Ainda preciso de você
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— Quando voltamos de Volterra— continuou Jasper, após me contar em detalhes sobre nossa breve estadia com os Volturi. Sobre Jane, Caius, Felix, Aro e Marcus. Sobre como o defendi, sobre como fomos poupados apenas pela curiosidade de Aro sobre meu futuro e o de Bella como imortais, e também como ele tinha a ambição de ter Jasper, Edward e Alice ao seu lado um dia. Me contou da nossa decisão de deixar para discutir as mágoas mais tarde, quando voltássemos a Forks— Você me pediu um tempo— ele falou com um sorriso de canto— Falou que precisava se reerguer sozinha, e como parte de você ainda estava magoada comigo, conversamos um pouco sobre o porquê eu te deixei, te expliquei que eu perderia o controle que, anteriormente, você morreria por minha causa, mas sei que você não acreditou totalmente— ele me olhou com censura— e eu te disse que te conquistaria de novo, não importava quantas vezes você me chutasse. Você me olhou zangada na hora e perguntou: "qual parte de: 'eu preciso de espaço' não ficou clara?"— ele fez aspas com dedos, afinando a voz me olhando zombeteiro, o repreendi com o olhar— Essa cara mesmo— ele apontou para mim em aprovação e riu quando bati na sua mão— Eu disse que não fazia sentido, isso de eu não estar mais na sua vida, ainda não faz— ele falou me encarando sério— e disse que não ia rolar. Foi quando você me chutou da sua casa e trancou a janela do seu quarto pela primeira vez.
— Tenho a impressão que isso não o impediu de entrar— falei, cerrando os olhos pensativa, Jasper abriu um sorriso bobo.
— Não, nunca impediu— ele admitiu— Devo dizer que tentei, por dias seguidos, te dar o espaço que você tinha pedido, mas eu tinha que espiar vez ou outra, tirar a sensação que estava delirando e confirmar que você estava mesmo viva, que eu estava mesmo de volta e que não era de medo que você me chamava enquanto dormia.
— Meus únicos pesadelos aconteciam quando você não estava— sussurrei baixando o olhar, a mão de Jasper roçou meu ombro por um segundo, mas ele fechou o punho, a recolhendo.
— Nos dois meses que se seguiram— ele sorriu, olhando a praia sem na verdade enxergá-la— Eu colei no seu pé como chiclete— lembrei-me de novo de Jasper entrelaçando nossas mãos na picape enquanto eu dirigia— Te irritei e invadi seu espaço sem ser convidado, mas só permanecia porque sabia que você estava se divertindo também... ás vezes, só lá no fundo, mas eu conseguia te fazer sorrir— ele disse, se garantindo— Não ficava brava comigo muito tempo, e quando isso acontecia por uma meia hora eu te escrevia bilhetes de desculpas quando você se trancava no banheiro e os entregava por debaixo da porta, você os rasgava ou guardava no bolso— ele riu, não pude conter o sorriso— Isso só aconteceu nas duas primeiras semanas que voltei, você ficava inconformada que eu estava falando sério sobre não te dar espaço, mas se acostumou em me ter na sua sombra. Foi muito divertido— ele me encarou em silêncio por um momento, baixei o olhar para as minhas mãos. Jasper suspirou, seguindo meu olhar— Isso fora o tempo que você passava com o Dave Marks— ele praticamente rosnou o nome— e com Maggie. Ela não gosta dele e aposto que era um sentimento recíproco considerando que ela se metia em todas as corridas que você fazia com ele. Você dava preferência a ela, já que antes de você ir me resgatar em Volterra, o imbecil se declarou para você e você não queria que ele tivesse esperanças.
— Deixe-me ver se entendi uma coisa— interrompi-o— Você não gosta do cara que gosta de mim quando eu mesma deixei claro que eu também não gosto dele?— perguntei irônica, Jasper riu.
— Eu meio que não posso evitar, o jeito que ele te olhava...— Jasper bufou— e fora o fato que ele poderia te dar coisas que eu não posso, eu pensava que se talvez tivesse tido forças para ficar longe, com o tempo, você poderia ter aprendido a amar ele.
— Acredito que nem com o tempo— resmunguei. Um flash veio na minha cabeça, eu estava jogada na rua, ofegante e chorando, um loiro meteu o rosto na frente do céu cinzento. Loiro esse que não era meu garoto de ouro.
— Um pouco mais de azul— ele me encarou fixamente antes de se sentar enfim— Talvez você possa doar um pouco dos seus olhos.
Franzi a testa para a memória, que estranho.
— Lembrou de algo?— Jasper me perguntou, ansioso.
— Sim, mas foi muito breve e...
— Tem a ver com Dave?— Jasper deduziu, mau humorado.
— Sim— suspirei.
— Se puder me poupar dessa parte...— ele pediu fazendo careta— Cheguei muito perto de matar ele recentemente.
— Que gracinha— zombei, Jasper riu.
— Você foi visitar sua mãe, não muito depois por causa da data de validade das passagens de avião que você e Isabella ganharam de aniversário— ele continuou— Isso também foi parte de um plano maior— explicou fazendo careta de desconforto— Não que fosse necessário, mas tiramos vocês da cidade porque estaríamos ocupados perseguindo Victoria— ele contou, lembrei-me de ficar zangada.
— No fim, não foi você que me contou sobre essa missão— deduzi seguindo o que eu me lembrava, embaçado e desconectado.
— Não, foi Jacob— ele concordou, lhe olhei torto— Já tivemos essa briga, não vamos repetir, por favor— pediu, controlei-me olhando para o mar, uma paisagem de tirar o fôlego se eu precisasse respirar.
— Onde estamos?— perguntei por fim.
— Estamos no Brasil. Uma ilha no Rio de Janeiro que Carlisle deu a Esme de aniversário de casamento— Jasper explicou. Me voltei para ele de olhos arregalados. Ele entendeu minhas perguntas antes que eu verbalizasse— Você ficou imóvel durante toda a transformação, trouxemos você num caixote como se fosse uma escultura delicada— ele fez cara feia, insatisfeito— Era a forma mais segura de deixarmos os Estados Unidos. E aqui era o mais isolado para que durante sua primeira caçada não tivesse riscos de se deparar com um humano— ele me analisou com cuidado. Voltei a encarar o mar, confusa sobre como me sentir agora que não sou humana, não é mais minha espécie. Que estranho. Minha garganta ardeu de forma irritante, é fácil ignorar, mas fiquei focada nisso, Jasper tocou meu ombro, sentindo minha tensão conforme eu levava a mão ao pescoço— Já vamos cuidar disso.
— Me distraia, por favor— pedi, um tanto irritada em deixar para depois.
— Você voltou com esse colar que sua mãe te deu de presente de formatura, eu estava te esperando no seu quarto— ele continuou depressa, encarei o colar de ouro, tinha um cheiro incômodo, mas é o que me resta da minha mãe, pelo visto.
— Eu nunca mais vou vê-la.— sussurrei, a realização veio como um baque, um chute com os dois pés no meio do meu peito— Nem meu pai— me encolhi dobrando minhas pernas contra meu peito para abraçá-las, Jasper acariciou meu ombro em silêncio.
— Eu sinto muito, Becca... não queria que fosse assim— ele veio mais para perto de mim.
— Eu estou morta para eles— gemi, a dor invadiu cada parte do meu corpo, uma dor diferente, eu queria poder chorar, mas nada vinha, voltei a segurar minha cabeça com força como se fosse esmagar meu próprio crânio, olhei para Jasper me deparando com meu reflexo aterrorizado nos seus olhos negros— Como eu morri? Para minha família— indaguei, Jasper olhou para baixo, está muito perto, me deixa desesperada, algo sem explicação, apenas a vontade de sair correndo e nunca mais voltar.
— Alice te deixou dirigir o carro do Edward, vocês estavam um pouco alteradas na festinha do pijama— ele fez careta— O seu carro derrapou no gelo, você estava sozinha, Isabella e Alice te seguiam no Porshe logo atrás... o carro de Edward ainda está sendo retirando do meio das pedras. O corpo está irreconhecível, vai ser um enterro de caixão fechado— ele recolheu a mão de novo quando me levantei agitada andando de um lado para o outro.
— Meu Deus, meu Deus— repeti sentindo que explodiria— Meu pai... ele... como ele está? E Renée?
— Estão furiosos conosco— Jasper me seguiu com o olhar ainda no sofá— O que é o certo já que é a segunda vez que vocês se machucam seriamente nas nossas mãos, mas agora que uma de suas filhas se foi... Charlie...— ele se calou.
— O que? O que foi?— pressionei.
— Ele— suspiro— não está nada bem, Becca... ele está planejando se mudar com Isabella... as coisas vão ficar feias por um tempo. Ele não vai sequer deixar que minha família vá ao enterro. Estamos nos preparando para mudança de novo.
Me sentei no chão sem saber o que falar ou como reagir, já estava do outro lado da sala, usando a parede de amparo enquanto tudo parecia girar. Minha respiração ficou irregular, eu estava tremendo, a beira do desespero. Olhei para Jasper, agoniada.
— Por favor, faz isso parar— pedi o encarando de olhos arregalados. Jasper correu para o meu lado se sentando no chão comigo, e tentou permanecer relaxado enquanto eu o puxava para um abraço esmagador. Ele usou seus dons para me manter calma, senti meu corpo formigar, senti a onda com muita mais sensibilidade do que me recordava. Trinquei a mandíbula tentando me concentrar apenas na dopamina, por mais que temporária. Fechei os olhos com força enquanto escondia meu rosto no peito de Jasper. Ele arfou, tenso e eu relaxei o aperto. Jasper acariciou meus cabelos e minhas costas, o rosto colado no topo da minha cabeça.
— Eu sinto muito, meu amor— ele sussurrou.
— Eu não consigo.— minha voz tremeu e falhou, respirei fundo tentando me controlar— Por favor, continue— pedi depressa, a voz sem qualquer firmeza.
— Hmm— ele pensou por um momento— quando você chegou, pediu para ficar no meu colo e disse que estava com saudades, ficamos juntos por um tempo, acho que é essa coisa de que não tem como ficar longe do que você ama. Você me deixou ficar, mas disse que a gente ainda não tinha voltado apesar de eu saber que você queria muito me beijar— ele riu, sorri com o rosto escondido, ele beijou o todo da minha cabeça— Desculpe, eu não resisti— falou logo em seguida mas como eu que tinha o abraçado primeiro não respondi— Eu provoquei você um pouco, e você sempre querendo se fazer de difícil ficou me desafiando como se eu fosse ceder primeiro... você dormiu nos meus braços pela primeira vez em meses, foi uma das melhores noites da minha vida. Você ficou encolhida de costas para mim, beijou minha mão e a puxou para seu coração— ele respirou fundo— Sabe... daqueles momentos que você gostaria que fossem infinitos?
Sorri mais calma, tentando me concentrar apenas na vida boa do amor verdadeiro ao invés da morte que eu estou encarando para os meus pais. Eu tentei e falhei.
— Eu sei— suspirei.
— Essa noite foi um desses momentos. Quando eu pensava que não podia te amar mais você me surpreendia roubando toda minha essência, se tornando parte de mim. Você sou eu e como sempre, nós...
— Somos o futuro um do outro— falei categoricamente, Jasper parou por um momento e se afastou de mim o suficiente para eu não ter outra alternativa se não erguer o rosto. O olhei, timidamente.
— Sim, exatamente— ele disse, se perdendo no meu olhar. Depois de um minuto, suspirou e se levantou, estendendo a mão para mim. A aceitei e ele me puxou novamente para o sofá.
Nos separamos ao sentarmos nas mesmas posições de mais cedo, fiquei irritada.
— No dia seguinte, quando te levei para a escola com Edward— ele quase rosnou o nome, franzi a testa confusa mas não atrapalhei a narrativa— e Isabella, nos deparamos com Jacob Black, foi quando vocês duas descobriram sobre a missão falhada de pegar a vadia ruiva. Foi nos limites da fronteira estabelecida pelos cachorros, ela ficou pulando de um lado para o outro, escapando de nós e deles, sempre por um triz. Houve um desentendimento entre Paul e Emmett quando Victoria pulou para o lado dos lobos novamente. Eu continuei atrás dela pela fronteira, mas eu tive de voltar para ajudar Carlisle e os outros a se acalmarem— ele balançou a cabeça— Você ficou irritada por saber isso dos outros, e me deu um puxão de orelha quando voltou para casa. Conversamos sobre isso e sobre o fato de você se transformar vampira, porque você não queria a principio e eu queria que você soubesse que estava tudo bem por mim. Falamos o quanto o amor é cruel, o quanto a vida é cruel, o quanto dependemos um do outro, ao mesmo tempo que você é meu ponto mais forte também é o mais fraco— ele sorriu— Falamos um do outro como se estivéssemos conversando com um estranho no meio do bar... mas vou deixar que se lembre desse momento sozinha, não quero estragar— ele encarou a frente, a poltrona que eu quebrei.
Cerrei os olhos ao ouvir sua voz sem que ele abrisse a boca.
— Você me chamou de humana perturbada e emotiva— acusei, fazendo-me de ofendida e lhe dando um tapa leve no ombro. Jasper riu.
— Eu falei "meio" perturbada. Só metade— defendeu-se, bufei balançando a cabeça— Deixe-me continuar!— ele pediu, gesticulei a permissão— Passou uma semana, e eu e Edward precisamos...— ele cerrou os olhos para mim— nos ausentar por um tempo...
— Não evite a palavra caçar, não vai ser um gatilho ao menos que você aja como se fosse— o olhei torto, ele me olhou com um sorriso contido.
— Está bem! Saímos para caçar. E você e Bella tiveram a ideia audaciosa de irem ver seu amiguinho Jacob, aproveitando que estávamos fora— Jasper revirou os olhos balançando a cabeça— Alice perdeu vocês do radar um dia inteiro, e vocês fugiram de nós por mais umas horas depois de saírem da toca do lobo, se escondendo na casa de Angela para a ajudarem a escrever cartas de convite para a formatura— girei o pulso, uma memória motora como se o movimento precisasse ser concluído. Que porra é essa? Baixei a mão, irritada, Jasper me encarou curioso, mas não perguntou nada. Enfim, os pensamentos estranhos que invadem nossa mente em horas nada a ver— Eu estava zangado e não tinha me alimentado por voltar antes da hora, mas te deu um ataque de paixão e você zombou de mim e me atacou com beijos— nós rimos— Você disse que eu era seu imprinting...
Antes que eu perguntasse do que ele estava falando um bando de informações invadiram minha mente, me deixando tonta. Como uma porta se escancarasse e exibisse todos os segredos. Jacob estava enorme, o cabelo cortado, uma tatuagem no braço, estava chovendo. Um monte de lobos no escuro, Maggie na defensiva, abaixada na minha frente. Laurent sorrindo no meio de uma paisagem morta, eu com medo. Eu estava de novo na cabana com Jasper. No meio da rua, ele tirava uma aliança do bolso, eu mais do que feliz. Eu virava uma garrafa enquanto pulava dançando no meio de uma balada, só queria ficar louca. Eu tomava chocolate quente com Dave, eu estava confusa e vulnerável. Ele me beijou. Jasper derrubava Emmett no meio da demonstração. Eu gritava por Bella, encarando o penhasco abaixo, o mar agitado. Eu abraçava meu pai, rindo. Eu abraçava minha mãe, chorando. Eu estava agarrada a Jasper na minha formatura. Eu observava o céu com o som de mar, deitada na areia. Eu em Volterra, queria matar todos eles, queria proteger Jasper.
Quando voltei a mim percebi o tumulto, havia esmagado o canto do sofá e meu corpo todo tremia, Jasper me olhava cauteloso, estava de joelhos na minha frente, segurando meu rosto.
— O que foi?— perguntou ele, ansioso— Lembrou-se de algo?
— É normal sentir como se devesse estar com dor de cabeça?— perguntei franzindo a testa, Jasper me encarou com impaciência— Foi muita coisa... trechos aleatórios e sem conexão nenhuma, há muitos buracos— expliquei-me bufando— Não acho que preciso que me conte a história, me lembrarei sozinha— eu disse, ele me encarou hesitante e recuou.
— Talvez não seja bom forçarmos a barra no seu primeiro dia— falou pensativo— Não houve qualquer gatilho, imagino.
— Não— concordei— As imagens vieram por si só.
Jasper respirou fundo, fechando os olhos. A cara do alivio, ele deitou a cabeça no meu colo e abraçou minhas pernas.
— Que bom, muito bom— ele disse, o olhei tensa pela proximidade e ele se afastou de novo ao entender o que eu pensava— Sei que vai precisar de tempo para processar tudo— ele balançou a cabeça se levantando de novo, sorriu para mim— Ainda bem que eu tenho toda a eternidade para esperar.
Baixei o olhar, nervosa.
— Minha mente ainda está presa no passado, Jasper— falei, balançando a cabeça— Eu preciso que você me dê espaço junto com tempo— pedi, nós nos encaramos em silêncio por um momento longo. Eu respirei fundo, mais por costume do que necessidade.
Pela sua cara ele não gosta da ideia de um distanciamento.
— Mas não é como se eu fosse sumir e me aventurar por aí sozinha— esclareci— Querendo ou não... vou precisar de você.
Baixei a cabeça e esfreguei o rosto, tentando me distrair, foquei na coisa errada. Estou com sede. O som da corrida de Alice cortando o vento chegou segundos antes dela.
— Acredite em mim, você não quer deixá-la com fome— ela se justificou para Jasper que a fuzilou com olhar pela intromissão.
— Quer caçar comigo?— perguntou, parte de mim quase riu de como a pergunta soava, assenti me levantando com Jasper. Ele ergueu a mão na minha frente, a palma voltada para cima. Hesitei um momento e fiz careta. Ele deixou a mão cair de novo— Não custava tentar— ele deu um sorrisinho de canto— tenta me acompanhar— me desafiou, e saiu da casa em disparada, contive o sorriso porque Alice mantinha os olhos dourados em mim e corri atrás dele.
Um retrato do meu passado, presente e — muito provavelmente — futuro. É uma das situações que não há o que fazer se não aceitar, eu sei.
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