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— Ficamos quase seis meses sem nos ver depois que fui embora— ele começou, se sentando na minha frente com muito mais controle, eu não consegui o olhar nos olhos, é pedir demais de mim. As garotas não mudaram a pose defensiva— você ficou quatro morando com sua mãe na Flórida, não era você mesma, você estava infeliz e descontava nos outros e em si mesma.
— Me pergunto porquê— não resisti em comentar com ironia. Jasper me repreende com o olhar, desviei o rosto para o chão, encarar ele me faz querer chorar.
Ele suspirou antes de continuar, está cansado e é evidente mas eu não estou muito melhor para ser compreensiva.
— Você não me falou muito sobre isso, mas eu sei que se envolveu com alguma droga temporariamente, saía muito, quase todo dia arrumava encrenca.— ele gesticulava, não queria falar daquela parte, mas talvez pensasse que eu precisava saber. Eu não quero. Cruzei os braços— Quando você voltou para Forks, você começou a andar com Dave, se lembra dele?— Jasper me perguntou, o olhei de canto, receosa.
— Dave Marks?— arrisquei.
— É, esse mesmo— Jasper não tentou disfarçar enquanto revirava os olhos— Vocês ficaram bem próximos— falou, mau humorado— Ele gostou de você, tentou te beijar uma semana atrás, nunca quis tanto matar alguém— ele disse, desviei o olhar de novo, bufando.
— Não me lembro de falar com ele— admiti, não vieram nem sinais de flashes— Nem vejo porque começaria.
— Somos dois— Jasper suspirou— Mas enfim, você e ele viraram tipo super amiguinhos. Enquanto isso Bella se tornava mais próxima de Jacob.
— Jake e Bella?— franzi a testa, nunca imaginei que ela gostasse dele— Interessante..— murmurei.
— Aparentemente vocês estavam se dando bem com os rapazes. Você, principalmente, estava começando a me esquecer— quis contradizê-lo, mas não iria puxar seu saco e fiquei quieta— Mas então, Jacob Black teve que se afastar de Bella por conta de uns problemas com sua metamorfose— o olhei incrédula.
— Do que você está falando?— franzi mais a testa, uns sons vieram a minha mente, rosnados como uns de...— Cachorros?— pensei em voz alta, perdida em pensamentos. Me levantei incomodada e andei de um lado para o outro o mais devagar que consegui.
— Chamamos eles assim a maior parte do tempo— Alice acrescentou com a voz calma. A ignorei, tentando focar nos sonhos ou memórias que me atacavam.
— Paul...— comentei gesticulando, o nome veio até mim, mas não se ligava a um rosto, era como estar lendo um livro escrito em uma cruzadinha, as coisas são narradas para você e você tem que se virar para visualizar e juntar os pontos. Rosnei irritada e me sentei de novo na poltrona quebrada, Alice fez cara de sofrimento quando eu arregacei ainda mais o objeto. Talvez a ideia de eu ir encontrá-los do lado de fora tenha sido para precaver a mobília da casa.
— Você e ele não são amigos— Jasper falou, me olhando com desconfiança. Baixei o olhar para meu vestido novamente.
— Por que chamam Jake de cachorro? Ele e quem mais?— tentei me manter concentrada e calma, é difícil.
— Jacob Black e seus amiguinhos quileutes, não creio que seja importante se lembrar de cada um deles— Alice deu uma cotovelada na loira, em censura— Eles têm a capacidade de se transformar em lobos enormes— a loira disse, eu ri de descrença por um segundo, mas ninguém me acompanhou.
— Metamorfose... lobos enormes, Jacob é um lobisomem?— deduzi.
— Sim e não, ele é um metamorfo, descendente de uma grande linhagem, eles escolheram se transformarem em lobos, lobisomens não escolhem essa vida— Maggie me explicou, a encarei por um momento, tentando me lembrar do seu rosto, mas nenhuma memória veio. Encostei na poltrona, sem saber no que pensar.
— Uau— foi tudo o que consegui dizer. Vampiros existem, por que lobisomens e metamorfos não existiriam também?— E como eu descobri isso?
— Você e Isabella foram atrás de Jacob para cobrarem ele pelo sumiço, Isabella desconfiava que Sam Uley estivesse envolvido, mas um dos rapazes se transformou na frente das duas, após um desentendimento com você e tudo ficou mais claro, Jacob as salvou e contou tudo— Jasper continuou a história, me olhava fixamente o tempo todo, eu não sabia como fugir daquele olhar, me remexi no assento, desconfortável, tornando a bater no vestido para me livrar da sujeira de terra.
Encarar a terra me deu outro gatilho, o Paul ganhou massa e tamanho de repente, ele estava furioso, congelei por completo processando a lembrança.
— Foi Paul que se transformou na minha frente— sussurrei, a primeira coisa que me lembrei, a imagem tão fosca quanto as outras, mas ainda é alguma coisa, mesmo com o buraco imenso de quatro meses no meio.
— Bom saber— Jasper bufou, o olhei.
— Eu não tinha te contado quem foi— concluí.
— Não queria que eu fizesse nada a respeito— ele respondeu, nos encaramos longamente, é tão bom olhar para ele ao mesmo tempo que doloroso, estava com saudades, mas reprimi tudo, preciso pensar e avaliar o território. Encarei Alice para me recompor.
— Não foi a primeira vez que eu vi os lobos— falei.
— Se lembrou de mais alguma coisa?— Alice perguntou ansiosa.
— Não... eu só sei— falei franzindo a testa. Alice e Jasper se entreolharam, se questionando, Alice suspirou e assentiu, derrotada— Estão me escondendo algo— acusei.
— A parte que você e Isabella quase foram pegas por Laurent a mando de Victoria— Jasper contou.
— Por que me esconderam algo assim?— me levantei de novo, irritada, Maggie ficou tensa. Eles ficaram em silêncio, me lembrei do sonho— Ela conseguiu me pegar— falei, incerta.
— Era por isso que não quisemos mencionar o envolvimento de Victoria e Laurent tão cedo, falar sobre eles vai nos levar ao final da história. Não queremos que fique ansiosa— Alice admitiu, meio na defensiva.
— Ela conseguiu me pegar!— repeti entredentes— Aquela vadia foi o fim da minha história... Não foi um sonho.
— Não, não foi— Jasper concordou a contragosto— Mas vamos chegar lá.
— Não me esconda nada— exigi.
— Não vou— Jasper sussurrou. Cruzei os braços os encarando de cima com impaciência.
— Continuem.
— Não muito tempo depois que vocês descobriram sobre os lobos, Jacob ficou ocupado de novo caçando Victoria, que vinha procurando por fraquezas, e sempre conseguia escapar deles. Então, Bella teve uma brilhante ideia de se jogar de um penhasco num dia frio, com um mar furioso apenas para ter uma visão de Edward por conta da adrenalina, para se livrar do tédio— Alice contou com sarcasmo, apontando como a ideia era completamente estupida.
— Como é que é?— vociferei, irritada pra porra— Ela nem sabe nadar direito!
— Você pulou atrás dela para salvá-la, sabia onde encontrá-la.— Jasper acrescentou.
— Claro que sim— reclamei jogando os braços para cima— é claro que esse seria meu primeiro pensamento. Quem nos salvou?
— Jacob e Sam Uley— Alice falou.
— Como deduziu que não tinha sido você que salvou Bella?— Maggie perguntou.
— Nós duas somos péssimas nadadoras— me corrigi— Eu com certeza não me salvaria no braço no meio de um mar violento, quem dirá outra pessoa. É uma conclusão óbvia.
Maggie levantou as sobrancelhas surpresa, ignorei a ofensa direta ao meu raciocínio, ela tem cara de quem faz você parecer um idiota o tempo todo.
— E então?— incentivei.
— Alice não pode ver nada que envolva os lobos, vocês duas passaram o dia com Jacob Black depois que ele as salvou de novo— Jasper gesticulou, mais flashes vieram sem dizer nada— Alice não viu o futuro de vocês...
— Achou que estávamos mortas— falei o óbvio, encarando o loiro, pensativa.
— Sim— Alice balançou a cabeça— Mas eu fui atrás de vocês para conferir, tinha um pressentimento que não aceitava que aquilo fosse verdade.
— Ela ainda não tinha dito a mim e a Edward— Jasper contou— Nós nos separamos da família para evitar fazer todos sofrerem conosco— ele respirou fundo, a cara fechada, outra coisa que não gosta de lembrar— Alice as encontrou, você a recebeu com hostilidade, bem menos violenta do que a de hoje, por sinal— eu revirei os olhos— ela só permaneceu por causa da insistência de Isabella— imaginei, a garrafa caiu da minha mão e se espatifou nos meus pés, mais nada.
— Fiquei uma noite, foi quando Rosalie se envolveu e decidiu contar aos rapazes sobre sua suposta morte— Alice continuou balançando a cabeça e encarando o chão, repreendendo— Eles ligaram para sua casa confirmar... mas foi Jacob Black quem atendeu.
— Edward perguntou por Charlie, o cachorro respondeu que ele não estava, Edward perguntou onde ele estava, o cachorro respondeu: no enterro— Jasper repetiu a fala, áspero, e se levantou me dando as costas, furioso só de lembrar, colocou as mãos na cintura encarando a janela enorme. Não tirei os olhos dele. Reprimi o instinto de abraçá-lo.
— Enterro de quem, afinal?— perguntei, tentando me manter concentrada.
— Harry Clearwater, ele teve um ataque cardíaco no meio de uma caçada por Victoria com seu pai e uns patrulheiros que estavam atrás dos supostos ursos que atacavam as redondezas, ursos que no caso eram a matilha de Sam Uley, e ataques estes causados por Victória— Alice disse se sentando no sofá. Pelo visto tinha previsto que eu não os atacaria mais.
— Que merda.— comentei, sem saber o que mais dizer. Ninguém falou mais nada, encarei Jasper ainda de costas para mim. O sol refletia sua pele, o tornando mágico.
Um ano... um ano e eu voltei a ficar com ele mesmo depois de prometer a mim mesma que nunca mais amaria. Mesmo depois de ter decretado que o odiaria... eu não consegui. Eu nunca o odiei, nem seria capaz. Será que eu me acostumei com sua falta? Como ele disse, como se eu pudesse esquecer o meu primeiro amor? E ainda assim, eu ia me casar com ele. Baixei o olhar para a minha aliança. É estranho e certeiro, o sentimento não tinha sido apagado. Não tinha como apagar, eu me afoguei nele, deixei subir a minha mente e me consumir por inteiro.
Bom, parte da minha promessa fora completa, nunca mais amei... ninguém além dele. Fechei os olhos, esperando os flashes me cegarem.
Cenas cortadas de um filme clichê, nós riamos, ele me beijava, eu puxava seu cabelo, ele entrelaçava nossos dedos enquanto eu dirigia a picape. Eu não sabia como lidar com aquilo, parte de mim estava presa no passado, no dia do rompimento da corda, na minha queda. Abri os olhos de novo.
— O que você e Edward fizeram depois?— perguntei.
— Fomos para Volterra. Queríamos morrer, pediríamos aos Volturi para acabarem com nosso sofrimento.
Aquele... egoísta, filho da puta! lembrei-me de ter dito. Trinquei a mandíbula para não repetir o xingamento.
— Você decidiu ir me salvar— ele andou até minha frente, recuei um passo e ele avançou o outro, determinado, ergueu a mão devagar e segurou meu queixo, meu corpo estremeceu ao seu toque, me arrepiar seria a reação correta, mas eu não sou mais capaz de tal— Você me salvou como sempre— ele disse olhando diretamente para minha alma. Segurei sua mão, foi como se tivéssemos nos tocado pela primeira vez, não há frio, mas há minha hesitação. Eu afastei sua mão devagar, segurando-a com delicadeza. Ele comprimiu os lábios e baixou o olhar, recuando, seus dedos escorregaram pela minha mão, foi desesperador, como se eu quisesse segurar areia com uma peneira.
— Os Volturi tiveram piedade de Jasper por muito pouco— Alice disse, olhando para o irmão como se quisesse lhe falar algo, fechei as mãos com força para conter o desconforto da separação do loiro— Não queriam ofender Carlisle, tanto quanto imaginaram que seria um desperdício tirar a vida de possíveis soldados muito uteis.
Jasper riu de repente, todas voltamos o olhar na direção dele, que andava devagar pela sala.
— Sua primeira reação ao me ver foi me encher de tapas— ele falou me encarando— Me xingar.— ele sorriu com a cara contorcida em sofrimento— Não sei como esperei qualquer outra coisa hoje— ele balançou a cabeça, ficamos em silêncio por um longo minuto— Saiam. Vocês duas.— ele disse, apontou para Alice e para loira. Elas o encararam depois a mim.
— Tem certeza?— Maggie perguntou a ele, agindo como se eu não estivesse ouvindo. Me segurei para não revirar os olhos. Os dois loiros olharam para Alice. Ela hesitou um momento, e assentiu.
— Ela não vai te matar... hoje— ela deu um sorrisinho breve na minha direção, e estendeu a mão para a loira que aceitou com hesitação. Elas correram para fora da casa sem olhar para trás. As segui com o olhar, distraída apesar de me sentir tensa de ficar a sós com Jasper tão cedo. Ele veio para minha frente, a distancia de um braço. Não consegui o encarar diretamente, tanto por causa do meu reflexo assustador nos seus olhos quanto por causa da ansiedade.
— Por que você foi embora?— perguntei-lhe, a sensação de dejavu, já tivemos essa conversa. Jasper sorriu de canto.
— Precisava proteger você.
— De quê?
— De mim— ele me respondeu. Não me deu tempo de perguntar o que ele queria dizer, seus braços envolveram minha cintura me puxando para um abraço, ele enfiou o nariz nos meus cabelos me fazendo estremecer novamente, fiquei completamente parada enquanto ele nos encaixava como peças feitas para se completarem. Arregalei os olhos não sabendo como reagir. É estranho sentir ele de verdade, ser coberta pelo seu cheiro e seu carinho intoxicante. Abracei-o de volta, hesitante.
Mais flashes vieram, mil abraços como esse, em mil lugares diferentes, humores diferentes, climas diferentes. Uma porrada de informações e tudo que eu consegui sentir foi a sensação de lar, de estar onde deveria. Fechei os olhos e ele me abraçou com mais força conforme eu relaxava.
— Eu estava certo— ele sussurrou.
— Sobre o quê?— perguntei, baixinho, com a cabeça no seu ombro.
— Fizemos uma aposta, ironicamente, dias atrás. Você disse que me mataria se me visse em qualquer outro momento fora Volterra... eu sabia que não iria até o fim— ele me tirou do chão, mas como fiquei agoniada com meus instintos, ele me soltou— Cedo demais?— perguntou se afastando um pouco. Franzi a testa afirmando com a cabeça. Ele sorriu olhando todo meu rosto, meus olhos não parecem perturbá-lo, está aliviado— Tudo bem, temos tempo. Eu não vou forçar nada, a partir de agora— ele me soltou do abraço— Não até você se lembrar de tudo.
— Temos sorte de eu não ter esquecido quem sou.— digo, dando um passo para trás. O loiro assente— Acha que vou me lembrar de tudo?— perguntei cruzando as mãos.
— Vamos tentar de tudo— ele me garantiu, determinado— E mesmo se no fim, você não se lembrar, eu vou te conquistar de novo— ele sorriu docemente— Eu prometi que cuidaria para que você não se perdesse.
Uma lâmpada se acendeu sobre minha cabeça.
— Não vai embora mesmo que eu te chute, daqui a cinquenta ou cem anos— sussurrei, a voz dele falava ao mesmo tempo que eu em minha mente. O sorriso de Jasper se alargou, mas ele evitou mostrar os dentes. Me admirou em silêncio por uns segundos, e desviou a cabeça para o sofá, estendendo a mão na minha direção.
— Vamos preencher esses espaços vazios— ele indicou— Eu ainda não terminei a história— Encarei sua mão, lembrei-me do trecho em Volterra, ele tentando esticá-la em minha direção mesmo com os outros a ponto de matá-lo... ele pedia minha mão. Suspirei e segurei sua mão. Eu o alcancei ao menos dessa vez.
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