Admirador secreto
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Na manhã seguinte, coloquei na minha cabeça que eles não são relevantes e que eu não deveria perder meu tempo me perguntando o que foi que houve. Já que não os conhecia seria fácil de ignorar. É, a missão já está ganha, imaginei.
Minha irmã desceu primeiro que eu e começou a preparar o café da manhã, ela parecia aérea, mas não me dei conta do que se passava em sua mente já que ela sempre foi assim. Charlie tinha saído mais cedo então não vimos necessidade de conversar enquanto tomávamos nossa dose de café.
Deixei Isabella dirigir enquanto me perdi em pensamentos supérfluos. Estava meio sonolenta ainda, mas minha sósia parecia agitada, observei-a dirigir por um tempo antes de quebrar o gelo.
— O que têm de errado?— perguntei-lhe, curiosa.
— Hm?— ela me olhou, tive que repetir a fala— Ah. Ainda o Cullen, ele foi tão estranho na aula de biologia, não...— suspiro— não consigo pensar em outra coisa.
— Sei como é.— comento, aborrecendo-me por me lembrar do jeito que os rapazes nos olharam— Por que eu sinto que está tramando algo?
— Por que acha isso?— ela desviou. Bella sempre foi uma péssima mentirosa então evitava responder para não mentir. Uma coisa que não se vê em todo lugar — o mundo é cheio de mentirosos.
— Ligação de gêmeas, talvez?— ri sem graça, bocejando logo em seguida. Ela riu também, tensa, encarando a estrada enquanto chegávamos mais perto da escola— Bella?— chamei, em espera da minha resposta que não veio. Não gosto de ser ignorada. Ela não me olhou, mordendo o lábio pra se manter calada— Não vai mais falar com ele, vai?— perguntei. Sem resposta— Bella!
— Não. Não posso prometer.— ela estacionou de frente numa vaga mais isolada e tentou sair do carro como uma ratinha, mas soltei meu cinto rapidamente e fechei sua porta de novo.
— Bella, não gaste seu tempo tentando fugir de mim, você sabe que não vai conseguir.
— Estamos atrasadas.— ela disse e me olhou irritada. Levantei a sobrancelha com um sorriso debochado nos lábios.
— Faz um favor pra si mesma e fique longe dele.
— Não.— ela disse rapidamente. Minha paciência foi se desmanchando.
— Bella— bufei, impaciente— Pra que insistir? Eles já deixaram claro que não gostam de nós.— eu disse. Desci da picape e dei a volta enquanto ela abria a porta, pegamos nossas bolsas na parte de trás e a encarei, ela toda emburrada. Respirei fundo. Ela ficou parada na minha frente olhando pra baixo, sorri de leve ao notar que fazíamos a mesma coisa quando nos sentimos intimidadas ou injustiçadas sem chance de defesa— olha, me desculpa, é que eu passei pela mesma coisa que você e... o melhor jeito é ignorar, não procure por ele, só vai se chatear mais.— disse e acariciei seu rosto o levantando. Fiquei na ponta dos pés pra beijar sua testa.
— Eu só... Não gosto de deixar coisas sem conclusão, é como se... não sei explicar mas isso me incomodou demais.
— Eu sinto o mesmo, eu muitas vezes explodi por coisas desse tipo.— ela sorriu balançando a cabeça, nem tenta discordar do meu famoso pavio curto— Mas tem coisas que é melhor deixar pra lá— avisei sincera— não seja teimosa, Bella, não vale a pena.
Ela apenas acenou com a cabeça e foi para a aula me deixando pra trás sozinha. Balancei a cabeça sabendo que ela iria agir contra meus desejos uma hora, mas que seja, as vezes é melhor deixar os outros quebrarem a cara sozinhos. Por um segundo tentei me lembrar se tinha pego meu caderno de sociologia então tive que abrir a bolsa sobre o capô para conferir. Demorei uns segundos mas logo achei aliviada, a professora é chata, notei de primeira, não quero ter problemas com ela nem tão cedo.
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Eles faltaram, não sei dizer se por minha sorte ou pelo azar de Isabella. No refeitório, ela parecia frustrada, procurava por Edward Cullen o tempo todo, lançando olhares para a mesa onde permaneciam três dos cinco deuses. Eles podem até ser metidos, mas duvido que qualquer dia poderia chamá-los de feios, divaguei os observando como quem não quer nada até que meu olhar se cruza com o de Alice Cullen, a morena com trejeitos de fada ou de uma garota que saiu direto de um mangá. Ela pareceu ligeiramente incomodada e virou o rosto, franzi a testa estranhando algo em seu rosto que não consegui identificar o que era em primeira instância.
Jasper Hale, quem eu evitara pensar a respeito quase que o dia todo, não era um dos que apareceu e apesar de ter uma leve repulsa por sua arrogância do dia anterior, não deixei de sentir falta do seus belos cachos. Sorri confusa, isso não é um sentimento comum. Não é como se ele fosse aquele amigo irritante que quando some faz falta. Ele é um estranho, completamente lindo, estiloso, cheiroso e atraente e.. e ... e?
Ah sim, arrogante! Tentei me concentrar em outra coisa para não ficar desesperada como a minha irmã, então encarei a comida a minha frente e esvaziei a mente. Eu era ótima nisso: me desligar de tudo. Anos de treinamento. Não demorou muito até o intervalo chegar ao seu fim.
[...]
Tyler se sentou do meu lado na aula de inglês.
— Eu, você, sua irmã e mais algumas pessoas na La Push, topa?— ele sussurrou no meu ouvido. Tive um arrepio involuntário ao sentir seu hálito contra minha pele, não porque eu gosto dele ainda, mas por conta de sua proximidade inesperada.
— Quando?— sussurrei de volta concentrada na lousa.
— Final de semana que vem, vai fazer calor.— ele explicou. Olhei para Bella por cima do ombro, ela desenhava no caderno, sentada na mesa de trás.
— Vou conversar com Bella a sós primeiro.— avisei tentando deixar claro que não era pra mais ninguém falar com ela, era uma coisa de "se ela for eu vou" e eu realmente não me importava de ir ou não.
O resto da semana passou tranquilo, sem sinal de nenhum dos irmãos bonitões. Foi até divertido, ainda mais na aula de educação física que teve na sexta feira, sexta significa dia de vôlei, e jogar vôlei com Bella é sempre divertido. Ela têm reflexos péssimos e eu adoro assistir do time rival enquanto ela faz de tudo para fugir da bola.
— Vamos, Bella! Você consegue!— incentivei provocativa, ela fez careta e se esquivou da bola de novo. Uma garota riu do meu lado, atraindo minha atenção.
— Cara, sua irmã é péssima. Ela não devia estar aqui.— ela brincou, meu sorriso desmanchou lentamente, ah, ninguém te contou, fofinha? Só eu posso zombar da minha irmã.
Não respondi na hora, emburrando-me com tamanha falta de necessidade de seu comentário.
O jogo se seguiu, porém como eu tenho lá meus picos de raiva e nestes meu lado vingativo se sobressai, acabei — sem querer querendo — acertando a bola com força demais na cara da garota e jurei que não tinha sido de propósito quando ela caiu sentada e levou a mão à bochecha vermelha.
— Oh, me desculpa!— eu fui uma das primeiras a se aproximar dela com alguma preocupação dissimulada. Inclinei-me em sua direção e sorri quando meus cabelos cairam como cortinas dos lados do meu rosto— Que péssimo reflexo, gatinha, você acha mesmo que é capaz estar aqui?
A loira me olhou com raiva e choque e eu me afastei sem lhe estender a mão.
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O fim de semana foi bom, fui passear na viatura com meu pai e como esse é o pior pesadelo da minha sósia, ela preferiu ficar em casa — tão sem senso de humo, a coitadinha. Liguei a sirene uma vez e embora tenha sido repreendida logo em seguida com uma bronca, não me arrependo de nada. Sábado foi muito tranquilo e até divertido, eu ouso dizer como cidadã de Forks, a cidade do tédio. Meu pai foi pescar no domingo, deixando a casa só pra mim e minha irmã, fiquei o dia inteiro no sofá, ignorando os deveres de casa e lendo meus romances favoritos ou assistindo tv ou chamando Isabella pra comer algo por conta da falta de vontade de ficar sozinha. Ou melhor, de me sentir sozinha.
Por volta de umas sete da noite, uma batida isolada na porta me chamou atenção enquanto eu assistia o jornal sem o mínimo interesse. Me levantei preguiçosa e me alonguei um segundo antes de abrir a porta. Quando abri não havia ninguém. Olhei ao redor e não encontrei vestígio de nenhuma assombração na noite escura, mas quando dei um passo para frente, pisei em alguma coisa com minha pantufa e vi que tinha uma caixinha prateada sobre o meu tapete, fiquei confusa e olhei em volta mais uma vez, obtendo o mesmo resultado de antes: nada. Me abaixei para pegar a pequena caixa e a abri, vendo que dentro dela tinha um pequeno bilhete dobrado no meio de um anel pequeno e delicado sobre um lenço branco, perdi o fôlego e um sorriso me escapou, era lindo. Olhei ao redor novamente antes de fechar a porta com um chute. Era um anel de prata com uma linda pedra de topázio azul redonda cintilando sob a pouca luz da televisão.
Da cor dos teus olhos, dizia o bilhete e era apenas isso, sem assinatura ou qualquer outra pista já que fora digitado. É para mim, porque até onde sei ninguém aqui em casa usa lente de contato, concluí, bastante surpresa. Testei o anel em cada dedo e adorei quando ele coube no meu dedo maior. Certo, é estranho receber um presente desse nível e eu com certeza deveria me questionar sobre de onde ele pode ter vindo já que nenhuma família em Forks é rica o suficiente para comprar uma pedra tão rara, mas meu lado egoísta gritou mais alto, dizendo que se eu falasse sobre isso com meu pai ele provavelmente caçaria quem quer que tenha colocado essa coisa na nossa porta e não descansaria até encontrá-lo, a moral da história me levaria a ter que devolver essa joia tão preciosa.
Eu não queria esse fim; ficar sem esse anel, seja ele falso ou não. Fiquei brava comigo mesma por ser tão superficial, mas me desfazer disso nem sequer passava pela minha mente. Me voltei à caixinha e puxei o lenço pensando se teria mais dicas sobre quem poderia ter me dado com uma coisa tão linda, mas infelizmente não encontrei nada.
Fui arrancada dos meus devaneios quando ouvi a porta do carro do papai batendo e subi correndo para o meu quarto, levando meu presente inesperado comigo. Eu acho que isso quer dizer que tenho um admirador secreto e, ah, isso é muitíssimo interessante.
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