Pai
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O dia amanhece, finalmente. Eu fico com Edward perto de Bella. Ela não reage nem grita como era esperado que fizéssemos. Ouvimos o veneno se espalhando por suas veias, o coração batendo desenfreado.
Eu e Edward jogamos xadrez para passar o tempo, eu perdia todas as vezes porque ele via todos os meus movimentos com as visões de Alice. Puta sacanagem, mas não me estresso, é bom dar um tapa na cara dele a cada derrota, isso o está deixando irritado, mas em minha humilde opinião ele deveria estar grato por eu permitir que ele viva mais um dia.
Estou sendo piedosa, por isso ele não reclama quando o estapeio de novo, seria mais fácil se ele pudesse ler meus pensamentos, eu arranjaria um jeito de o torturar sem deixar mais ninguém incomodado.
Xeque mate. Eu dou o tapa do outro lado do rosto e sorrio quando ele me fuzila com o olhar. Jasper entra no cômodo, e ri da cena.
— Ah, oi, mon amour— cumprimento, ele se aproxima e me dá um beijo rápido no lábios.
— Posso brincar disso também?— pergunta, ele e Edward se encaram. Há uma pausa, mas então os dois riem.
— Claro, ele merece por estar trapaceando— digo, distraída e curiosa de ter perdido a piada, mas resolvo deixar isso entre eles, fico feliz que tenham voltado a olhar nos olhos um do outro, ao menos.
— Sim— Edward responde a algo enquanto eu reorganizo o tabuleiro, não o olho, fingindo desinteresse, os dois se levantam.
— Eu já volto para te derrotar também, querida— Jasper beija minha cabeça e eles saem.
Sem ter mais nada o que fazer, me levanto, Esme arrastou a pequena mesa branca para perto da janela sem vidro, ela só tinha o diâmetro um pouco maior que o do tabuleiro, Edward e eu pegamos nossas cadeiras e decidimos competir. Maggie e Emmett tentaram assistir, mas logo ficaram entediados e foram acompanhar Rosalie na caçada para reabastecer.
Alice e Edward teimaram em não ir junto, acompanhariam Bella quando ela despertasse.
Falando em Bella, a espera parece demorar uma eternidade. Arrasto minha cadeira para o lado de sua maca e a encaro, seu rosto está incomparavelmente melhor do que horas antes, as cicatrizes das mordidas de Edward bem expostas por seus braços e pernas. Ela está com um vestido azul simples, pálida e sem mais hematomas. Tombo a cabeça de lado e me inclino para perto dela, acariciando seus cabelos.
Rio sozinha.
— Agora sim seremos idênticas pela eternidade— sussurro para ela. A minha sósia não reage. Agora entendo como a espera de Jasper por mim deve ter sido torturante— Acho que vou cortar seu cabelo— brinco, sorrindo sozinha— mais curto do que o meu porque eu sou invejosa, realmente não esperava ficar com o cabelo nos ombros para sempre— finjo reclamar.
Obviamente, não há nada.
— Quer saber de uma coisa?— pergunto, após um longo silêncio— Eu nem iria te contar isso, mas aproveitando que você tem preocupações maiores, acho melhor falar.
Dou um tempo, como se fosse ter resposta.
— Então— continuo— eu me casei... com Jasper, óbvio. No mesmo altar que você. A noite anterior ao seu casamento. Foi muito legal, e... é— eu dou risada— sim, eu vim para o seu casamento, não achou mesmo que eu ia perder isso, achou?— parecia fazer uma eternidade aquele dia, que estranho— Você estava tão linda, Bella, quase chorei... Eu vi o papai aquele dia, mais cedo, não planejei, sabe, mas acabamos nos encontrando no cemitério. Nós dois fomos visitar Rebecca Swan.— respiro fundo— Sinto muito que ele não tenha aparecido no seu casamento, mas a gente entende o orgulho dele, não entende?— provoco— Enfim, ah, acredita? Emmett foi meu padre, então acho que você pode imaginar o quanto ele levou tudo a sério! Nossa, agora eu vejo quantas coisas eu tenho para contar, a gente ficou... tão longe uma da outra, Bells. De novo. Eu sinto muito que seja assim entre a gente. De verdade.
Me toco de uma coisa, e dou mais risada, de mim mesma como que para tornar tudo mais patético.
— Eu nem sei se você está me escutando! Mas tudo bem— dou de ombros, balançando a cabeça— Eu entendo, fiquei assim quando me transformei, não escutei nada, e até hoje não sei o que Jasper me falou naquele tempo de inatividade, ele se recusa a me contar— reviro os olhos— Todo mundo que eu conheço é tão teimoso!— olho para o teto. No andar de baixo ouço murmúrios da televisão, Esme pede a Alice para tocar piano, acho que ela concorda, porque logo uma melodia agradável preenche o ar.
Deito minha cabeça perto da de Bella, e fico em silêncio, me lembro com clareza da dor que ela deve estar sentindo agora, o tempo está lento para mim, para ela deve parecer ter parado.
— Eu vou te contar tudo de novo... se você quiser— murmuro— Prometo não esconder nada. Me desculpa por ter surtado com você por causa da criança. Sei que no seu lugar eu muito provavelmente faria o mesmo, isso é se primeiramente eu tivesse ficado muito louca e ignorado as ameaças sérias da minha irmã— lhe dou tapinhas leves, seu corpo todo está tenso e é notável que está ficando mais resistente— Renesmee é ótima— balanço a cabeça— Meio hipnotizante e muito, muito linda. Ela tem os seus olhos, Bella. Ela está louca para te ver— encolho os ombros, as notas do piano começam ficam mais agudas.
Fico quieta de novo, sem saber o que falar. Nunca foi meu forte discutir sozinha e eu fico entediada, mas não saio.
Fico com Bella por horas a fio e, quando vejo, é quase meio dia. Reconheço o cheiro de Jacob com o barulho irritante de sua moto, se aproximando velozmente.
Não dou atenção, mas Jacob me grita. Corro para o andar de baixo me perguntando se é mais uma intimação de Sam, encaro Jacob esperando que ele se justifique, Alice para de tocar o piano, Carlisle para de digitar no computador, Esme para de balançar Renesmee no colo. Edward aparece correndo do meu lado, Jasper aparece do outro.
— Você não fez isso!— Edward rosna, zangado, coloco a mão em seu ombro o impedindo de avançar em Jacob.
— O que? O que você fez, Jacob?— pergunto, confusa olhando o moreno, ele arregala os olhos.
— Eu resolvi o problema, vocês todos não precisam ir embora— ele fala.
— Esclareça!— pedi.
Ele continua a hesitar.
— Bem, vocês ainda deverão ir, tentei falar com Sam, mas não houve mudanças sobre isso— ele dá de ombros, gesticulo para que ele se apresse em continuar— Eu contei a Charlie— ele arfa— contei que Bella voltou mais cedo da lua de mel, que esteve doente, e que... bem, ela teve que mudar para ficar melhor...
Arregalo os olhos, em um estalar de dedos, fico fulminante! Soco o ombro de Jacob e ele voa para fora de casa.
— VOCÊ O QUE!?— grito indo atrás dele, ele cai sentado antes das escadas, isso me dá uma sensação de deja-vu, mas não reconheço a memória— Você perdeu a cabeça?! Os Vulturi vão matar quem quer que saiba sobre nós! Eu e Bella só ficamos vivas pela certeza que nos transformaríamos e pela mera curiosidade de Aro! Se descobrirem de Charlie, ele estará morto!
— Não, você não está entendendo, eu não contei sobre vocês. Seu segredo está seguro— Jacob rebate ao retomar o fôlego, hesito, confusa— Eu contei sobre mim, disse que existem coisas nesse mundo que ele não conhece, e nem deveria, mas que se ele não perguntasse demais, assim poderia ter Bella na vida dele. Eu te fiz um favor!
— Não aja como se estivesse tentando beneficiar ninguém além de você mesmo!— Edward fala, zangado— Bella sequer terminou a transição.
— E é aí que B1 entra— Jacob olha para mim, tenta se levantar, mas apenas por poder, eu o empurro para o chão de novo, suas palavras certamente fisgaram minha atenção.
☼
Ele chega em dez minutos. Meu pai está vindo, meu pai está vindo! Eu vou poder falar com ele, eu vou olhar para seu rosto diretamente. Estou tão extasiada, mesmo que esteja apenas mascarada de minha irmã. Por uma hora, eu sou a Bella.
Alice me coloca lentes de contato castanhas que perturbam meus olhos e me fazem me sentir uma cega.
— Elas vão dissolver, mas você pode dizer que precisa ir ao banheiro para trocá-las— diz Alice calmamente— É questão de minutos, você vai notar a diferença.
Assinto, e arregalo os olhos para Jasper. Ficaremos na sala, no andar debaixo, Edward fica sentado do meu lado no sofá de costas para a entrada então não vejo motivos para esconder a aliança de casamento, a gente olha torto um para o outro, mas sei que não teremos que fingir ser um casal nem nada, a última coisa que Charlie pode querer é Edward mais perto de mim.
Jasper, Alice, Carlisle e Esme estão de pé na nossa frente, me dão dicas, mas nada que eu já não saiba pelo pouco contato que tive com humanos. Jacob pegou Renesmee e a levou para os fundos da casa. Foi por ela que ele fez isso, mas em parte eu me sinto grata, porque se Bella for ficar na vida de Charlie, eu poderei ficar na vida de Charlie e Renee.
Me pergunto se não podemos me mostrar, separadamente, mas as perguntas seriam inevitáveis, talvez meus pais reagissem bem, talvez não.
Não sei, vou discutir isso com eles mais tarde, seria bom falar para papai que sou eu, mas acabo de ser expulsa por Sam. Eu sequer poderia ficar.
— Renesmee é nossa sobrinha que adotamos— Edward diz para mim, apenas balanço a cabeça e respiro fundo.
— Vai ficar tudo bem— Jasper me fala, é tão reconfortante que ele esteja perto que me perco nos seus olhos dourados, ele sorri para mim e se aproxima para beijar o topo da minha cabeça.— Je vous aime— ele sussurra e ajeita meus cabelos para cobrir a minha lateral raspada.
— Eu te amo— respondo e agarro sua mão a beijando. O barulho de carro aumenta minha tensão de forma catastrófica. Jasper segura meu queixo e me rouba um selinho antes de sair correndo para o andar de cima, se esconderia com Bella.
Alice sorri para me confortar e vai para outro canto da casa, Esme a segue. Carlisle vai abrir a porta.
— Você aguenta— Edward me sussurra— Teve uma grande provação ontem, vai passar por isso.
— Obrigada— falo. Ele me estende a mão com a palma virada para cima e eu a seguro, pousamos as mãos dadas na minha perna. É tão estranho o clima entre nós que eu penso seriamente em sair correndo.
Carlisle abre a porta, o cheiro de meu pai invade a casa, penso em todos os jeitos como isso pode acabar mal. Esvazio a mente o melhor que consigo.
— Olá, Charlie— Carlisle cumprimenta.
— Carlisle, onde Bella está?— meu pai é direto. Carlisle abre mais a porta, olho por cima do ombro.
— Olha a força, Becca— Edward dá um puxão no meu braço, estou apertando demais a sua mão, suavizo a pressão. Papai entra, seu olhar cruza com o meu e eu me levanto puxando Edward comigo.
Tento me lembrar, eu sou Bella, eu sou Bella, eu estava brigada com ele, eu perdi minha irmã, ele não veio ao meu casamento, Edward é meu marido, eu estive doente, eu estou melhor, os Volturi, ele não sabe o que eu sou, nem deverá saber.
Renesmee é minha sobrinha.
— Oi, pai— eu cumprimento, ansiosa, sentindo minha garganta arder.
— Bella— ele responde, andando na nossa direção, Edward solta minha mão.
— Vamos lhes deixar a sós— ele fala, assentindo para Carlisle. Meu pai o ignora, de repente, eu me vejo como uma ameaça para Charlie.
— Então... Jacob me falou que esteve doente. Eu iria ouvir disso em algum momento, ou só me seria notificado que você não resistiu?
Que ironia.
— Eu não queria que você pensasse exatamente isso— balanço a cabeça, atuando como magoada— Não queria que se preocupasse, eu estou bem.
— Agora— Charlie me olha com certa raiva, tenho que baixar o olhar.
Ficamos em silêncio um momento.
— O que está acontecendo, de verdade, Bella?— ele me pergunta, acabado.
— Não posso falar, não posso responder suas perguntas se não terei que ir embora— me adianto.
— Não, não!— Charlie se agita, anda em círculos na minha frente— Eu acabei de perder sua irmã, não posso perder você também.
Eu o encaro.
— Eu também perdi ela, pai, e a última coisa que eu quero é perder você de vez— dou um passo na sua direção, testando meus limites, veneno enche minha boca, mas eu tenho controle dos meus pensamentos— Olha, pai, eu sei que tudo está diferente entre a gente, eu sei como isso pode ser estranho, mas tem que confiar em mim que é melhor que você não saiba a verdade.
— Estranho? Isso é pouco para resumir!— ele rebate, exaltado— Eu acabo de ver um garoto que conheço desde de criança se transformar num cachorro enorme! Minha filha, parece minha filha ao mesmo tempo que parece uma estranha— ele aponta para mim, me medindo de cima a baixo com a testa franzida, lembro-me de piscar.
— Mas sou eu— eu falo— Por favor, tenta entender— uno as sobrancelhas e me aproximo mais dele. Só um passo de distância— Eu te amo, pai— falo, engulo meu veneno— Por favor, não me afaste, eu não vou aguentar isso também.
Aquelas palavras são minhas, a voz é minha, mas o rosto é de Bella, a postura é de Bella.
Essa inveja me consome de um jeito tão intenso que eu perco a linha de raciocínio. Ela tem tudo o que eu poderia querer, e nem sequer está tentando.
— Eu fiquei tão preocupado desde que você sumiu— meu pai fala, a voz afetada parte meu coração.
— Eu sei, eu sinto muito, mesmo— falo— Vamos parar de brigar, papai— peço— Eu odeio ficar sem você.
Charlie para de respirar e seus olhos lacrimejam, ele está segurando firme o choro, e num movimento brusco, ele me abraça. Respirar se torna inconcebível, e eu tento retribuir sem demora.
Tenho vontade de chorar, porque isso era o que eu precisava há tanto tempo. O calor do abraço do meu pai me envolve e seu cheiro me deixa desconcertada. Mas eu sei que não vou perder o controle. De nenhuma forma eu vou machucá-lo, nunca mais.
— Eu senti sua falta— ele geme.
— Eu também senti a sua.
Eu acho que ele faz ideia do quanto, mesmo que não saiba quem está abraçando.
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