Quase, mas não o suficiente
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Fomos nós quatro espremidos na cabine da picape. Embry e Jared discutiram animadamente sobre quem venceria a briga. Jared apostava no Paul dizendo que ele estava no bando há mais tempo, Embry assinalava que Jacob tinha nascido para isso e que Paul não tinha chance.
— Qual de vocês é a garota do Jake?— perguntou Jared parecendo finalmente notar nossa presença, eu estava espremida ao lado de Embry que dirigia, Bella colada ao meu ombro e Jared na janela do passageiro. Eu dei de ombros.
— Eu que não sou.— Balancei a cabeça, quis tirar a blusa, tão colada com Embry estava ficando quente— Você está com febre? Está quente demais.— indaguei tocando a testa do motorista, preocupada, ele riu.
— Não, somos assim o tempo todo.— ele respondeu dando de ombros.
— Por quê?— perguntei em voz baixa, pois Jared começará a provocar Bella por ser namoradinha do Jacob.
— Ele não para de falar de você.— ouvi ele dizer.
— Ele é meu melhor amigo.— rebateu Bella, claramente incomodada.
— Não sabemos, pra ser sincero, mas não incomoda.— Embry encarou o para-brisa pensando.
— Por que... vocês se transformam em cachorros enormes?— perguntei, Embry trocou olhares com Jared, parecendo perguntar se era permitido falar. Depois de cinco segundos, ele suspirou.
— São nossos genes de lobo, graças a ideia de nossos ancestrais de se misturarem á espécie. Todos que tem sangue de lobo uma hora se transformam, geralmente é durante a puberdade, mas pode acontecer antes se sanguessugas estiverem por perto.— explicou Embry, me olhando cauteloso.
— Seus inimigos naturais.— concluí, ele assentiu e ficamos em silêncio durante um momento. É estranho, eles claramente sabem dos Cullen, eu lembro disso, eles tem um tratado com o pessoal da reserva, mas eu não queria confirmar. Uma teimosia idiota, eu sei, eles já nos viram juntos, mas... Sei lá.
Paramos diante de uma cabana aparentemente muito aconchegante não muito tempo depois. Jared desceu da picape animado e correu para dentro, Bella ia escorregando para sair também quando Embry nos pediu para esperar um momento.
— Não encarem a Emilly, está bem? O Sam não gosta.— ele disse e eu e minha gêmea assentimos, cautelosas. Bella desceu de um lado e Embry esperou eu descer para fechar a porta. Ele me entregou a chave, sua mão quente e macia, como se ele nunca tivesse feito um trabalho pesado na vida. Eu gosto dele, ele exala a energia de uma pessoa genuinamente boa, é tranquilizante— Podem entrar, em breve eles estarão aqui.— ele abriu a porta de correr e entrou na casa, segurei a mão de Bella e nós o seguimos.
Um cheiro delicioso de comida invadiu minhas narinas e de repente eu me senti faminta. Os garotos riram quando meu estômago roncou.
— Deixem um pouco para seus irmãos.— disse uma mulher, obviamente Emilly e eu logo entendi porque não deveríamos encará-la. Tinha uma cicatriz enorme de um lado a outro no seu rosto, mas pelo que está inteiro é claro dizer que ela já foi muito bonita. Ainda é, se olharmos direito. Baixei o olhar lembrando do aviso de Embry.— Quem são?
— Rebecca e Isabella Swan.— respondeu Embry enchendo a boca de bolinhos. Jared bateu na mão do amigo quando ele se preparava para agarrar mais um bocado.
— Ah, as garotas dos vampiros.— ela disse e eu senti um arrepio subir minha espinha, a encarei e sorri de canto tentando parecer neutra.
— A garota dos lobos, ao que parece— cumprimentei, ela sorriu afetada e indicou as cadeiras de frente para Jared e Embry.
— Por que não se sentam?— ofereceu, me aproximei da mesa timidamente.
— Posso?— indiquei os bolinhos que estavam acabando em ritmo alarmante.
— Claro.— ela disse e se voltou para Jared— Como isso aconteceu?— perguntou e eu enfiei um bolinho na boca procurando não me incomodar com o fato de ela não ter se dirigido diretamente para nós. Bella mordiscou de leve seu doce, mas após ver o quanto era bom comemos com mais vigor.
— Paul e a Rebecca aí não se deram muito bem, sabe como ele é intrometido.— Jared apontou a cabeça para mim— Ela gritou com ele e depois chutou o saco dele. Foi hilário.— ele e Embry se entreolharam brevemente rindo de boca cheia.
— Aí Jacob veio e se transformou no ar, você tinha que ter visto, Emilly.— Embry comentou animado.
— Vocês não se transformam rápido assim?— perguntei sem poder me conter.
— Não.— Jared disse sem parecer se incomodar— Ainda mais quando é tão recente quanto Jacob.
— Eu estou falando! Ele nasceu para isso.— Embry defendeu o amigo com um sorriso animado.— Tomara que Jake tenha conseguido morder Paul antes de Sam se meter.— acrescentou.
— Parecem gostar muito de Paul.— Bella comentou.
— Às vezes tanto quanto vocês gostam dele.— Embry disse e nós rimos.
Não demorou muito até os outros três reaparecerem. Sam veio na frente e foi cumprimentar Emilly com um sorriso enorme no rosto, o amor entre eles era palpável, bonito de se ver. Abri um meio sorriso sentindo falta das vezes em que eu beijei alguém com tanto desejo. Paul e Jacob vieram atrás, brincando de lutinha e rindo um do outro, Paul se sentou do meu lado e encarou a mim e a minha gêmea com um sorriso simpático.
— Me desculpem.— ele disse e se virou para comer. De visão periférica pude ver Jared pagar Embry a contragosto. Jacob perdeu o sorriso aos poucos e encarou eu e Bella.
— Vamos dar uma volta.— ele chamou sério, Bella se levantou mais rápido que eu.
— Não vão muito longe.— Sam alertou, abraçando Emilly, ele parecia muito mais confortável ao lado dela. Jake apenas assentiu e meteu as mãos nos bolsos de seu casaco, a roupa era diferente, é claro, já que a última rasgou violentamente quando ele se transformou sobre nossas cabeças. Cara, eu tinha tantas perguntas. Estou fascinada.
Ele saiu enquanto Bella e eu nos despedimos dos demais e o seguimos apressadamente. Jake caminhou na nossa frente em passadas largas e tivemos que dar umas corridinhas mais de uma vez para o alcançar.
— Então...— Bella o alcançou e parou na sua frente, o obrigando a fazer o mesmo.— É um lobisomem.— ela disse num suspiro.
— Pois é, até onde sei.— ele disse e eu me meti do lado de Bella o olhando com curiosidade, mas me segurando para não falar nada. Estou ansiosa mas não sei por onde começar— Alguns sortudos da tribo tem a sorte de ter o gene. Aí quando um sanguessuga entra na cidade, bate a febre.— ele disse.
— É, Embry nos disse isso.— comentei.
— Não tem um jeito de... parar com isso?— Bella perguntou parecendo nervosa, a observei de canto, curiosa e cruzei os braços.— É errado, Jake.
Franzi a testa ao mesmo tempo que Jake. Só que eu não olhei Bella com raiva.
— Não tem como parar, Bella. Eu nasci com isso. É para a vida toda.— ele disse, cheio de amargura, claramente não era tão divertido para ele quanto parecia ser para seus amigos.— Eu não tive escolha!— ele rosnou e nos contornou voltando a andar.— Mas que hipócritas! O que é, eu não sou o tipo certo de monstro que vocês apoiam!?
— Ei!— o censurei e entrei na sua frente forçando minhas mãos contra seu peitoral para que ele ficasse quieto num lugar— Não estamos te julgando.— tentei amenizar, ele revirou os olhos.
— Não é o que você é, Jake!— Bella corrigiu— É o que vocês fazem! Eles nunca machucaram ninguém...— ela baixou a cabeça.— Vocês estão matando pessoas.
Aí as peças se encaixaram e houve um clique na minha cabeça, os ursos, os montanhistas, os desaparecidos. Afastei as mãos de Jacob como reflexo o encarando esperando que ele negasse.
— O que?— indaguei.
— Não estamos matando ninguém!— Jacob disse e eu vi que a suposição o ofendera então pude voltar a respirar.
— Então...
— Quem está?— completei para minha irmã.
— Nós protegemos vocês deles. As únicas coisas que nós matamos. Vampiros.
— Jacob, vocês não podem...— Bella começou, dava pra ver seu nervosismo crescer.
— Não se preocupem, não podemos tocar nos seus Cullen a menos que eles quebrem o tratado.— Jacob disse num tom de cansaço e tédio.
— Não é isso! Vocês não podem matar vampiros... Eles vão matar vocês.— Bella explicou, ofendida. Jake riu pelo nariz.
— Ah, é? Porque foi bem fácil acabar com aquele sanguessuga de dreads, na boa.— Jacob deu de ombros, nos encarando cético.
— Laurent.— eu disse a meia voz. Meu coração se aliviou, ele não chegou até Victoria. Está morto.
— É. E a namoradinha ruiva dele é a próxima.— Jake estufou o peito, cheio de segurança que seria bem sucedido no serviço. Eu e Bella piscamos.
— O que...?— parei de falar, com vontade de sair correndo de novo.
— Victoria está aqui?— Bella dividia a mesma máscara de pânico que eu. Jacob nos olhou de canto.
— Agora não, mas ela vive voltando. Esses dias seguimos ela até a fronteira do Canadá, seria bom saber o que ela tanto quer.
— Ah... Nós sabemos.— eu disse, nervosa.
— Jake, ela está atrás de nós.— Bella completou.
— Faz sentido.— Jake disse após pensar um pouco— Mas por quê? Seus sanguessugas não estão na cidade.
— Ela quer vingança, porque Jasper e Edward mataram o amor dela, ela quer nos matar porque Laurent diz ser o justo.
— Olho por olho.— concordei com Bella.
Ficamos em silêncio por um momento, meu instinto de sobrevivência apitando de novo.
— Venham, tenho de avisar Sam.
☽
Jake nos levou de volta para casa e para minha surpresa, Dave que estava sentado nas escadas, se levantou ao me ver, parecendo ansioso.
— Ah, merda.— o que eu esqueci? Não marquei nenhum encontro. Desci e deixei Bella conversar em paz com Jake.
— Ei, você não foi para a escola hoje.— ele sorriu de canto, claramente nervoso, eu gostava de deixar ele sem jeito e isso me fez sorrir também.— Nem apareceu para a nossa corrida, e não atendeu o telefone...
Olhei para cima, está ficando tarde, em pouco tempo iria escurecer. Foi um dia longo. Respirei fundo.
— Precisava resolver umas coisas.— falei e nós nos encaramos em silêncio.
— Bem, acho que senti sua falta.— ele sorriu brevemente, franzindo a testa como se aquilo não fizesse sentido. Eu ri e pensei em convidar ele para entrar, mas no mesmo momento me lembrei de que Victoria poderia já ter voltado, poderia ver Dave comigo e poderia ir atrás dele para me atrair para longe da segurança de uma alcatéia de lobisomens.
Meu riso morreu na garganta e eu engoli em seco.
— Eu sei que não devia.— Dave se apressou em dizer, interpretando mal a minha cara de preocupada. Escolhi rapidamente que seria assim que eu o afastaria.
— Não, não devia.— eu disse, lhe lançando um olhar triste. Deu pra ver que o magoei e isso me magoou também, cara, isso é difícil.
— Tchau, Rebecca, Bella.— se despediu Jake, arregalando os olhos para mim enquanto se afastava a pé. Bella me encarou como se perguntasse se eu precisaria de ajuda para me livrar do rapaz, mas eu a dispensei apontando a casa com a cabeça, ela acenou timidamente para Dave que retribuiu e me olhou por cima do ombro até entrar em casa.
— Dave... Eu me precipitei.— comecei, dando um passo na sua direção, ele mordeu o lábio inferior com força— É culpa minha que isso tenha ido tão longe, mas eu realmente não estou pronta...
— Não, não não não.— Dave balançou a cabeça me interrompendo, de repente senti uma estranha simpatia pela sua reação, nós temos tanto em comum.— Não me afasta, Becca. Me desculpe, eu não quis forçar, vindo aqui e...
— Não é esse o ponto, Dave. Mas como nós nos sentimos. Olha, eu gosto de você. Gosto mesmo.— reforcei quando ele começou a balançar a cabeça, negando.— mas...
— Não do mesmo jeito que eu de você. É, eu sei.— ele me cortou de novo— Sei que sente falta do seu ex, eu não sou cego. Mas... você se sente bem comigo, não é?
— Sim.
— Então deixa eu te curar.— ele se aproximou e segurou minhas mãos contra seu peito.
— Eu não posso te usar desse jeito, Dave!— eu disse, ofendida— Só iria machucar nós dois sem nenhuma necessidade. E além disso, antes de precisar de você, eu... eu preciso de mim.— eu murmurei, e me senti numa estranha realização, como se essa resposta estivesse na minha cara o tempo todo mas só nesse momento eu fosse capaz de enxergá-la. Eu preciso de mim. Eu quero tanto me encontrar nos outros... Não paro de procurar no lugar errado. Eu sentia o coração de Dave bater forte na minha palma, então recolhi minhas mãos, um leve chuvisco pingando sobre nós.
— Eu posso esperar.— ele disse, um ar determinado.
— Dave, sério, acho melhor...
— Se o que você for falar ser o oposto de "sábado a gente se vê para um jantar que eu estou devendo" eu prefiro não ouvir.— mordi minha língua e revirei os olhos para sua teimosia.
— Não faz isso com você, Marks.— balancei a cabeça. Ele se aproximou ainda mais de mim e me roubou um selinho antes que eu conseguisse desviar o rosto. O olhei furiosa e indignada.
— Eu já fiz.— ele disse numa voz grave e sedutora— Até amanhã, Rebecca Swan.
— Eu vou matar você se tentar me beijar de novo.— eu disse cerrando os olhos. Ele sorriu convincente.
— Valeu a pena.— ele deu de ombros e eu bati no seu braço com força, ele riu se desviando e saiu correndo.
— EU TE MATO!— reforcei aos berros ele me lançou mais um beijo, quando ameacei ir atrás dele, o rapaz acelerou a corrida e saiu rapidamente de vista.— Ah, idiota.— murmurei e um vento frio me fez recuar para casa.
Demorou um pouco, mas mais tarde eu notei que estava sorrindo.
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