O que você é?
☽
Jasper faltara os dois dias seguintes de aula, então não tive a oportunidade de lhe devolver sua blusa, o que pra mim não era de problema algum já que estava ousando em usá-la como pijama.
Estava tão viciada no seu cheiro que logo me preocupei em devolver sua blusa antes que ficasse louca por isso, talvez mais do que louca, obcecada. Me levantei mais cedo para lavá-la e, enquanto esperava a máquina fazer o seu trabalho, fui tomar café presumindo que meu pai já estaria de pé, mas como ele não estava na cozinha voltei para a lavanderia bocejando de sono sem vontade de ter a refeição mais importante do dia sozinha.
Tentando acordar aproveitei para tomar um banho quente e fazer o resto das minhas necessidades, fiquei pronta antes da roupa na máquina, ainda tive de esperar mais alguns minutos e enfim ela apitou me dizendo que estava pronta, passei a roupa molhada para a secadora e meu estômago roncou quando ouvi Bella descer as escadas, quando a vi, ela estava se espreguiçando e indo em direção a cozinha, a segui em silêncio.
— Bom dia.— falei, ela se assustou mas não demorou para responder.
— Bom dia. Acordou cedo.
— Tive que lavar umas roupas.— minimizei, não queria falar de Jasper, mas do irmão dele por outro lado... Bella andou conversando com ele esses dias, nada que ela se abrisse comigo, o que deixou minha curiosidade inflada.— Vai falar com Edward hoje?— foi o jeito menos direto e menos discreto que achei para puxar assunto enquanto me servia com pão com manteiga e café.
— Não sei.— respondeu, pensativa. Me sentei de frente para ela, na cadeira do papai.
— Devo me preocupar com isso?— perguntei. Nada naquela família fazia sentido pra mim, não gostava do jeito que Edward olhava para ela, parecia que poderia devorá-la, ou matá-la. Eles são estranhos e isolados, lindos e cheios de mistério. Não gosto de gente fechada demais. Bella me olhou com a testa franzida, pareceu surpresa. Têm que ter algo errado com eles.
— Por que se preocuparia? Ele é só...— ela perdeu a voz por um segundo, esperei paciente— um garoto bipolar— riu sem humor— Estou tentando desvendar ele, você sabe como gosto de mistério.
Sorri de canto.
— É, mas talvez esse mistério seja perigoso.
— Por que acha isso?— ela parecia mesmo interessada. Suas pupilas pareciam até dilatar ao ouvir qualquer coisa relacionada ao garoto Cullen. Será que eu também estava assim? Com o Hale?
— Não sei, tenho mau pressentimento.— comi meu pão e tomei o café em silêncio— Estou morrendo de sono hoje, Bells, pode dirigir?
— Claro. Mas você sabe que ainda podemos sofrer um acidente, sabe que sou um desastre, ainda mais nesse tempo.— ela inclinou o rosto para a janela, pela primeira vez no dia olhei pra fora, ontem tinha nevado e hoje chovia levemente. Eu gosto desse tempo, me traz paz, é perfeito para dormir. Meus olhos queriam fechar.
— Você ainda é uma motorista super cautelosa. Confio em você, vou indo dormir no carro enquanto você cria um trânsito enorme atrás de nós.— zombei, ela riu baixo, ouvimos um apito da lavanderia.— A roupa está pronta.— me levantei demoradamente e fui arrastada pegar a blusa de Jasper, se ele faltasse hoje também, pelo menos deixaria com um irmão dele. Voltei a cozinha com a blusa dobrada debaixo no braço.
— É a blusa de Jasper Hale, não?— Bella perguntou. Fiquei levemente ofendida por ela só ter reparado agora, significa que nem olhou pra mim segunda feira.
— Sim, ele me emprestou quando a namorada dele derrubou refri em mim.
— Por que não lavou dias atrás?— ela investiu e eu não queria responder essa pergunta. Encarei a lã cinza em minhas mãos.
— Não sei.— falei, e é a verdade, eu não sei.
Coloquei a blusa dele na bolsa decidida a me livrar dela hoje. Esperei Bella ir se arrumar com muito esforço pra me manter acordada. Precisei tomar mais um copo de café para ver se acordava, Bella parecia demorar uma eternidade então peguei o energético do meu pai na geladeira, isso deveria bastar. Por hora.
Como previ, Bella dirigiu com a cautela de uma velinha e eu cochilei no caminho. Ela me acordou — parece que segundos depois — alegando que havíamos chegado, cocei os olhos e saí da cabine, ela estacionou de um jeito diferente do de costume, com meu lado do passageiro no meio fio, não reclamei pois até preferia assim, não tinha nenhum carro nem atrás nem na frente, seria fácil sair. Peguei minha bolsa e imediatamente lembrei de Jasper, meus olhos vagaram pelo estacionamento a procura de um sinal seu. Ele e seu irmão, Edward, olhavam na nossa direção, sorri de canto e acenei, Edward ficou confuso parecendo se perguntar se era pra ele enquanto Jasper sorria e acenava de volta. Iria me livrar de sua maldita blusa hoje.
— Becca.— Bella me chamou para seu lado com uma cara estranha enquanto encarava os pneus, não soube dizer se era uma cara boa ou ruim. Não estava acostumada com ela. Parei do seu lado e olhei os pneus com pouco interesse. Não notei nada de primeira.
— O que há?
— Charlie colocou correntes para neve nos pneus.— ela cutucou o pneu com a ponta do pé.
— Falei sobre isso com ele, acho que antes de ontem.— expliquei, ela parecia perturbada, sorri curiosa— O que há, Bella? Ele é nosso pai, está cuidando da gente— fiquei de frente para ela me encostando na picape e cruzei os braços. Chegamos cedo hoje, então tínhamos tempo para discutir sobre o que ela quisesse.
— Eu não precisava que ele fizesse isso.
— Bella? O que a gente faz pra cuidar de quem se ama as vezes não é pedido ou esperado, mas ainda fazemos, não?— não estava entendendo porque ela estava tão perturbada com uma coisa que qualquer pai faria.
Antes dela responder, a poucos metros de nós um carro cantou pneu no chão, gritando em protesto, fazia curva fora de controle, meu sangue esfriou em minhas veias e eu nem pude raciocinar além da certeza de que nós seríamos atingidas. Nada ia em câmera lenta como eu esperava e eu nem consegui mexer minhas pernas, porém tive um clique útil e empurrei Bella para fora de perigo. E de repente, fui atingida, mas não do lado que eu esperava, escorreguei no gelo e bati a cabeça no chão, nada forte o bastante pra me fazer perder a consciência. Olhei para o lado que fui atingida e vi Jasper Hale esmagar a porta da van com as mãos, quando o contrário que deveria estar acontecendo.
Arfei de choque e me surpreendi mais ainda quando ele agarrou minha cintura e me puxou bruscamente para si no momento que a roda traseira da van acerta o lugar que minha cabeça deveria estar. O veículo parou, e ele, com a mão esquerda ainda na porta, me olhou lentamente como se ele próprio não acreditasse na maluquice que estava fazendo. Me perguntei se estava delirando e já tinha morrido, gritos ao nosso redor me fizeram imaginar se eu estava no inferno, mas por que eu estaria no inferno? E por que logo Jasper estaria aqui?
Eu não sabia dizer se meu coração estava mais disparado por causa da minha experiência de quase morte ou por causa da minha proximidade com ele.
Tentei deixar meus olhos arregalados, mas estava sendo uma missão difícil. Meus lábios secaram e eu senti minha respiração se acelerar olhando o rosto dele. Ele não pode ser humano.
— Swan?— ele diminuiu o aperto em minha cintura, e eu recolhi minhas pernas trêmulas de cima do seu colo— Você está bem?
— Acho que sofri uma concussão.— conclui, nauseada e tonta, tudo começou a girar. Levei a mão a cabeça— Hale? Hale? Eu não estou me sentindo muito bem.
— Está tudo bem, eu estou aqui— ele toca minha testa e eu sinto minha visão escurecer sem que eu possa impedir.
— O que você é?— minha voz sai arrastada como a de uma bêbada e no segundo seguinte o breu me engole.
[...]
Acordei em uma maca, uma agulha na minha veia do braço direto, me perguntei se era para a minha dor de cabeça já estar amena. Meu pai estava sentado na poltrona do lado e levantou ansioso ao me ver desperta.
— Oi, oi!— ele cumprimentou.
— Onde está a Bella?— perguntei, zonza.— Ela está bem?
— Sim, ela foi pegar uns salgadinhos na máquina. Doutor Cullen a examinou, ela está muito bem, graças a você.
— Rebecca?— era a voz de Tyler, me voltei para o som ainda sentindo tudo girar. Segurei a cabeça como se pudesse impedir que tudo rodasse. Ele estava horrível, me lembrei enfim que a van era sua. Sua cabeça sangrava tanto que me deixou assustada arregalei os olhos preocupada.
— Você está bem?— ele me ignorou.
— Me desculpa, Rebecca, eu perdi o controle, estava tudo bem aí...
— Estacionamento da escola não é pista de corrida.— meu pai falou rancoroso, de braços cruzados, agia não como Charlie, mas como Xerife Swan.— Pode dizer adeus à sua carteira.
— Pai, não é culpa dele que o chão estava liso.— falei, a dor de cabeça voltava, o remédio não funciona? Fechei os olhos com força— Posso ir pra casa, por favor?— choraminguei.
— Sabe que não será possível agora, querida.
Eu sei, mas odiei pensar nisso, a vontade de vomitar veio forte demais para aguentar segurar, mas o papai, já preparado, me estendeu um balde e botei tudo pra fora.
— Apague as luzes.— resmunguei depois de vomitar meu medíocre café da manhã até minha garganta arder.
— Sabe a resposta pra isso também.— meu pai passou a mão no meu cabelo— Fiquei tão preocupado. Pensei que tivesse morrido quando Jasper Hale te colocou na maca e te acompanhou até aqui.
— Ele veio?— perguntei e vomitei mais um pouco, meu estômago praticamente vazio, precisava de mais que um pão e dois copos de café pra vomitar.
— Sim.. O doutor Cullen deve estar conversando com ele agora em algum lugar.— meu pai olhou ao redor como se pudesse enxergar através das paredes brancas do hospital.
— Pode apressar Bella, por favor? Estou faminta, papai.— falei forçando a voz rouca e a cara de coitadinha acabada.
Ele logo concordou e me mandou não me mexer. Levantei da maca com um esforço grande assim que ele saiu e arrastei meu suporte até a porta mais próxima. Não demorei nada até achar Jasper e sua família discutindo em voz baixa no meio do corredor graças às enfermeiras fofoqueiras. Eles foram se contendo rapidamente.
— Senhor Hale.— chamei e o loiro se virou com o resto de sua família. Rosalie, o tão jovem doutor Cullen e Edward.— pode falar um minuto?— sua família o dispensou cautelosa, era palpável a tensão entre eles. Cachinhos Dourados se aproximou entediado, não sabia como reagir com sua mudança de humor, a última coisa que esperava era que ele estivesse tão desanimado.
— O que você quer?
— A gente precisa esclarecer umas coisas.— falei indignada com seu tom rude.
— Não temos o que esclarecer. Salvei sua vida, não é suficiente?— é óbvio que é uma retórica.
— Seria..
— Será— ele me cortou me corrigindo, meu sangue ferveu.
— Como foi que chegou até mim tão rápido, Hale? Como parou aquela van só com suas mãos?
— Adrenalina— respondeu monótono, pressionei os lábios, irritada com o seu cinismo— pode pesquisar. Vai entender melhor.
— O que você fez não foi adrenalina.— acusei.
— Ninguém vai acreditar em você.— ele respondeu, seco.
— E quem disse que eu ia contar pra alguém?— rebati na defensiva, isso não tinha nem passado na minha mente. Minha dor de cabeça ficou intensa, levantei o braço sem a agulha e massageei minha testa. Sua cara de raiva vacilou por um segundo, demonstrando preocupação.
— Melhor você se sentar.— ele falou, sobre isso eu não discutiria e me sentei numa cadeira do outro lado do corredor, ele se encostou na parede na minha frente e nós nos encaramos.
— Quais são seus segredos, senhor Hale?— perguntei cansada, ele cruzou os braços e desviou o olhar.
— Não podemos ser amigos.— ele disse ignorando minhas duvidas.
— Não sabia que éramos qualquer coisa.— murmurei. Ele me olhou com um sorriso amargo.
— Ótimo. Espero que melhore logo.— ele disse e me deu as costas elegantemente, dando a conversa por concluída.
— Hale.— chamei com certo receio de elevar o tom. Ele fingiu não me ouvir, não olhou para trás momento algum. Mas o que você é?
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