Previsível
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Os meses foram se passando para mim e para Jasper, uma maravilha, mesmo que de longe de nossa família, restavam-nos os cartões postais e as ligações no final de cada semana, não estávamos tão alheios assim do mundo, mas as vezes desligamos o celular para ficarmos só nós dois.
Mas claro, também tinham as vezes que sentíamos falta da família, o que é um porre por si só, mas isso não se diz.
Reneesme era obrigada a abrir a boca para falar comigo, geralmente usava apenas seu dom para se comunicar com os outros, mas como não tinha como fazer isso via telefônica, ela falava com sua voz meiga e infantil. Dizia sentir minha falta, perguntava quando nos veríamos de novo e me falava sobre seu dia, sobre um cervo que abateu — maior que o de Jacob, ela sempre acrescenta — sobre o quanto ela gostou da roupa que tia Alice lhe deu, mas ela perdeu rápido por conta de seu crescimento acelerado.
Isso realmente a chateia, mas ela procura sussurrar e falar disso só comigo para não magoar seus pais. Ela confia muito em mim, de alguma forma que as vezes nem eu entendo, já que não tem como esconder nada de Edward ou de Alice.
Ela está enorme, pelo que eu via com certa tristeza — por não poder estar lá para acompanhar — nas fotos que tirava com meu pai. Ela trouxe luz a vida do meu velho, e eu não poderia estar mais grata. Ele voltou a sorrir nas fotos, aos poucos. Era bom vê-lo mesmo que por uma fotografia apenas. Esme também fazia questão de me enviar os cartões de Renée, então eu podia ficar um pouco próxima de meus pais, mesmo que um só mais pouco.
Faz tanto tempo que não nos vemos, que até mesmo os olhos de Bella tornaram-se o dourado típico para a nossa dieta.
As vezes eu confesso que até gostava do vermelho, em comparação, mas pelo menos não preciso mais usar óculos para sair na rua a noite.
Eu estou com Jasper aqui e acolá. Não saímos do país dessa vez, vivendo as custas de Emmett, ele me trouxe para Nova Orleans e aqui estamos desde os últimos três meses. Com alguma sorte, as vezes saímos de dia, andando sempre nas sombras e dentro das lojas. De dia fazemos algumas compras, presentes de um para o outro, mas em maioria esmagadora, quase tudo é enviado para Reneesme em Forks.
A garota parecia ter uns oito anos e o medo de perdê-la tão cedo me deixou nervosa por um bom tempo. Aquele medo de perder alguém importante.... realmente, não é uma coisa simples de se superar, tampouco de se acostumar.
De noite, para nos distrairmos, ele me leva para as ruas lotadas de corpos quentes e nós dançamos, cantamos com a multidão, aproveitando tudo como se fosse um eterno festival.
Minha sede não é mais um obstáculo tão controlador da minha mente, nem dos meus instintos. Isso se vale ao tempo que ando rodeada de humanos, imagino. Mas, ah, como tem aqueles com um cheiro tão delicioso. Veneno enche minha boca e eu fico parada, tão tentada em morder seus pescoços, imaginando como seria o gosto, e Jasper me puxa para outro lugar, interrompendo a festa ali.
— Tá tudo bem, tá tudo bem— ele ri, segura meu rosto e me beija tirando todos os meus pensamentos de predador de foco.
Eu nem discuto mais, porque sempre há — ou ele sempre arranja — um jeito de eu amar Jasper mais um pouco. Só mais um pouquinho.
Estamos deitados no telhado de um dos prédios da rua mais movimentada de Nova Orleans, sem sermos notados. É uma da manhã e a lua cheia está no auge da sua beleza. Eu estou sentada no meio das pernas de Jasper, ele me abraça por trás enquanto encaramos o céu noturno.
Geralmente nessa hora da noite, os músicos dão uma acalmada e músicas mais românticas tocam o ar e pintam a noite naquela tensão sexual que eu amo.
— Eu sei que temos todo tempo do mundo— eu falo— sei que teremos mais noites como essa, mas eu queria poder parar o tempo só para aproveitar mais um pouco disso com você— eu o olho por cima do ombro.
Jasper me dá aquele sorriso doce e genuíno pelo qual eu sou apaixonada porque eu sinto que não há nada mais verdadeiro que esse sorriso. Ele abre a boca para responder, no entanto, se interrompe quando o saxofonista, de sua janela, muda de música.
Eu conheço essa. É La vie en Rose, simplesmente uma das melhores músicas do mundo. Jasper sorri e se levanta me puxando consigo.
— Tente me acompanhar, mon amour— ele me gira e me puxa para perto pela cintura com uma pegada que me desconcentra. Coloco minhas mãos em seus ombros e sorrio.
— Você tem que parar de assistir Barbie Bailarina— zombo, Jasper ri e revira os olhos.
— Cala a boca, não estraga o clima— ele me censura.
— É assim que você fala com sua mulher?— arqueio a sobrancelha.
— Eu falo com minha mulher como eu quiser— ele sacode os ombros, me fazendo rir.
— Vai achando, eu acabo com sua raça.
— Isso era para ser uma ameaça?— ele sorri perverso, e encara minha boca— Cuidado, querida, vai me deixar excitado.
— Você é um idiota— mas quem sorri como uma idiota sou eu. Ele me balança, num ritmo constante, acompanhando a lentidão da música. Deslizamos pelo telhado em declive sem escorregar.
— Fica quietinha, fica— ele cerra os olhos, balançando a cabeça, indo com o som, aproveitando o momento. Eu amo vê-lo assim, tão natural. É o real significado de; se você está bem, eu estou bem. Aproximo meu rosto do seu, como se fosse o beijar, mas me afasto antes que o faça, ele me acompanha como se eu tivesse nos conectado por um ímã. Eu dou risada, ele me fulmina com o olhar, mas sei que não está zangado de verdade. Ele me gira no ar e nós vamos mais para cima da inclinação.
— Me obriga— desafio, sorrindo de canto, quando meus pés voltam às telhas.
— Você adora quando eu te obrigo— ele sussurra, eu me arrepiaria de cima a baixo se pudesse. Duas vezes ainda.
— Ah, eu adoro mesmo— concordo, sorrindo.
Jasper sobe uma mão para a minha nuca e me puxa para si, para um beijo suave e lento.
O saxofonista usa toda a força de seus pulmões para tornar aquele momento ainda mais mágico. Uma nota mais alta toma todo o ar a nossa volta. O mundo poderia explodir e eu tenho certeza que nós não ouviríamos. Jasper se separa para me encarar.
— Quase me deixou sem fôlego— eu zombo, e ele deixa os ombros caírem e deita a cabeça no meu.
— Tão comediante!
— Você riu!— aponto.
— Sorrir não é rir— ele argumenta e volta a levantar a cabeça para me encarar— Tudo o que eu penso é: olha! Uma palhaça! Ah, não, espera, é só minha esposa— ele arregala os olhos. Eu não consigo ficar séria.
— Retire o "só" e coloque "a benção, a mais linda e mais gostosa impossível, da" AÍ você diz "minha esposa"— eu corrijo. Jasper me encara com um sorriso bobo e cínico por um momento e responde, um simples e direto:
— Não.
Então, eu, com todo meu amor, carinho e paciência, digo:
— Então vai se foder.
— Me dá uma mão?— a gente fala ao mesmo tempo, porque eu tinha certeza que ele me responderia isso. Eu caio na gargalhada enquanto ele me olha confuso.
— Você está se tornando previsível, meu amor— eu digo entre risos.
— Ah, não, Rebecca, não fode— ele geme, birrento, só me faz rir ainda mais e eu levo a mão a boca para tentar me controlar.
— Ah, eu fodo sim— sussurro, ele ri e me empurra para o lado.
— Vou fazer greve de novo!
— Não ouse, Jasper!— grito, ele corre para longe de mim, vou atrás, mas ele é muito rápido para que eu o alcance sendo justa.
— Retira o que disse!
— Previsível, previsível!— implico, rindo.
— Greve, greve, greve!— ele ironiza.
— Eu mato você!
— Aí que você fica sozinha de vez, sua chata!
— Jasper, volte aqui!— eu acelero o passo, é inútil, ele domina a liderança, nem está tão concentrado em vencer a corrida até desacelera um pouco, vez ou outra, para que eu tenha a ilusão de que vou pegá-lo.
Trapaceiro.
Ele tem sorte que eu o amo, mas também não abusa, não é?
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