiquei calada.
— Sim, é, você tem razão— balanço a cabeça, nós nos separamos— acho que vou focar só nos treinos de luta corpo a corpo mesmo— dou de ombros, tento não soar incomodada, mas eu sou péssima em esconder sentimentos ruins.
— Rebecca, eu sinto muito...
— Não, não— sacudo as mãos, a interrompendo, e dou um sorrisinho— Sou assustadora, eu sei— ironizo— Dá pra entender, ninguém vai querer ser torturado de graça, foi uma ideia estúpida da minha parte— Ando na direção da casa do meu pai antes que Bella responda. O carro dele não está, o que me faz perguntar que dia da semana deve ser.
Não tenho nada para ver, essa casa não é mais nada, não importa se Charlie não está nela. Dou meia volta e corro na frente da minha gêmea de volta o ninho dos vampiros.
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