Minha fraqueza
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Quando voltei da corrida papai estava em casa, ele lia o jornal e parecia de péssimo humor.
— Por que ainda lê os jornais se eles apenas te aborrecem, homem?— perguntei-lhe ao entrar na cozinha, cumprimentei minha irmã e senti cheiro de queimado— o que é isso?— perguntei franzindo o nariz e Isabella me disse que papai tinha tentado cozinhar, tive de rir, mas ao notar a cara de censura do meu velho, me calei.
— Ele está resmungando como todo mundo quer morar em cidades pequenas.— Bella disse, vi a água fervendo para o macarrão que partia ao meio.
— O que há de errado nas cidades grandes?— perguntei.
— Seattle está se tornando a capital dos homicídios do país. Cinco assassinatos sem solução nas últimas duas semanas! Dá para imaginar viver assim?— resmungou papai muito chateado.
— Phoenix tem uma taxa mais alta, pai, acho que conseguimos sobreviver com isso.— Comentei.— é uma pena de qualquer jeito, eu estava mesmo pensando em viajar para lá.
Papai me fuzila com o olhar.
— De maneira alguma você não vai para lá, Rebecca.
— Calma, xerife, eu só estava brincando.— ergui as mãos em rendição.
Charlie suspirou pigarreando alto, parece ansioso para falar alguma coisa, eu lancei um olhar para minha gêmea e vi que ela notou o mesmo.
— Precisa falar algo, pai?— ajudei-o. Charlie pensou bem por um minuto.
— Na verdade sim, Rebecca, mas tem que ser com Bella.— ele anunciou. Eu escondi os lábios para dentro da boca para evitar sorrir, minha sósia cerrou os olhos na minha direção como se fosse me matar e eu lhe lancei uma piscadela.
— Mas... tudo bem comigo?— perguntei só pra me prevenir.
— Claro, Becca. Pode ir tomar um banho, você está grudenta.— eu ri.
— Está bem, mas antes me abrace.— pedi, ele me olhou de cima a baixo, incrédulo.
— Não acho que seja necessário.— se desviou, eu abri um largo sorriso e o abracei apertado mesmo assim, fiz o mesmo com Bella e corri para tomar um banho.
Cheguei ao banheiro e me demorei num banho quente, lavei os cabelos e deixei a água escorrer pelo meu corpo, respirei aliviada, o mundo poderia estar explodindo, no momento nada vai acabar com meu humor. Enfiei a cabeça debaixo d'água e relaxei a mente, não me sentia assim há meses. Estou finalmente bem.
Desliguei o chuveiro e passei a mão no espelho embaçado jogando meu cabelo de lado para conseguir ver a lateral raspada que há um tempo estava clamando pela maquininha. Meus cabelos cresceram bastante, mas eu gostei tanto da lateral desse jeito que não quis deixá-los voltarem ao mesmo que antes. Peguei a maquininha do meu pai na gaveta da pia e fiz o reparo sentindo até certo alívio.
Alguém bateu a porta depois que limpei a pia e me enrolei na toalha porém quando a abri não tinha ninguém. A porta do meu quarto rangeu e eu segui o som cautelosa. Entrei e fechei a porta atrás de mim. Novamente ninguém. Franzi a testa, a janela aberta trouxe uma forte brisa chuvosa e então corri para trancar a mesma.
Desde que Jasper invadira minha casa da primeira vez, fui obrigada a pegar o hábito de só me livrar da toalha quando estivesse vestida, e assim poderia sair do cantinho do quarto sem ser pega de surpresa.
— Esqueceu de trancar a porta.— lembrou-me ele, assustei-me, mas só faltava colocar uma blusa. Ele falou como se já estivéssemos conversando há um tempo. Suspirei alto.
— Isso te impediria?— perguntei sem o encarar depois olhei na sua direção, ele tem uma cara de pensativo, segura minha blusa entre os dedos encostado na porta, trinquei a mandíbula e revirei os olhos.
— Bom, certamente não.— admitiu, rodando a blusa me encarando fixamente.
Apenas estendi a mão esperando que ele entendesse o recado e segurei a toalha sobre os peitos com a outra.
— O que?— ele se fez de desentendido e se manteve parado no mesmo lugar, um sorriso repuxando o canto dos lábios.
— Me dá a blusa, Jasper.
— Você precisa mesmo dela?
— Não, não. Por que você não vem atrás de mim o dia inteiro segurando meus peitos também? Já é meu guarda costas mesmo, por que não usar suas mãos como sutiã?— provoquei irônica, me aproximei para pegar minha blusa mas ele levantou o tecido acima da sua cabeça, me devorando com os olhos.
— Se você insistir, eu aceito.— ele admitiu com um sorriso pra lá de pervertido. O encarei com firmeza, de queixo erguido.
— Jasper.— censurei-o.
— Sim, meu amor?— seus olhos fitam os meus, ele está focado em mim de maneira até irritante.
— Se você não me dar minha blusa, eu vou morrer de frio.— fiz bico. Ele hesitou, mas baixou minha blusa. Agarrei a mesma.
— Ainda quer me usar de sutiã?— ofereceu-se exibindo as mãos grandes, contive o sorriso ao encarar a tentação, apenas balancei a cabeça mordendo o lábio.
— Pervertido.
— A ideia foi sua, eu só concordei.— rebateu.
— Sai do meu quarto, Jasper.— pedi, ele não se moveu me encarando. Revirei os olhos para sua teimosia— Pode se virar, então?
Ele não falou nada, apenas deu de ombros e me deu as costas. Eu sabia que se ficasse longe talvez ele desse uma espiada rápida e eu nunca saberia, mas ele não tinha como olhar as próprias costas, não é? Encostei minhas costas as suas e deixei a toalha cair.
— Não espie.— pedi.
— Não irei.— ele respondeu e eu sorri fraco, confio nele, mas não custa prevenir. Vesti a blusa calmamente, mas não me afastei depois de vestida. Encostei a cabeça nas costas de Jasper e olhei para o teto, ele não respira.
— O que está fazendo aqui, Jasper?— perguntei em voz baixa.
— Pensei que fosse óbvio.— ele disse no mesmo tom. Nossos dedos se roçaram levemente, o seu toque frio deu um leve choque por todo meu braço.
— Talvez não seja.— rebati.
— Não consigo ficar longe de você.— ele falou ainda mais baixo e meu peito se aqueceu por...
Eu não sei porquê, mas este momento passou devagar, e eu não me importei. Uma sensação boa que irradiava. Como se nos mínimos momentos, por mais simples que fossem, tudo fosse verdadeiro, correto e eterno. Eu senti Jasper de um jeito diferente naquele momento, não era uma descoberta que "nossa, eu estou chocada".
É o que eu senti muitas vezes antes com ele. Eu sabia que ele se importava comigo em momentos assim, e mesmo que não usasse as três palavras, eu tinha certeza de que ele me ama. Isso me traz uma sensação de... conforto? Contentamento? Alegria? Amor? Não sei. Mas é um sentimento bom, genuíno.
Suspirei e saí de perto dele, me jogando na cama ainda olhando para o teto, Jasper se deitou do meu lado e nós ficamos calados por um momento, nossos braços se encostando sem que nenhum de nós quisesse se afastar.
— Eu não quero que você seja meu ponto fraco, Jasper.— sussurrei.
— Não acho que eu sou.— ele respondeu. Desviei os olhos do teto e o observei, ofendida. Ele não para de encarar o teto. Me deitei de lado, virada na sua direção.
— Você é.— confirmei, ele abriu um sorriso verdadeiro, daqueles que duram pouco.
— E o que eu teria que fazer para ser teu ponto forte?— perguntou após um momento de silêncio, enquanto eu contemplava seu rosto lindo de perfil.
— Esse é o problema. Eu não sei como.
— Bom... eu tenho tempo para esperar enquanto você descobre.— ele disse e baixou os olhos, mas não me encarou.
— Você não está facilitando as coisas.
— Nunca foi minha intenção facilitar.— ele falou, sério. Sorri, queria tocar seu rosto e virar ele para mim, mas contive a vontade e me levantei.
— Eu vou jantar.— falei segurando a maçaneta da porta, Jasper se sentou e me encarou.
— Você... você um dia vai me perdoar, Rebecca?— perguntou, cuidadoso.
— Talvez não. Talvez já tenha perdoado.— dei de ombros e baixei a cabeça.— Mas não vai ser agora que vou voltar pra você.
— Tudo bem.— Jasper caminhou até mim e beijou o topo da minha cabeça, um braço seu me envolveu num abraço que eu não retribuí.— Ainda sou imortal.— ele riu sem humor— Tenho literalmente todo tempo do mundo.
— Talvez precise dele.— argumentei ainda de cabeça baixa.
— Vale a pena se for para esperar por ti.— ele me garantiu. Sorri sem que ele pudesse ver mas eu sei que ele sentiu minha satisfação— Boa noite, Rebecca.
— Boa noite, Jasper.
Ele se foi pela minha janela. Tranquei-a antes de descer para jantar.
☼
Saí para correr com Maggie na tarde seguinte e lhe contei o que falei com Jasper na noite anterior.
— Olha, eu realmente não entendo.— ela disse— está mais do que claro que vocês se amam, mulher. Pra que toda essa demora para voltarem a namorar?
— Eu tenho medo, Maggie. Medo de me machucar de novo, medo de ele ir embora caso eu o aceite. Foi o inferno quando ele foi embora daquela vez e confesso que parte de mim ainda está furiosa com ele, pode ser uma parte mínima quando ele está me irritando para ter minha atenção, mas as vezes eu só... Queria poder esmagar aquela cara linda dele no asfalto.
— "Linda" é muito exagero.— Maggie fez careta jogando os cabelos loiros por cima do ombro, eu ri, sem fôlego.— Mas... Alice vê que vocês vão ficar juntos. Não tem porquê você ter medo, ele vai ficar com você.
— Tá, mas por quanto tempo? Todo mundo sabe como as visões dela podem mudar, muitas coisas podem acontecer. Em um dia mesmo, o futuro de todo mundo pode mudar.— argumentei.— Eu não quero passar pelo que passei, Maggie. Eu me perdi de mim mesma, eu deixei de me amar. Jasper é importante para mim, e muito. Mas eu tenho que me ter antes de ter ele.
— Mas você parece bem agora.— apontou a loira. Parei de correr, exausta e me sentei no meio fio procurando fôlego e um pouco de refresco. Maggie me observou de cima colocando a mão na cintura.
— Pareço, eu sei. Mas eu não vou conseguir voltar com Jasper. É cedo e eu não cheguei lá. Ele mesmo prometeu me dar tempo, mas falta o "espaço". Quer dizer... Ah! Como eu vou sentir falta dele se ele está sempre comigo?
— Ele é chato, não é?— brincou ela.
— Insuportável.— concordei com um sorriso bobo.
— Vai pedir para ele ir embora?
— Não sei.— franzi a testa, pensativa— Talvez não seja uma boa hora.
— Medo de Victoria?— Maggie sugeriu, dei de ombros.
— Um pouco, mas... e se eu mandá-lo embora, será que Victoria tentaria pegá-lo sozinho? E se... ela matasse ele?— estremeci só de imaginar que seria minha culpa caso ele finalmente ouvisse meu pedido para se afastar. Maggie riu alto como se eu tivesse contado uma piada muito boa.
— Jasper é uma máquina de matar, Rebecca! E mesmo que não fosse, Victoria precisaria de um exército para derrubá-lo. Ainda mais se no fim ele estivesse fazendo pra proteger você.— esse foi o primeiro consolo real vindo de Maggie. Ela se sentou do meu lado e me deu uma ombrada de leve.
— Mas se esse não fosse o caso, se Victoria não fosse mesmo de perigo nenhum, seria muito egoísmo da minha parte mandá-lo embora, digo, e a família dele? Esme ficaria magoada comigo? Não sei...— Maggie sorriu para mim, os olhos âmbar cintilantes.
— Ah, Rebecca! Assume logo que você não quer ele longe.— Maggie revirou os olhos.
— Mas..
— Mas nada.— ela me cortou— Tudo o que você disse até agora foram desculpas para mantê-lo por perto. Você não o quer longe, Becca, não se tocou disso? Não é Esme que o prende aqui, não é Victoria, é você.
Suspirei com suas palavras e fiquei pensativa, apoiei meu rosto nas mãos, com os cotovelos nos joelhos.
— Você o ama.
— Amo.
— Então fale com ele!
— Não. Estamos nos dando bem na amizade, talvez seja algo bom continuarmos assim.— respondi com um ar de cansaço, Mag olhou séria pra mim e depois discretamente olhou para trás, franzi a testa e olhei rápido para trás pensando que veria Jasper. Mas era apenas o Dave.
— Oi.— ele sorriu radiante.
— Ah, oi, Dave.— cumprimentei.
— Vai vir treinar hoje?— perguntou ele e me ajudou a levantar. Maggie se pôs de pé fingindo não notar a mão estendida de Dave em sua direção.
— Talvez amanhã.— me desviei— Tenho lição de casa.— não é ao todo mentira, mas eu realmente não estou afim de treinar.
Pensei por um segundo na cara sorridente de Dave e no que ele poderia ter acabado de ouvir.
— Merda, Maggie! Nem para você me falar!— exclamei batendo no braço da loira, ela sorriu maliciosa mostrando os dentes.
— Não sei do que está falando.— ela me lançou uma piscadela e se despediu de nós, me voltei para Dave sem saber o que falar, só rezo para que ele não pense que era sobre ele que eu estava falando.
— Está com pressa de ir?— perguntou ele, fiz careta.
— Um pouco, estou cansada.
— Não me convidou para correr hoje.— ele fez bico.
— Precisava conversar com Maggie, de mulher pra mulher.— justifiquei evitando ser rude.
— Bom, te vejo amanhã?— perguntou ele enquanto eu me afastava.
— Claro, amanhã treinaremos o dia inteiro.— sorri e acenei indo o mais rápido possível para longe dele.
Entrei em casa, Charlie ainda não tinha chegado e Bella parecia estar esperando por mim sentada na escada, parecendo pensativa. Me aproximei, cautelosa.
— Bella?— chamei.
— Jasper está agindo estranho com você?— ela foi direta.
— Não mais que o normal, por que?— me sentei ao seu lado por um momento.
— Sinto que Edward está me escondendo algo.— ela admitiu, a testa franzida.
— O que? Acha que ele planeja ir embora de novo?— brinquei, Bella me olhou de olhos arregalados.
— Acha que pode ser isso?
— Eu estou brincando, Bella.... Acho.— acrescentei, incerta. Depois bufei pensando em comprar algo para comer.— Tem sorvete aí?
— Claro que não. Sabe que Charlie é diabético, se ele visse um já teria acabado.— Isabella respondeu, mal me ouvindo.— Ah, e fomos admitidas na faculdade do Alasca. Nós duas. Edward trouxe mais cartas para você assinar também.
— Você leu minhas cartas de admissão? Alô? E a privacidade, fofa?— perguntei, incomodada. Minha sósia deu de ombros.
— Charlie que abriu, eu só olhei por cima do ombro dele— revirei os olhos e me alonguei mais um momento.
— Qual foi sua conversa com ele ontem?
— Jacob.— ela minimizou.
— Ah. Talvez devêssemos ir à La Push, ele ainda é nosso amigo, né?
— Não por muito tempo.— Bella disse em voz baixa, isso a magoa, o afastamento de Jacob parece perpétuo. Vampiros e lobisomens são inimigos naturais, será que Jacob poderia abrir essa exceção para Isabella? Eu gosto mesmo dos lobos. E talvez num futuro queira que eles abram uma exceção para mim.
— Não por muito tempo?— repeti.— Vai se casar com Edward agora por acaso?— provoquei e olhei suas mãos na procura de uma aliança só por precaução. Nada.
— Se Edward insistir demais em casamento, talvez eu peça para Carlisle. Alice disse não ter certeza se aguentaria.
— Melhor não correr o risco.— concordei, ela balançou a cabeça respirando fundo.
— E você e Jasper? Já discutiram quando vai se transformar?
— Ah, não. Talvez eu deixe passar um ano inteiro, não tenho certeza se quero agora. Eu até que me dou bem como humana.— fiz pouco caso— Fora o fato que não voltei com Jasper.
— Sei.— ela disse. Uma única palavra cheia de sarcasmo, revirei os olhos e depois ri.
— Vou jantar.— anunciei— talvez passe num mercadinho para comprar sorvete daqui a pouco, vai querer?
— Estou bem.— ela dispensou. Fui até a porta e pensei em dar meia volta para conversar mais um pouco, mas desisti da ideia. Ela vai ficar bem.
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