💧Deus de Milagres 😇
Quando tudo diz que não
Tua voz me encoraja a prosseguir...
Kiesse não parava de ouvir essa canção. Parecia que era a única música em seu telefone. As suas lágrimas não paravam de banhar o seu lindo rosto angelical, já tivera percorrido mais de 150 km para chegar até ao Uíge, a sua província de origem, para cuidar da saúde da sua amada mãe.
Desde que Kiesse recebeu a ligação que informava a condição de saúde da senhora Lusolo, ela perdeu o chão. Apesar de ter saído da sua terra natal em busca de melhores condições de vida, em Luanda, ela nunca esqueceu a sua origem, bem como a sua mãe e os 5 irmãos que a sucediam.
Parte do seu trabalho era lutar em prol da sua família, e tirá-los da aldeia que viviam para um bairro mais condigno. Mas a notícia que a chocou recentemente, ameaçou a realização desse sonho.
Ela sempre se perguntou porquê depois de tantos anos, as pessoas ainda insistiam em apegar-se às tradições locais. A sua mãe não poderia ir à um hospital, porque disseram que não era uma questão física, os médicos não poderiam fazer nada. Ademais, quando ela sugeriu ao telefone a opção de transferir a sua mãe para um hospital melhor em Luanda, suas tias não deixaram sem que se cumprissem os rituais de tratamentos para a recuperação da sua mãe.
Ela estava a perder as forças, tanto físicas como espirituais, talvez seja por essa razão que apegou-se à canção para equilibrar suas forças. Ela nunca foi cristã, mas sempre acreditou em um Deus Supremo e criador de todas as coisas, ela já não tinha opção, as lágrimas não paravam de rolar. Ninguém ao seu redor conseguia compreender o que se passava com ela, mas ninguém se pronunciava.
Continuou na mesma senda durante toda a viajem. Ao chegar no destino final, um jovem de altura média, de pele negra tal como os seus olhos, corpo magro, aparentava estar em seus 25 anos. Aproximou-se da Kiesse para tentar compreender o que se passava com a jovem, ela notou a sua aproximação e se afastou.
— Moça, eu quero apenas saber como você está. Quem sabe eu posso ajudar-te... O que se passa?
— Ninguém pode me ajudar! — ela virou o rosto.
— Eu conheço alguém que pode te ajudar — ele falou chamando a atenção da jovem.
— Você nem faz ideia do que estou a passar... Como pode saber quem pode me ajudar?
— Eu tenho a certeza, porque Ele é bom no que faz. Ele nunca deixou ninguém na mão.
Kiesse ficou um pouco pensativa. Depois de um breve tempo de reflexão, ela chegou a conclusão que a pessoa com quem estava a falar, não passava de um intrujão, ou queria apenas puxar conversa, ou pior ainda, tinha problemas mentais. Dada essas opções, ela decidiu retirar-se.
— Espera! Ele segurou em seus ombros. — Deus. Ele pode te ajudar. — Ela continuou em silêncio e ele prosseguiu. — Não importa o que se passa Ele vai ajudar, basta você pedir e crer!
— Existem coisas difíceis... — ela continuou aos prantos.
— Ele é Deus de Milagres!
— Você não entende... —
— Explica-me.
Naquele momento Kiesse sentiu a necessidade de desabafar com aquele estranho que ao menos tentava achar uma solução para o seu problema.
— Quando eu saí daqui, dessa província... — Ela fez uma breve pausa e sentou no passeio. — Eu não queria voltar, à não ser para pegar a minha mãe e meus irmãos. Tudo estava a correr como planeado, até que misteriosamente a minha mãe ficou doente. Uma doença que os médicos não têm resposta.
Eu queria levar ela para Luanda, mas as minhas tias não deixaram. Que tipo de doença é essa que os médicos não entendem? Minha mãe depende de homens para determinar a sua vida... Essas tradições me fizeram sair daqui, e hoje são a razão do meu desespero. Eu não posso perder a minha mãe, não agora. — Ela levou as suas mãos ao rosto.
— Compreendo! — o estranho sentou ao seu lado. — Creio que já deves ter ouvido falar que Jesus morreu e 3 dias depois ressuscitou, pois não? — ela assentiu. — A bíblia também fala sobre um homem chamado Lázaro, que ressurgiu... E essa é apenas uma de muitas histórias do que Jesus já fez e que pode fazer. A cura é decisão dEle, peça pela cura da sua mãe, mas lembra-te de que independentemente do que acontecer, os planos de Deus são perfeitos! E mesmo que não entendemos, Deus sempre tem o melhor para nós.
Kiesse continuou em silêncio, ela esperava apenas palavras positivas, mas aquele homem mostrou-a que as coisas podem acontecer independentemente dos nossos planos ou desejos.
— Fazemos assim, eu acompanho você até à casa, e juntos faremos uma oração pela sua mãe — ele sugeriu.
Ela sentia-se vencida, apesar de não saber quem ele era, ela aceitou e lá se foram.
Rumo ao município de Quimbele, eles conversaram mais sobre a saúde da Dona Lusolo, a família de Kiesse e os pontos que mais a incomodavam. Ela foi instruída pelo jovem que revelou ter o nome de Zé, a não desafiar as suas tias, orar em silêncio e em nenhum momento demonstrar alguma atitude de reprovação ou contrariedade às tradições locais e assim ela acatou. Conversaram sobre alguns assuntos aleatórios até que chegaram em casa.
A casa era pequena e humilde. Fora a doença de sua mãe, sempre foi uma casa de muita alegria.
— Mana, KIESSE! — os seus irmãos correram para abraçá-la.
— Saudades meus pequenos. — Ela correspondeu o abraço.
— Aonde está a mãe? — ela perguntou.
— Está na sala a dormir — a Maria, irmã que a segue respondeu.
Em seguida ela convidou o Zé para dentro de casa. Aproveitaram que nenhuma das tias estava em casa e fizeram uma oração pela sua mãe. Os seus irmãos não compreenderam, apenas imitaram a irmã mais velha até que a oração terminou.
O Zé despediu-se, mas prometeu voltar para visitá-la, o seu bairro não era tão distante, assim que pudesse cumpriria com a sua palavra.
Os dias passaram e a Kiesse tornou-se mais ferverosa em oração, embora a situação da sua mãe permanecesse a mesma. Ela mal conseguia estar em pé, não se alimentava direito, a sua voz falhava, mas Kiesse cada vez mais encontrava forças em Deus.
Algumas semanas depois foi realizada uma reunião familiar. Um dos tios disse que viu a morte em sua mãe e não se poderia fazer nada, pois os seus dias estavam a chegar ao fim. A Kiesse queria responder, mas lembrou-se das palavras do seu recente amigo e resistiu a tentação de responder. O que ela não sabia é que o seu tio era o causador dessa doença, e estava a espera que uma das sobrinhas se rebelasse para dar o golpe final e ter a vida de uma das sobrinhas de bônus por alegada desobediência, mas os seus planos foram frustrados pois a sobrinha se conteve.
Ao sair daí, a Kiesse fez uma oração sincera:
Senhor, eu estou sem forças. Eu venho pedido há um tempo por um milagre, mas tudo que consigo é o teu silêncio. O que devo fazer? Por favor me diz, que eu farei, mas eu não quero que a minha mãe se vá. Eu me entrego a ti. Sim, EU ME ENTREGO A TI, MEU DEUS! ENTREGO TUDO QUE SOU, QUE TENHO E QUE QUERO SER. Faz de mim o que o Senhor quiser, mas por favor, poupa a vida da minha mãe!...
O seu rosto se encheu de lágrimas, a sua voz começou a falhar, ela continuou a fazer a sua oração, mas no interior.
Naquele mesmo dia, o seu amigo cumpriu a promessa e foi visitá-la. Ela falou sobre os últimos acontecimentos, inclusive a reunião familiar. Ele instruiu-a a fazer um programa de jejum e oração, durante uma semana. E o mesmo uniu-se à esse propósito.
Foi uma semana muito difícil para a Kiesse, mas ela começou a notar melhorias em sua mãe. Ela ainda não conseguia estar em pé, mas estava a comer melhor e conseguia falar um pouco. De repente receberam a notícia que o tio estava muito doente e queria falar com a Kiesse. Ela pensou em negar, mas a mãe disse para ir.
Chegando à casa do tio, não acreditava no que via, o corpo do tio estava esquelético, tão negro como carvão, a sua voz estava muito fraca, mas ele esforçava-se para falar. Ela encostou perto da cama onde o tio estava deitado para poder ouvir melhor. O tio revelou que ele foi o causador da doença de sua mãe, há poucos dias ele começou a sentir-se mal. Conscidencia? Talvez... mas a verdade é que o tio ficou doente no momento que a oração e jejum começaram, e a dona Lusolo começou a recuperar. Ela não sabia o que responder, estava irada com o que o tio fez, mas não queria que a mágoa ou outro sentimento negativo ocupasse o seu coração, então apenas respondeu ao tio que o perdoa, e aproveitou a oportunidade para falar de Jesus. O tio agradeceu pelo perdão, mas disse que jamais trocaria as suas crenças, por um JESUS desconhecido. A Kiesse ficou triste por ouvir tais palavras, mas dentro do seu coração, nasceu a vontade de orar pelo seu tio.
Ela terminou a sua semana de jejum e oração, e a sua mãe estava recuperada, receberam a triste notícia que o seu tio morreu, infelizmente já não poderia fazer nada. Apesar do que fez, não foi uma notícia agradável para Kiesse e sua família, afinal, ele tinha o mesmo sangue.
Dona Lusolo recuperou cheia de vida. Ela acreditou que milagres existem e que vêm de Jesus. Viu a morte chegar tão perto, e uma mudança tão drástica não deixava sombra de dúvidas que era graças à um ser Supremo, e quem melhor para fazer milagres?
Depois de muito tempo, estou de volta com mais um conto.
Eu escrevi há um bom tempo, mas para ser sincera, estava muito apreensiva para publicar esse conto. O que vocês acharam?
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